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Sim Senhora: Clipes Brasileiros Médios (Parte 2)

| Somir | | 57 comentários em Sim Senhora: Clipes Brasileiros Médios (Parte 2)

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PROTESTO! Estou sendo punido dessa vez porque minha internet cagou no final de semana. E também porque eu esqueci de avisar que ela cagou… De qualquer forma, sinto-me no direito de subverter um pouco as regras desta vez. Vou analisar um clipe horrível escolhido especialmente para me torturar, mas não vou escutar a “música”. Ao invés disso, recorrerei à música popular islandesa como trilha sonora para escrever este texto. Eigum við að byrja?

ABERRAÇÃO DA VEZ: Angela Bismarchi e MC Flockynha – Tira o Olho da Mamãe

Para começo de conversa me surpreendeu bastante o vídeo fazer parte do canal Vevo. Isso significa que não foi produzido e financiado pelo tráfico, o que já é bastante original nesse estilo musical, mas principalmente que algum executivo com o Q.I. de uma esponja marinha achou que essa porra poderia fazer sucesso e render algum dinheiro! No momento em que eu acessei a página para ver o vídeo, havia 235.576 visualizações computadas.

Ou seja, 235.576 a mais do que deveria. De qualquer forma, para padrões de Youtube em canal de grande destaque, é um fracasso retumbante. Fiquei muito feliz pela decisão de não ouvir o provável aborto sonoro, porque se nem funkeiros nem brasileiros médios estão acompanhando isso, deve estar numa escala absolutamente transcedental de ruindade. Sério, às vezes eu acho que o povo escutaria a gravação de alguém peidando seguidas vezes se colocassem “funk” no título da canção. É para esse público que o clipe a seguir se destina…

Ok, distraí. Para quem não sabe, Angela Bismarchi ficou famosa nos anos 40 pelas suas habilidades de pesca marítima. Para ser honesto, eu tenho uma vaga lembrança dela pelada em algum desfile de carnaval, mas fora isso… vadia genérica de meia idade é a definição que me parece mais lógica. Co-estrelando o clipe, MC Flockynha, que presumo ser cria de Angela Bismarchi. Quer dizer, deve ser… faz sentido com o nome da música que eu NÃO estou ouvindo. Ha.

MC Flockynha é mais uma prova que plástica não se herda. E se mestra alguma cerimônia, provavelmente tem mais a ver com a cerimônia de fazer birra porque quer ficar acordada até mais tarde. Mas que seja, de TODOS os culpados do clipe, a pirralha é a única com alguma desculpa, pela idade. Fica aqui a torcida para ela aplicar uma manobra Eva Ionesco no futuro e processar a mãe por exploração obscena de menores. Flockynha, se quiser anexar este texto no processo, liberado, viu?

Mas chega de preliminares, está na hora de se foder. “Tira o Olho da Mamãe” aparenta ser uma tentativa de misturar dois conceitos tão próximos como “funk bunda” e “apelo infantil”. Há de se perdoar um pouco o absurdo pelo histórico tupiniquim de enxergar essas linhas mais borradas do que deveriam. Xuxa e seus peitos “macios, macios…” que não me deixam mentir. O primeiro take do vídeo mostra uma professora falando algo para uma classe cheia de crianças. As crianças não estão nem aí, ponto para o realismo! Quando a cena muda, percebemos que no quadro branco está escrito algo que provavelmente é o refrão da música.

Tira o olho da mamãe
que ela tem dono,
tem… tem dono!!!

Tem como não adorar quem rima a palavra com a mesma palavra? As crianças parecem concordar, pois aplaudem e vibram efusivamente. Só não entendi porque estão todas com cadernos e livros abertos. Talvez letras de funks horríveis façam parte da grade curricular carioca. O que, francamente, explica muita coisa…

Corte para o take mais caro do vídeo, um cenário cagado que envergonharia até mesmo a equipe de cenografia do SBT! As “estrelas” do vídeo surgem, gloriosas, vestindo algo parecido com um uniforme dos X-Men (se os X-Men trabalhassem numa esquina). Juro que não quero pegar no pé da criança, mas… se o seu corpo tem a forma de um saco de batatas, você provavelmente não vai querer vestir algo parecido com o vestido exibido na cena. Mas quem se importa? A mãe só quer um acessório no palco.

Um não, vários. Ao fundo, outras meninas vestidas de forma inapropriada, não tão curiosamente todas bem mais escurinhas do que as sinhás rebolando na frente. Não é por nada não, mas pais um pouco mais abastados e estudados morreriam antes de deixar as filhas participarem dessa aberração. Exploração sempre agrega valor ao clipe, não?

E falando em valor: A coreografia… Cacete, a coreografia. Além do hilário fato de NINGUÉM conseguir fazer a coreografia de forma minimamente convincente durante TODO o clipe, mãe e filha inclusas; ainda parece suspeitamente inspirada nos trejeitos de uma pessoa com paralisia cerebral. Fica claro também porque todas as outras coreografias do funk focam exclusivamente em movimentos copulatórios…

Bônus: Eu também acho muito divertido como a menina parece muito mais atenta ao que acontece do que a mãe. Angela Bismarchi parece confusa o tempo todo enquanto “dança”, como se o diretor tivesse que lembrá-la repetidas vezes o que ela estava fazendo ali.

Não resisto: Atenção, produção! Câmeras tem uma coisa chamada FOCO, deixar o fundo em destaque o tempo num cenários desses todo faz a cena parecer mil vez mais barata do que já é.

Chega! Vamos para a próxima cena. Essa provavelmente só eu vou achar interessante, mas é bacana como o diretor quis criar um senso de continuidade mostrando as crianças saindo da escola. O que gera uma pergunta importante quando Angela e filha aparecem na mesma rua: Essa criança não estuda? Está fazendo o que na rua essa hora? Não me admira que tenha descambado para o funk.

Ah sim, a premissa do clipe finalmente se desenvolve: A que Angela Bismarchi fede. Pelo menos é o que eu entendi das cenas… Sabe como é, estou escutando música islandesa ao invés dessa. Seguidas vezes ela aparece cercada de homens fazendo caretas e agindo de forma estranha ao seu redor. A criança obviamente fica chateada com essa reação negativa da sociedade e passa metade das cenas reprimindo os outros.

Temos mais cenas de crianças tendo ataques epiléticos, mais provas que Angela não sabe o que está fazendo no cenário… E corte para uma cena consumista de pobre. Mãe e filha observam vitrines. E só. Se dependiam desse clipe para conseguir dinheiro para entrar nas lojas, estão com azar.

Mais coreografia… E corta para a próxima cena. Agora as duas estão num carro esportivo que apesar de ter muito mais classe e história do que a aberração amarela exibida em seguida, é ignorado solenemente. Dois traficantes num Camaro amarelo abordam mãe e filha, apenas para serem ignorados de forma exagerada e teatral. Importante: Camaro é oficialmente carro de POBRE, culpa de sertanejos e funkeiros. Fizeram bem em ignorar.

Mas é aqui também que o elemento visual mais brilhante do clipe acontece. A partir dos 59 segundos, vemos várias cenas das duas no carro. A mãe usando cinto de segurança, a filha não. Se isso foi um easter-egg do diretor ou mera prova da maravilhosa criação da menina, jamais saberemos. Tudo não passa de uma enorme ego-trip de Angela Bismarchi financiada por babacas inescrupulosos, cuja maior vítima vai ser justamente a menina. Ela estar sem cinto de segurança em toda a sequência do carro é perfeito demais para ser apenas uma distração. Isso foi pensado por alguém.

Na cena seguinte, algo me preocupa. Temos mais evidências que Angela Bismarchi tem um odor corporal violento pelas reações dos transeuntes, mas quando chegamos a um minuto e dez segundos, tenho a distinta impressão que o cidadão estava olhando para a menina e não para a mulher. Seria mais uma indicação sutil de que a verdadeira vítima de toda história é MC Flockynha? Teria o diretor ao menos um resquício de consciência?

Na sequência, um marombeiro parece claramente incomodado com o cheiro de uma Angela Bismarchi malhando. A menina parece envergonhada. Logo depois, outro bombado acha graça do odor pútrido, fazendo a garota repensar seus planos de acompanhar a mãe numa academia.

Corta para mais uma cena com cenário e figurino improvisados. Fica a dica: Não tem como salvar uma tomada inteira cagada na edição. Cena mal iluminada é cena mal iluminada. Ponto negativo para a tentativa de rebolada da pirralha. Não sei por que, mas me passou uma vibe meio Preta Gil. O que é sempre péssimo.

Segue-se a isso um take Chiquititas, com várias crianças surgindo por trás de pilares, mãe e filha com um figurino que ofenderia os olhos até de um palhaço criado pelo Olodum durante uma viagem lisérgica. Bônus para o povo casualmente na cena ao fundo. Foram otários: Bastaria dizer para que estavam gravando a cena e qualquer um cairia fora em questão de segundos. Logo a seguir, aprendemos que meninas não sabem brincar com bolas, batendo-as de forma confusa umas contra as outras. Logo após, talvez frustradas pela própria inabilidade, arremessam todas para o alto. Nota 10 para o editor que deixou a parte onde as bolas caem ficar na cena final! AH! Prestem atenção aos 1:49. Angela segura um pirulito comicamente grande, mas a cena só aparece por um segundo. Querem apostar quanto que tiverem de editar fora umas dez cenas dela lambendo o pirulito de forma sensual?

1:50. Agora é hora da pipoca. Todos estão felizes, certo? Então olhe para a cara de alegria de Flockynha enquanto espera na fila. Ainda complementa olhando para o horizonte e perguntando algo para a produção. Angela é perfeita nesses momentos, aposto que é incapaz de separar ficção de realidade e nunca quebra a personagem. O pipoqueiro é um velho de boca mole que fala alguma coisa desimportante. Ele entrega um micro saco de pipocas (sério, que miséria!), gerando uma reação comercial de margarina de mãe e filha.

Depois, uma cena inocente com conotação sexual, porque é para criança, mas é funk, oras! Quer dizer, pode ser que o cheio de Angela tenha distraído o pipoqueiro, mas eu costumo saber identificar uma analogia sexual quando vejo uma. A pipoca transborda. Mãe e filha parecem mais envergonhadas do que qualquer outra coisa…

Seguimos para mais mais coreografia errada de Angela Bismarchi (melhor parte, sempre). E aí, uma cena histórica: A primeira sugestão lésbica num clipe de funk onde uma das mulheres não parece uma atriz pornô! Palmas para a produção. Enquanto Angela tenta decidir se compra sardinhas ou atum, uma mulher incapaz de atuar (ela fica com a mesma cara a cena toda) parece gostar do cheiro pungente de Angela. Mais uma vez, acho que o diretor é troll e esses peixes enlatados em cena não foram aleatórios.

Mais Chiquititas, mais Angela errando coreografia… Segue uma cena numa piscina. Um suposto instrutor sente o cheio forte enquanto Angela passa e faz uma cara condizente. (Bônus: Reflexo da câmera no vidro) A filha, já de saco cheio desse preconceito, empurra-o água adentro. Algo completamente imprevisível e que todo mundo não sabia que ia acontecer desde o primeiro frame da cena!

Para finalizar as externas, descobrimos também que Angela Bismarchi tem mau hálito. E dos poderosos. Dizendo um singelo “bom dia” é capaz de derrubar um padeiro. Mãe e filha acham muita graça. Alguém tinha que achar, não?

Mais coreografia cagada, mais exploração infantil… E… CHEGA!

E agora eu quero meus três minutos de vida de volta.

Para dizer que eu pensei mais sobre o clipe do que todos os envolvidos nele, para dizer que essa punição passou de todos os limites, ou mesmo para dizer esse clipe não tem visualizações, tem testemunhas: somir@desfavor.com


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