
Ignorância seletiva.
| Sally | Flertando com o desastre | 29 comentários em Ignorância seletiva.
Ignorância, tecnicamente, é o desconhecimento de uma informação. O ignorante é aquele que desconhece, seja por falta de interesse, por falta de oportunidade ou por qualquer outro motivo. Porém, eu tenho uma teoria que existe um híbrido, uma cruza de ignorância com negação, onde a pessoa é ignorante por “conveniência”. Eu a apelidei de “ignorância seletiva”.
Reparem que a palavra “conveniência” foi escrita entre aspas. É que na falta de palavra melhor, essa foi a que mais encaixou. Mas não é exatamente a palavra que melhor traduz. De alguma forma é conveniente para a pessoa ignorar uma informação, mas na verdade, na “big Picture”, no saldo final, não convém em absoluto. Em troca de algum ganho secundário, a pessoa que tem as informações suficientes para depreender uma informação, não o faz.
Esta ignorância seletiva consiste basicamente em mandar para o arquivo morto do cérebro uma informação que causaria trabalho ou desconforto. Um exemplo didático para que todos entendam: todo mundo aqui é obrigado a saber que o índice de erro da camisinha para fins de gravidez, se bem utilizada, é absurdo, cerca de 20%. Ou seja, é um método sensacional para prevenir de DST, mas um método lixo para evitar gestação. Consegue ser pior do que coito interrompido e tabelinha. Se você fez sexo cem vezes usando camisinha, em 20 delas a mulher pode ter engravidado.
Esta é uma informação amplamente divulgada. Está em campanhas do Ministério da Saúde, está na bula, apendemos na escola, está em qualquer lugar que você pesquise sobre camisinha. Camisinha não se usa como método contraceptivo, é BURRICE usar camisinha como método anticoncepcional e acha que está se precavendo.
Porém, garanto que metade dos que estão aqui lendo este texto de alguma forma “não sabiam” desta informação. Mentira, sabiam sim. Mas ela é chata, ela gera transtornos a curto prazo, então, nós a ignoramos e colocamos algo melhor em seu lugar: use camisinha e vai ficar tudo bem. Esquecemos que toda a campanha, a massificação, é com a finalidade de prevenir DST, e não filhos. Nosso cérebro absorve apenas aquilo que lhe convém.
Se a camisinha não for eficiente, isso significa que os homens do mundo estão nas mãos das mulheres, já que ela detém o uso de todos os outros métodos contraceptivos (exceto os radicais, como vasectomia). Deve ser muito desagradável fazer sexo casual sabendo que o método que está ao seu alcance é altamente falho para gestação. As pessoas apagam isso da cabeça. E quando acontece um acidente e surge uma mocinha grávida, ainda chamam de “piranha” e negam que o filho seja seu por ter usado camisinha. Tolinhos. Camisinha está na mesma faixa se eficiência de métodos totalmente fracassados como diafragma e espermicida.
Informações desagradáveis ou transtornantes, que dificultarão nossas vidas, que gerarão incômodos, que de alguma forma não nos convém, parecem encontrar uma represa cerebral onde ficam presas e só passam se uma força da natureza muito forte as empurrar. Pois bem, hoje essa força da natureza sou eu. Sim, a vida fica bem mais complicada destravando essa ignorância por conveniência, mas a longo prazo fica muito melhor. É sempre melhor saber. Repitam comigo: É SEMPRE MELHOR SABER.
Sim, meus amigos, existem coisas que nós “escolhemos” ignorar. As aspas estão mais uma vez presentes, pois acredito não se tratar de um processo consciente de escolha. Em algum ponto a mente apaga ou esconde uma informação relevante atendendo a algum chamado imediatista. Você pensa que não vai ter problema, que aquilo não vai fazer mal, que com você não vai dar errado e acaba assumindo um risco que nem sabe que está assumindo.
E não adianta vir alguém de fora te apontar o risco, quando a pessoa não está pronta para ver sozinha, nada a faz ver. Sempre tem uma desculpa. E são horrorosas, coisas do nível “mas eu também posso morrer tropeçando no banho, caindo e batendo com a cabeça e nem por isso vou deixar de tomar banho”. Sim, esse é o nível. Só quem “optou” pela ignorância seletiva tem a chave para abrir esse baú onde escondeu a valiosa informação que tanto quis ignorar.
O que significa que cada um de vocês tem suas próprias chaves e podem, a qualquer momento, abrir seus baús e ter acesso a informações privilegiadas que em muito melhorarão suas vidas de uma forma que talvez nem tenham pensado ser possível. Talvez os budistas tenham mesmo razão, talvez o poder divino que tanto se busca olhando para o céu esteja mesmo dento da gente.
Para acessar estas informações não é preciso religião ou rituais, basta coragem e auto-conhecimento. Não sabe por onde começar a procurar? Não se preocupe, o grande estopim (e a razão de ser deste texto) é que você saiba que existe algo a ser procurado. Só isso já é meio caminho andado, talvez a parte mais difícil dele. Todo o resto vem aos poucos e você tiver sempre essa premissa em mente: praticamos a ignorância seletiva constantemente.
Você tem mais conhecimento do que imagina, apenas suprime alguns para se manter na sua zona de conforto. Infelizmente na vida, em qualquer área, para chegar na zona de crescimento é imprescindível sair da zona de conforto. Se você quer que alguma coisa ande na sua vida, saia da zona de conforto e verá resultados mais rápido do que imagina. É confortável? Não. Assusta? Sim. Mas vale a pena.
Manga com leite faz mal. Camisinha é um método anticoncepcional seguro. Falam mal de você por inveja. Todo homem é igual. É impossível ser feliz sem filhos. O sonho de toda mulher, no fundo, é casar. Eu não sou viciado, eu paro quando eu quero. Lavagem diária estraga o cabelo. Não importa onde sua ignorância seletiva esteja te levando, só o está fazendo por algum ganho secundário seu. Descubra-o e desarme o mecanismo. Esse é o pulo do gato: identificar o ganho secundário que te levar a suprimir informação.
Viva livre, viva melhor, viva com uma visão mais apurada. E sempre tendo em mente que, não importa o quanto se evolua, sempre temos conosco algum grau de ignorância seletiva. Nunca pare de lutar contra ela. Nunca.
Engraçado, conheço muita gente que diz ter usado camisinha e engravidaram. Pode ser que não tenham colocado direito, ou esse método é uma bosta mesmo. Me pergunto se o anticoncepcional masculino seria mais eficiente.
Na minha cabeça leiga me parece mais fácil impedir um óvulo do que zilhões de espermatozóides, mas isso é apenas um chute, não estudei essa parte nem pesquisei nada a respeito. O que eu acho (novo chute) que inibe o anticoncepcional masculino é que muito homem talvez tivesse resistência a tomar por misturar fertilidade com virilidade.
É, esse texto flerta um pouco com a psicanálise e com a desconstrução Derridariana: no primeiro caso, tem a ver com o processo de [des]sublimação e recalcamento: quando algo não pode ser lidado diretamente na realidade, no plano consciente, joga-se pro inconsciente e fica lá, quietinho, numa espécie de zona de conforto. Aliás, as pessoas preferem essa zona de conforto, essas definições estanques, as certezas, o prazer que elas dão.
Sair disso, enfrentar de cara, e desconstruir pressupostos já formentados na cabecinha do sujeito é uma tarefa desconfortável, dolorida, e difícil. Mas infelizmente, as pessoas parecem não gostar de tal processo e optam pela preguiça, pelo comodismo. Triste.
Não sabia que tinha escrito algo tão profundo…
Ola impopulares! Foi complicado sem voces… Estou lendo mais rapido ou os textos estao mais curtos?
Ignorancia seletiva e um problema predominantemente vergonhoso nesta sociedade. Preguica mental, eu diria. Nao consigo entender como alguem prefere perguntar em detrimento de uma extensiva, mas recompensadora pesquisa.
Bom estar de volta. Saudades de todos!
Bem vindo de volta!
Os textos tem o tamanho que os autores sentem a necessidade que eles tenham, porém o limite máximo é quatro páginas.
Obrigado, Sally!
É que seus textos sao irresistiveis! Só vejo um problema: eles terminam.
Relaxa, no dia seguinte sempre tem mais…
Ivo!!!!
Três letrinhas que fizeram falta.
Adoro seus comentários!
Marina,
Que bacana ler isto da eximia escritora e poetisa, da qual, se eu a conhecesse pessoalmente, pediria um autografo…
Obrigado!
Marina,
Obrigado!
Que legal ler isto de você, escritora e poetiza notável, a qual, se eu a conhecesse pessoalmente pediria um autógrafo sem demagogia.
Ser notado e apreciado por nosso ídolo…vou ficar me achando!
“Pouquíssimas pessoas usam a camisinha como tem que ser, por isso esses 20% acabam sempre sendo mais”
Pessoas que usam a camisinha da maneira errada não desabonam o método. Se eu não coloco fermento, a culpa não é do fogão que meu bolo não cresceu. Em todo o caso, como eu mencionei acima, erros com a colocação da camisinha (que resultam nela estourando) estão dentro dos 8% a 20%.
“Sabemos que mesmo antes da ejaculação podem existir espermatozóides e também é notório que as pessoas não usam camisinha sempre nas preliminares.”
É verdade, antes da ejaculação podem existir espermatozóides, mas eles ficam na camisinha se ela estiver colocada. Se não estiver (e também para quem faz penetração sem camisinha nas preliminares) é a mesma lógica do bolo: a culpa não é do método contraceptivo se as pessoas não o usam ou usam da maneira errada.
Sobre o tabelinha + espermicida: eu concordo com ele. É por isso que tabelinha e espermicida são métodos adicionais, não métodos primários. Se usa o espermicida com a camisinha (ou o diafragma), de preferência com a tabelinha também. Não se confia inteiramente em apenas um método ou num combo frágil como tabelinha + espermicida. Se você ler meu comentário anterior vai ver que eu não defendo o espermicida sozinho como um grande método contraceptivo.
“mas, já que você quer apontar o dedo com informações de internet, tecnias que de forma alguma enfraquecem a proposta de argumento do mru texto, eu te dou outro exemplo:”
Nunca quis enfraquecer a proposta do seu texto, Sally. Só corrigir a informação sobre a camisinha. Se você dado exemplos com alguma coisa sobre cigarros, bebidas, jogos de futebol ou física quântica, eu não comentaria. Só comentei porque é a minha área.
Sobre o seu outro exemplo, é verdade, poucas pessoas fazem sexo oral sem camisinha. Se fosse esse seu exemplo, eu também não iria corrigir nada, porque seria um exemplo perfeito.
Sobre passar vergonha, agora é só corrigir o errinho da camisinha no texto que está tudo certo e ninguém mais passa vergonha :)
Camisinha usada de forma 100% correta pode ter índice de erro de 20%. Se usada de forma incorreta, esse percentual sobre e muito.
Pergunta: você já viu divulgação de índice de erro de métodos contraceptivos usados de forma errada? É tão bizarro que eu teria vergonha desse argumento. Nenhum método divulga o percentual baseado em falha humana. Sério mesmo que eu tenho que vir aqui falar isso?
Esperneie o quanto você quiser, já que 1) é tão leigo quanto eu e 2) está na intenção de tumultuar.
Sally, eu concordo que talvez a forma do dr Gineco se manifestar não foi a melhor, mas vc está errada nessa argumentação. A camisinha, com o uso 100% correto (ou uso perfeito, pra usar o índice de Pearl), pode ter uma falha de 2% (e não 20). Ainda é alto pra caramba, mas nunca será 20% com uso correto. Esse dado é do manual da FEBRASGO, e também tem o manual do Ministério da Saúde, que traz dados parecidos.
Claro que o uso típico tem a falha de 20% (eu acho que até mais), mas eu acredito que não seja a sua intenção apontar a “falha humana” no texto.
Vamos estabelecer uma coisa: uso correto é a pessoa que a coloca de forma correta, tirando o ar, evitando que ela exploda, que fique inutilizada etc. O uso 100% correto é aquele onde se coloca camisinha até nas preliminares. O uso correto eu acho que muita gente faz, mas ele não basta para garantir os 2%. Para isso é preciso o uso 100% correto, que ninguém faz. Logo, a forma como se usa camisinha no Brasil dá uma margem de até 20% de erro. Alardear 2% é um tremendo desfavor, pois ilude essas pessoas que acham que fazendo como fazem, estão protegidas.
Por sinal, revejo meu exemplo para o texto, as pessoas não escolhem se enganar, elas ESTÃO SENDO ENGANADAS mesmo se tem profissional com tão pouca sensibilidade de achar que alguém vai fazer uso correto de camisinha…
obs: Sobre aquele outro assunto, é impossibilidade de agenda, infelizmente
Agora concordamos plenamente, em relação ao seu segundo parágrafo!
Mas infelizmente algumas mulheres não podem usar hormônios, e o método tabelinha + camisinha, quando MUITO BEM orientado, tem uma boa eficácia (não ótima). Mas isso é orientar, orientar, orientar, e orientar mais!
A gente sabe que não é o que a maioria faz, infelizmente… Eles mal orientam o uso de pílula, Cheessus! É desesperador!
O problema são os 500k, de distância…
=/
Entendo..
Entendeu dela agora, biscateiro sem jaleco ?!
Se mongolizou bastante…
Engraçado.
Eu sempre observei esse comportamento com fumantes, e acho interessante as propriedades restritivas à cognição que o cigarro tem.
1º – Não conseguem mais reconhecer uma lixeira. Jogam sempre a guimba no chão. (Eu sei, você é fumante e é educado, pois sempre joga a guimba no lixo. Ninguém liga pra você).
2º – Adquirem visão e audição seletivos. Não adianta propaganda no verso do maço, na TV, internet, fotos de pulmões como uma esponja embebida em graxa, nada. Nada os abala.
3º – Acham que “fumam mesmo e ninguém tem nada com isso”. Mas não fumam em locais fechado, nem em uma bolha. Fazem questão de fumar onde querem. E baforam na cara de todos.
Tem mais um monte, mas acho sem noção escrever textão em comentário.
E, só para terminar, relativo ao 3º, eu só queria que meu peido fosse tele-guiado, para entrar diretamente nas narinas do fumante.
Fumante sempre acha que cigarro não vai matá-lo graças a um tio de um amigo que fumou até os 90 anos e morreu de velho.
Ou acham que se fizer mal o problema é deles, ignorando o sofrimento que causarao em quem os ama
Qual o ganho secundário de encher o saco dos outros?
Sempre tem
“todo mundo aqui é obrigado a saber que o índice de erro da camisinha para fins de gravidez, se bem utilizada, é absurdo, cerca de 20%. Ou seja, é um método sensacional para prevenir de DST, mas um método lixo para evitar gestação. Consegue ser pior do que coito interrompido e tabelinha.”
Errrr…. não? Como ginecologista, eu aconselho você a falar com seu médico. O índice da camisinha para evitar gravidez varia entre os 8% e os 20%. Obviamente, existem elementos que vão puxar as chances para mais perto dos 20% ou mais perto dos 8%: qualidade da camisinha, data de validade, cuidados no armazenamento dela, colocação adequada e até mesmo características físicas dos envolvidos na relação. Mas, mesmo assim, não é nem de perto pior do que o coito interrompido ou a tabelinha. É, NO MÁXIMO DOS MÁXIMOS, no pior dos casos, semelhante.
O coito interrompido é o método contraceptivo menos eficiente (de 15% a 20%), enquanto a tabelinha varia entre os 10% e 20%. Então não, a camisinha não é pior.
A diferença é bem grande, não só estatísticamente, mas na própria concepção de cada um dos métodos – tanto é que a camisinha é considerado um método eficiente por ginecologistas, enquanto a tabelinha e o coito interrompido são considerados não eficientes.
“Camisinha está na mesma faixa se eficiência de métodos totalmente fracassados como diafragma e espermicida.”
Mais ou menos. Mas o mais importante é que você está considerando os métodos contraceptivos da maneira errada. Espermicida é um complemento para outros métodos e não é recomendado o seu uso sozinho. Então dizer que a camisinha é tão fracassada como o espermicida é injusto com ambos.
Por fim, dizer que se fizer sexo 100 vezes com camisinha você tem 20% de chance de engravidar é errado. Em dias férteis, um casal sem problemas naturais e sem métodos contraceptivos vai ter cerca de 20% de chances de engravidar. Com a camisinha, você passa a considerar a porcentagem de falha da camisinha em cima desse baixo índice de gravidez – se a gente considerar a média máxima de falha da camisinha (20%), o casal terá só 4% de chances de engravidar.
Se tiverem no período fértil.
Se somar a tabelinha e o espermicida nisso, a chance diminui muito, sem nem precisar nada hormonal, como pílulas.
Enfim, informações são muito úteis e precisamos sempre pesquisar, falar com especialistas e se informar.
Eu conversei com ele, e foi ele quem me disse isso. Pouquíssimas pessoas usam a camisinha como tem que ser, por isso esses 20% acabam sempre sendo mais. Sabemos que mesmo antes da ejaculação podem existir espermatozóides e também é notório que as pessoas não usam camisinha sempre nas preliminares.
E ele deixou bem claro que tabelinha + espermicida, abro aspas para citá-lo, “seria uma grande burrice” como método anticoncepcional.
mas, já que você quer apontar o dedo com informações de internet, tecnias que de forma alguma enfraquecem a proposta de argumento do mru texto, eu te dou outro exemplo: quantas pessoas fazem sexo oral usando camisinha feminina ou masculina? Todo mundo sabe que sexo oral pode transmitir dst…
voltar para isso é passar vergonha, viu?
voltar para isso é passar vergonha, viu?
Sim !
E meu incômodo (numérico) ao “achista de araque” :
GRANDISMERDA 4% ou 8%, uma DELINQUÊNCIA a porcentagem (isoladamente da camisinha, pelo menos a masculina) AINDA (?!) ser diferente de zero E MAIOR QUE 0,15 – COMUM NÃO É NORMAL !!!
veja bem, o erro da camisinha pode ser de até 20%, ainda que a pessoa a use de forma correta. isso é absurdo. Nada com 20% de erro é confiável.
Sim, sim !
Correções à parte, é essa minha indignação depressiva com quem sofre essa sabotagem – “como uma série : em terra de ceguismo, quem vê tá de frente o escândalo”…
* ao