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Tudo novo de novo.

Tudo novo de novo.

| Desfavor | | 18 comentários em Tudo novo de novo.

2014 vai nos deixando, mas uma dúvida permanece.

Tema de hoje: Ano novo, vida nova?

SOMIR

Sim. Quem me conhece – ou pelo menos conhece o que eu costumo escrever – já sabe que eu não vou atribuir nenhuma característica mágica à passagem de ano. Para todos os efeitos práticos, é só uma mudança num calendário inventado. Mas mesmo assim, não façamos pouco do poder do momento e todos seus significados (igualmente inventados).

Tudo o que é novo nessa vida começa em algum momento. Quando é esse momento depende de diversos fatores, a maioria personalíssimos. Começar a arrumar um armário ou começar um relacionamento, não importa o tamanho do desafio, todos eles tem um ponto inicial. Apesar da vida não parar para esperar ninguém, esses pontos iniciais normalmente tem algo em comum: a disponibilidade.

Precisamos de um mínimo de tempo e capacidade de lidar com o novo antes de encará-lo. Algumas pessoas tem mais tempo, outras tem mais capacidade, mas na média é comum que nos preparemos um pouco para iniciar um novo projeto de vida.

A passagem do ano é um daqueles momentos onde há uma convergência de facilitadores para começar algo novo. Não é à toa que as pessoas se condicionaram a tratar essa época como uma de novidades e esperanças. O corpo e a mente vem de um longo ano de trabalho e problemas, esperando ansiosamente por um pouco de paz na época das festas. Quando ela vem, é natural que tenhamos um momento de reflexão e comecemos a exercitar aquela parte da nossa mente que anseia pela novidade.

O ciclo anual é muito poderoso na sociedade humana. Vivemos em função dele, sincronizando nossa vida de acordo com seus momentos. A virada do ano é o período no qual nos permitirmos olhar para trás e fazer um apanhado de nossa vida até aqui. No resto do ano quase sempre não dá tempo.

E também é a hora em que diversas indústrias (inclusive a cultural) introduzem novidades na nossa vida cotidiana, preparadas com antecedência na espera do momento ideal. São milhares de anos de condicionamento: a virada do ano é o ponto de recomeço quase que instintivo do ser humano.

Claro que ninguém é obrigado a pactuar com esse ‘inconsciente coletivo’, mas existem vantagens de se andar com o bando. Tentativas de mudança realizadas nessa época tendem a ser mais bem aceitas pelos que te cercam, mesmo que seja a manjada inscrição anual na academia em Janeiro. Nossas mentes estão esperando mesmo mudanças, é até reconfortante quando elas acontecem.

Não há nenhuma mão mágica celestial te empurrando para uma vida nova, mas isso não significa que a mudança seja inalcançável. Para uma vida nova, o primeiro passo é querer uma vida nova. Cidadão pode fazer isso durante o ano inteiro, mas se aproveitar o momento ideal da sociedade humana para tal, melhor ainda.

O ano novo é uma vida nova potencial. O próximo ciclo de avaliação está no seu ponto mais distante, então é hora de dar material para ele. Saber alinhar seus novos começos com o começo do ano te traz a vantagem de lidar com gente menos fechada às novidades e muitas vezes igualmente empolgadas para aplicar mudanças em suas próprias vidas. Não faz mal ter um pouco mais de companhia nas suas novas aventuras.

Nada mais democrático que a passagem do tempo: ela acontece para todos da mesma forma. Se somos nós que criamos os marcos pelos quais a medimos, não há nenhum problema em nos apropriar deles para criar significados relevantes para nossas vidas pessoais. Muitas vezes o que precisamos é de um ponto de partida.

Se o ano está começando para todos, vai dizer que não é uma boa hora para começar com algo novo você também? Não estou dizendo que só o ano novo permite mudar a vida, mas que há algo nele que facilita o processo. Já tive minha fase inconformista e acreditei que o ideal era fazer o oposto dos outros sempre que possível, mas eu cresci: nada substitui a liberdade de concordar e discordar de acordo com seus princípios. Muitas opiniões racionais tem partidários indesejáveis.

Sei que temos uma tendência mais do ‘do contra’ por aqui e já imagino os comentários médios ‘mamãe quero ser rebelde’, mas não se furte do direito de pensar por conta própria: é inegável que algo acontece com a humanidade na virada do ano, e difícil de negar que a passagem do ano é mais clemente com nossas tentativas de mudança.

Não precisa estar no mesmo barco de quem faz listinha de resoluções achando que o ano novo vai resolver tudo em um passe de mágica, basta entender que há uma conspiração de fatores sociais nessa época do ano que permite o melhor desenvolvimento das suas potencialidades.

Não é o ano que nos muda, somos nós que mudamos ele. Por que abdicar desse poder?

Para dizer que não entendeu de que lado eu estou, para dizer que no próximo ano vai comentar mais, ou mesmo para dizer que prefere ser rebelde: somir@desfavor.com

SALLY

Ano novo, vida nova? Não. O mero decurso do tempo, o virar de uma folha no calendário, não muda a vida de ninguém. Vida nova começa com atitude, com iniciativa, com escolha pessoal. Ano novo pode ou não significar vida nova, tudo depende da escolha pessoal de cada um.

O conceito de ano é uma abstração humana. O período de 365 dias contados como um marco é mera convenção social. O decurso desse período, por si só, não gera absolutamente nada. Qualquer mudança na sua vida será SUA responsabilidade. Não das estrelas, não do horóscopo, não do karma, não de Deus e muito menos do calendário. SUA responsabilidade, só SUA. Chato, né? É a vida.

Porém, ultimamente parece ser moda não assumir responsabilidade por nada. Delegar responsabilidade para terceiros ou até para entes divinos é tendência. Não me admira que sobre para o coitado do calendário. Só porque, nessa abstração inventada, saímos de 2014 e entramos em 2015, não quer dizer que sua vida vai mudar. Sua vida vai mudar quando você fizer ela mudar. E a força ou vontade para mudar não está de forma alguma condicionada ao calendário. É de dentro para fora, e não de fora para dentro.

Por mais que algumas pessoas se escorem na ideia do calendário para promover mudanças na sua vida, cá entre nós, não funciona. Não se o único motivo para a mudança for o transcurso do ano. Se houver uma força interior, uma motivação melhor que independa de data, a mudança acontece. Mas nesse caso, o motivo foi a força de vontade e não o ano novo. Quem aqui não conhece uma pessoa que faz resoluções de ano novo que não são cumpridas logo no primeiro mês? Não adianta focar no ano, não é o calendário quem opera mudanças, é a própria pessoa.

Quem faz o marco para que uma mudança se opere é o autor da mudança. Não é preciso um dia determinado para mudar a sua realidade. E não é um dia especial, seja ele ano novo, aniversário ou natal que vai fazer quem não quer ou não consegue mudar efetivamente mudar. Usar datas para protelar decisões ou se auto-enganar é especialidade do brasileiro. Auto-enganem-se o quanto quiserem, a mim não enganam.

Assim como critico o surto de bondade e amor que surge no natal, critico o surto de supostas mudanças e resoluções que surgem no ano novo. Balela. Quantas das centenas de promessas continuarão de pé no dia 31 de dezembro de 2015? Nenhuma, porque o estopim foi a virada de uma página no calendário, e não o motivo certo: uma mudança interna. É como a pessoa que jura começar uma dieta segunda-feira e na quarta já está comendo brigadeiro: o calendário, por si só, nada pode contra as fraquezas humanas.

Quem acha que encontra forças suficientes para uma vida nova no mero decurso do tempo, no virar de folhas de um calendário, está se enganando. E além de se enganar, está fazendo um pacto com o fracasso. Atenuam a frustração de fazer diversas resoluções e, no final das contas, não levar nada adiante com o chegar de um novo ano: “no ano que vem eu prometo que consigo”. Bacana isso. Você faz uma resolução, mas se não conseguir, tudo bem, em alguns meses vem uma segunda chance. Protelar, uma paixão nacional. Dá licença, estou um pouco cansada disso tudo. Basta. Basta de passar a mão na cabeça dessas pessoas. Ano novo sim, vida nova como consequência do ano novo? NÃO.

Se você precisa esperar pela virada na folha do calendário para se motivar, bem, VOCÊ ESTÁ FAZENDO ISSO ERRADO. Mudanças na vida se operam com muito esforço e a longo prazo. Se você pensa que porque são zero horas do dia 1° de janeiro algo vai mudar, pense novamente. Mudanças não acontecem de um minuto para o outro.

Por mais tentador que seja pensar que existe essa mágica de uma hora para outra, a realidade da vida é diferente. Não tem macumba, não tem espíritos, não tem milagre. Mudança é fruto de esforço construído ao longo de uma jornada de esforço. Mas isso ninguém quer ouvir. Pessoas preferem pagar caro para quem “traz a pessoa amada em três dias” ou gastar uma fortuna no “chá que derrete gordura”, porque a vontade de conseguir coisas sem esforço é descomunal.

Sim, o ano novo é um marco social e pode ser usado como complemento nessa jornada longa e difícil que é a busca por uma “vida nova”. Mas pensar que o ano novo, por si, pode gerar uma vida nova é ser um acomodado. Não sonhador, não inocente, um acomodado mesmo, que espera que fatores externos operem uma mudança que só é possível com fatores internos e uma boa dose de sacrifício. Lamento muito por todos que pensam que ano novo é vida nova. A página no calendário muda, mas a página na sua vida continuará a mesma.

Para dizer que eu acabo de estragar seu ano novo com meu amargor, para dizer que é judeu e está se sentindo deslocado na conversa ou ainda para dizer que as pessoas só mudam para pior: sally@desfavor.com


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