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Feminismo.

Feminismo.

| Sally | | 108 comentários em Feminismo.

Muito se discute sobre Feminismo. Geralmente as pessoas tem opiniões fortes, certezas e uma postura até meio agressiva. Mas… você sabe realmente o que significa FEMINISMO?

Feminismo, em sua concepção original, significa a ideia de que a mulher não é inferior ao homem e pressupõe a não-hierarquia entre os sexos, no sentido de não existir a dominação de um gênero pelo outro.

Infelizmente esse conceito foi deturpado, banalizado e esculhambado pelo Brasileiro Médio, com seu pequeno cérebro de caroço de uva, em parte por burrice e desinformação e em parte por má-fé. Em seu eterno Transtorno Obsessivo Compulsivo por antagonismo, muita gente pensa: se existe um “machismo”, onde a concepção é de um homem superior à mulher que a domina, então o feminismo deve ser o contrário, mulher pisoteando homem. NÃO É. Quem faz esse uso do termo Feminismo, o faz errado.

Infelizmente o mau uso da palavra Feminismo vem sendo mais frequente do que o bom uso, o que cria uma série de estigmas em relação às feministas, estigmas estes que escuto repetidas vezes após cada texto postado na coluna “Sally Surtada”. Graças a esses estigmas as pessoas parecem estar com medo de se dizerem Feministas, mesmo quando sabem o conceito real. Tentam se esquivar, não se comprometer, não se posicionar.

Pois bem, dizer “não sou nem machista nem feminista” é uma burrice tão grande quanto dizer “A temperatura está zero graus, nem frio nem quente”. Se você acha que homens e mulheres devem ser tratados de forma equânime, desculpa te informar, você é feminista. Lute contra a propagação do conceito errado, que é a coisa digna a se fazer. O Feminismo não luta contra os homens, nem contra gênero, apenas contra a ideia de que a mulher é inferior.

Para piorar um quadro que já era crítico, um grupo muito equivocado, que eu costumo chamar de “Feminazi” também contribuiu para fomentar essa imagem negativa. Mulheres dizendo que homens são todos estupradores em potencial, instigando outras mulheres a declarar guerra contra homens e incitando a raiva terminaram de queimar o filme do Feminismo no Brasil. Colocaram o Feminismo como uma forma de superioridade feminina, um conceito muito equivocado. Pronto, nasceu um bicho-papão. Agora, para explicar que focinho de porco não é tomada, vai ser trabalhoso, porque o machismo é conveniente para muita gente.

Machismo é dominação, sujeição da mulher às vontades do homem. Feminismo significa direitos iguais. Se na sua cabeça feminismo significa ódio, raiva, dominação da mulher sobre o homem, apague isso agora. Feminismo é igualdade entre os sexos, no sentido de que a mulher não é inferior ao homem. Você pode estar rindo e pensando que isso, o fato de mulher não ser inferior a homem, é algo tão óbvio que nem precisaria ser dito. Bem, vivemos em um país onde ainda há juízes que absolvem marido que bateu na esposa porque ela queimou o feijão. Infelizmente precisa sim.

Por incrível que pareça, o feminismo ainda incomoda. Todo homem acaba se beneficiando de forma direta ou indireta com o machismo, muitos sem nem ao menos perceberem. Por não incomodá-los ou prejudica-los de forma direta, muitos nem mesmo se dão ao trabalho de pensar sobre o assunto. Ainda que não tenham a intenção de tirar proveito, a vida para o homem fica mais fácil, mais cômoda, no machismo. Então, por tirar muita gente da sua zona de conforto, o Feminismo incomoda. E como tudo que destoa, que difere, que incomoda no Brasil, vem sofrendo ataques e sendo esculhambado.

O curioso é que até nisso vemos refletido o jeitinho brasileiro. O brasileiro é um povo tão bunda que conseguiu criar a pior sociedade possível para as mulheres. Porque se fossem machistas puros, seria péssimo, mas ser machista seletivo é ainda pior: não pagam a conta, não sustentam a casa sozinhos, mas chamam mulher de piranha se usar short curto. Parece que pegaram a pior postura possível: o lado crítico escroto do machismo e combinaram com o “ônus” (muitas aspas aqui) do Feminismo. Ou seja, a mulher está ferrada.

Desse híbrido bisonho entre o lado conveniente do machismo e o lado conveniente do Feminismo surge para os homens surge uma relação contraditória e babaca: igualdade nas obrigações e desigualdade nos direitos. Sensacional. Parabéns pelo grau de escrotidão alcançado!

A mulher vai ter que trabalhar tanto quanto o homem, mas quem vai mandar na casa é o homem. A mulher vai ter que estar dentro dos padrões estéticos que o homem quer, mas se usar short é piranha. A mulher não pode ser dependente do homem, mas se tiver mais parceiros em seu passado do que ele ache aceitável, ele não vai leva-la a sério. Bastante contraditório, não? E no cuzinho, não vai nada? Vai sim, mas só no da mulher, porque homem que faz fio terra é viado. Aff.

E quem ousar contestar, quem ousar levantar essa lebre, vai ser estigmatizada para ter seu argumento desmerecido, porque essa gente desmerece o interlocutor em vez de debater ideias: feminista é sempre baranga, não cuida do corpo, não se depila, não pode usar maquiagem, não gosta de homem e tantas outras mentiras.

Com isso, a contrario senso, muita mulher desavisada pensa: “Eu uso maquiagem, eu gosto de maquiagem, então eu não devo ser feminista”. A questão passa longe disso. O Feminismo prega que a mulher tenha o direito de ser quem e como ela quiser: use maquiagem se quiser usar ou não use maquiagem se não quiser usar. Ela (e não o homem) decide.Não tem dessas regrinhas de “faz tal coisa, é feminista”.

Feminismo não é um conceito rígido. Você constrói o seu Feminismo. A premissa é: homens e mulheres são iguais, mulheres não devem sujeição a homem. Dentro desses conceitos, você desenha o contorno que quiser. Não é religião, não é receita de bolo, não é conceito fechado de “isso pode”, “isso não pode”. E para ser feminista não precisa ser ativista. Nem mulher. Um homem pode ser feminista. Na verdade, para ser feminista, o requisito é um só, e eu vou insistir no conceito, porque ele vem sendo muito deturpado: entender que homens e mulheres são iguais e que mulher não guarda relação de sujeição a homens.

O Feminismo vem sendo estigmatizado de tal forma que se torne vergonhoso ser feminista: se você é Feminista é maluca, é feia, é histérica, é mal amada, é radical e odeia homens. A própria palavra “Feminista” em si, já é usada com uma carga pejorativa, o que é lastimável. Criou-se um círculo vicioso difícil de romper. Experimente dizer que você é feminista em determinados meios e observe o deboche, o tratamento pejorativo.

Os ataques ao Feminismo são baixos. São pessoas que xingam, ofendem, desmerecem, desmoralizam e mentem. São realmente atitudes irritantes e reprováveis, dignas de emputecer qualquer um. O problema é que quando você se emputece com gente passivo-agressiva e responde à altura, eles jogam um holofote na sua agressão, minimizam a deles e se fazem de vítimas. E olha, isso funciona que é uma beleza no Brasil. Infelizmente esse mecanismo cruel de culpar a vítima quase sempre dá certo. E deu. As feministas viraram as vilãs.

Daí para feminista virar sinônimo de mulher que é “contra homem” foi um pulo. Virou maluca, histérica, descontrolada. Claro que algumas figuras equivocadas Feminazi dizendo que “todo homem deveria ser castrado” também contribuíram para sujar a imagem do Feminismo, além de sabotagem dos próprios machistas travestidos de feministas. Tudo isso sujou o conceito de Feminismo de uma forma brutal. Talvez um dos piores marketings negativos que eu já tenha visto se fazer contra um grupo nos últimos tempos.

Graças a esse estigma, hoje, aos olhos de muitos, é “feio” ser feminista. Não “feio” no sentido de “errado”, mas feio porque não é cool. Feministas pintadas como um grupo de barangas mal amadas que tem raiva de homem não são exatamente um grupo do qual se queira participar, certo? O nome do Feminismo foi sujado de tal forma que a limpeza está bem difícil, ainda mais quando temos a mídia, muitas vezes, jogando contra.

Some-se a isso o fato de que as pessoas tem preguiça de pensar, de questionar algo que já foi “consolidado” como uma verdade. Preferem engolir uma opinião pronta do que ter o trabalho de elaborar a sua buscando diversas fontes. Feminista é baranga, mal amada e não gosta de homem, e se você ousar desafiar esta premissa e questioná-la, podem pensar que você é baranga, mal amada e não gosta de homem. Melhor não se arriscar (muita ironia aqui).

Eu arrisco dizer que se fizer uma enquete com o povão perguntando o que eles entendem por Feminismo vai sair muita besteira. Não é a toa que vemos pérolas como “não sou nem machista nem feminista, acho que ambos os sexos são iguais”. O medo de ser enquadrado no rótulo supostamente negativo de Feminista assusta tanto que a pessoa fala uma besteira dessas.

Nesse mundinho de curtidas, de necessidade adolescente de se adequar ao grupo (mesmo depois da vida adulta), poucas pessoas tem a coragem de contrariar uma verdade consolidada no bando que as cercam e se arriscar a ficar com um estigma negativo. Lamentável, pois não é porque podemos usar uma saia curta ou trabalhar que o machismo acabou. Mulheres que desempenham a mesma função que homens ainda ganham menos, mulheres ainda tem a vida sexual policiada e tantos outros exemplos de machismo, digamos, um pouco mais discreto, que passam batidos por olhos menos atentos, graças ao costume.

Sim, a gente se acostuma. Aprende que mulher que faz certas coisas será mal vista socialmente. Tenta não fazê-las, ao menos abertamente, para se preservar, porque sabe que este país é machista. Não peço a ninguém que peite a sociedade em detrimento do seu bem estar, porque sei bem o custo, mas lutar contra o machismo de uma forma abstrata é mais do que dever de quem quer uma sociedade menos escrota.E lutar não é brigar. Semeie informação. As trevas vem da ignorância, disseminar informação de uma forma que ela seja ouvida e compreendida é o antídoto. Brigando dificilmente a mensagem será passada adiante.

Homens, OUÇAM com o coração aberto: tire alguns minutos agora para se perguntar no que você é machista, porque o que eu mais vejo é homem não se achando machista mas agindo como um quando lhe convém. Sim, você é machista, todos nós somos o somos em algum grau, estamos “contaminados” pelo entorno. Reflita se em todas as situações você trata uma mulher de forma equânime, seja nos atos, seja no juízo de valor que faz a respeito dela. Reflita, evolua.

É nos detalhes, aqueles que quase nunca paramos para pensar porque estamos sempre muito ocupados, que reside o machismo hoje. E é difícil identificar, pois são atos tão reiterados que se revestem da cultura, de uma falsa normalidade gerada pelo costume. É preciso um olhar crítico, um distanciamento da situação e muita atenção para não se pegar sendo machista.Eu mesma me pego sendo machista sem perceber.

Depois desse “estrago” que fizeram com o termo “Feminismo”, será necessária uma longa faxina para mostrar às pessoas o que ele realmente significa. Minha opinião: para que essa faxina seja eficiente e mais rápida, temos que agir com compaixão e não com raiva.

Quando alguém te fala uma besteira enorme, tipo “manga com leite faz mal” ou “a Terra é quadrada” você agride a pessoa? Provavelmente não. Dá até uma certa pena. É com essa compaixão que eu gostaria de responder a todos os babacas que dizem coisas como “eu sou machista porque prezo por certos valores”. Que valores? Que mulher é inferior ao homem? Certamente não. A pessoa está apenas equivocada, está sendo ignorante, está usando um termo achando que significa uma coisa quando na verdade significa outra. Proponho que nos policiemos para divulgar informação sem agredir, para quem sabe assim, sermos ouvidas.

Eu ainda deslizo no machismo. Ainda tenho muito a me corrigir, e certamente ainda tenho muita coisa a perceber, mas ao menos estou atenta. A maior parte das pessoas parece aceitar o fato de que Feminismo é essa escrotidão que pintam e ponto final. Espero ter conseguido desfazer essa ignorância na cabeça de alguma pessoas. Pense no que você pretende fazer para ser menos machista e para tornar o mundo menos machista. E vocês, homens, lembrem-se: não fomos nós mulheres que saímos da sua costela, foram vocês que saíram do nosso ventre. Um pouco mais de respeito e consideração, por gentileza.

Para quem quiser se informar melhor: Clara Averbuck, independente do tema, sempre uma ótima leitura.

Para trazer à tona um debate sobre pagar a conta do motel (pode vir, estou preparada), para me xingar como de costume ou ainda para perguntar porque tantas supostas feministas vieram me dizer que eu sou obrigada a ter filhos no texto sobre lado negro da gravidez: sally@desfavor.com


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