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Brasileiros Médios.

Brasileiros Médios.

| Sally | | 180 comentários em Brasileiros Médios.

O ocorrido na última semana me fez pensar e repensar algumas coisas. Nada como repensar, nem que seja para constatar que desde sempre estávamos certos. Infelizmente não foi o caso. Eu, que sempre ataquei o Brasileiro Médio, começo a perceber que talvez uma sociedade sem ele seja inviável, até mesmo em tese. Não tenho nenhuma opinião definitiva formada, muito pelo contrário, gostaria da opinião de vocês para conseguir formar a minha. Para isso, compartilho com vocês meu pensamento.

O Brasileiro Médio, aquele elemento acomodado, medíocre, sem inteligência, sem cultura, sem a menor ambição intelectual vem sendo marretado por mim faz tempo. Critico sua incapacidade de produzir algo de bom para a sociedade em maior ou menor escala (seja uma vacina contra o câncer, seja um post que preste em uma rede social) e também critico sua incapacidade de reconhecer/apreciar quando algo que presta lhes é apresentado.

Cito como exemplo, o texto sobre o lado negro da gravidez. Dois anos se passaram, tive tempo para reler, refletir, e ainda continuo sem ver qualquer problema neste texto. Muito pelo contrário, do meu ponto de vista, não é um texto “contra as mães” como foi massivamente acusado em rede social. Eu o vejo como um aviso do que PODE ocorrer em matéria de desdobramentos desagradáveis que tem uma utilidade prática: preparar a mãe para que ela não seja pega de surpresa e se sinta um lixo achando que aquilo só acontece com ela, que o resto do mundo tem gravidez de comercial de óleo Johnsons.

Entretanto, esse é um dos textos campeões de ofensas: “sua mãe não gosta de você por isso você escreveu isso”. “Você não pode ter filhos por isso escreveu isso”. “Você não tem homem porque é gorda” e muitos outros argumentos nesse estilo permeiam os cerca de 1.500 comentários que foram despejados por lá. Fora os que não foram parar lá, como por exemplo uma famosa blogueira me chamando de “lixo humano” no Twitter. Pessoas incapazes de produzir um texto com a qualidade que eu produzi e incapazes de apreciar um quando lhes é proporcionado. Assim é o Brasileiro Médio.

Durante muito tempo isso me revoltou profundamente. Não as ofensas do texto, que são risíveis, meras projeções do que a pessoa tem de mal resolvido dentro dela. O que me incomodou era a existência destas pessoas no mundo e o fato delas serem maioria. Isso tornava o mundo um lugar desagradável aos meus olhos. Além da sensação de injustiça e inadequação, havia o grande nojo dessa gente intelectualmente inferior. Eu não posso mudar o mundo, mas posso mudar o MEU mundo, o mundo que eu construí aqui. E assim o fiz.

Depois de promover uma grande faxina que cortou para menos da metade nossa audiência, observar e refletir, comecei a me perguntar até que ponto essas pessoas não são “necessárias”. Não para o Desfavor, (para cá esses filhos da puta não voltam nem fodendo!) mas para a sociedade. Porque um blog espelha a sociedade, mas não a emula com perfeição.

Um exemplo: ninguém tem que desentupir latrinas no Desfavor. Nem limpar banheiro público. Nem recolher o lixo. Nem limpar o cocô da jaula do elefante no zoológico. Nem fazer qualquer trabalho para a comunidade que seja considerado pouco nobre ou desestimulante intelectualmente. No mundo real, existem demandas nada sofisticadas que devem ser supridas.

Daí eu me peguei pensando uma coisa ideologicamente horrível: os idiotas, os medíocres, os brasileiros médios são necessários para fazer o serviço que nós não queremos fazer. Aquele jumento que senta ao seu lado na mesa do trabalho tem uma função no “ecossistema” social. Isso me incomodou bastante. E quando uma coisa te incomoda, é hora de cavar fundo, porque tem mais coisa enterrada.

Minha primeira reação foi me repreender por esse pensamento. É um pensamento feio achar que idiotas são necessários para fazer serviços desqualificados. Certamente eu estava partindo de alguma premissa errada. A solução, que é uma constante na minha vida: estudo. Comecei a estudar o assunto. Sociologia, antropologia, psicologia e outras “logias” me deram muitas explicações e me ajudaram a formar uma convicção, que pode ou não estar correta. É apenas minha percepção de tudo que li. E é sobre ela que quero conversar. Trocar ideias. Hoje o pensamento é livre, sem certo e errado, sem amarra do “tema da coluna”. Hoje e brainstorm.

Para melhor compreensão deste texto, vamos pegar um país imaginário para tomar como parâmetro. Vamos imaginar que nós invadimos o Suriname e começamos uma nação do zero. Vamos classificar as pessoas em dois grupos, para fins didáticos: os acomodados, burros, sem ambição e medíocres chamaremos de BRASILEIRO MÉDIO. Os gênios, criativos e inovadores chamaremos de IMPOPULARES.

Meus estudos me revelaram que uma sociedade qualquer precisa de duas coisas para se manter: estabilidade social e progresso. Aparentemente, desde sempre é assim. É preciso uma força motriz que puxe o freio de mão e outra que eventualmente impulsione a sociedade para frente. Evidentemente que a força que freia tem que ser mais forte, se não, não consegue parar quem acelera.

Uma sociedade, por mais evoluída que seja, não sobrevive sem estabilidade social. Meus estudos me indicaram que se todos os membros do Suriname forem gênios, inovadores, o país seria um caos. Confesso que isso me causou um tremendo mal estar. Como assim? Uma sociedade funcional PRECISA dos imbecilóides? Dos medíocres? Do Brasileiro Médio? Eu não quero precisar dessa gente. Mas daí eu pensei… eu quero limpar latrina?

Quem iria trabalhar nas fábricas? Quem iria limpar banheiros? Quem iria entregar cartas do correio? Quem limparia os esgotos? Quem lavaria os pratos de restaurantes? Ninguém faria isso em uma sociedade de gênios. Seria necessário pagar uma fortuna para que um gênio criativo se preste a fazer algo assim e, infelizmente, esses “algo assim” são trabalhos/funções que abundam na sociedade moderna, existem em mais quantidade do que o trabalho intelectual. Não haveria economia que bancasse esse país de gênios.

Por outro lado, um país só de medíocres não evoluí. São as poucas cabeças pensantes que rompem barreiras e impulsionam uma sociedade para frente. Mas, para isso, para ser o acelerador, costuma ser necessário antagonizar com o freio. Não por luta de classes, mas porque são funções implícitas opostas. Os Brasileiros Médios, por sua concepção, sempre tentarão frear os Impopulares. É quase que um papel evolutivo para assegurar a existência da espécie humana. Seriam os Impopulares Siagos Tomires, geniais, mas que precisam de um freio?

Existem pessoas inteligentes, existem pessoas estudiosas, existem pessoas boas. Mas gênios, inovadores, gente que faz a roda da sociedade girar, que apresenta inovações, que abre sua cabeça, que faz a diferença na sua vida, existem poucos. E, historicamente, se você reparar, vai ver que quase todos os gênios foram hostilizados em seu tempo.

Pessoas que não se conformaram com o que lhes era apresentado e por isso foram além. Fizeram o que ninguém fazia na época. Lindo. O problema é que quando você não se conforma e está inserido no meio de uma massa de conformistas, você apanha, tal qual o cachorro que faz bagunça no meio de uma matilha: fica quieto, isso é necessário para nossa sobrevivência. Já pensou se “todo mundo não se conformar”?

Pois é, de fato, “se todo mundo não se conformar” teremos um seríssimo problema. Mas se todo mundo se conformar também. Aparentemente para uma sociedade sobreviver e evoluir esta equação de massa de Brasileiros Médios burros, medíocres e conformados somada a poucos Impopulares é necessária. E no mundo todo, pelo que li, funciona mais ou menos assim.

O que varia é o grau de burrice, conformismo e mediocridade da massa, mas ela sempre está lá. E quanto menos burra, medíocre e inconformada é a média da população, mais a minoria tem que se destacar para conseguir se tornar gênio. Isso deve explicar a quantidade de prêmios científicos que países evoluídos alcançam. Lá a massa não é acéfala, então, para se destacar, você tem que alcançar um grau de genialidade ímpar.

Para existir uma sociedade é preciso organização. Para existir organização é preciso uma série de regras e uma engrenagem que faça essa máquina funcionar. Essa engrenagem é movida por muitas pessoas, que devem desempenhar funções quase que mecânicas e ter um grau de conformismo muito grande, que lhes permita fazer toda a vida a mesma coisa, sem nunca pensar em inovar, pois gente burra quando tenta inovar faz merda.

Por sinal, a maioria dos burros tem consciência disso e é por isso que defendem a estagnação, o conformismo. Eles se usam como parâmetro mundial e depreendem que nunca é bom “inventar moda”. Assim impulsionam a sociedade para a estagnação. Inovação representa um risco em potencial para os conformistas, porque mesmo que dê certo, os obriga a se mexer. Um acomodado nunca gosta de se mexer.

Em uma sociedade capitalista, e aqui falo sem qualquer crítica ao sistema, apenas uma constatação, o Brasileiro Médio é muito bem vindo. Ele é um consumidor fácil, manipulável, dócil. Capitalismo é uma merda mas… você conhece outra forma melhor que efetivamente dê certo na prática? Pois é, para que um país se sustente financeiramente, no contexto atual, uma massa de mão de obra e uma massa de consumo parecem ser requisito. Se alguém conseguir, por favor me desminta, quero muito estar errada.

O Brasileiro Médio é bom para o sistema. Porque produz roboticamente sem questionar e sem se importar em realizar trabalho que não desafie seu intelecto. Também consome facilmente, atendendo a apelos da mídia e modismos. Ele faz sua parte ativa e passivamente para a engrenagem do sistema funcionar. Como são muitos, sustentam a economia.

Talvez por isso, o sistema educacional seja moldado para formar mais e mais Brasileiros Médios. Todo mundo com o mesmo uniforme, todo mundo desempenhando as mesmas tarefas, foda-se a aptidão pessoal de cada um. Todo mundo obedecendo. Todo mundo nivelado igual na hora da prova em vez de tentar tirar de cada um o que tem de melhor. É assim em quase todos os países. Um convite a não ser diferente. Vale a ressalva do brilhante sistema de ensino da Finlândia, um dia ainda falo sobre ele.

A cultura também corrobora: o que é mostrado nos meios de comunicaçãoinduz à inspiração de vida das pessoas. A mensagem é “se mate de trabalhar para virar o chefão não sei da onde, para ter dinheiro para comprar o carrão tal e o celular tal”. Sabe-se que 99% nunca vai chegar lá, mas se incute essa vontade para fazê-los trabalhar feito camelos para o sistema.

O que vestir, o que usar, o que comprar, tudo isso é programável quando a maior parte da sociedade e de Brasileiros Médios. Caso contrário, não haveria moda, não haveria bestseller, não haveria consumo de massa. Como ficaria a economia? Provavelmente cagada, não sei, me digam vocês economistas.Assim como o sistema não quer autenticidade, diversidade, o Brasileiro Médio não quer individualidade, ele quer um mundo de padrões que lhe diga o que vestir, o que comprar, como ser igual a todos, como ser aceito. Não quer pensar, quer que pensem por ele. É mais fácil assim. Junta-se a fome com a vontade de comer.

Para ser Impopular é preciso insatisfação, não necessariamente no sentido de revolta. É a insatisfação que nos impulsiona a melhorar, a ir além. É o inconformismo que nos leva ao questionamento, que faz surgir novas ideias, novas formas de execução. Enquanto o Brasileiro Médio é um conformado, o Impopular é um inconformado.

Seria possível construir uma sociedade de inconformados? Infelizmente, dentro de tudo que foi “inventado”, me parece que não. Mas eu sou uma inconformada e não pretendo aceitar. Bem, independente da resposta, o inconformismo incomoda o conformado, pois ameaça-o na sua zona de conforto. O conformado se hiper-adapta a qualquer merda, não quer pensar, não quer questionar, quer fazer seu papel e se divertir nas horas vagas. Parece evidente que o Brasileiro Médio tenda a se voltar contra o Impopular. O que o Impopular propõe antagoniza com o que ele quer.

É lucro tentar calar a boca de quem é mais inteligente que você, por diversos motivos. Primeiro para que não percebam a burrice, no padrão comparativo. Mas também para evitar uma mudança, que poderá implicar em mais trabalho, em mais adaptação, em mais investimento que o Brasileiro Médio está disposto a dar. Seu papel, que acaba promovendo estabilidade social, é justamente o de tentar parar os Impopulares. E o papel dos Impopulares, que é promover o avanço, é vencer os obstáculos colocados pelo Brasileiro Médio.

Por isso as pedradas. Claro que o Brasileiro Médio dificilmente vai ter uma vaga noção de todo esse mecanismo. Ele dá as pedradas nos Impopulares quase que instintivamente. “É diferente? É criativo? É inovador? É um trabalho bem feito? Me incomoda de forma visceral, não sei porque, mas bate uma fúria e eu dou pedradas”.

O sentimento de incômodo é tão verdadeiro e tão profundo (talvez pela raiz evolutiva do papel que desempenham) que não pode estar errado! Eles sentem aquilo muito vívido e agem. Vai lá, bate no Rafinha Bastos que fez piada com grávida, bate no Danilo Gentili que fez piada com amamentação, bate em qualquer um que esteja ameaçando a estabilidade social.“Isso não se faz!”. Desculpa mas… o que não se faz está no Código Penal. O resto é convenção social, que eu me permito desafiar. Quem você pensa que é para me dizer o que não se faz?

Guardiões da estabilidade social, eles responderão. Tem que bater em quem esteja fazendo algo diferente do que é socialmente aceito, que esteja inovando, que esteja trazendo questionamento. Vai lá e xinga de tudo quanto é nome a filha da puta que ousou quebrar a convenção social de que gravidez é uma bênção que só tem coisas boas, porque ela é um perigo. Tem que silenciar quem não entoa coro com a multidão. Estabilidade social.

E eles sabem que podem bater, eles sabem são maioria eque a maioria vai se juntar a eles e bater junto. A facilidade com a qual se bate é maior quando você sabe que a multidão está do seu lado. Eles não sabem racionalmente porque aquilo os deixou tão bravos, tanto que as explicações são as mais truncadas e contraditórias possíveis, mas o sentimento é tão forte, que eles batem convictos.

Assim o mundo parece caminhar, nessa minha nova visão: os medíocres em esmagadora maioria o tempo todo atacando os inovadores, tentando sufoca-los, desmerece-los, pressioná-los para que eles se ajustem ao padrão, porque o padrão é seguro, o padrão gera estabilidade social. Uma frase do escritor Jonathan Swifft (spoiler: Gulliver) escrita em torno de 1700 sintetiza muito bem a questão: “Quando surge um verdadeiro gênio no mundo podemos reconhece-lo pelo seguinte sinal: todos os medíocres conspiram contra ele”.

A triste conclusão que cheguei é a de que no modelo social que eu conheço, a presença de Brasileiros Médios é inevitável, pois de uma forma muito cagada, eles trazem estabilidade social. Eles desempenham papéis que os gênios jamais aceitariam desempenhar por toda uma vida, eles mantém a engrenagem funcionando, eles aquecem a economia. Bem ou mal, colocam freio na siagotomirice inerente à genialidade. Ao que tudo indica, isso é necessário evolutivamente.

Talvez possa ser elevado um pouco o grau de ignobilidade dessa massa, mas sempre será necessária uma massa medíocre. Não gosto da ideia, mas a outra opção que me vem à cabeça e a escravidão, que também não me agrada. Se vocês puderem me ajudar a pensar em algum modelo social que possa ser desenvolvido apenas com gênios, eu vou ficar muito, mas muito feliz.

Como bons inconformados que somos, como elite intelectual selecionada a ferro e fogo, acho que podemos debater o assunto e CRIAR um novo modelo social onde não precisemos dos medíocres. Sim, esse é meu grau de arrogância, esse é o grau de desafio que estou apresentando a vocês. Vamos criar um novo modelo social que subsista sem os medíocres. Não é uma pergunta, é uma afirmação. Reflita e comente, a contribuição mas boba pode ser o fio da meada para uma ideia brilhante. Tenha fé em você, reflita e comente.

Para dizer que escravidão nem é tão ruim assim, para sugerir tudo automatizado por robôs ou ainda para tirar a poeira do cérebro e coloca-lo para funcionar: sally@desfavor.com


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