
Siago Tomir de Schrödinger – Parte 2
| Sally | Siago Tomir, Sim Senhor!, Sim Senhora! | 50 comentários em Siago Tomir de Schrödinger – Parte 2
Após alguns votos anulados para ambos os lados, graças à possibilidade de interpretação dúbia (qual é a dificuldade em dizer EU VOTO EM FULANO em vez de dizer que quer ver um Siago Tomir, quando meio mundo sugeriu algum tipo de Siago Tomir?) ficamos na seguinte saia-justa: as sugestões da Marina – O Povo Quer Saber e da Alicata empataram.
Marina pediu um Siago Tomir duplo, delimitando exatamente quais pontos deveriam ser abordados. Alicata pediu uma postagem sem narrativa, com frases contendo fatos puros, onde apenas uma delas fosse verdadeira, nos moldes de uma postagem que já existiu.
Como não teve uma única criatura para desempatar e não conseguimos chegar a um consenso do que seria mais justo, resolvemos fazer um mix dos dois: Siago Tomir quatro mãos, abordando exatamente os pontos pedidos pela Marina (divididos ao meio entre Somir e Sally por pertinência temática) + uma narrativa em que, a cada ponto, contenha apenas UMA verdade, sendo todo o resto mentira.
Nasce aqui o Siago Tomir de Schrödinger, uma forma que temos de contar a verdade sem que vocês saibam exatamente qual é a verdade. A narrativa vai ser dividida em capítulos, cada capítulo correspondendo a um ponto solicitado pela Marina (o povo vai saber) e em cada capítulo teremos muitas mentiras e apenas uma verdade.
Devo adverti-los de que eu sou uma roteirista profissional e vou confundi-los em um emaranhado de tramas paralelas elaboradas na tentativa de camuflar as verdades e leva-los pelo caminho das mentiras. Boa sorte a todos para tentar desatar meu complexo nó de informações e peneirar a verdade em meio a um aglomerado de histórias.
A divisão de tópicos feita pela Marina que orientarão a minha postagem foram:
– Os detalhes do reencontro
– Os detalhes da reação de Sally ao pedido de desculpas
– Do perdão
– Se decidiram voltar a namorar ou não
– Sally vai mudar de cidade?
Por questões de pertinência temática, alguns temas serão agrupados. O gato está vivo? Está morto? Só vai ser descoberto ao abrir a caixa? Com vocês, a continuação do Siago Tomir de Schrödinger.
OS DETALHES DO REENCONTRO
As ruas do Rio de Janeiro estão limpas, seguras e só transitam pessoas bonitas e educadas por ela. Um dia de temperatura agradável e um silêncio tranquilo marcam aquele domingo.
Em uma calçada limpa e nivelada sem mendigos, sem lixo e sem cocô de cachorro, uma pessoa caminha em direção a um carro estacionado.
Ela se detém ao perceber uma grande sombra escura que cobre o céu: um asteroide está prestes a atingir a cidade. Ela cobre seus olhos para se proteger da claridade e olha para cima, acompanhando a trajetória do corpo celeste. O asteroide cai exatamente em cima do hotel conde Carlinhos Brown está hospedado, gerando uma grande explosão que abre uma cratera e todo o quarteirão. Ela soca o ar em sinal de comemoração.
Após comemorar, ela continua caminhando em direção ao carro, que está estacionado na calçada da frente. Em passos rápidos ela anda sem qualquer problema com o salto do seu sapato na lisa calçada de mármore do Rio de Janeiro.
Uma porrada forte da lataria do carro assusta quem estava do lado de dentro
Sally: TÁ MALUCO?!
Tomir: Que susto, Sally!
*Outra porrada
Sally: VOCÊ ESTÁ MALUCO?
Tomir: Sally…
*Outra porrada mais forte com as duas mãos espalmadas
Sally: VOCÊ ESTÁ MALUCO E SURDO?
Tomir: Podemos conversar?
*Soco no capô do carro
Sally: E se eu estivesse comprometida? E se eu estivesse casada? Já pensou a merda que essa sua surpresa ia me causar?
Tomir: Então você não está?
Sally: VO-CÊ ES-TÁ MA-LU-CO? (batendo no carro com as mãos a cada sílaba)
Tomir: Sally, sai do meio da rua, entra no carro
Sally: Pra que? Eu já sei exatamente o que você vai falar!
Tomir: Não, Sally, não sabe
Sally: Sei sim, SEI SIM! Vai dizer que não sabia de nada, vai dizer que foi enganado, vai dizer que NÃO TI-NHA CO-MO SA-BER! (batendo a cada sílaba, cada vez mais forte)
Tomir: Mas isso é verdade, eu não sabia…
Sally: Mas sabia que o Alicate NÃO PRESTA, sabe porque? VOCÊ SABE POR QUÊ?
*batendo várias vezes de mão aberta na lateral da porta
Tomir: Fala, Sally
Sally: PORQUE EU A-VI-SEI! (dando um último grande soco na lateral do carro)
Tomir: Não era isso que eu ia falar, por favor me escuta. As pessoas mudam, já se passaram dez anos
Sally: Mudam? MUDAM? MUDAM MESMO?
Tomir: Estou deixando você esmurrar meu carro sem reclamar, o que você acha?
Sally pensa por alguns segundos e entra no carro.
Um disco voador para na rua onde está o carro de Tomir e abduz um transeunte que ouvia funk sem fone de ouvido no seu celular. Um feixe de luz puxa o carioca para dentro da nave mas depois de entrar, ele é devolvido imediatamente à Terra. Antes de ir embora para nunca mais retornar, o disco voador cospe o boné da John John que o carioca deixara cair do lado de dentro.
DETALHES DA REAÇÃO DA SALLY AO PEDIDO DE DESCULPAS + DO PERDÃO
Sob o céu ensolarado do Rio de Janeiro, é possível visualizar uma vaca voando. No mar, uma baleia rosa salta para a superfície e mergulha de volta na água limpa, cristalina e quente das praias cariocas.
Um ambulante passa próximo ao carro e oferece petiscos preparados com toda a higiene, utilizando alimentos de primeira qualidade e conservados adequadamente, por um preço honesto. Ambos recusam, pois ambos tem gosto sofisticado para comida.
Siago Tomir finaliza um longo monólogo ao qual Sally apenas assiste calada.
Tomir: Eu espero que você perceba que eu estou sendo sincero
Sally: Meu problema com você não é desconfiar da sua sinceridade, na hora em que você me fala as coisas, você realmente acha aquilo. Mas no final das contas a “verdade” daquele momento não dura muito
Tomir: Essa vai durar, eu tenho certeza
Sally: Se eu ganhasse um real para cada vez que ouvi isso..
Tomir: Ok… ok… é justo minha credibilidade estar abalada
Sally: Prossiga
Tomir: Falar não vai adiantar aqui
Sally: Prossiga
Tomir: Talvez você deva falar o que quer
Sally: Recue
Tomir: Ok, ok, eu fiz a merda, eu tenho que me mexer
Sally: Prossiga
Tomir: Já que eu me encarreguei da minha palavra não valer nada, eu preciso te provar…
Sally: Prossiga
Tomir: E você sempre falou que acredita mais em atos do que em palavras
Sally: Prossiga
Tomir: Eu estou aqui, isso não é um ato?
Sally: Sim, um ato isolado que destoa de dez anos agindo de outra forma
Tomir: Meus atos nesses dez anos convergem para tudo que eu estou falando, você é que não viu o que aconteceu
Sally: Prossiga
Tomir: Depois que a gente se separou eu nunca mais tive um relacionamento sério, que dure mais do que poucos meses
Sally: Prossiga
Tomir: Eu não achei alguém que saiba lidar comigo como você fez
Sally: Prossiga
Tomir: E pensando bem, acho que não achei por não querer achar
Sally: Prossiga
Tomir: Meu pedido de desculpas é sincero, eu realmente fiquei muito infeliz sem você, tanto que eu nunca quis perder o contato, fiz questão de continuar o Desfavor
Sally: Prossiga
Tomir: Foi um erro horrível, foram muitos erros horríveis, mas se você observar meus últimos dez anos vai ver que eu percebi o erro e estou disposto a corrigi-lo. Dez anos, Sally! É muito tempo! As pessoas mudam em dez anos!
Sally: Ok, não tem motivo para não te desculpar, eu te desculpo. Passou muito tempo, vou tentar não guardar mágoa por uma coisa que aconteceu dez anos atrás
Tomir: Isso quer dizer que…
Sally: Isso quer dizer exatamente o que eu disse, que eu TE DESCULPO e vou tentar não guardar mágoa por uma coisa que aconteceu dez anos atrás, quando nem estávamos mais juntos. Apenas isso.
Um longo silêncio se fez no carro, apenas interrompido por um gigante tiranossauro que surge atrás de uma montanha e começa a pisar nos carros e nos prédios. Em sua pequena mãozinha direita, ele segura o Prefeito Eduardo Paes. O Tiranossauro coloca o Prefeito na boca, mastiga e engole. Vira as costas e vai embora. Sally sorri ao ver a morte do Prefeito, mas em pouco segundos o silêncio desconfortável volta a reinar.
SE DECIDIRAM VOLTAR A NAMORAR OU NÃO + SALLY VAI MUDAR DE CIDADE?
Na rua, uma transeunte é abordado por um meliante que tenta tomar sua bolsa. Imediatamente três carros de polícia aparecem e imobilizam o bandido, de forma eficiente e segura, devolvendo todos os pertences para a vítima e tratando-a com educação, se dirigindo a ela em um português impecável. Os policiais estão todos sóbrios.
Siago Tomir cria coragem e rompe o silêncio:
Tomir: Então?
Sally: Então o que?
Tomir: Estou esperando a sua resposta
Sally: Resposta…
Tomir: Sim, não vai falar nada depois de tudo que eu falei?
Sally: O que você está esperando, exatamente de mim?
Tomir: Um “sim” ou um “não”?
Sally: Eu não tenho essa resposta para te dar
Tomir: Como assim?
Sally: A resposta que eu tenho para te dar, é de outro gênero
Tomir: Não estou entendendo
Sally: ME RECONQUISTE. Faça por onde.
Tomir:É um desafio? Mas c…
Sally: NÃO OUSE
Tomir: …
Sally: Não ouse me ofender perguntando “como?”
Tomir: Eu não leio mentes, Sally
Sally: Mas convive comigo há dez anos, de uma forma ou de outra. Não lê mentes, mas lê os meus textos. Você tem meu manual, você tem o walkthrough
Tomir: Didática nerd, como eu senti tanta falta disso nesses anos…
Sally: Você sabe quantos homens matariam por ter acesso ao walkthrough de uma mulher?
Tomir: Eu posso tentar colocar em prática as coisas que você escreve e…
Sally: Do or do not, there is no try
Tomir: Casa comigo!
Sally dá um longo beijo em Siago Tomir, sai do carro imediatamente depois, sem olhar para trás, e volta para sua casa.
Ela pode ouvir, já do elevador, que seus vizinhos escutam uma música agradável, a um altura adequada. A temperatura agradável, o silêncio e a sensação de segurança a fazem se sentir cada vez mais feliz por morar em uma cidade maravilhosa.
A parte divertida do roteiro deve ser a liberdade de matar quem quiser sem ser punido, nao e?
A Sally provavelmente comemorou a morte de Bronw ao digitar o texto. Abduzir o usuario de fone de ouvido é o desejo de todos nós.
Se o cenario fosse na Bahia, duvido que voce nao teria explodido a nave com o mal educado e seu play list do arrocha (e seu boné da Bilu Bilu) e deixado os destroços cairem no mar.
Se o cenário fosse lá, um grande terremoto destruiria tudo
Não tem como processar criminalmente uma pessoa morta, pode ficar tranquila, o processo criminal não se estende a você nem a mais ninguém. Entretanto, uma eventual condenação a indenização pode sim refletir no patrimônio que a pessoa falecida deixou.
Bom, pra não perder a viagem, vale dizer que o paralelo interessante com Schodinger é que o observador altera o fenômeno. Creio que esse é um dos elogios mais elegantes que já recebi. Já que a galera está inspirada, também vou mandar um poeminha:
Extracto de Proverbios y cantares (XXIX)
(Antonio Machado)
Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar.
P.S.: A versão adapatada e cantada por Juan Manuel Serrat vale muito a pena. Youtubem!
Meu pai me ninava com essa música quando eu era pequena…
Um clássico! Devia ter mídias para os exilados do Brasilzão. Um público desconsiderado. Não me conformo de não ter Cafrune no iTunes.
Fernando,
Duas coisas me angustiam na minha interpretação do mundo:
1) Não conseguir ver nada além do que quero ver, ou nada além do pouco que consigo captar do que acontece ao meu redor, já que meus sentidos são muito limitados. E, por isso, estar experimentando o mundo de forma medíocre, cega, errada, ilusória, como no Mito da Caverna. Essa sensação de burrice e incapacidade de compreender as minhas próprias escolhas me desorienta.
2) O observador altera o fenômeno? Será? Isso é ainda mais perturbador. Anos e anos em busca do caminho certo… Mas e se não houver caminho algum? Caminante, no hay camino…
Cara Marina,
A presença de um observador comprovadamente altera fenômenos em um nível quântico. Em estudos macro, a maioria dos cientistas não acredita nisso, embora os estudos sejam tão cheios de controles e análises que às vezes é preciso ter um pouco de boa vontade para aceitar esse tipo de conhecimento. Quanto a limitações de visão, hoje conhecemos o universo em quase todos os comprimentos de onda e ordens de grandeza possíveis, mas as escolhas do ser humano continuam…humanas. Compreender as próprias escolhas tem mais a ver com sociologia, psicologia e filosofia que com física ou biologia. Felizmente nossas mentes não são uma caixa preta, e ninguém morre quando se abre para olhar lá dentro.
Eu tenho a sensação de que não estou conseguindo enxergar tudo. Por isso, sempre acho que estou tomando decisões com base em interpretações equivocadas. Sou consciente das limitações dos meus sentidos e de como o meu cérebro pode estar interpretando tudo de acordo com o que é mais confortável para mim.
Será que conhecemos mesmo o universo? Será que estamos mesmo avançados no conhecimento de Biologia e Física? Tenho mais dúvidas do que certezas de como o mundo funciona.
Você tem razão ao dizer que devemos olhar pra dentro para encontrar as respostas. Como eu só encontro perguntas, tenho medo de acabar ensimesmada em mim mesma, completamente vencida pelas minhas próprias mentiras ou falhas de interpretação. Quanto a parte psicológica, eu fui a um psiquiatra e expliquei a ele que tenho medo (sinceramente!) de ficar louca, pois não tenho segurança nem se o que estou vendo eu estou vendo mesmo ou interpretando como eu quero. E depois de uma longa consulta ele me disse que a dúvida protege da insanidade. E me mandou ir a um psicólogo. Disse que não preciso de psiquiatra. Mas talvez eu tenha interpretado o que ele disse dessa forma, porque é mais favorável acreditar que não vou ficar louca. Ou que ainda não fiquei.
Sigo tendo indisfarçável inveja das pessoas que tem olhos que cintilam certezas (e paixões!) genuínas.
A minha impressão é de que a questão de quanto do universo é cognoscível, de quanto estamos perdendo ou de quanto as nossas decisões são baseadas em fatos parciais, foi em grande parte deixada de lado pela sociedade e pelos pensadores a partir de uma ótica mais pragmática e utilitarista. O importante passou a ser o que você faz com a informação que você tem. E acho que isso passa a ser uma questão de sobrevivência básica, de viver com base em certezas conhecidas e deixar as incertezas guiarem apenas a exploração do desconhecido. Isso começa um pouco na filosofia clássica – a definição de ente de Spinoza é um reflexo perfeito dessa tradição – e culmina com filosofias como a de Spencer. Sem dúvida é interessante e estimulante repensar o questionar o conhecido de vez em quando, usando premissas e fatos novos, mas todo mundo precisa de um pouco de chão.
Precisa-se de chão .
Paga-se bem.
DEFINIÇÃO DO ENTE – Comecemos, pois, pelo ente e que entendo como Tudo aquilo que, por meio de uma percepção clara e distinta, reconhecemos existir necessariamente, ou pelo menos poder existir. (Espinosa)
E então, vai aceitar o casório ou vai ficar pra tia? Encalhada!
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Zoeira, sua linda. É que adoro quando vc dá resposta malcriada.
A bola não está no meu campo, está no campo dele. Vai lá perguntar para ele o que ele vai fazer, pois disso depende.
Sally, se vcs casarem conta pra gente? É que sou tão brega, por qualquer coisa me emociono feito boba e torci tanto… Promete que nos conta?
Eu SEMPRE conto tudo para você, SEMPRE, caso vocês ainda não tenham percebido. O problema é que nem sempre vocês entendem a minha forma de contar…
Eu me sinto meio frustrada por não conseguir enxergar as entrelinhas do que você quer contar. E obviamente que não quero saber sobre a sua vida pessoal e a do Somir. Talvez algo sobre os próprios personagens passou e não vi. É um detalhe… quem sabe um easter egg…
Sally, você é foda.
“E o Rio de Janeiro continua lindo!”
Só li verdades.
Nenhuma mentira no texto inteiro! Parabéns!
Convida a gente pro casório, Tomir!
Hell de Janeiro
*-* Aum… Achei bonitinho.
Somir, não perca a oportunidade! Reconquista esta mulher!
Isso sim é uma Cidade Maravilhosa!
Na vida real é cidade calamitosa
a vantagem de ser amigo do somir é que eu sei a verdade…..
a desvantagem é que minha memória de peixinho me fez esquecer qual é essa verdade…
Faz bem para os dentes esquecer da verdade
Imagino agora o Somir pegando os arquivos do Sally Surtada. Estuda, menino! Hahaha
Puxa, mas que cidade maravilhosa! Deu até vontade de me mudar… O dinosauro foi o melhor!
Uma delícia de cidade
Nossa… vocês são bons! rs
Nós somos demasiadamente humanos e falíveis, o que rende uma boa história. Chega de histórias de pessoas perfeitas, maniqueístas, 100% boas ou 100% más. Siago Tomir é história loser para quem, assim como a gente, se fode o tempo todo.
Isso me lembrou “Poema em linha reta” (Fernando Pessoa) que prova que desde sempre estamos cercados por maniqueístas fakes e, ao mesmo tempo que os odiamos, somos contaminados por eles, devorados por eles, excluídos por eles, captados por eles, iguais a eles, mentimos como eles, fingimos como eles, vivemos vidas vazias como a deles, acabamos como eles…
E talvez por isso a maior parte das histórias de filmes, séries e livros e novelas aborreçam e nos pareçam todas iguais, mas continuamos a dar audiência pra elas, como se tivéssemos condenados a repetir eternamente a mesma velha história com mocinhos 100 por cento certinhos, mas tão insuportáveis quanto os vilões 100 por cento malvadinhos.
Vida longa a Siago Tomir!
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Com a gente é assim: só as derrotas. Só as nossas falhas (de comunicação, de caráter, de tudo). Se as pessoas te amam depois de ver seu lado mais feio, sinal que te amam de verdade.
Ser amado por alguém que conhece o que temos de feio, de sujo, de medíocre, de escroto, de farsa, de mentira, de falhas, de sombras, de incoerências, de fraquezas, de incertezas, de hipocrisia… é praticamente impossível. Ser aceito e compreendido com todas as nossas limitações é sorte que poucos têm. Que Sally e Tomir têm e que deveriam saber que é sorte grande. É bilhete premiado na loteria da vida.
A maioria só é amada e só ama (o que é tão difícil quanto!) de forma condicional, possessiva, superficial, egocêntrica e breve, sobrevivendo de sopros de clichês gastos e da “aprovação” das tias malas de quem nunca nem gostamos, ou do like dos amigos nas fotos cuidadosamente escolhidas para ostentar a felicidade que não temos.
E a gente só aguenta a monotonia dos dias que se seguem, com a euforia estampada no sorriso levemente embriagado na selfie, se a pessoa que melhor parece caber nos nossos “sonhos do momento” ainda for objeto do nosso escasso e medíocre desejo a longo prazo. E que sejamos desejáveis a longo prazo, o que é quase risível, de tão improvável. E desde que não nos contrarie ou envergonhe muito.
A impossibilidade de sermos honestos… Isso fere demasiado. Então a gente finge que suspira pelos personagens açucarados das comédias românticas bestas e das novelas previsíveis e tolas. Ou finge que os renega, enquanto veste a máscara de caçador (ou caça) e sai pela noite, pegando qualquer um sem se dar tempo para qualquer chance de apego, sobrevivendo da adrenalina do risco, da supresa, do inusitado. Ou se apaixona por pessoas inatingíveis, casadas, escrotas, difíceis, só pra sentir alguma coisa, não importa se boa ou ruim.
Ou simula a perfeição que não temos na aliança pesada e incômoda, dividida em 30 vezes no cartão, na esperança de que a ilusão de alegria monogâmica, mas duramente “abençoada” pelos tiranos religiosos e juízes burocáticos faça a plateia acreditar no nosso final feliz. Enquanto lutamos para esquecer que quase todo ser humano quer ser aceito como é, sem máscara, sem maquiagem e sem mentiras. E que isso é dolorosamente impossível para a grande maioria de nós. E impossível para os personagens perfeitos das histórias que precisam acabar depressa antes que os mocinhos morram de tédio diante de tanta “perfeição” e bondade.
É uma pena, mas é matematicamente improvável que os adoráveis imperfeitos Siago e Sally existam, por isso é que eles são tão especiais. A série vai longe! Tenho certeza!
Sigo fingindo.
No final das contas, encaro com elogio
Mesmo que seja mentira?
É um elogio
E se eu não tiver dito nenhuma verdade nesses comentários gigantes?
E se eu for brasileira média infiltrada que perde tempo com o que não gosta ou enveja?
O azar é meu. Mas ainda é elogio?
Brasileiro médio não sabe emular assim
Esse comentário tocou profundamente a minha (não existente) alma de (pseudo)poeta.
Salvo na pasta: AQUELES QUE EU QUERIA TER ESCRITO.
Demorou 10 anos pra pedir a mulher em casamento? Agora vai ter que mexer esse culo!
Ele tentou impedir antes. Naquele do anel confundido com um cigarro.
Vc não precisava descrever o Rio e os cariocas e os cariocas EXATAMENTE como são. Desse jeito o texto só tem verdade!
Eu falei que vocês iam se perder no meu emaranhado de verdades
Gargalhando e dançando o twist, para provar que é possível fazer duas coisas ao mesmo tempo! Ainda há chance, frouxo!
Tenho que assistir mais ao jornal, perdi o asteróide, a nave e o dinossauro.
Tá desatualizado
Se não caiu no Rio, o asteroide, sem dúvidas, caiu na Bahia.
Nossa eu amei esse paralelo que vc fez com o Rio e figurantes…
Fico feliz, elogio seu sempre vale muito
S2