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Olhando pra frente.

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| Desfavor | | 63 comentários em Olhando pra frente.

Ano novo, dúvida velha. Depois de um ano repleto de crises e problemas, Sally e Somir discordam sobre o que nos espera em 2016. Os impopulares fazem suas previsões.

Tema de hoje: 2016 vai ser pior que 2015?

SOMIR

Citando um emérito político brasileiro: pior que tá não fica. 2016 não vai ser um ano fácil, tenho certeza, mas pior que 2015 é exigir muito do pobre ano novo. A minha argumentação não vem de fé ou esperança de melhoras significativas na administração deste país, até porque esse barco está à deriva já faz tanto tempo que nem devem lembrar mais o que fazer para manter um país funcionando.

A questão aqui é o ser humano é adaptável. 2014 foi o último ano de alguma bonança por estas bandas, muito por causa do governo do PT gastando os tubos para garantir sua reeleição. Dilma e cia. foram maquiando a baranga na medida do impossível, pedalando e andando para o futuro do país. Como brasileiro médio é brasileiro médio, caíram, caíram feito uns patinhos e reelegeram Dilma para mais quatro anos de mandado (não, não escrevi errado, é que mandam nela mesmo).

A conta veio em 2015. Era inevitável, como Sally e eu falamos sem parar até mesmo antes de 2014. Quando a crise econômica e política se instaurou oficialmente, tínhamos um ano até que razoável para compararmos. 2015 foi tão terrível porque foi o ano onde tudo o que estava sendo armado anteriormente deu frutos. Frutos podres com recessão, inflação e tudo mais que (não?) tínhamos direito.

Agora vem chegando 2016. Sabemos onde estamos pisando. Depois de um ano de tanta crise, as pessoas já estão se readaptando à sua nova realidade. Cintos apertados e desconfiança. Acabou a farra das commodities, estamos vendo a economia brasileira em seu real estado, estado de abandono. É difícil ter que olhar pra cara do problema, mas isso pelo menos é o primeiro passo para lidar com ele.

2015 foi o ano onde tivemos que levantar um jornal no canto da sala onde sabíamos que havia um escorpião escondido. É natural não gostar desse momento, muita coisa pode dar errado, e há uma certa paz em não mexer no bicho, uma expectativa fantasiosa que ele pode simplesmente desaparecer. Mas não adianta querer, tem que fazer algo. Levantamos o jornal e lá estava o animal peçonhento. Passado isso, com o escorpião em plena vista, é hora de começar a resolver o problema.

O que vem agora não é fácil, mas é um passo mais próximo da resolução. Vamos ter que aprender a conviver com a economia cagada e corrigir nossas prioridades para não sofrermos tanto como sofremos em 2015. E é aí que eu acredito que pelo menos não piore. Com as pessoas cientes da situação econômica real, não mais sob a ilusão petista de evolução social, começam a reduzir as dívidas, segura-se os gastos e foca-se no que for essencial.

Pelo menos pra mim, o grande mal de 2015 era a expectativa da continuidade dos investimentos e a ideia enganada que o país voltaria a crescer logo logo. Quem se planeja esperando um cenário econômico vantajoso vai cair duas vezes mais alto do que quem reviu suas previsões de acordo com os humores do mercado. E nessa história, os riscos de quebras e demissões além do que já aconteceu nesse ano acabam ficando menores.

Gastou-se a gordura, mas ainda existe um mercado de consumo disponível num país tão grande e populoso. A economia ainda pode encolher um pouco mais, mas eventualmente chega num ponto de equilíbrio entre custos e lucros das empresas. Menor que 2014? Com certeza. Mas não muito diferente de 2015. Se esse ano serviu para alguma coisa, foi para matar o otimismo infundado de uma gente que passou mais de uma década ouvindo de Lula e Dilma que tudo estava indo muito bem.

Entre um ano de quedas vertiginosas e um ano de estagnação, pelo menos o ano de estagnação não nos pega tão de surpresa. Se você for mais cauteloso e específico com suas apostas, nada te impede de remar contra a maré e aproveitar um mercado que embora seja menor, não vai desaparecer de vez.

Acho muito importante ressaltar isso: 2015 foi o ano da verdade. O Brasil de verdade é assim mesmo, esse é o nosso potencial atual. Obras de infraestrutura e renovações nas nossas leis arcaicas foram deixadas de lado em prol de produtos mais apresentáveis na hora de ganhar uma eleição. O Brasil não fez sua lição de casa e acaba de tomar bronca da professora! Mas pelo lado positivo, agora sabemos. Agora está evidente.

Nem mesmo os currais eleitorais do PT parecem dispostos a comprar o discurso de que tudo vai melhorar. A taxa de aprovação de Dilma basicamente não existe mais, assim como seu governo. O que me leva a outra previsão otimista-pessimista: esse desgoverno todo pelo menos nos garante uma moratória nas canetadas populistas que causaram essa crise para começo de conversa. Quando o governo é ruim assim, existe sim um lado positivo nele estar perdido em disputas internas: menos tempo para encher o nosso saco.

E olha que eu nem sou libertário: acho que governo tem sua função sim, é que esse parece não servir mais para nada. Eles que se batam lá por Brasília enquanto tentamos reconstruir pelo menos um pouco do que tínhamos. O cenário não é feliz, mas o escorpião já está à vista. Vamos lidar com ele.

E não se esqueçam: isso é crise só em comparação com os anos onde tivemos a sorte da China estar comprando tudo o que via pela frente e o petróleo estava valendo muito. Acabou o oba-oba do B dos Brics, voltamos ao nosso devido tamanho de quem não mexeu um músculo para se preparar para o inevitável fim da onda na qual surfávamos.

2016 não vai ser pior que 2015, pelo menos não pelos mesmos motivos que 2015 foi tão difícil. 2016 vai ser o ano de correr atrás do escorpião.

Boa sorte. Vamos precisar.

Para dizer que esse é o otimismo mais triste de todos, para dizer que 2016 vai ser pior porque você vai ficar mais velho, ou mesmo para dizer que acabei de nos amaldiçoar: somir@desfavor.com

SALLY

Perguntinha fácil: 2016 vai ser pior do que 2015?

Respostinha fácil: Certamente.

Para começo de conversa, aqui é Brasil. Podendo piorar, piora. Sabemos disso. Graças à burrice, incompetência, falta de educação, corrupção e atrasos civilizatórios como religião, machismo e hipocrisia, tudo sempre piora. Dava inclusive para parar o texto por aqui, mas me mandaram escrever duas páginas… Tá com seu antidepressivo na mão? Então senta que lá vem desgraça!

Em 2016, provavelmente o ano mais quente das últimas décadas, vamos suar sem dignidade e o mosquito Aedes Aegypti, transmissor de dengue, chiwhaterver e zika vai fazer rolezinho na sua casa. Vem aí uma geração de crianças microencefálicas com sérias deficiências motoras e cognitivas, e isso vai independer de classe social, já que mosquito é democrático ao picar. Ah sim, é sexualmente transmissível. Se não pararam a AIDS depois de tanta campanha, Zika vai bombar!

Na política a briga de facções criminosas Cunhas x Dilma vai continuar e, mesmo você, como cidadão de bem que é, desejando que ambos morram estuprados por um bonobo com gonorreia, o país vai continuar dividido em dois lados, tal qual torcida de futebol, se digladiando por dois bostas que não valem a merda que cagam e não merecem uma única palavra de defesa. Os nervosinhos continuarão surtando de raiva em redes sociais e até ao vivo. Amizades vão acabar por causa de política, agressões vão acontecer e assim que for conveniente, Dilma e Cunha fazem as pazes um com o outro e dão uma banana para esse povo bunda e voltam a dividir o dinheiro roubado em harmonia, enquanto nós ficamos sem hospital, sem educação, sem transporte público, sem nada de qualidade.

Tem Olimpíada no Brasil. Ok, é só no Rio de Janeiro, talvez o resto do país não se foda tanto, e, lado bom, talvez explodam metade da cidade com algum atentado terrorista, já que a PresidAnta liberou a entrada sem visto em um momento tenso. Mas não comemore ainda, apesar da alegria de ver muitos cariocas morrendo, pode chegar até você. Para quem não se lembra,Zika vírus e seus brindes (Microcefalia, Guillain Barre e adendos) chegaram ao país através de um turista na Copa do Mundo e já se espalha por todo território nacional.

Este maravilhoso ano que entra ainda tem eleições para Prefeitos e Vereadores. Isso significa ser forçado a ver, mais cedo ou mais tarde, todo tipo de gente feia, burra, desclassificada, despreparada e sem semancol em algum lugar: tv, outdoor, santinhos, carro de som e tudo de pior que consigam imaginar. Fora as subcelebridades que vão concorrer e fatalmente ganhar, algumas em grandes cidades e aquela obrigação maravilhosa de ir até a urna eletrônica não-confiável perder seu tempo fingindo que vota.

2016 é um ano bissexto, o que faz fevereiro ter mais um dia. Mais um dia de calor. E por falar nisso, o carnaval vai ser quase na primeira semana de fevereiro, o que gera aquele efeito nefasto do ano demorar para começar: em janeiro brasileróide não quer nada com nada, empurra o mês com a barriga, depois vem carnaval, fazendo mais um mês morto, depois vem semana santa mega enforcada. Tiradentes, Dia do Trabalho, Corpus Christi e blábláblá (tudo quinta e sexta, que é para enforcar bem) até que… Olimpíadas. Se você mora no Rio, quase um mês de danação sem conseguir se deslocar nem trabalhar direito. Profissionais liberais dançarão na porta do metrô em troca de moedas. O comércio, coitado, sempre iludido com aumento de faturamento, vai se foder como se fodeu na Copa.

As previsões para a economia são péssimas: inflação crescendo, país sendo rebaixado, aumento de juros e tudo aquilo que vocês já viram em 2015, só que pior. Seu salário vai valer menos, tudo vai estar mais caro, entrar no cheque especial ou contrair dívidas no cartão custarão ainda mais caro. Nós, reles mortais, vamos ter que reduzir nosso custo de vida se não quisermos endividamento. Isso significa abrir mão de conforto e/ou diversão.

O desemprego vai aumentar, o que significa que teremos que engolir mais sapos no trabalho, pois se reposicionar no mercado neste momento será muito complicado. Podem vir reduções salariais para alguns. Empresas vão quebrar, graças ao escaralhamento do dólar e à péssima condução da economia feita pelo PT, com dados mascarados que estão explodindo na cara da Dilma e não são mais sustentáveis.

O povo ruma para um caminho cada vez mais alienado, mal educado, violento e inconveniente. Os Intocáveis estão cada vez mais intocáveis, o Judiciário proferindo cada vez mais decisões teratológicas. O Legislativo criando leis que não servem nem para limpar a bunda. Os impostos vão aumentar. A saúde pública caminha para o escaralhamento final. O Transporte Público está prestes a colapsar. E vai ter carnaval, com muito batuque, barulho, desfiles bregas e blocos de rua urinando nas proximidades da sua casa. Porque para carnaval sempre tem dinheiro.

Os moralistas continuam em alta. Os religiosos só aumentam, e o que é pior, aderindoaos milagres evangélicos, que prometem soluções divinas fáceis. O ensino público fecha seu pior ano, o que indica estar em queda, piorando ainda mais em 2016. Os Justiceiros continuam atuando, matando suspeitos sem um devido julgamento e as subcelebridades nunca foram tão faladas, basta abrir qualquer grande portal de… de… “notícias”.

O Planeta nunca esteve tão poluído e mostra sua fúria com enchentes, tsunamis, terremotos (é ano do Big One, hein? Estou sentindo!). Vem Yellowstone! Vem e acaba de uma vez com essa merda! O Brasil vai passar vexames com fenômenos da natureza simples que não vai conseguir controlar, como chuva, pois aqui nunca chove conforme o esperado: se chove menos falta água mas se chove mais alaga. Faltou combinar com São Pedro o quanto exatamente tem que chover para essa bosta de país não virar um lamaçal ou um deserto.

Francamente, basta ler os sinais. Olhem o que 2015 anunciou. Uma sequência de bostas que tem desdobramentos a longo prazo. O que levaria alguém a ser tão inocente a ponto de acreditar que tudo vai ser revertido e 2016 vai ser melhor? Não vai. Pode ser melhor para alguns de nós por motivos particulares excepcionais, mas não se enganem, no somatório total, estamos todos muito fodidos em 2016.

Para tomar seu antidepressivo, para se converter à Assembleia de Deus ou ainda para dizer que é por isso que você bebe: sally@desfavor.com


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