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Pseudo-brigão.

Pseudo-brigão.

| Sally | | 51 comentários em Pseudo-brigão.

Hoje quero falar sobre um tipo muito comum: o pseudo-brigão. Porque “pseudo”? Porque ele dificilmente chega às vias de fato e bate em alguém, ele apenas gosta de ameaçar que vai brigar.

Este tipo de homem se caracteriza por partir para a AMEAÇA de briga sempre que se sente afrontado, desafiado ou que percebe sua “honra” em risco. Apenas ameaça, geralmente quando sabe que vai ter alguém para contê-lo e impedir a briga. Grita, faz barulho, faz ameaças, usa o ouvido dos outros como penico até que sinta sua honra lavada. Nunca faz porra nenhuma, exceto barulho e escândalo. São os mesmos que chamam uma mulher de histérica se ela grita porque viu uma barata.

Alguns fatores aumentam o potencial de pseudo-briga, como a presença de mulheres para as quais ele queira se exibir, bebida alcoólica ou a presença de amigos para os quais ele queira parecer bem macho. Um pseudo-briguento nunca vai dar um ataque de pelancas se estiver sozinho com outro homem que o confronte no meio do deserto. Muito pelo contrário, quando estão sozinhos, eles engolem todo tipo de sapo, chegam a ser capachos, motivo de piada, as pessoas se aproveitam e pisam. Eles engolem e põe para fora uma ira para lavar a honra em pequenos estresses diários, pois sentem essa necessidade de mostrar ao mundo que não são otários. São sim, mas eles acham que um circo eventual limpa sua honra.

Daí temos o cara que briga no futebol porque o outro lhe deu um drible, o sujeito que parte para a briga porque levou uma fechada no trânsito, ou o elemento que arma um escarcéu sem precedentes porque alguém olhou para a sua namorada. Os exemplos são infinitos, mas o tipo é bem fácil de reconhecer. E está aos montes por aí. Você certamente conhece uma meia dúzia que se porta assim. Enquanto eles acham que estão provando sua macheza para o mundo, pessoas esclarecidas percebem justamente o contrário: tanto siricotico é um baita atestado de fragilidade.

Um rápido exemplo. Eu tinha um cachorrinho que pesava 5kg. Quando passeava com ele na coleira e outros cães maiores passavam ele latia, rosnava, forçava seu corpo em direção eles. Sempre. Não havia esporro ou jornalada no lombo que o fizessem parar. Um dia acordei de ovo inexistente virado e decidi que era hora dele aprender uma lição: passou um Pastor Alemão que mais parecia uma cruza de urso com leão e lá foi meu cachorrinho latir e se jogar para cima dele.

Sabem o que eu fiz? Eu soltei a coleira. Quando ele se viu livre, me olhou meio desconfiado. No meio da rua, a louca aqui falou: “Vai, Filho da Puta! Vai! Não era isso que você queria?”. Rapidamente o cagãochorro correu para o meio das minhas pernas meio que resmungando com um rosnado baixo. Essa experiência foi libertadora, porque para quem não sabe, eu acredito que o comportamento canino se assemelhe muito ao masculino, então, me trouxe uma bela resposta. Desde então, todas as vezes que me deparei com um pseudo-brigão, eu solto a coleira e digo : “Vai, Filho da Puta! Vai! Não era isso que você queria?”. De um jeito ou de outro, funciona.

Porque o que o pseudo-brigão quer é justamente uma palhaça que faça esse mecanismo de contenção: ele quer mostrar que é muito macho, que briga, que dá porrada, que não leva desaforo para casa, mas sem efetivamente brigar. Daí vemos cenas RIDÍCULAS como a de meninas de 50kg segurando um marmanjo de 110kg para que ele não brigue.

Meus Queridos, tenham amor próprio, todo mundo sabe que uma menina nunca vai conseguir segurar um marmanjo se ele efetivamente quiser brigar. Se a mãe dele estivesse sendo assassinada do outro lado da rua, vocês acham que a menina conseguiria segurá-lo? Todo mundo percebe. É patético. Menos eles, que dão seu show aos berros achando que estão reforçando sua masculinidade.

Um olhar mais atento detecta rapidamente que essa é uma modalidade de histeria masculina. Assim como mulher chora, grita, quebra coisa, homem também dá piti e faniquito, só que revestido de uma suposta macheza. Homem que quer bater, se aproxima focado na pessoa, sem gritinho, sem ameacinha, sem alarde e dá uma bela duma porrada certeira. Gente que berra, gesticula, ameaça… não quer brigar.

O showzinho pseudo-brigão pode até sair do controle e acabar de fato em briga, porque se um dia o pseudo-brigão cruza com um macho alfa de verdade, vai pagar caro pelo piti que está dando. Mas internamente eles não querem brigar. É apenas uma forma truncada de lidar com suas inseguranças e tentar manter sua honra, que eu meu ver, vai para a lixeira a partir do momento em que a pessoa ameaça e não faz. Gritou que vai bater? Meu irmão, vai lá e bate, se não fica muito feio. Gritou que vai matar? Vai lá e pelo menos tenta, porque se não fizer fica patético.

Você pode estar se perguntando porque tantos homens se comportam dessa forma ridícula. Bem, enquanto tiver plateia, tem show. Enquanto tiver uma mulher idiota fazendo a manutenção dessa babaquice, “segurando” o cara, pedindo para ele se acalmar, ficando na frente, eles vão continuar se comportando assim.

É muito cômodo poder blefar posando de valentão sabendo que o preço não vai ser cobrado. A pessoa desabafa, bota pra fora a raiva, supostamente deixa sua honra intacta e não tem o ônus de efetivamente encarar uma troca de porradas. Cômodo, eu diria. A pergunta é: que tipo de pessoa acha necessário para sua honra fazer esse escândalo?

Um exemplo concreto confirmou minha tese. Outro dia presenciei um acidente de trânsito, coisa boba, sem feridos, envolvendo dois rapazes. Ambos estavam sozinhos e ficaram de dentro do carro se ameaçando. Eu, proletariado que sou, da janela do ônibus, parada em um engarrafamento, comecei a assistir a novela da vida real. Do xingamento, os rapazes começaram a partir para as ameaças e ficaram nelas por bastante tempo, aos berros. Meu lado participativo se manifestou e gritei da janela “VEM CÁ… VÃO BRIGAR OU VÃO FICAR DANDO PITI?”. Os dois ficaram em silêncio me olhando, meio surpresos, meio constrangidos. Isso fez com que todas as pessoas do entorno prestem atenção neles, na expectativa.

Um deles desceu do carro, o outro teve que descer também, porque né, a honra… Continuaram berrando um com o outro do lado de fora do carro, de pé. Grandes merda. Começaram a se aproximar berrando e não demorou muito estavam berrando a um palmo de distância um do outro. Quando a coisa se tornou insustentável, começaram meio a que se empurrar, porque pseudo-brigão nunca mete um socão ou uma porrada de verdade, ele sempre evita ao máximo a pancadaria verdadeira, covarde que é.

Lá estavam os dois patetas se empurrando, que equivale a aquela sequência de pequenos tapinhas que mulheres se dão quando brigam. No que começou o empurra-empurra, que em linguagem corporal significa “estou alardeando que vou brigar venham me separar antes que dê merda”, uma transeunte imbecilóide se meteu a separar. Infelizmente meu ônibus andou, mas eu ainda tive tempo de gritar “BANDO DE FROUXOOOOOS”. Quisessem realmente brigar, alguém tinha enfiado um soco na boca de alguém. Não queriam, queriam mostrar que eram machos. Mostraram que eram palhaços.

É isso que o pseudo-brigão faz: ele dá todo tipo de faniquito para mostrar ao mundo que vai brigar, na esperança que alguém vá e aparte. Pensando de forma racional, para quem quer efetivamente brigar,fazer isso não é uma estratégia inteligente, pois você tem mais vantagem sobre seu inimigo se o primeiro ataque for seu e se for de surpresa. Veja bem, não me refiro a covardia, a bater pelas costas, apenas a não anunciar exatamente o que vai fazer. Quando eu brigo com alguém e pretendo socar a pessoa eu não me aproximo berrando “SEU FILHO DA PUTA, VOU TE DAR UM SOCO DO LADO ESQUERDO DO SEU ROSTO NA ALTURA DO MAXILAR, VOCÊ VAI VER!”. Né?

Quem bate, não dá aviso, justamente porque se está disposto a bater, quer fazê-lo da forma mais eficiente possível. O pseudo-brigão, como não quer bater, quer ser contido, faz barulho, grita, ameaça, grita mais um pouco. Só um covarde tem essa enorme preocupação em não parecer um covarde, gente valente não se preocupa com isso. Os pseudo-brigões sempre se juntam com mulheres que se prestam a alimentar sua neurose e fazer a contenção: “se eu gritar, ela vai me segurar, eu não preciso brigar e não saio como covarde, porque fica parecendo que não briguei porque ela me impediu”. Não seja essa mulher.

Não se deixem usar nesse papel ridículo. Da próxima vez que um pseudo-brigão fizer isso com você, incentive-o a brigar. Empurra ele em direção ao sujeito que ele está antagonizando e fala “Tá certo! Vai lá e mete a porrada nesse filho da puta! Não deixa barato não!”. Observe a reação. É engraçadíssima. Além de engraçada, é pedagógica, grandes chances dele nunca mais repetir o vexame na vida se souber que não vai ter uma palhaça para fazer a contenção.

Mudam de ideia em uma fração de segundo, no que você empurra e incentiva a briga, após alguns segundos de perplexidade, eles refugam: “Não vale a pena, não vou sujar as minhas mãos com esse merda”. Se não valia a pena, porque fez escândalo? Bipolar você, hein? Em um segundo vai matar, no segundo seguinte já não vale mais a pena? E a honra? A honra foi jogada no vaso sanitário e foi dada a descarga, porque ninguém é obrigado a sair na porrada para provar que é macho, mas a partir do momento em que ameaça, é muito vergonhoso amarelar.

Neste ponto, pode ter muita mulher preocupada pensando: “Mas… e se eu o empurrar para a briga e ele FOR?”. Minha Amiga, de qualquer forma vai ser pedagógico. Fica de olho, pois é quase certo que ele apanhe. Gente com esse perfil escandaloso costuma apanhar vergonhosamente. Daí quando a surra ficar feia, uma coisa meio que nível de internação hospitalar, você se mete e separa. Mas deixa ele apanhar um pouquinho, só um pouquinho, que vai fazer bem para a relação, sabe? Algumas vezes, só a porrada constrói. Pode ter certeza que na próxima vez ele vai pensar duas vezes antes de sair gritando que vai bater em alguém.

Você não é obrigada a fazer essa contenção. Não é “desnaturado” da sua parte não segurar um marmanjo adulto para que ele não brigue (a menos que seja seu filho, caso onde você fez a merda, você que lide com ela). Se for filho dos outros, francamente, você não é responsável por aquilo. Ou por acaso quando você se descontrola você fica no ouvido dele berrando “EU VOU COMER AQUELA TORTA DE CHOCOLATE HEEEIN! ME SEGURA! ME SEGURA QUE EU VOU COMER UMA PANELA DE BRIGADEIROOO!”. Não, né? Cada qual que lide com o seu descontrole sem colocar responsabilidades nos outros.

Claro que tem o efeito rebote: grandes chances de um pseudo-brigão largar uma mulher que para de fazer essa contenção. Essa mulheres simplesmente deixa de ser interessante/útil para ele. Sim, é um risco que se corre, mas… quem é que quer ficar com um homem para lhe servir de contenção? Não, né? Se um homem te largar porque você deixou de se prestar a esse papel, cá entre nós, já vai tarde.

Vou além: se mulher nenhuma no mundo se prestar mais a esse papel, essa conduta babaca vai ser extinta em duas ou três gerações, pois os homens vão saber que se abriu a boca para chamar para a porrada, efetivamente vão ter que cair na porrada. E a Lei de Darwin não falha: os pseudo-briguentos que insistirem, serão devidamente exterminados pelos lutadores, homens armados ou simplesmente pelos homens mais fortes, antes mesmo de passar seus genes adiante, acabando de vez com essa raça no mundo. Só depende de nós, mulheres.

Mulheres do mundo, uni-vos e vamos todas soltar a coleira e dizer : “Vai, Filho da Puta! Vai! Não era isso que você queria?” É pedagógico: se ele não for, vai saber que cada vez que der piti vai ficar desmoralizado. Se ele for, vai apanhar e dali pra frente vai pensar duas vezes antes de empombar novamente.

Para reforçar que eu vou morrer solteira, para reforçar que adoraria ter nascido lésbica ou ainda para dizer que é por causa dos Sally Surtada que há grande compreensão e tolerância com os Siago Tomir: sally@desfavor.com


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