+Dunga não gostou da reunião religiosa que aconteceu na concentração da seleção brasileira durante os amistosos nos Estados Unidos, em Nova Jersey e Boston, no início do mês. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (17), ele criticou a presença do Missionário Guilherme Batista, que esteve com um grupo de jogadores para fazer oração.

Não sabemos quem é pior, a crentalhada ou o Dunga. Desfavor da semana.

SOMIR

Eu vou fazer um caminho diferente: vou explicar porque essa notícia não deveria ser o desfavor da semana primeiro. Apesar de acreditar que o inimigo do seu inimigo não é necessariamente seu amigo, é sempre um prazer ver alguém criticando ou censurando religião, principalmente no Brasil. Em tese, é muito bom que algo assim aconteça de tempos em tempos.

Até porque é uma raridade. Num país tomado pela ignorância, onde uma parcela ASSUSTADORA da população acredita no Papai Noel (com os mais diversos nomes), faz bem não ser tão respeitoso assim com a liberdade religiosa. Não digo negar os direitos das pessoas de praticarem sua fé (desde que não entrem em choque com as leis de verdade), mas, mantê-las saudavelmente alertas sobre como nenhuma crença deve ser intocável.

Através da popularidades das religiões cristãs no país, a imensa maioria da população acaba com uma falsa sensação que religiosidade as isenta de serem um incômodo para o resto das pessoas. Como se professar sua fé nunca fosse demais. Uma vez ouvi a seguinte frase: religião é como um pinto; é normal ter, não tem nada demais ter orgulho disso, mas, não esfregue na cara de quem não está interessado. Perfeito.

Confesso que me incomoda sim que as pessoas tenham religião, até porque acredito que ela serve como âncora para o desenvolvimento tecnológico e social da humanidade, coisas que me beneficiariam. Acho até que teria potencial para fazer coisas feias se tivesse muito poder nas mãos… mas, é natural para quem derivou seu senso de ética de pensamento crítico (ao invés de medo de punição mágica) saber que nem sempre nossos desejos devem ser colocados em prática. Adoraria que religião fosse banida e que as pessoas aceitassem isso numa boa, mas é uma ideia ridícula sem chances de funcionar na prática.

Resta-me então uma adaptação à realidade, esperando que ao menos as pessoas montem uma resistência um pouco maior a esse abuso de “propósitos elevados” de quem fala sobre sua divindade favorita. Já viu como padres, pastores e genéricos falam? É basicamente auto-ajuda rasa baseada no complexo conceito do “porque sim”. Um discurso incoerente e mal elaborado que qualquer imbecil consegue decorar e repetir indiscriminadamente para plateias com mais problemas do que neurônios ativos.

Coloque o sagrado nome de alguma divindade na frase e presume-se automaticamente que você não está falando bobagens ou simplesmente tentando fazer uns trocados sem esforço? É menos estelionato se o estelionatário acredita em partes no próprio discurso? Vivemos numa sociedade atrasada intelectualmente que não vê nenhum problema na mercantilização da fé. Oras, faz bem que pelo menos eventualmente alguém tenha problemas públicos com demonstrações do tipo. Só para manter o assunto vivo.

Claro que na esteira da declaração de Dunga vieram comentários ofendidos dos brasileiros médios, repetindo a MONUMENTAL besteira que existe alguma forma de perseguição às religiões cristãs, seguida por quase todos os brasileiros. Eu adoraria que fosse possível perseguir essas religiões, mas, fiquem tranquilos… não dá. Explicando: eu adoraria que fosse possível perseguir porque significaria que menos pessoas seriam cristãs, não porque adoraria o ato de perseguir. Tenho mais o que fazer. Seja como for, simplesmente não dá. De cada 100 pessoas no Brasil, 96 se dizem cristãs e as outras 4 tem outras religiões. Ateus são tão raros que nesse exemplo com cem pessoas, não dá pra tirar nem um de forma realista.

Mas, também… comentários surgem de pessoas que sendo ou não religiosas, também acham que a religião institucionalizada é uma palhaçada, e que tem muita pose para pouca cristandade nas atitudes desses jogadores que comemoram seus gols agradecendo aos céus, mas seguem um estilo de vida que passa longe da modéstia pregada pelo seu mártir. Ou mesmo gente só achando uma babaquice mesmo, concordando que religião não tem que se misturar com outras atividades.

Não é questão de querer proibir que as pessoas rezem ou se encontrem para falar de suas crenças, é o sagrado direito de chamá-las de babacas por fazê-lo. Ou incomodar-se por estarem fazendo propaganda demais disso. Eu acho que a declaração do Dunga tem seu valor: traz à tona um assunto muito mais relevante do que julga nosso país “monocrençático” (inventei mesmo, prendam-me). E o direito de achar essa ostentação religiosa um saco?

O desfavor da semana? Ah sim. O desfavor é que foi o Dunga quem falou disso. Ele não é famoso pela sua profundidade, ou mesmo por qualquer forma de bom-senso. Teimosia e ignorância num pacote maldito. Ele COM CERTEZA não estava nem aí para a discussão sobre a intocabilidade (essa eu não inventei, copiei) da religiosidade para o brasileiro médio. É só uma pessoa azeda errando a mão no gerenciamento de seu grupo de jogadores, e até mesmo um hipócrita, já que permitiu que na Copa de 2010 o grupo de jogadores tornar-se uma filial de igreja evangélica. Podia lá, não pode aqui? É problema com religião infiltrada onde não deveria ou é implicância com uma vertente dela que não tem sua chancela?

O Brasil precisa muito avançar essa discussão sobre os limites da religião no funcionamento da sociedade, é excelente que a discussão surja. Mas, tem todo um problema com quem vai ser o interlocutor disso. Dunga ganhou meu respeito (temporário, porque logo logo ele caga tudo) por ser burro o suficiente para falar disso num ambiente público. Mais inconsequência que coragem, certamente. É um desfavor que a representação dessa discussão seja alguém como o técnico da seleção tupiniquim, é um desfavor que eu veja méritos nesse cidadão.

Mas é o jeito brasileiro: esculhambação. As linhas estão sempre tortas.

Para dizer que ficou confuso sobre minha posição, para dizer que sempre sabe quando eu escolho o tema, ou mesmo para dizer que tem medo do que eu faria se tivesse poder (resolveria todos os problemas… pra mim): somir@desfavor.com

SALLY

É tanta coisa errada que eu nem se por onde começar…

Bato palmas para Dunga não gostar de religião, eu também não gosto. Ele pode dar belo cascudo na cabeça de quem ajoelhar e rezar durante o jogo. Ele pode advertir quem faltar ao treino para orar. Ele pode reclamar de qualquer coisa relacionada a religião, desde que seja no horário de trabalho dessas pessoas. O que fazem em seu horário livre é problema deles.

Ao estar concentrado, um jogador não está trabalhando, está à disposição do técnico para cumprir uma rotina que contribua para o bom rendimento do time: treinar, dormir cedo, se alimentar direito, não ter desgaste físico. Atividades pessoais que não gerem desgaste físico estão permitidas, tanto é que todo mundo ali recebe visita da sua família. Então porra, se os sujeitos querem jogar no lixo suas horas vagas com um charlatão e fazer rituais ridículos, não vejo motivo para ficar putinho.

Muito menos para levar essa putez à imprensa. No mérito, Dunga foi nota 10. Na forma, como sempre, foi um lixo. Expor problemas do grupo a quem está de fora é inadmissível, só gera desconfiança e desunião. Se não queria cultos na concentração, que falasse com o grupo em particular. Mas não, é um burro xucro sem a menor noção respeito e educação no trato com pessoas. Um idiota, ninguém trabalha PARA ninguém, ou você tem uma equipe que trabalha COM você, ou você não tem nada. A prova é essa seleção de merda que não emplaca nenhuma vitória convincente.

Essa crentalhada metrossexual que é a seleção brasileira nunca escondeu o que é. Enquanto não estipularam punição, não paravam de fazer gol, levantar a camisa e mostra por baixo uma camisa de Gezuiz. Sinceramente? Convocou pra que? É critério de escolha SIM, eu não contrataria gente capaz de fazer uma porra dessas, e o que não falta é jogador brasileiro para convocar…

Eu sinceramente evito pessoas religiosas, inclusive na minha equipe, pois acho que religião atrapalha uma pessoa full time, a impede de crescer, de ousar, de pensar em sua plenitude. Infantiliza a pessoa. Esse conjunto da obra a torna má funcionária no meu conceito, independente da aptidão técnica que ela tenha. Dunga que seja coerente e faça o mesmo. Ou, em caso de insatisfação, proíba em particular ou puna em particular quem mijar fora do penico. Lavar roupa suja em público só mostra que ele continua um destemperado e um despreparado para liderar. Ser chefe é fácil, o difícil é ser um líder.

Já era mais do que obvio o que esses porras iam fazer com seu tempo livre, já que ostentam para quem quiser ver que, quando não estão em surubas, estão orando. “Não permiti”, disse Dunga putinho por ter sido realizado um encontro com um pastor/missionário. Oi? Não permitiu? Pois é, Dungão, você não permite, mas a Constituição da República permite a liberdade religiosa. Fosse você menos idiota e xucro, dava para abordar a questão de outra forma e ter razão. Mas não.

“Seleção não é lugar para manifestação religiosa” ele disse. É uma questão de coerência. Se um jogador ateu estivesse sendo esculhambado por falar do seu ateísmo na concentração e a frase de Dunga fosse “Seleção não é lugar para manifestação de ateísmo” TODO MUNDO (aqui) estaria tacando pedras no técnico. Eu odeio religião, ODEIO, a ponto de mal conseguir conviver com religiosos, mas porra, quem o é, tem o direito de exercer sua religião onde quer que esteja, salvo em local de trabalho. E não era o caso, eles estavam concentrados, porém no seu tempo livre. São profissionais contratados, não prisioneiros.

Um trabalhador no seu tempo livre, digamos, um horário de almoço, pode rezar o quanto quiser. Vamos ter vergonha na cara, não é por envolver religião que sempre temos que ser do contra, é preciso analisar com racionalidade os fatos. Ate porque, se Dunga tivesse feito adotado a postura correta, nem existiria razão para esta notícia ser Desfavor da Semana, né? Coerência, ah a coerência, um luxo para poucos.

Espero que tenham cognição para perceber que, antes de mais nada, eu tento defender o que acho JUSTO. E tento deixar que meus valores não deturpem minha noção de justiça, de acordo com a minha conveniência. Sim, eu tenho uma tendência natural a meter o cacete em tudo que diz respeito a religião, mas eu luto contra ela e tento sempre avaliar as coisas com racionalidade. E, racionalmente falando, acho que o Dunga foi um idiota e que agora essa seleção, que já era uma boa bosta, vai estar mais desmotivada e cagada que nunca.

1) Você não pode obrigar alguém a não ter religião ou a não cultivá-la no seu tempo livre. Se não quer gente assim por perto (e se não quer, eu te aplaudo!) não chame para trabalhar com você quem tem esse perfil. 2) Você não manda no que seus funcionários fazem em seu tempo livre e querer mandar nisso é um sinal de tirania, falta de noção e mau-caratismo. 3) A coisa digna a fazer caso se sinta desrespeitado pela sua equipe é conversar com a sua equipe e apenas com ela. 4) Se sua equipe não te respeita, em vez de reclamar dela, olhe para onde você está errando e tome as providências necessárias. 5) Reclamar da própria falta de controle da equipe na imprensa é o maior tiro no pé profissional que eu já vi.

Dunga é um merda, a seleção brasileira é uma merda essa notícia escolhida como Desfavor da Semana também é uma merda.

Para ter muito respeito comigo hoje, para perguntar ao Somir se ele está feliz ou ainda para dizer que não espera nada de bom vindo do Dunga faz tempo: sally@desfavor.com

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Comments (11)

  • Também achei que não houve Desfavor da Semana mais sem sal. O que seria dos impopulares se Sally e Somir não abordassem o tema de modo a torna-lo digerível, mostrando o retrocesso da religião.

    Deus já morreu… E faz muito tempo!

  • Pitty Bull Uebo (alguém...)

    De fato, ”religião” é o ópio do povo.
    Semi analfabetos que ganham milhões pra bater uma bolinha, agradecendo a ”deus” por suas vidas mansas. Amém!!!

    Excelsior Portignolla diz

    ”graças a DEUS que eu vivo nessa mansão brega com a minha esposa socialite e apresento um programa, do qual ganho milhões, em que atores afeminados mirins de uma novelinha tosca disputam pra ver quem é mais ogro com um grupo de fanqueiros de qi 75”

    ou a Helioana

    ”eu sempre agradeço a DEUS pela nova plástica que me tirou aquele nariz que me fazia lembrar de minhas origens não-europeias, isto é, cearenses, bem como também do programa cheio de cútura e fofalhas da gentoca do qual ganho alguns trocados suados. Vida de entrepreneur caaaansa”

      • Pitty Bull Uebo (alguém...)

        Eu espero que a paralisia facial da Helioana não evolua para os músculos do pescoço. Cirurgias plásticas tem a fantástica capacidade de produzir semblantes com duas emoções ao mesmo tempo. Quando ”sorri”, não sabemos se a lourinha está de fato sorrindo ou se está com um ar de desconfiada, pode reparar.

      • Eu também gostei do Dinga. Tem muito mais personalidade que a Helioana e aquela besta do Putinholi, outro clone sujo e mal-lavado da outra besta que é o Senhor Punhetanel (se bem que, em termos de clones, ninguém ganha do Ruimberto “Monocaneta” Carlos. Nunca vi tanto cover desse cara, principalmente originários do nordeste).

  • Dunga é tão sem carisma, que nem os ateus conseguem ter simpatia por ele. Eu não tenho nenhuma e acho que essa foi mais uma polêmica vazia.

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