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Inbolíveis.

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| Sally | | 131 comentários em Inbolíveis.

“Carioca é tudo malandro, estelionatário, safado”. “Paulista é tudo babaca e corno”. “Japonês tem pau pequeno”. “Argentino é tudo filho da puta”. “Português é burro”. “Judeu é pão duro”. “Mineiro é traíra”. “Gaucho é tudo viado”. Eu poderia ficar aqui até amanhã desfilando clichês que classificam pessoas de acordo com seu local de origem. Certo ou errado, quase todo mundo faz, e as “vítimas” lidam com isso desde sempre. Mas agora, um novo grupinho de Intocáveis resolveu se ofender. Pipocaram acusações de racismo na internet contra nordestinos esta semana. Vamos olhar mais de perto essa acusação?

Nordestinos. Ofendidos por natureza, vira-latas, complexados. Chamar nordestino de burro agora gera processo e faz o Ministério Público trabalhar. Não interessa que provas de avaliação comprovem que de fato o desempenho intelectual por lá deixa a desejar, se alguém chamou nordestino de burro é racismo, é em função da sua raça. E daí surge a premissa falsa que serve de base para uma série de argumentos que não se sustentam.

Sim, os nordestinos costumam ser mais burros, é uma tendência. Mas não por serem uma “raça inferior” incapaz de aprender. São mais burros e se saem pior do que Sul e Sudeste em avaliações porque a educação e infraestrutura são significativamente piores. Qualquer ser humano colocado em um situação desigual dessas se sairia pior, quando comparado a outro que teve amplo acesso a uma infraestrutura melhor. Não tem nada a ver com a raça, tem a ver com a falta de oportunidade que nascer no nordeste acarreta.

Mas os ofendidos de plantão desconsideram essa realidade notória e preferem se vitimizar, gritando “racismo!” cada vez que alguém acusa os nordestinos de algo negativo. Muito mais fácil jogar o problema para o colo do outro: a crítica não tem fundamento, a crítica vem de um monstro preconceituoso. Deve doer menos pensar assim do que perceber que mora em uma região desfavorecida que não oferece os subsídios necessários para o pleno desenvolvimento intelectual de um ser humano. Em vez de lutar para melhorar aquela precariedade, aquele atraso civilizatório que é o nordeste, vamos calar a boca de quem divulga isso.

Antes que me acusem de preconceito, esclareço que, infelizmente, eu já morei no nordeste. Eu vi de perto o atraso civilizatório que é. Não é exagero, são pessoas que se acham no mesmo padrão do resto do país e estão dezenas de degraus abaixo, seja em educação, seja em cultura, seja em higiene. Não, não é preconceito, é pós-conceito. Não é uma opinião, é uma constatação. Qualquer pessoa, brasileira ou não, que tenha sido criada em um ambiente de cultura e educação percebe a discrepância quando pisa no nordeste. Qualquer avaliação cognitiva vai comprovar essa discrepância.

Em vez dos nordestinos usarem suas forças para pleitear uma melhora no sistema educacional, para tentar evoluir, melhorar e acompanhar o nível do resto do país, eles preferem negar a realidade e se ofender quando ela é trazida à tona. Eles de fato são tão limitados que parecem incapazes de perceber que estão abaixo do resto do país intelectualmente, não por serem inferiores, que não o são, e sim por falta de oportunidade de aprimoramento.

Como mecanismo de defesa, ficam com aquele orgulho nordestino idiota, atacando quem fala coisas que eles julgam desagradáveis. Um paulista falou mal do nordeste? Vão e falam mal de São Paulo. Não entendo como uma pessoa pode ser tão burra de criticar um suposto preconceito e no segundo seguinte, fazer exatamente o mesmo que criticou para se defender. E ainda se ofender ao ser chamado de burro. É burro ao quadrado, por fazer burrice e por nem ao menos perceber que está fazendo burrice.

Evidente que aqui estamos falando de tendências. Não levemos a ferro e fogo. Existe uma tendência a que a população do nordeste seja mais sofrida, tenha menos acesso a educação formal, cultura e outros componentes de um IDH decente. Por isso, apenas por isso, tendem a ter um desenvolvimento intelectual menos pleno que o resto do país. Existem nordestinos inteligentíssimos? Sem dúvida alguma. Mas são a exceção, geralmente pessoas que tiveram a oportunidade de sair do nordeste, abrir sua mente e ter acesso a uma educação de qualidade.

“Você está dizendo que não existe educação de qualidade do nordeste?”. Sim, eu estou dizendo isso. A precariedade, a incompetência na prestação de serviços, a falta de infraestrutura e muitos outros fatores fazem com que a educação por lá deixe sim a desejar. Ou um autodidata corre atrás por conta própria e se destaca, ou sai de lá para estudar em outro lugar para abrir os horizontes. Depender de qualquer prestação de serviço do nordeste é fazer um pacto com a mediocridade.

Se você se olha no espelho e se vê gordo, não adianta chutar o espelho. A realidade só muda se você emagrecer. Não adianta nordestino chutando o resto do país pela imagem que eles espelham do nordeste, melhor seria lutar para mudar a sua realidade, em vez de lutar para que o resto do país não possa falar o que pensa deles. Talvez assim parem de obter um parco reconhecimento por batuque, carnaval ou praia. Me chamem quando ganharem um Nobel ou algum prêmio científico.

Todo brasileiro aguenta algum tipo de estereotipo negativo imputado por brasileiros de outro estado. Paulistas falam mal de cariocas e vice-versa. Gaúchos tem fama de viados. Mas sobre nordestino não pode falar. Talvez porque no caso deles, seja verdade, e por isso ofenda. Se a carapuça não servisse, provavelmente a ofensa não doeria. E não se enganem pensando que esse sentimento de que nordestino é intelectualmente inferior é algo pontual de “preconceituosos racistas” na internet. Isso é uma constante, uma realidade, uma unanimidade em todo o país. As pessoas não falam porque tem medo, mas todo mundo pensa assim.

Por curiosidade, resolvi ler as tais páginas com “ofensas” a nordestinos. Esperava ver coisas de cunho RACISTA, ou seja, ofensas em função da RAÇA. Coisas como “uma pessoa que nasce no nordeste não tem cérebro e nunca vai conseguir aprender nada”. Isso é uma ofensa em função da RAÇA, uma coisa hitleriana, de pensar que existe uma raça geneticamente superior ou inferior. ISSO é racismo.

Mas a palavra parece estar banalizada a tal ponto que mesmo mentes mais atentas esquecem seu significado. Racismo hoje é qualquer coisa que ofenda uma determinada raça. Recentemente tive acesso a um processo onde um negro imputava como crime de racismo o fato de um blog ter escrito que negros tem um pênis avantajado. Quer dizer, não se pode mais fazer qualquer referência que diga respeito a um grupo homogêneo pois isto poderá ser classificado como racismo, por mais que seja algo supostamente elogioso.

As tais ofensas racistas são coisas como “Dilma só ganha voto desse povo burro do nordeste” ou “alguém separa o nordeste desse país, por favor”. Não vejo o menor problema nestas duas frases. Muito pelo contrário, eu concordo com ambas. Mas o Ministério Público DO CEARÁ super se ofendeu e achou que havia racismo ali. Até que ponto estas pessoas estavam falando sério ou fazendo piada? Nunca saberemos, mas não importa, mesmo sendo piada, não pode. Recentemente uma piada também gerou processo.

Dizer que quando um goiano chega em casa e encontra sua esposa com outro propõe ao amante formar uma dupla sertaneja ok. Dizer que carioca é tudo bandido, ok. Dizer que paulista prefere o carro do que a mulher tá joinha. Dizer que gaúcho é “polo exportador de viado” tá beleza, o próprio Lula já disse, na frente das câmeras. Dizer que mineiro só é solidário no câncer pode. Mas brincar que um ônibus virou por causa do tamanho da cabeça avantajada dos cearenses é um crime hediondo. Assim entendeu o Ministério Público Federal, que quebrou o sigilo dos coitados que fizeram essa piada online. Nem piada pode.

O tamanho da cabeça de nordestino sempre foi motivo de piada, desde Trapalhões e Escolinha do Professor Raimundo. Os tempos mudaram? Agora não pode mais? Ok, se for o caso, então que não possa mais para ninguém: não se faz mais piada com carioca, paulista, gaúcho, mineiro, goiano… Mas não é assim que funciona.

Após a eleição da Miss Brasil, que é nordestina, alguém comentou que seu sotaque era “sofrível”. O Ministério Público foi em cima. Meio mundo fala mal (com razão) do sotaque dos cariocas e dos paulistas (com termos bem menos elegantes) e nunca vi o Ministério Público processar por isso. O nordeste é como aquele filho deficiente, que não é forte o bastante para brincar de igual para igual com os irmão “normais”. Superprotegido pelo papai Judiciário, porque simplesmente não consegue aguentar um tratamento normal. Não podemos mais achar feio o sotaque, porque é crime.

Curioso que o Ministerio Público não cai em cima de quem fala mal de outros estados, como por exemplo o Tumblr Esses Paulistas. Também não se incomodam com as milhares de citações ofensivas em redes sociais contra cariocas, paulistas, gaúchos, mineiros, goianos e outros. Só é crime, só repercute, só merece atenção do Judiciário quando diz respeito ao nordeste. O nordeste é aquele filho com paralisia cerebral, cabeçudo, cheio de dentes na boca, disforme, mas que todo mundo posta elogios quando a mamãe coloca foto no Facebook: “lindo!”, “anjinho!” etc. Todo mundo pensa, mas ninguém fala “foi mal, seu filho é feio”.

É isso. Não pode mais falar NADA que seja negativo, pejorativo ou crítico a respeito de nordestino. Mais um grupo de Intocáveis emerge com força total. Meu voto vai para eles como Intocáveis do Ano. Acabou, não pode mais desagradar, contrariar ou bater de frente com nenhum nordestino, porque a presunção de escrotidão vai pairar contra você, não importa o que aconteça. Nordestinos agora são nossos senhores feudais, podem nos açoitar em praça pública e nós teremos que agradecer, porque se falar algo que os chateie… RACISMO!

Lastimável que algo tão “dois pesos e duas medidas” seja perpetrado com tanta normalidade. Lamentável que as pessoas abaixem a cabeça com medo de contestar uma injustiça por medo de que imputem a ela uma falsa acusação de racismo. Chantagem social, uma forma fácil de calar a boca de quem te incomoda. Tudo vira racismo.

Um a um os grupos mais canalhas da sociedade estão se valendo disso, para ganhar uma intocabilidade conveniente. Como se os próprios nordestinos não ridicularizassem em público o sotaque do carioca ou do paulista… mas não faz diferença, nos braços do PT, eles conseguiram um grau de vitimização que torna qualquer frase que os ofenda uma frase racista.

Em vez de estudar, se aprimorar, parar de mijar na rua e cuspir no chão, se capacitar, aprender a prestar serviço com excelência e melhorar em tantos outros aspectos, eles focaram a artilharia em desacreditar, calar e punir quem os critica. É isso aí. Nos resta calar a boca, nessa nova forma chantagista de censura, e passar a falar o que pensamos de forma cifrada, indireta e inteligente, forma esta que eles não serão capazes de entender.

Para ameaçar me processar, para sugestões de ofensas cifradas tipo “soldadinho” ou ainda para dizer que quando você pensa que a coisa não pode piorar, ela piora: sally@desfavor.com


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