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Siago Tomir: Aquela da briga ao lado…

| Sally | | 40 comentários em Siago Tomir: Aquela da briga ao lado…

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Era o jantar de noivado do Alicate. Mais um. Alicate tinha essa mania de noivar para calar a boca das suas namoradas. Ele tinha a teoria de que namoradas cobravam muito porque não tinham nada a perder mas que noivas cobravam pouco para não perder o marido. Coisas de Alicate.

Fui, evidentemente contrariada. Era um jantar informal, para poucas pessoas, que depois virou um bate-papo no sofá da sala. A conversa foi interrompida pelos gritos vindos do apartamento vizinho. Uma mulher gritava e chorava muito, como se estivesse acuada e um homem gritava ainda mais alto ameaçando a mulher.

Alicate: PORRADA!
Noiva do Alicate: Nossa, que coisa horrível… ainda bem que não vamos morar aqui quando a gente casar…
Alicate: * concordando e piscando para os amigos de forma nada discreta
Tomir: A mulher está pedindo por socorro?
Sally: Não sei, não dá para entender muito bem. Liga para o porteiro e avisa que está acontecendo algo errado no apartamento do lado.
Tomir: O Navalha? Ele vai ajudar quem pagar mais a bater na outra pessoa!
Alicate: O Navalha é desses
Sally: Não vamos fazer nada?
Tomir: Ela está pedindo por socorro?
Sally: Não sei, não estou conseguindo entender o que ela está falando, mas… que diferença isso faz?
Tomir: TODA! Só devemos nos meter se ela estiver pedindo por socorro!
Noiva do Alicate: Como assim?
Tomir: Se não é inconveniente
Sally: Deixa eu ver se eu entendi… Se a mulher gritar que está apanhando, sendo esfaqueada ou estuprada não podemos nos meter?
Tomir: Podemos, porque isso é um pedido de socorro implícito
Noiva do Alicate: Então, para vocês fazerem alguma coisa vai ser preciso que a gente entenda o que a coitada da mulher está dizendo?
Tomir: Sim
Sally: Isso não faz o menor sentido! Escuta só como a mulher está gritando! Devem estar fazendo algo horrível com ela!

A mulher gritava de forma desesperada, chorava e se ouviam vários objetos sendo quebrados.

Alicate: Eu concordo com o Tomir. Se meter sem pedido de socorro é inconveniente
Noiva do Alicate: Inconveniente é deixar a mulher apanhar ou morrer
Alicate: Se está apanhando porque não pede socorro?
Sally: Quem te garante que ela não está pedindo?
Tomir: Sally, a vizinha não é nossa, é dele, ele decide o que fazer
Sally: Tem essa regra também? Só pode socorrer seus próprios vizinhos?
Tomir: Não sabemos se ela está pedindo socorro
Noiva do Alicate: Esses gritos desesperados não são um pedido implícito de socorro?
Alicate: Não necessariamente, pode ser uma simples briga. Tem gente que briga assim
Sally: Mesmo que seja, se a briga deles invade o apartamento do lado, eles a estão tornando pública e permitindo que a gente se meta. Inconvenientes são eles de fazer tanto barulho!
Tomir: Não é assim que funciona. Uma inconveniência não justifica a outra
Sally: Eu não quero justificar, eu quero socorrer a mulher
Noiva do Alicate: Já pensou se essa mulher morre? Vocês não vão ficar culpados não?
Alicate e Tomir: Não
Sally: Não?
Alicate: Eu não estou batendo em ninguém
Sally: E a omissão de ouvir uma coisa dessas e não fazer nada?
Tomir: Sally, não se mete, a vizinha não é sua…
Sally: Eu não me meto por ser uma vizinha e sim por ser um ser humano!
Alicate: Vai começar!
Noiva do Alicate: Eu concordo com ela
Alicate: Você também vai começar com essa palhaçada de direitos humanos?
Sally: *revirando os olhos

Um grito da mulher se tornou compreensível: “PARA! PAAARAAAA! PAAARAAAAAAAA!”

Noiva do Alicate: Taí, agora podemos nos meter?
Alicate: Não. Ela só está mandando parar. Não sabemos o que ele está fazendo
Sally: Você acha que se fosse uma coisa boa ela mandaria parar nesse tom?
Alicate: Eu não sei de nada, justamente por isso não vou me meter. Se ela quiser ajuda, ela que grite por socorro!
Tomir: Você não vai gostar de ouvir isso, mas eu concordo com ele
Sally: Quer dizer que se não for nos seus termos, você não ajuda a pessoa?
Tomir: Não. Quer dizer que se não deixar claro que precisa de ajuda eu não vou me meter!
Noiva do Alicate: Esse grito deixa muito claro que ela precisa de ajuda!
Sally: Concordo
Alicate: Porque mulher quer sempre se meter em tudo?
Noiva do Alicate: Nossa, como você está babaca hoje…
Sally: HOJE?
Tomir: Sally!
Noiva do Alicate: Quer saber? Eu não vou ficar ouvindo esses gritos e ficar de braços cruzados! Vamos chamar a polícia!
Sally: NÃO! FICOU MALUCA?
Noiva do Alicate: *olhando sem entender
Tomir: Ela é do Rio de Janeiro. Lá quando você chama a polícia as coisas só pioram
Alicate: Até a polícia chegar esse cara já matou essa piranha
Noiva do Alicate: Então você admite que a mulher está em risco!
Alicate: A discussão não é o risco, é ajudar quem não pede socorro
Sally: Posso saber porque chamou a mulher de piranha?
Alicate: Porque se a mulher apanha do homem e continua, é piranha. Alguma merda fez para continuar com um cara que bate nela. Se a surra fosse injusta ela ia embora e nunca mais olhava na cara dele
Noiva do Alicate: Eu não vou ficar aqui ouvindo isso!

A Noiva do Alicate abriu a porta e foi tocar a campainha no vizinho. Fui atrás dela. Alicate e Siago Tomir ficaram aos gritos nos mandando voltar. Quando perceberam que não voltaríamos, foram até a porta.

A porta do vizinho se abriu e um homem de terno, descabelado, nos atendeu com uma visível pressa. Era possível ver que havia mais gente na casa.

Noiva do Alicate: Boa noite, Senhor. Sou sua vizinha e fiquei preocupada com os gritos vindos do seu apartamento, gostaria de saber se está tudo bem…
Homem: Está tudo bem! *batendo a porta
Sally: O que foi isso?
Noiva do Alicate: Ele bateu a porta na nossa cara!
Sally: Está escondendo alguma coisa…
Tomir: Sally, não começa!
Sally: Você achou normal essa atitude?
Tomir: Eu não achei nada, Sally, cada um que cuide da sua vida
Noiva do Alicate: Para você é fácil falar, você é homem, não pode chegar ninguém mais forte do que você e te dar uma surra
Alicate: Mais forte que o Tomir? E como pode! Hahahaha
Tomir: *olhando feio para Alicate
Alicate: Já bateram, já fizeram a gracinha de vocês, agora podemos entrar?

Antes que pudéssemos voltar para o apartamento a mulher voltou a gritar muito alto

Sally: Vocês precisam do que para se meter? De um pedido de socorro? Então chega aqui perto da porta e vamos ouvir o que está acontecendo, até vocês se convencerem que é um pedido de socorro!
Tomir: Ridículo isso, Sally. Não vou ficar escutando atrás da porta!
Sally: Na parte do ridículo eu concordo, pois está mais do que claro que a mulher está precisando de ajuda. Mas já que as madames precisam de um pedido de socorro…
Noiva do Alicate: Isso mesmo! Ninguém sai daqui enquanto a gente não entender o que está acontecendo! *colando a orelha na porta
Tomir: Eu me recuso…
Sally: *colando a orelha na porta
Noiva do Alicate: Podem se juntar a nós, porque se a gente ouvir alguma coisa vocês são capazes de não acreditar e não querer se meter só porque vocês não ouviram!
Alicate: Eu não vou fazer isso
Noiva do Alicate: *puxando ele à força
Sally: Vem por bem ou vem por mal?
Tomir: *encostando na porta contrariado

Os gritos ainda estava abafados, mas estavam um pouco mais compreensíveis. Pudemos ouvir o homem gritando “SAI!” várias vezes e a mulher gritando de forma frenética um “NÃO” em resposta. Logo depois ouviu-se o choro de uma criança.

Noiva do Alicate: Ela está na frente de uma criança! Deve estar protegendo a criança do sujeito!
Alicate: Não sabemos
Sally: O choro da criança está aumentando e o cara está mandando ela sair
Tomir: Ok, está estranho, mas ainda não sabemos o que está acontecendo
Noiva do Alicate: Vocês são dois imprestáveis mesmo! Vai precisar alguém morrer para fazerem alguma coisa! Tem uma CRIANÇA envolvida!
Alicate: Você está presumindo isso…
Noiva do Alicate: Chega! Vou chamar a polícia! Não dá para contar com vocês! Não esperava que você fosse tão frouxo!

Ela puxou o telefone do bolso e começou a ligar. Foi bastante enfática, disse que havia uma situação de agressão envolvendo um casal que estava fazendo um escândalo com gritos e pediu que viessem com urgência. Alicate não gostou muito da esculhambada que levou.

Alicate: Eu sou frouxo?
Noiva do Alicate: Você está se comportando como um frouxo
Alicate: EU SOU FROUXO?
Noiva do Alicate: Eu disse que você está SE COMPORTANDO como um frouxo
Alicate: É a mesma coisa! Tá me chamando de frouxo!
Noiva do Alicate: Olha, frouxo eu não sei, mas burro com certeza, pois não consegue ver a diferença entre o que eu falei e o que você falou!
Alicate: Você está me chamando de burro?
Sally: Você É burro, isso é um FATO
Tomir: Sally!
Noiva do Alicate: Como você pode ser tão indiferente ao sofrimento humano?
Alicate: Como você pode ser tão chata?

Começou uma briga entre o Alicate e sua Noiva. A briga continuou por vários minutos e o tom foi aumentando, com gritos tão altos que os as pessoas do apartamento que estávamos stalkeando calaram a boca e abriram a porta para ver o que estava acontecendo.

Homem: O que está acontecendo?
Noiva do Alicate: Pode ir embora, aqui também está TUDO BEM
Homem: Não parece
Noiva do Alicate: Nem na sua casa parece estar bem, a gritaria está bem pior do que essa!
Homem: Não é a minha casa
Noiva do Alicate: Pior ainda então! Fica indo na casa dos outros para causar transtorno!
Homem: Eu porque fui chamado pela família que mora aqui!
Alicate e Tomir: *se entreolhando
Noiva do Alicate: Coisa boa você não estava fazendo com essa mulher que estava aos berros!

Do nada aparece uma mulher na porta

Mulher: Moça, não fala assim com ele não, que o Pastor me salvou!
Noiva do Alicate: Pastor?
Mulher: Ele tirou o demônio do meu corpo! Eu sou muito grata a ele!
Tomir: *rindo
Sally: Como assim? Um exorcismo?
Homem: Não, não… o que eu faço é…
Alicate: TÁ VENDO! TÁ VENDO QUANDO EU FALO QUE NÃO É PARA SE METER!
Noiva do Alicate: COMO É QUE EU PODIA SABER?
Alicate: NÃO PRECISAVA SABER, BASTAVA ME OUVIR!
Noiva do Alicate: EU PREFIRO ERRAR POR AÇÃO DO QUE POR OMISSÃO!
Alicate: DEPOIS O BURRO SOU EU!
Noiva do Alicate: VOCÊ ESTÁ ME CHAMANDO DE BURRA?
Alicate: *imitando um jumento zurrando
Noiva do Alicate: *partindo para cima dele

No meio dessa confusão, agressão e gritaria, dois policiais abrem a porta do elevador

Policial 1: Pelo visto, foi daqui mesmo que reportaram uma briga com gritos e agressão envolvendo um casal…
Noiva e Alicate: Se engalfinhando aos berros
Policial 2: Vão os dois para a delegacia para esfriar a cabeça!
Sally: Não! Espera! A briga veio do apartamento ao lado, aquele ali!
Noiva do Alicate: Isso mesmo! Eu que liguei!
Policial 1: Isso procede?
Homem: Ninguém estava brigando aqui, estava?
Mulher: Não, muito pelo contrário, ele veio aqui para me ajudar…
Policial 2: Além de tudo ainda fizeram uma falsa denunciação de crime? Os dois para a delegacia agora! Vamos! Vamos!
Noiva do Alicate: Eu não acredito que vou ser presa por sua causa!
Alicate: Não, você vai ser presa por SUA causa!
Noiva do Alicate: *tentando bater mas sendo imobilizada pelo policial
Tomir: Eu avisei…
Sally: NÃO É POSSÍVEL QUE VOCÊ ESTEJA FALANDO ISSO!
Policial 2: Vou ter que levar vocês também?
Sally e Tomir: *sorrindo amarelo e se abraçando

Alicate e sua Noiva foram autuados e depois liberados, mas tiveram que responder a processo, o que causou uma tremenda dor de cabeça em ambos. Tomir até hoje joga na minha cara que não tem que se meter a menos que você tenha a absoluta certeza de que a pessoa está pedindo por socorro.

Para dar razão ao Alicate, para dizer que o Pastor deveria ter sido preso por crime de estelionato ou ainda para dizer que sente falta da Saga de Melly: sally@desfavor.com


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