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O Plano Cobre.

O Plano Cobre.

| Sally | | 88 comentários em O Plano Cobre.

O texto de hoje não contém qualquer novidade para vocês. Nada do que vou falar é surpreendente ou desconhecido para quem é leitor do Desfavor. Textos não necessariamente são para ensinar ou aprender alguma coisa, muitas vezes um texto tem o único objetivo de manifestar apoio. E esse é o caso de hoje. Um texto para manifestar todo meu apoio a Silvia Pilz.

Para quem não sabe, Silvia Pilz é uma jornalista e cronista que escreveu esta semana um texto chamado “O plano cobre” para o jornal O Globo. Um texto que poderia muito bem ter sido escrito por mim, tendo em vista o conteúdo e o tipo de humor. E pagou caro por isso. Se quiser ler o texto dela antes de ler o meu, segue o link:

http://oglobo.globo.com/blogs/silvia-pilz/posts/2015/01/13/o-plano-cobre-558602.asp

Tal qual aconteceu comigo no meu texto sobre o lado negro da gravidez (e muitos outros), o texto de Silvia Pilz ganhou antipatia em redes sociais. A mesma horda burra que se ofende com humor divulgou à exaustão algo que considera ruim e nocivo, fazendo prova da sua própria burrice.

Você pode não gostar do texto dela, você pode achar de mau gosto, mas, cá entre nós, não gosta? Não leia! Olha só que simples! Não leia, não leia nunca mais nada do que ela escrever. Perder tempo e energia linchando uma pessoa só porque não gostou do que ela escreveu é contraditório.

Perder tempo se aborrecendo, destilando ofensas, se abalando com o conteúdo de um texto é dar importância a ele. Como bem diz Rosana Hermann, manifestações de raiva muitas vezes são confissões. Se doeu ao ponto da pessoa deixar de fazer outras coisas na sua vida para gastar tempo linchando virtualmente a autora, em algum ponto sensível aquilo pegou.

O faniquito camuflado de indignação mostra que a carapuça serviu e, onde deveria existir humor, nasceu uma ofensa. Provavelmente pessoas que se portam da forma narrada pela autora e se sentiram atacadas, justamente por ver desmascarado em um pedaço de papel seu ganho secundário saboreado ao experimentar um suposto problema de saúde. Sim, ela está certa, pobre adora ostentar doença e não raro a usa como pretexto para não trabalhar.

A generalização faz parte do contexto do humor. É piada, o exagero é um dos recursos do humor. Não é para ser levado a sério, não é para ofender. Mas as pessoas não perdem uma oportunidade de se ofender, pois apontando um suposto “erro” dos outros se sentem melhores.

Lembro dos meus tempos de colégio, quando alguma criança, por algum motivo, era alvo da hostilidade do grupo. Tinha o chamado “te pego lá fora”, quando a pessoa irritada chamava seus colegas e todos metiam a porrada em quem estava de alguma forma incomodando. Hoje temos essa derivação, o “te pego lá dentro”, onde as pessoas são linchadas virtualmente em redes sociais.

O princípio é o mesmo: você chama seus amigos, colegas ou aliados para bater em alguém. A diferença é que ficou mais fácil, pois não tem o inconveniente de ter que efetivamente partir para o embate físico. Uma bela forma de esquecer a porcaria de emprego, a porcaria de casamento, a porcaria de vida que a pessoa tem. Porque sim, pessoas felizes e realizadas não tem tempo para o “te pego lá dentro” nem para dar tanta importância para o que alguém escreve. Pessoas felizes tem mais o que fazer.

Pessoas que estão lá para detonar, destruir, cobrir de lama. Não querem argumentar, não querem ouvir a outra parte, não querem trocar ideia. Querem promover um linchamento virtual. Qual é o ganho secundário disso? Muitos. Talvez o maior seja a sensação de pertinência: quem escreveu o texto é um escroto, é abominável, é um “lixo humano” (como uma famosa blogueira se referiu a mim). A contrario sensu, fica implícito que quem aponta o babaca é uma pessoa legal, bacana, honrada.

Ao linchar alguém, seja na vida real ou virtual, o linchador demonstra força: é seu grupo que domina, ele é capaz de induzir uma horda a fazer algo que ele quer, ele tem aquelas pessoas ao seu lado e podem ser convocadas a qualquer momento. É uma sensação de poder muito atraente para pessoas fracassadas, que na vida real não conseguem mandar nem no seu próprio cachorro. Quem precisa disso, quem se deleita com isso, é porque na vida real carece disso e o busca no mundo virtual.

Tem também aquela velha tecla que a gente passou 2014 batendo sem parar: quem se ofende com humor precisa urgentemente de um psicólogo. E quem nem ao menos entende que se trata de humor, precisa voltar para a escola e, quem sabe, adquirir conhecimento suficiente para uma visão enciclopédica que lhe permita compreender um texto além das palavras, vendo seu sentido global. Analfabetismo funcional existe em larga escala no Brasil.

Até ontem eram pouco mais de 800 comentários no texto de Silvia Pilz. Tem potencial. Modéstia à parte, o meu texto sobre o lado negro da gravidez, que não foi publicado em um jornal de grande circulação, passa de 1.900 comentários, alguns muito ofendidos. Mas, é injusta a comparação, vamos dar um tempo para o texto “O Plano Cobre”, acho eu quando ele tiver a mesma idade que o meu, terá mais comentários magoados. De certa forma, acho que pode ser um marco, uma porta de entrada para mais textos com esse tipo de conteúdo. Não que alguém vá refletir e perceber a real intenção, mas vai dar audiência, então, os jornais vão correr atrás de mais textos desse tipo.

Confesso que tive estômago para ler poucos comentários, pois a cada linha a esperança na humanidade se esvai. Gente ofendida partindo de premissas erradas chegando a conclusões ainda mais erradas. Gente atacando onde dói NELES, como se isso fosse doer na autora também. Gente querendo se promover e posar de boa pessoa passando sermão por causa de humor. Um espetáculo deprimente. Se você quer conhecer o Brasileiro Médio, chega a ser um estudo antropológico ler os comentários.

Eu adorei o texto, talvez pelos motivos errados. Achei a escrita muito similar à minha em estilo, bem como o humor. O que admiramos por espelhamento não tem muito mérito, pois não deixa de ser uma forma de narcisismo. Em todo caso, além de gostar muito do texto e rir muito do que foi escrito, fiz questão de passar aqui hoje e deixa público meu apoio à Silvia Pilz. Jogar pedras onde todo mundo joga é fácil. O difícil é parar na frente de quem está sendo apedrejado e assumir que está do seu lado.

Vergonhoso que as pessoas não compreendam o humor do texto. Vergonhoso que as pessoas sequer compreendam que havia humor no texto. Vergonhoso que as pessoas não respeitem uma forma de humor que elas não concordem ou não gostem, como se elas fossem reflexo mundial de bom senso e bom gosto. Vergonhoso que não saibam lidar com a discordância de uma forma civilizada e que façam da divergência de gostos ou opiniões motivo para um ataque maniqueísta, onde eles são os bonzinhos e a autora um monstro. Uma grande vergonha. Mas a maior vergonha são pessoas contraditórias que gastam longas linhas para dizer o quanto desprezam a autora. Simplesmente ridículo.

Desfavor veste a camisa de Silvia Pilz, seja pela qualidade do humor, seja pelo sagrado direito de escrever o que bem quiser e ser respeitada. Já deu, né gente? Já deu essa babaquice de chamar os amiguinhos para bater em alguém. Isso é pior do que qualquer suposta ofensa em forma de texto. É feio, covarde e é uma confissão de que aquilo que foi escrito doeu na alma.

Um conteúdo que deveria ser apenas humor ganhou uma confirmação de veracidade através da reação exacerbada das pessoas. Ao se ofender, ao xingar, ao fazer o “te pego lá dentro”, as pessoas praticamente dão um certificado de autenticidade a tudo que havia sido dito, em um primeiro momento, como humor. A gritaria, a histeria e o descontrole só mostram o quanto aquilo de fato é verdadeiro.

Me alegra que textos como esse sejam publicados em um jornal de grande circulação, mas me entristece que ainda exista espaço para essa reação adolescente boba e burra. Gente que se ofende com humor deveria ser ridicularizada socialmente.

Silvia Pilz, parabéns pelo texto, parabéns pela coragem e parabéns por ter conseguido emplacar um conteúdo como esse no O Globo. Bato palmas.

Para se ofender por eu estar elogiando e me linchar também, para aproveitar a deixa e falar mal de pobre nos comentários só para compor o tema ou ainda para me recriminar por não ter postado ontem: sally@desfavor.com


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