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Flertando com o desastre: A Copa das Copas.

| Sally | | 230 comentários em Flertando com o desastre: A Copa das Copas.

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Eu já estou sofrendo por antecedência com a Copa do Mundo. Não, hoje não vim falar de consciência social, dos oito bilhões de dinheiro público gastos, do legado pífio e de todo o transtorno físico e de mobilidade que a Copa vai causar. Sobre isso já tem muita gente boa falando. Quero falar do mal estar emocional que essa bosta de evento vai causar a mim e provavelmente a muitos de vocês.

É o mesmo dilema do carnaval: detesto, mas o resto do mundo adora e não abre mão de comemorar. Daí preciso escolher o que é menos pior: me isolar e ficar com a clara sensação da incompatibilidade da cultura local comigo ou topar a violência de participar da farra mesmo morrendo por dentro para não amargar um isolamento depressivo e a fama de chata que reclama de tudo. Ambas as opções são péssimas. Ambas as opções deveriam inexistir. E de fato inexistem em países civilizados.

A vontade maior é a do isolamento, mas talvez também seja a opção que cobra o preço mais caro. Por mais que eu esteja convicta do quão pobre, cafona e indigno é churrasquear com telão vendo jogo e torcendo feio uns macacos para um bando de crentes metrossexuais que fazem orgia nas horas vagas, também é péssimo ficar isolada e sentir essa sensação de derrota, de incompatibilidade com o entorno, de amargura. Porque EU sei que é discernimento, mas aos olhos dos outros é amargor, mau humor, chatice. Ficar em casa significa ser vista socialmente assim e isso tem seu preço, que repercute em diversas áreas da minha vida. Há momentos onde eu me rendo, me violento, só para não ouvir comentários do quanto eu sou chata.

Em contrapartida ir a esses eventos barulhentos, cheios de gente, cheios de bebida, ver a macacada sem cérebro vibrando ao presenciar dinheiro que eram para ser de hospitais indo para um jogo de futebol também me agride. Primeiro porque nem posso sonhar em abrir a boca para dizer o que penso, afinal, isso seria agressivo, antipático e inconveniente. Além de ter que ficar muda, ou apenas falar falsidades e mentiras, também tenho que tirar forças do meio do meu cu para sorrir e fingir de alguma forma estar gostando (ou ao menos não desgostando) daquilo. É mal educado ir a um evento e ficar de cara amarrada e, mesmo quem o faz com você, não tolera que você o faça de volta. Então além de estar puta, há uma exigência do lado atriz, porque nem o direito de transparecer a putez existe.

Vocês sabem e eu sei que a partir do dia 12 de junho o Brasileiro Médio, que já é insuportável, vai ficar insuportável ao quadrado. Decoração da casa/janela/varanda/rua com bandeirinha da seleção brasileira, roupinha no cachorro, tinta no cabelo, verde e amarelo até no esmalte de unha. Já vimos esse filme, sabemos bem o grau na “Escala Macaquitos” que eles podem chegar. O problema é que além de serem Macaquitos, são tiranos também. Se você não participa dessa indignidade, não há um lugar na sociedade para você: esnobe, babaca, arrogante, mal amado, escroto, azedo, de mal com a vida. Eles não admitem que alguém não queria participar desse circo. Não somos nós que não gostamos que discriminamos o indigno pagodeando suado com meio cofre de fora, é ele que nos julga e discrimina se não fizermos o mesmo. É o poste mijando no cachorro.

É como um amigo oculto da bola: você simplesmente não tem o direito de não querer participar sem que com isso paire uma presunção horrorosa a seu respeito. “O que que custa?” – um macaquito perguntará. Meu querido, para quem tem bom senso, para quem tem maturidade, para quem tem consciência social e bom gosto, CUSTA MUITO. É uma violência, uma agressão, não apenas vai estragar meu dia, como já está estragando meus dias que antecedem, só de pensar nisso. Custa. O mesmo que custaria para um Macaquito ser obrigado a assistir uma ópera (calado e sem futucar o celular) durante um mês seguido, e se não fosse, sofresse uma massiva pressão/agressão social. Deu para entender agora?

“Mas Sally… não vai!”. ADORARIA. Apesar da tristeza e sentimento de inadequação que o isolamento em datas festivas me provoca, posso dizer que já estou quase que me acostumando a ele. Mas sempre tem um filho da puta que organiza alguma coisa que te coloca na obrigação de ir. Nesse caso, além da tristeza e do sentimento de inadequação do isolamento, ainda tem o peso de estar magoando alguém. Gostaria muito de ter algum grau de psicopatia e não ligar para magoar os outros, mas infelizmente, apesar de todos os meus esforços, ainda não consegui morrer por dentro o tanto que seria necessário. Eu devo ser mesmo muito babaca, não tenho família aqui no Brasil para me encher o saco com compromisso e ainda assim acabo atrelada a eventos desagradáveis que não quero ir. Eu juro que eu tento escapar, mas os eventos escrotos me perseguem. Só eu me sinto assim?

Para fechar com chave de ouro, eu não bebo. Vocês tem noção do que é aturar esses Símios em Festa estando sóbria? Se um dia eu me suicidar, não foi por doença terminal, não foi por amor, foi por não aguentar mais viver no meio dessa macacada alegre e impositiva. Falando sério agora: estou sofrendo só de pensar no que me espera. Estou sofrendo por pensar em todos os macaquitos alcoolizados, alegres, sem consciência social que vou ter que aturar, voluntaria ou involuntariamente. Porque se você não vai aos Macaquitos, eles vão até você, berrando na janela de casa e cometendo outros estupros auditivos. Estou torcendo para que aconteça uma desgraça nessa Copa que torne constrangedor qualquer tipo de comemoração. Obviamente não vai acontecer.

Todo o entorno da pobralhada (e me refiro a pobre como estado de espírito, pois tanto pobres como ricos o fazem) me incomoda. Os fogos, por exemplo. Nos meus tempos de estagiária de veterinária eu pude VER, ninguém me contou, eu VI, a quantidade de animais de estimação que MORREM por causa dos fogos. Não atingidos pelos fogos, mas se susto ou de medo mesmo. Canário, cachorro, gato… os mais diferentes tipos de animais MORREM pelo pavor do barulho dos fogos. Não entendo a imbecilidade piromaníaca da pobralhada soltando fogos. O que acontece? O Símio se sente poderosão porque conseguiu fazer um barulho alto? O que é isso, minha gente?

O churrasco de merda também me incomoda. Desde pequena observo meu pai fazendo churrasco e ele me ensinou como fazer um churrasco decente. Quando vejo um brasileiro fazendo churrasco sinto um tictic nervoso. É como se um dentista visse uma pessoa escovando os dentes com pudim. Lá vai a gentalha encher a churrasqueira de álcool, cortar a carne errada, etc, etc. Eu vou abrir a boca? Eu não vou abrir a boca, porque nem com todo o jeitinho do mundo você deve dizer a um brasileiro que ele está fazendo algo errado. Um ofendimento passivo-agressivo brota, ele tenta disfarçar com um sorriso ou uma piada maso complexo de vira-lata fala mais alto e no final das contas ou você é escrota ou está com inveja. Curioso que eles criticam argentinos sambando, mas não aceitam aprender a fazer uma porra de um churrasco decente que não tenha gosto e textura de sola de sapato. Quem for do Sul, que a este ponto eu nem considero mais “brasileiros” e sim “argentinos do norte”, vai me entender.

Por que toda reunião de pobre tem que ter música alta? Eu pergunto e eu mesma respondo, porque hoje estou toda trabalhada na esquizofrenia: porque pobre não tem sobre o que CONVERSAR. Fala da roupa de uma atriz, da notícia que saiu na Globo ou na Veja, fala meia dúzia de achismos sem coerência e pronto. Exauriu o estoque de informações cerebrais em dez minutos. Festa de pobre sem música seria um silêncio sepulcral. Então vamos botar Exaltasamba e seus pagodes de pobre feliz e alegre para tocar em um volume bem alto, afinal, não há qualquer possibilidade/interesse em conversa. Gente anencefálica não preza conversa, se reúne sempre a título de outra coisa: comemorar não sei o que, beber, etc. Poucas são as pessoas que se reúnem para CONVERSAR.

Vocês conseguem me visualizar sofrendo enquanto toca esse tipo de música de merda alto e todo mundo bebe? Pois é. Eu morro um pouco por dentro cada vez que sou exposta a isso. E justamente por causa dessa música (ruim) alta, as pessoas são obrigadas a gritarem se quiserem se comunicar. Isso basicamente te obriga a ficar calado. Muitas vezes gritar não basta, porque macaquito já bebeu bastante e não entende mais porra nenhuma, então, para compor o perfil símio, além de gritar, tem que gesticular também. Você vira um macaquito também. Só falta jogarem fezes uns nos outros para fechar os personagens com perfeição.

Eu tenho uma teoria: não usar o cérebro para trabalhos intelectuais(ou mesmo para pensar) com muita frequência deve desencadear a produção de algum hormônio da felicidade ou do bem estar. A energia que o cérebro economiza quando só é acionado para ver o Jornal Nacional deve ser convertida em Serotonina. Só isso explica a felicidade desse povo bunda. A vontade perene de estar sempre fazendo festa, sempre atochando sua casa de gente, sempre tendo pessoas falando no seu ouvido. Gente que não suporta o silêncio. Não suporta ficar consigo mesma ou com as pessoas que vive. Isso para mim é sintomático.

Talvez o silêncio induza à reflexão, e Deus os livre de pensar nas próprias vidas, porque vai doer. Sempre felizes, sempre bem dispostos, sempre querendo festa. Só pode ser ser a sobra de energia não gasta com raciocínio, pensamento, leitura, estudo e reflexão misturada com muita negação. Ainda passo um mês inteiro da minha vida sem fazer NENHUMA atividade intelectual para tentar descobrir como isso funciona. Não se assustem se me virem pagodeando, espancando um tamborim e cantando alegremente uma música de merda qualquer, terá sido o excesso de energia que foi poupada com a não realização de trabalhos intelectuais. Juro, se essa gente lesse ao menos UM LIVRO por semana, ficariam tão exaustos que as vizinhanças seriam mais silenciosas. Não sei como podem ser bons profissionais sem ler. Bem, não devem ser,apesar de estarem todos empregados.

Não tem hospital decente, mas ninguém se importa. Ou melhor, diz que se importa e depois se comporta de forma incompatível, torcendo para a seleção. Oi? Mas brasileiro é assim, é o “não-praticante” por excelência. É católico mas usa contraceptivos e não casa virgem, porque é “católico não-praticante”. É super contra os gastos da verba da saúde para Copa, mas não vai deixar de torcer por causa disso, afinal, como já disse a Havelange Fêmea: “o que tinha que ser roubado já foi roubado mesmo”. É isso, esse povo não resiste a pão e circo, ou melhor, a carne e cerveja. Super se revolta, desde que isso não implique em coerência ou qualquer restrição.

O pior é que a Copa sendo no Brasil não tem muito para onde fugir, principalmente se você der o azar de estar em uma das cidades que irão sediar os jogos. Só se fugir a pé, porque o trânsito e o aeroporto estarão inviáveis. Até mesmo se encontrar fisicamente com pessoas que pensem como você pode ser difícil. Essa ideia me apavora. É praticamente um sequestro cultural, onde você vira refém da macacada e tem sua (falta de) cultura enfiada goela abaixo forçosamente.

Não, eu me recuso. Já passei por isso muitas vezes na minha vida, mas agora eu surtei. Eu me recuso. Já posso até visualizar a cena: olho em volta e vejo a capela (capela = coletivo de macacos) se divertindo enormemente e sinto um misto de desânimo com inveja, porque a vida deve mesmo ser mais feliz quando tão pouca merda te diverte e você consegue não pensar, não racionar, deixar o cérebro em um copo dágua antes de deitar para dormir.

Eu me frustro. E tenho a clara sensação de que, naquele exato momento, existem mais seres feitos da mesma matéria prima que eu frustrados em todo canto do Brasil querendo pessoas parecidas para desabafar. Daí me veio a ideia: porque não reunir estas pessoas, ainda que seja virtualmente, para mitigar a solidão ou o evento de merda onde estamos? Então eu vos convoco, Impopulares, vamos nos encontrar nos dia de jogo? Ainda não pensei bem em como fazer: Live Blogging, Skype, ou qualquer outro meio. Tenho que consultar o Somir. Mas por mim, topo TUDO para não ter que deglutir sozinha esse imenso sapo que vai ser enfiado por um mês na minha goela.

Eu PRE-CI-SO ter alguém/alguéns que me entendam por perto para poder DESABAFAR, para poder meter o cacete no inferno que vou passar, para que vocês me ajudem a tripudiar das coisas que vou narrar e para que eu os ajude a tripudiar das coisas que vocês vão narrar. Vizinho escroto saiu de cueca berrando feito um bicho para comemorar gol na varanda ao lado? Filma e mostra para gente, vamos todos falar mal dele. Está em um evento cagado, cafona, morrendo por dentro? Tira foto e manda, vamos todos detonar. Porque se pagamos um alto preço pelos avanços tecnológicos (perda de privacidade e cia), também temos que tirar um lado bom nisso: reunir quem pensa igual.
Não, nós não somos chatos nem amargos, eles é que são bregas e macacos. Juntem-se a mim para dar vazão a toda revolta e mau humor nesta merda de Copa do Mundo, porque ser feliz nesse contexto de bosta não é coisa de gente, é coisa de Teletubbie! Vamos tornar esta bosta de Copa mais tolerável nos unindo e metendo o cacete nele e nessa gente bronzeada mostrando deu desvalor.

Porém preciso confirmar se vocês tem interesse antes de começar a me escaralhar para colocar isso em prática. Vocês tem? Eu sinto que não pertenço a esse grupo, que além de ser maioria esmagadora, que estará macaqueando freneticamente durante o próximo mês e, infelizmente estou em uma cidade campeã mundial de macaqueamento, então, basicamente, estou fodida.

Para dizer que eu preciso é de Frontal e não de amigos, para sugerir algo que viabilize esse nosso encontro ou ainda para dizer que vai ter plantão de sobra para me ocupar nesse período tamanhas as merdas que acontecerão: sally@desfavor.com


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