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Sim Senhora: CBM – Beijinho no Ombro

| Somir | | 84 comentários em Sim Senhora: CBM – Beijinho no Ombro

Essa porra não ia virar coluna fixa da Sally? E outra, por que só EU acabo punido por não ter postagem especial num feriado impopular? De qualquer forma, sobrou para mim analisar essa desgraça de clipe de uma tal de Valesca Popozuda. Até tinham sugerido outro, mas não tem vídeo (e eu não vou procurar por mais que meio segundo por ele…). Vamos analisar essa obrada de arte chamada “Beijinho No Ombro”. Ah, antes que eu me esqueça: Odeio todos vocês. Importante ressaltar.

Em primeiro lugar, contexto: Valesca Popozuda. “Valesca dos Santos, ex vocalista da Gaiola das Popozudas, lutou muito para obter reconhecimento. Tudo começou com o convite para formar o Gaiola, há oito anos. No início da carreira a artista pedia aos DJs dos bailes que tocassem as músicas do grupo, geralmente o pedido só era atendido no final do baile, com as quadras praticamente vazias. A menina que tinha tudo para ser mais uma vítima da desigualdade social fez disso sua força: lutou e uvenceu! Hoje, Valesca consegue ser a voz da mulher da favela, da classe média e do condomínio de luxo.”

Evidente que eu não escrevi isso. É parte do release dela. Ainda não entendi se “uvenceu” é uma gíria local ou cagada na digitação mesmo; de qualquer forma, prestando um pouco mais de atenção dá para perceber que quem quer que esteja com a mão na bunda deste boneco tem um plano ousado: Fazer a transição entre “musa do fanque” para “ídala pop”. Não costumo desperdiçar tempo com essas coisas, mas vou colocar aqui uma representação visual dos planos de quem gerencia a carreira dela:

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E essa estratégia tem tudo a ver com o clipe que sofreremos hoje. Porque é um clipe bem feito. É sem noção, é brega e é um tratado sobre como a pobreza vem de dentro… mas é bem feito no sentido que deu algum trabalho e teve verba de produção. Até porque a concorrência é uma merda: clipes de música pop já não prestam para nada há algumas décadas. Vamos logo à tentativa desesperada de alguns produtores de fazer uma Lady Gaga tupiniquim. E já respondendo aos fãs de Valesca (deve ter, creio eu…): sim, é tudo ENVEJA.

O clipe já começa com assinaturas de quem produziu, o que é tolerável em duas ocasiões em casos de clipes musicais: para dizer que quem produziu é muito foda e merece confete, ou quando o artista é muito famoso e quer dar um apoio para um pessoal talentoso e desconhecido. Neste caso, porém, nenhuma das duas coisas. Abrir clipe com nome de produtora é atestado de que vem merda por aí… Ainda mais quando ela se chama Pardal Produções.

Não sabia que Valesca Popozuda também era nome de motel! Deu sorte a moça, não? Devem ter pagado uma nota para colocar uma propaganda dessas no começo do vídeo. Oras, aquilo SÓ pode ser logo de motel… Que seja! Dessa vez eu sofri de verdade e escutei a desgraça toda. O que acabou amenizado pelo fato de mais da metade dele ser sonorizado com alguma trilha “épica” genérica pirateada daqueles DVDs de “trilhas de Hollywood” (relaxa, Pardal, seu segredo morre conosco!). A música grandiosa foi escolhida a dedo para fazer a separação entre a “vítima da desigualdade social” e a nova “estrela da ostentação”. A cena inicial também! Um “castelo” com todo aquele clima emergente aproxima-se de nós (montado num drone – eu disse que tinha um certo capricho na produção) preparando o clima para…

Bom, não para muita coisa. As aspas ao escrever castelo não vieram à toa, parece tudo um grande set de filme pornô ou clipe de rapper americano. Aparece numa das cenas posteriores o nome do lugar e dá para perceber que é mesmo um lugar ABSURDAMENTE brega onde gente com mais dinheiro que bom gosto faz casamentos, eventos e outras porcarias. Castelo Brasileiro! Bom… as cenas seguintes não fazem sentido. Um grupo de seguidores da Opus Dei entra lentamente em cena, achei boa a escolha porque realmente o que vem a seguir é uma tortura!

A primeira aparição de Valesca é de costas (talvez para manter alguma tradição), desfocada e só com parte da cabeça aparecendo. E MESMO ASSIM ela já parece pobre. Vai ver é o cabelo cagado bicolor, o amontoado disforme por cima da “coroa/tiara” que a faz parecer o Drácula… mas é impressionante como aos trinta e quatro segundos de vídeo toda a proposta do vídeo já foi para o saco e até mesmo se virasse a cara e fosse a Claudia Leite (o segundo t é supérfluo) seria uma evolução! Sério, esse momento é poderoso.

Pausa para uma análise: Primeiro porque eu quero e segundo porque deve irritar mais quem está lendo… Pensei que poderia estar entrando nessa presepada de assistir o clipe com um preconceito besta. Está na cara que vai ser ostentação, e está na cara que vou ficar com aquela sensação de “empregada pegou a roupa da madame” ao ver. Tenho que estar acima disso… Oras, acostumamos a ver só pessoas brancas (e em menor quantidade negras) usando esse estilo esbanjador. Talvez falte apenas costume de ver pessoas mais miscigenadas repetindo o padrão. Vou tentar me controlar e analisar de forma mais fria.

Voltando ao clipe: A turma da Opus Dei tira os mantos e descobrimos que na verdade são modelos (e uma pobre na frente, pobre é muito reconhecível!). Talvez seja alguma coisa com iniciação, mas o resto do clipe não tem nada a ver com isso. Corta para a cara de Valesca… e já dá para perceber que gastaram metade do orçamento do clipe com plugins para fazer maquiagem digital nela. A quantidade de efeitos aplicados nas fuças de Valesca aos cinquenta e cinco segundos só poderia ser renderizada nos computadores da Pixar! A cara dela deve estar muito estragada para nem maquiagem ao vivo dar conta.

Corta! Agora Valesca desce as escadas em câmera lenta. Um layout meio estranho, mas vá lá… não vamos deixar o preconceito guiar a análise… HÃ? A roupa termina num shorts? POBRE! POBRE É UMA MERDA! POBRE CAGA NA ENTRADA E NA SAÍDA! Enquanto ela passa ainda em câmera lenta por dois dos vários homens heterossexuais que purpurinam o clipe, mais closes do show de efeitos especiais da maquiagem digital. Mais um pouco e virava Toy Story. Aliás, com tanto penduricalho na cara, ela está mesmo parecendo a mulher do Mr. Potato Head.

Um minuto e vinte e sete segundos. Para a tristeza geral da nação, ela abre a boca. Eu sei que é parte da proposta analisar a letra da música, mas ela fica falando “inveja” por três minutos e o clipe acaba. Ela também parece ter fé em Deus, mas que pobre não tem? Só não pegava bem falar muito d’Ele ao recitar sucessos como “A Porra da Buceta é Minha”. De qualquer forma, andou para trás… Como todas as músicas são uma merda, pelo menos tinha algum charme rebelde ao cantar “Agora Virei Puta”.

E a partir daí parece que verba do clipe começa a acabar. Corta-corta entre os mesmos três cenários até a marca de dois minutos e quarenta segundos. Mais dança, mais “inveja” e mais cenas de homens extremamente heterossexuais. Pelo menos é engraçado perceber os caras lá na escada do fundo errando a coreografia inteira. Os cenários parecem preguiçosos, mas na verdade eu desconfio que rolou um desconto na diária para fazer propaganda do local. Imagine o casamento dos seus sonhos no mesmo lugar onde Valesca Popozuda cantou e dançou seu grande hit Beijinho no Ombro! Alugue já!

É tudo meia bomba. Coreografia “comportada”, palavrão “implícito”… Estamos desesperados para ser aceitos no mercado tradicional, não? A sensação que passa é que Valesca não chega a lugar algum… Não tem a pegada de funkeira boca suja, não tem a excentricidade da Lady Gaga (não se enganem, é exatamente essa imagem que querem empurrar), é meio que versão paraguaia de pop star gringa.

Quando finalmente o editor lembra que gravaram mais cenas, vamos para um cenário “frio” ou algo que o valha. Ela se veste de branco, com um capuz felpudo e uma calcinha de vó, sentada orgulhosamente numa cadeira comicamente grande que deveria ser um trono. Do nada, um falcão (águia ou sei lá o quê) e um tigre! Nada melhor do que um animal desses para ilustrar um cenário onde cai neve digital!

Diversão mesmo é ver o olhar desesperado dela quando próxima ao tigre. Tacaram a cena mesmo com ela não olhando para a câmera! Vai ver o cachê do tigre é maior do que o dela… Bom, pelo menos deveria. Depois dessa cena importante e coerente com o resto do clipe, corta de volta para o único take caprichado mesmo do vídeo (claro que foi sem querer), Valesca infelizmente caga tudo com suas roupas e sua presença sempre digna.

Corta, corta, corta… Cena nova! Valesca parece com dançarinas e uma belíssima coroa de prástico! Corta, corta, corta! ACABOU! Finalmente. Só que não… Sally é uma sádica e me mandou uma versão de sete minutos com créditos e mais créditos (vulgo: não paguei pelo clipe ou paguei muito pouco). Até agora não entendi a neve digital e os animais… Mas já que pagaram a diária, manda ver um monte de fotos! Até que essa parte ficou bacana, a música é bem melhor que a dela e sem abrir a boca até que dá para aturá-la. Não, sério! Vendo os créditos até dá para entender o que o pessoal viu nela para tentar essa estratégia “pop star excêntrica com forte identificação com o público LGBT”. A merda é que o Brasil é TÃO carente nessa área que é capaz de colar mesmo com Valesca tendo esse layout atriz pornô de Cristo…

E nos créditos ainda, talvez a parte mais divertida de todo o clipe: Os agradecimentos especiais. Vamos pinçar alguns nomes? DJ William Erotico! DJ Dedé Mandrake! DJ Gasparzinho! Phabyo DJ! DJ Mortadela! DJ Jamanta! DJ Jeba e seu colega DJ Piru! Os nomes são hilários… e também demonstra como DJ é o sinônimo de “modelo/atriz” no mundo masculino… Lembrando do release dela… e lendo tantos nomes de DJ… algo me diz que a escalada para a fama deve ter sido dolorida e assada.

A última foto é emblemática. Valesca manda um beijo para uma águia (falcão, sei lá) que berra irritada de volta. O clube dos seres estéticos e dignos não está com as portas abertas. Tem mais! Tem agradecimento final a deus, amigos, família e… popofãs? Os fãs delas se chamam… popofãs? Quem sou eu para discutir… ter bunda no nome parece bem razoável.

E chega. Espero que tenha sido uma merda para todos vocês assim como foi para mim.

Para dizer que eu tenho preconceito contra músicas horríveis cantadas por gente brega, para dizer que acha ela gostosa (nada como doses cavalares de testosterona para deixar uma mulher bonita, não?), ou mesmo para dizer que é popofã: somir@desfavor.com


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