Polêmica Que Pariu!

+“Fui desafiada por uma amiga a postar três fotos que mostram como me sinto feliz e orgulhosa em ser mãe.” (…) A carioca Juliana Reis, 25, não só ousou rejeitar o desafio como admitiu que estava detestando ser mãe. (…) Logo, o post de Juliana teve milhares de curtidas e recebeu críticas, mas também mensagens de apoio. Em seguida, foi denunciado e bloqueado.

O blog onde reside o texto “O lado negro da gravidez” não poderia deixar esse tema passar batido. Desfavor da semana.

SALLY

Não havia a menor condição do Desfavor da Semana ser outro. Nem que o Pilha engolisse uma caixa de munição e saísse peidando bala pela Av. Paulista escrevendo “Sally eu te amo” com os buracos. Vamos falar de Juliana Reis, a mulher que foi trucidada no Facebook ao recriminar a idealização da maternidade.

Antes de ler o texto, leia aqui o exato depoimento de Juliana, para perceber que ela não é nenhum monstro nem falou nenhuma atrocidade. Ela apenas se recusou a participar de uma brincadeira que, no entendimento dela, idealizava a maternidade de tal forma que prestava um desserviço à sociedade e principalmente às mulheres. Foi o bastante. Mexeu com a sagrada instituição da maternidade, questionou certezas das quais as pessoas precisam para suportar esse calvário. Tirou o escudo da idealização que parece ser o último liame que une essas mulheres à sanidade mental. Fodeu a mariola! Partiram para cima dela, assim como partiram para cima de mim quando eu falei a mesma coisa.

No mesmo dia ela foi banida do Facebook, enquanto existem vídeos de assassinatos e coisas até piores correndo soltos por lá. Juliana não infringiu nenhuma regra, não cometeu crime, não desrespeitou ninguém. Sabemos que o Facebook não tem regras fixas como nós e tantos outros blogs têm, o banimento é feito de acordo com o incômodo que a postagem gera nos usuários: se muita gente denuncia alguma coisa, aquilo acaba banido. Logo, é correto afirmar que muitas mulheres em massa quiseram silenciar Juliana apenas por não concordar com ela. Mas elas foram além, silenciar não bastava.

Em sua postagem ela mostra o lado negro da gravidez e da maternidade. Sabemos bem o quanto isso desperta a ira. Nós, que éramos um bloguinho pequeno à época, recebemos cerca de dois mil comentários, a maioria nada educados. Imagina alguém em um ambiente muito mais exposto! O curioso é que, como sempre, a coisa foi em tom de ofensa pessoal: “Você só pode ser isso, você só pode ser aquilo”. Não se discutiu o fato (“tal coisa que você fez não foi legal por tal motivo”), se discutiu a pessoa de Juliana e ela foi exposta a todo tipo de agressão, xingamento e julgamento apenas por expressar uma opinião, sem ter infringido nenhuma regra.

Assim como eu, Juliana pensa que romantizar a maternidade é um desserviço para com as mulheres. Ela diz amar seu filho, mas faz questão de deixar claro que maternidade não é um mar de rosas como todos dizem. Pensando no bem das mulheres, suas semelhantes, ela tentou mostrar um outro lado, para que as pessoas tenham todas as informações na hora de se decidir e de se preparar para a maternidade. Curiosamente, ela foi trucidada justamente pelas mulheres, pelas pessoas que ela tentava ajudar e libertar do estigma de ter que achar tudo lindo e maravilhoso na maternidade, que em parte, é um dos grandes desencadeadores de depressão pós-parto.

As mulheres partiram para cima dela com ataques pessoais baixos, feios, com xingamentos. Xingar muito na internet? Por favor. Vamos querer evoluir nessa vida? Se te descontrolou a ponto de perder a compostura e sair xingando, apenas se afaste, vá embora, saia dessa rede social, pois você está dando importância demais ao Facebook e não tem preparo para lidar com aquilo. Não é saudável, de verdade.

O perfil de Juliana foi banido, mas ela não se deixou intimidar e usou o perfil de uma amiga para se explicar, após inúmeros ataques pessoais e xingamentos de baixo calão. Não gosto de gastar espaço aqui transcrevendo textos que vocês podem facilmente ler em outro lugar, mas um parágrafo de sua resposta sintetizou tão magnificamente bem a questão, que eu vou abrir essa exceção, pois eu não saberia escrever tão bem quanto ela o fez:

“(…) ser mãe requer entrega, sacrifício, doação total e amor. Ter filho muita gente tem. E é a mais pura verdade. Quando eu decidi ter esse bebê, eu decidi ser mãe. Só que quando eu me tornei mãe, a Juliana de antes morreu e eu ainda estou de luto por essa morte. Ainda sinto falta de mim, do que eu era antes, de como as coisas eram mais fáceis. Enfim, o fato de eu estar detestando essa fase não implica no meu amor pelo meu filho, ele é muito bem cuidado. E eu decidi ser mãe pq eu o amo tanto que estou disposta a fazer o que eu “detesto” pro que melhor é melhor pra ele. (…)”

O curioso é que muitas pessoas que agrediram (o termo está correto, agressão pode ser verbal conforme a lei criminal) Juliana o fizeram acusando-a de estar sob efeito de depressão pós-parto, como se apenas uma doença fosse capaz de fazer uma mulher pensar assim. Que tipo de pessoa escrota trucida desta forma, com ofensas e xingamentos, alguém que acredita estar passando por uma depressão pós parto? Como a própria Juliana pontua, ainda bem que ela não está com este problema, pois se estivesse, talvez já tivesse tentado se suicidar depois de ser trucidada desta forma. Faltar com o respeito de forma injusta parece ter virado mania nacional. Não se discutem mais ideias, se discutem pessoas.

Aí entramos na questão principal: por qual motivo dói tanto que alguém traga à tona o lado ruim da maternidade e da gestação? Que pacto perverso é esse que as mulheres fazem de se manter em silêncio e fingir que é tudo lindo? Seria para atrair mais gente para o buraco para não ficar na merda sozinha ou seria fruto de uma negação level máximo que as faz precisar enterrar fundo esses sentimentos a ponto de atacar quem tenta confrontá-los? Não sei e provavelmente nunca saberei, mães são criaturas estranhas e me são um completo mistério. Não serei eu a tirar esse escudo de quem precisa dele, pessoas ficam agressivas demais quando você remove o escudo.

A certeza que fica é que maternidade continua sendo tabu e mães continuam sendo Intocáveis. Esse tipo de intimidação com agressão pessoal e xingamentos desencoraja quem quer vir a público expor que maternidade não é um mar de rosas. Poucas pessoas tem estrutura para aguentar essa tsunami de merda de ser xingada, injustiçada e agredida sem merecer. Resultado: quem quer falar a verdade se cala para não se foder na mão dos linchadores e a mentira da maternidade perfeita continua sendo propagada.

Meu texto sobre o lado negro da maternidade foi postado em 2012. Anos se passaram e aparentemente a sociedade não evoluiu nada sobre o tema, talvez esteja até mais intolerante. Poucas vezes fui xingada e julgada como fui naquele texto, com aquele grau de descontrole, que denuncia o quanto pegou no nervo da pessoa. Já fui criticada sim, mas ofensas baixas, postagem nervosa, descontrole emocional? Esse texto bate recorde. O que me parece, acima de tudo um sintoma. Lamento muito por essas pessoas, que escolhem o caminho da escuridão, da agressividade, da raiva, do xingamento e do descontrole. Pior para elas, que acabam denunciando seus fantasmas interiores e um lado vulgar e baixo que carregam dentro delas. Atos sempre falarão mais do que discursos.

Não tem jeito, mulheres são e sempre serão desunidas enquanto vivermos nesta cultura escrota da agressão, da baixaria, do descontrole. Lamentável.

Para repudiar a baixaria e amanhã me xingar muito na internet, para repudiar a desunião das mulheres e amanhã me xingar muito na internet ou apenas para me xingar muito na internet: sally@desfavor.com

SOMIR

O texto da Sally sobre gravidez é o recordista absoluto de comentários no desfavor. A não ser que fiquemos muito famosos num golpe de azar, duvido que algum consiga bater. E é sempre fascinante ver a reação raivosa e descontrolada das mães que batem ponto por lá. É uma fúria difícil de explicar, porque se a pessoa tivesse lido e achado tudo errado, dificilmente teria a empolgação necessária para participar comentando.

Se eu escrevesse um texto do lado negro do toque de próstata e dissesse lá que o pior era quando o médico colocava o punho todo, seria motivo de piada. Ninguém ia dar bola, só se fosse para tirar sarro. Evidente, é uma informação completamente maluca que não tem fundamentação e situação pela qual ninguém (pelo menos espero) passou. Não teríamos mil comentários de homens furiosos pela desinformação. Quando você diz algo claramente estúpido e sem fundamentação, é bem mais difícil gerar a paixão necessária para polemizar.

Mas, se você efetivamente toca numa ferida, as coisas mudam de figura. Se a informação passa perigosamente perto de algo que a pessoa pensa, mas não gosta de admitir, prepare-se para lidar com reações negativas. E quando mais visível for a informação, mais e mais gente vai vestir a carapuça. O texto do lado negro da gravidez é tão polêmico porque pega na veia de muitas coisas que devem incomodar a maioria das grávidas, mas que convencionou-se desagradável demais para ser mencionado de forma pública.

Quando a moça diz algo que provavelmente deve passar pela cabeça de muita mulher depois de ter um filho, mas que esconde-se num pacto de auto-enganação, a raiva é tanta que querem porque querem silenciar. Por algum motivo, parece muito importante para essas mulheres manter as agruras, dúvidas e decepções da maternidade bem escondidas. Afinal, sem a presunção de felicidade plena e perfeita, ficam expostas a uma possível sensação de arrependimento.

O que deve parecer para elas como uma diminuição do amor que sentem pelas suas crias. Como se amor fosse uma questão de felicidade plena. A própria Juliana cita que apesar de todos os pesares, continua amando demais seu filho. A questão é que não tenta pagar de perfeita na rede social. Se mais pessoas tivessem esse desprendimento, acredito que até mesmo os justiceiros sociais que denunciam perfis (para compensar ou esquecer seus próprios problemas) teriam seus ranques diminuídos.

Não deixa de ser um círculo vicioso: poucas mulheres tem coragem de dizer que nem tudo são flores porque muitas mulheres dependem dessa ilusão de felicidade interminável para aguentar o processo de ser mãe. E essas muitas vão botando pressão nas que poderiam ser mais honestas, reduzindo a quantidade de relatos mais realistas sobre o “milagre da vida”. Precisa ser tudo perfeito? A vida virou uma foto de Instagram?

Aparentemente, precisa. Aparentemente, virou. O medo de lidar com a realização de que maternidade é algo complicado também é uma forma de se perdoar por não fazer o serviço bem feito. Explico: quando se tem a noção que existe um trabalho complicado na sua frente, com muitas possibilidade de falhas, é mais seguro acreditar que pode controlar pelo menos a visão de terceiros sobre o acontece. Ao invés de respirar fundo e ir pra luta, mais simples um acordo generalizado de só contar as vitórias, para todos parecerem vencedores, para parecer que é possível não errar.

Juliana escancara uma verdade inconveniente: a que muitas mulheres podem estar errando feio na criação de seus filhos por não se permitirem sentir o peso da tarefa que tem diante de si. Ao se juntarem contra a moça, estão inclusive tentando se convencer que ela é o elo fraco, para se sentirem superiores e menos inseguras sobre as besteiras que estão fazendo, tipo ficar denunciando perfil no Facebook ao invés de tomar conta de suas crianças.

O trabalho de cuidar de um ser humano para que ele possa conviver na sociedade é muito grande. A responsabilidade enorme, os riscos gigantescos. Deve cansar às vezes, deve desanimar e entristecer, como toda grande tarefa costuma fazer com seus responsáveis. Mas é claro que isso não significa um desastre inevitável. É como o ator que mesmo depois de décadas de teatro, ainda sente um frio na barriga ao entrar no palco. É natural sentir-se fraco diante de um desafio. É natural ter reservas. E isso não quer dizer que alguém é mais ou menos capaz de desempenhar seu papel.

Mas, quem vive de aparências vai enxergar os outros assim. Se aparenta não gostar de ser mãe (e tem que ter a profundidade de um pires para depreender isso do post), só pode ser péssima mãe. Só pode estar fazendo um desserviço para todas as outras. Como ousa sair da superficialidade? Como ousa ser humana? Isso é ruim para quem não gosta de enxergar nada além de uma imagem meticulosamente criada para ostentar felicidade. Se a felicidade é fruto de uma fraude, evidente que não vão gostar de quem a expõe.

E aí, a rede social, feita pra ser câmara de eco ou cacofonia raivosa, não consegue lidar com um desabafo humano. Algumas decidem calar a voz que incomoda, e o sistema não se furta de agradá-las. Perfis caem muitas vezes de forma automatizada. Se a rede é feita para as pessoas só verem o que querem, certeza que vai ter mecanismos para derrubar conteúdo sem interação humana. E sem ver problema nenhum nisso.

Antes tivesse postado as três fotos e seguido com o programa. A verdade não curtiu isso.

Para dizer que eu não entendo nada de ser mãe (e?), para dizer que teve um filho lendo isso, ou mesmo para dizer que vai denunciar o desfavor para o Facebook: somir@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas: ,

Comments (92)

  • não tenho filhos mas estou pensando seriamente se os quero ou não. amo minha vida do jeito que é, se eu tiver filhos não será mais a mesma, não vou acordar a hora que quero fazer o que quero quando quero com quem eu quero etc…fora que odeio hospital e uma coisa que ninguem fala é os riscos do parto, risos de vida inclusive. sei la…acho que prefiro adotar uma criança ja crescidinha do que passar por toda essa barra, mas o que prefiro mesmo e não ter e pronto!

  • Nem vou falar sobre liberdade de expressão.

    O problema aí é de projeção.

    “Eu sei que existe um lado negro da gravidez. Eu vivi isto na pele. Assino em baixo em tudo o que ela disse, mas eu repudio isto em mim. Tenho vergonha disso! Nao teria coragem de expressar isso em púb…Perai, ela disse isto? Que coisa absurda! Essa mulher deve estar doente! Temos que denunciar. Ela pode matar o bebe!!! “Dstesto ser mae…” Que bandida, doente, desumana…Deveria ser proibida de falar em redes sociais….” ad infinitum

    E ela nem se deu conta que estava trucidando a si mesmo.

  • Bom, aqui estou eu lendo esse post e todos os comentários depois de ter lido o lado negro da maternidade, e apenas para informação estou no meu 11° dia do pós parto, que graças a Deus correu td bem, minha nenezinha está aqui perfeita ao meu lado, tirando uma sonequinha :)
    Bom só gostaria de falar que os dois textos são muito elucidativos, mas que mesmo assim não retratam nem metade do que acontece com uma mulher, seria necessário escrever um livro, daqueles enormes, pq cada mulher sofre a gravidez de uma maneira diferente, não vou dizer que não tem os altos pq tem sim, são poucos comparados com tanta rasteira que vc leva, mas eles te levam tão pra cima que vc acaba tendo forças pra continuar, não dá pra explicar a sensação de ouvir o coraçãozinho bater pela primeira vez, mas isso eu só fui ouvir com 8 semanas, no meu caso que descobri a gravidade com 4, pode contar aí um mês na penúria de saber se o seu BB estava vivo ou não… Poderíamos escrever o livro, Lado negro da gravidez semana a semana.
    E ainda tem outra coisa, eu demorei 7 anos para conseguir engravidar, e eu sabia das coisas ruins, pq tenho 3 irmãs e 1 cunhada, que me deram 9 sobrinhos, então sim eu sabia de grande parte do que me esperava, mas eu queria ser mãe, eu amo ser mãe, mas que é sofrido é, e ninguém pode dizer o contrário
    Nem vou reler o texto antes de enviar, pq minha filha já está querendo mamar de novo, e ela mama de 2/2 horas, só pra exemplificar mais um pouquinho, sai da maternidade com o bico do peito roxo e sangrando, pq a bichinha tem uma força pra sugar, mas apesar da dor, e eu admito que chorei e xinguei enquanto ela sugava, me sinto orgulhosa e aliviada de ela ter força pra sugar, a ponto de pensar se seria possível ela arrancar meu mamilo, e saber que ela está se alimentando bem
    Resumindo mãe é bicho doido, mas me entristece que todos esses assuntos sejam tabus, pq por ser uma pessoa que reclama de td, não deixo meu marido passar em branco, falo pra ele td o q sinto e reclamo mesmo se ele enrola pra acordar qd eu chamo pra trocar a fralda ou pegar a neném pra eu amamentar
    Mas diga-se de passagem que já me olharam feio pq eu faço o homem trocar fralda de menina
    Deu pra escrever mais um tantinho pq a baby dormiu de novo, agora fui de vdd

  • Pior que essa pressão pra ter filho nao tem adiantado porra nenhuma, já que a natalidade vem despencando no mundo (até mesmo no Brasil)
    Bebê nao dá xp e é mais facil namorar gente que dá pra desligar

  • Toda essa história me lembra o filme Stepford Wifes. Que, por sinal, é terror!

    Sinto muito pelo spoiler para quem não o assistiu, mas…
    Quando se supõe que o algoz das mulheres – que não se encaixavam no papel pré-definido de esposa, dona de casa, submissa e eternamente feliz sem motivo aparente – no filme era um homem, ou um grupo de homens, se surpreendente com a revelação de que uma mulher criou aquela realidade e determinou esse papel perverso às mulheres da forma mais violenta possível.

    No caso em tela: se eu sou mãe, fiz uma escolha IRREVERSÍVEL e ETERNA da qual não posso me arrepender, mas vivo numa sociedade que pactuou disseminar a perversa propaganda enganosa da maternidade como fonte de sublime felicidade, quero mais que TODAS AS OUTRAS desempenhem o mesmo papel, se fodam em igual proporção, pra que eu não me sinta sozinha em minha desgraça. Misery loves company…

    Discurso radical? Pode ser, mas é o que penso.

    • Aqui tivemos uma votação na qual uma única mulher passou o dia todo votando para eliminar as outras mulheres que participavam da brincadeira.

      Homem não é esse bandido todo que dizem não, mulher é pior.

  • Tá difícil, tá cada vez mais difícil fazer parte DESTA sociedade.

    Os temas pelos quais a maioria se interessa, a monstruosa repercussão de coisas sem a menor importância, a propagação massiva do politicamente correto, do que é considerado aceito e padrão na sociedade, a crucificação de quem pensa diferente etc…

    Antigamente eu acha engraçado e até interessante a distância que separava o meu pensamento do da maioria, mas agora só me revolta ou até me deprime.

    Não se pode falar mais nada, expressar opinião alguma que destoe do pensamento da MASSA. Pra quem se importa (e até pra quem não se importa, mas quer evitar um possível constrangimento ou desgaste), é um eterno pisar em ovos. Tudo é preconceito, tudo é racismo, tudo é intolerância, tudo é radicalismo, tudo repercute com muita histeria.

    Se você pensa diferente, cale-se! Não ouse expressar um pensamento que destoe do bando. Se questionar o status quo será massacrado por anônimos que nada tem a dizer, mas vomitam moralismos com a maior facilidade, especialmente com o apoio do bando.

    Se for socialmente aceito trucidar uma mulher que declara SUA EXPERIÊNCIA negativa com a maternidade, façamos, independente de concordar ou sequer raciocionar sobre o que ela declarou. Em momento algum ela criticou a maternidade enquanto ESCOLHA, apenas a IDEALIZAÇÃO, que sem dúvida leva muita mulher a cometer um erro de escolha que, cabe frisar, é para sempre!

    De verdade?! Eu tô mais radical em minhas opiniões ultimamente. É um efeito rebote à supremacia do politicamente correto. Por mim, todo mundo que criticou essa mulher tinha que tomar surra com um gato morto até ele miar pelo desfavor de tentar calar UMA voz honesta em meio a tanta hipocrisia.

    Nem queiram saber o que passa pela minha cabeça quando vejo uma notícia de histeria relacionada ao pseudo-racismo…

      • Outro dia me peguei pensando como me sentiria e o que falaria pro povo que execrou os pais por causa da fantasia de carnaval do Filho.

        Me sentiria irritada e responderia dizendo que era uma acusação infundada fruto de uma histeria do preconceito racial que reside nos olhos de quem assim viu.

        Mas daí eu lembro que (1) a mensagem não seria entendida, (2) geraria mais repercussão indesejada e (3) estamos imersos no povo e não há como escapa-lo: são nossos familiares, colegas de trabalho, amigos etc. Mesmo selecionando bem os amigos, os julgamentos de valor são individuais…

        No fim, acho que eu ficaria calada e faria cara de síndrome de down voluntária. É o que resta. Mas NEM FODENDO eu iria à público pedir desculpas por algo que não fiz de errado. (Sem querer condenar mais esses pais…)

        • Tem gente que não tem estrutura para suportar uma execração em massa. Para eles, custa menos pedir desculpas sabendo que estão com a razão do que suportar o linchamento.

  • Então, fora o lado negro da gravidez, ninguém fala que maternidade é uma prisão a céu aberto, são duas bolas de ferro em cada pé….os 10 primeiros anos (praticamente) de um filho equivalem para os pais como uma maratona psico-emotiva-intelectual-material em função de “tentar” criar esse filho (nada garante que os pais serão bem sucedidos).
    Olha, não é pra qualquer um mesmo….não é!! Não adianta tampar o sol com a peneira pois as demandas são muitas e complexas.

    • A maternidade é essa prisão a céu aberto em sociedades que exigem muito mais da mulher o trabalho com a prole do que para o homem, que geralmente só fica com a parte “gozosa” da coisa toda. No dia em que o papel do pai e da mãe tiver a mesma cobrança, esta sensação acaba. Basta ver que em país de primeiro mundo tem até licensa paternidade, coisa que por aqui – e em outros países da machista América Latrina – ainda engatinha. Sociedade onde se enfartiza o papel do pai e da mãe com mais igualdade gera pessoas mais conscientes e uma sociedade mais equilibrada (numa dest, criar filho se torna um fardo mais leve). Se não me engano, a Juliana é uma mãe solteira, o típico caso da mãe que cria filho sozinha enquanto o pai da cria simplesmente some, o que torna o trabalho de criar filho ainda pior e mais pesado, gerando frustração e até desespero. Este caso dela deveria reacender o debate a respeito de coisas como papel do pai, do aborto (sim, ele também), da participação do pai na educação dos filhos e por aí vai. (Por estas e outras situações que o aborto deveria ser legal e o pai deveria ser muito mais responzabilizado quando abandona a prole desta forma)

  • E outra coisa, Sally, que meu ocorreu na mente: Não sei se é correto em todos os casos, mas vejo um ingrediente aí, que acaba colaborando com a opressão das mulheres à maternidade: No Brasil (e em um monte de países), o aborto é ILEGAL. A ilegalidade do aborto contribui para que as mulheres se sintam aprisionadas à maternidade, a parir, e faz surgir uma legião de frustradas no armário, prontas para destilar ódio na primeira oportunidade contra mulheres que “se livraram do problema” ao abortar (até a existência de país com aborto legal deixa esse povo nervosinho, pois a existência de país mais livre para mulheres faz com que estas se revoltem contra a liberdade das outras, ao invés de lutarem para que elas mesmas sejam tão livres quanto estas outras) e contra mulheres como Juliana (todo o meu apoio a ela), que ousam dizer a verdade. Acrescente-se, claro, a religião cristão praticada no Brasil (uma mentalidade muito diferente da maioria dos religiosos de países de primeiro mundo, com mentalidade mais aberta a coisas como direitos das mulheres), muito mais patriarcal e opressora com a mulher e os direitos reprodutivos das mulheres.

    Um país mais livre e que dá às mulheres mais opções de vida acaba dando mais qualidade de vida para mulheres que se tornam mães. Claro que mãe frustrada sempre existirá (assim como pai frustrado), mas em país mais livre, com mentalidade mais aberta, tudo fica muito mais fácil de resolver.

    • Concordo com voce: neguinho nao tem responsabilidade de se planejar e usar anticoncepcional, então, aborto proibido gera uma sensação de inevitabilidade de filhos, fazendo com que as pessoas busquem mecanismos para se conformarem.

    • Algo que nunca vou entender é este discurso do tipo: “aborto é direito, aborto é “mais opção””.

      Não é o seu caso (acho), mas muito ‘progressista’ critica a diminuição da maioridade penal, pois a solução final (cadeia) é muito traumática e não recupera. Devemos investir na base – que é assistência e educação para que não precisem chegar a tanto…

      Mas no caso do aborto, deixam de lado a opção da educação e gritam pela solução final…

  • Sem contar as mulheres que só tem filhos pra pegar pensão (o famoso golpe). Mas o que me revolta mesmo é quando vejo mães dizendo que filho é uma “alegria, uma bênção” e depois estão lá, maltratando da pior forma possível a criança. dá nojo.

  • Sally e Somir, é por essas e outras que o desfavor lava a minha alma. Mesmo que não concorde com tudo “ipsis litteris”, ainda sim, é um dos últimos recantos de liberdade de expressão neste país. As redes sociais estão tomadas de gente ignorante e intolerante, incapaz de simplesmente “ligar o foda-se” com relação à vida alheia e de “deixar pra lá” quando não se gosta de algo. Tudo bem, a gente fala as coisas, as pessoas podem concordar ou não, mas a tônica é (ou melhor, deveria ser ) o respeito, mas não… Para o BM, mais importante é se sair “por cima”, o “fodão da moral e dos bons costumes” em cima da desgraça alheia e, de preferência, cruficiando os destoantes das unanimidades e jogando pedras nas Genis que eles julgarem merecedoras das pedras. Esta moça foi a Geni da vez, colocando o dedo na ferida de muitos – e pelo visto, muitas – que ao invés de lutar para que as mães sejam tratadas com mais dignidade, de batalhar para que mães sejam vistas também como mulheres humanas, não apenas seres de outro mundo a serviço de uma idealização – de cunho machista, que serve a interesses patriarcais dos mais mesquinhos, que os homens também sejam responsáveis pela prole tanto quanto as mulheres (que é grande parte do fardo e do sofrimento das mulheres com as crias, diga-se, com pais mais participativos, talvez a coisa fosse menos aflitiva e pesada para as mães), de lutar para que a desigualdade entre pai e mãe com relação a tudo mais nesta vida, de lutar conta violência obstétrica (que sim, existe, e é alarmante neste país de merda, medicina obstétrica no Brasil é da idade da pedra lascada), não…. elas preferem usar toda a energia que têm para crucificar uma mulher só porque ela ousou dizer o que ela realmente sentia, com sinceridade, sem dizer nada além da verdade do que ela estava passando – e apontanto o outro lado da maternidade, o menos cor de rosa. Preferem continuar oprimidas pela idealização da maternidade ao invés de apoiar aquela que poderia ser um exemplo para que todas gritassem por uma sociedade menos julgadora para mães e mulheres. Para estas mulheres, nada de sororidade. Cada um tem a opressão que merece, especialmente quando se atira pedra em alguém que apenas precisa de apoio e acolhimento.

  • Essas loucas que apontaram o dedo julgando a menina, no fundo, pensam a mesma coisa. Por mais que ame o filho e que não se importe de fazer tais sacrifícios, é impossível uma pessoa passar os dias sem dormir bem, sem comer direito, sem tempo nenhum pra si mesma, trocando fralda caga e ainda achar que está no paraíso. Só que elas nunca vão admitir, seja porque acham que assim vão amar menos o filho ou porque não é socialmente aceito. Aí quando aparece uma guria corajosa jogando a verdade nua e crua na roda elas querem xingar, julgar e trucidar a pessoa numa vibe tipo “Olha, ela está expondo o nosso segredinho sujo. Vamos impedir!”

    Conheço bem esse tipo. As mulheres do meu trabalho, por exemplo, se indignam quando alguém fala que não quer ter filhos, mas nessa época de volta às aulas estão dando graças a deus de poder despachar as crias pra escola. Certamente não aguentam mais barulho e bagunça o dia todo dentro de casa. Aí eu me pergunto: Se não querem ter trabalho pra criar os filhos, por que os fazem?

    • Porque na sociedade atual, a mulher se afirma através de família e o homem através de trabalho. Uma mulher sem marido e filhos é equivalente ao grau de humilhação social e fracasso de um homem pobre e desempregado. Elas se deixam avaliar pelo olhar alheio, não sabem ser verdadeiro valor: se os outros me acham uma bosta eu automaticamente passo a ser uma bosta. São umas frustradas, mal resolvidas, que se apegam a mentiras para poder suportar a merda que sua vida se transformou, se convencendo que toda vida adulta é assim e que não pode ser diferente.

      Pronto, desabafei…

      • Mulher com 30 e pouco que não tem família e filhos é vista ‘atravessada’.

        Homem com 30 e poucos que não tem carreira estável e carro de de no mínimo 50 mil, idem….

        • Sim. Homem é avaliado pela profissão, pelo carro, pelo status que envolve o “bem sucedido” profissional. Se não atende o padrão social (e quase ninguém atende), deve ser um merda, um acomodado, um incompetente.

          Mulher é avaliada pelo status “família”. Se nunca casou e não teve filhos, deve ter alguma coisa muito errada com ela: histérica, frígida, insuportável e por aí vai.

          Nossa sociedade é toda pautada em julgar, em apontar o dedo, em procurar falhas nos outros em vez de elogiar, de focar no lado bom da pessoa ou de tentar ajudá-la a melhorar. Lindo.

          • * Primeiramente, um parabéns à Juliana e à amiga; quem dera se elas chegassem a estes nossos apoios !

            * E se eu disser que pelo menos a mim, além de profissão e carro, até há a cobrança com barba e muito do que é projetado a um misto de “neomedieval” e/ou “artista” global ?

      • Karina, então eu tenho sorte, tenho mais de 30 (32 anos completos este mês), não sou casada, não tenho filhos ainda e todo mundo do meu meio social acha normal (inclusive minha família). Conheço muita mulher sem filhos também, e não sofrem aqueeela discriminação. Espero que seja sinal dos tempos, de que as coisas estão mudando, e espero que continuem mudando para melhor.

        • Sim, Morena, considere-se uma mulher de sorte! É claro que, como a Sally diz aqui várias vezes, temos uma enxurrada de BM’s por aí, prestes a apontar o rabo das cutias, esquecendo-se das suas próprias longas caudas de mico. Mas, tendo eu nascido e sido criada no berço da “tradicional família mineira”, te digo que, cá no alto das montanhas caipiras, o que se pensa – e aí não são apenas os BM’s, mas todos – é que mulher com mais de 30 não casada e/ou sem filhos, ou homem na mesma idade sem um excelente emprego e carro são, respectivamente, vadia e fracassado. Ainda hoje estava dizendo a alguém que me entristece muito esse pensamento de BM, que aceita tudo sem questionar.

          Acredito, também, que a religiosidade tem muito a ver com essa proibição de se admitir o que não deve ser pensado. Já cheguei a escutar “nossa, mas você não acredita em Deus? Nunca imaginei, você é tão gente boa…”. Acho que no fundo, condenar aborto, arrasar mulheres que admitem o lado negro da gravidez/maternidade, nada mais é do que medo de “castigo divino”. Além do famoso “e o que os outros vão pensar?” – outra célebre frase de mineiro.

          Muito triste. Que as Julianas um dia existam em número maior do que os algozes. E que possamos continuar tendo o Desfavor, onde possamos trocar ideias sem ser massacrados…

  • Esse evento e o que essa mulher escreveu representa exatamente o que eu presenciei nesses dois ultimos anos.

    Um evento que me chocou foi uma dessas pessoas que conheço comentando que quando gravida uma pessoa sem a menor cerimônia pegou nos seu seios e ensinou na prática como deveria preparar para formar os bicos dos seios. Essa mesma pessoa vendo a minha cara de espanto olhou pra mim e falou, “se prepare, pq quando vc engravidar o corpo não é mais seu, todo mundo te encosta…

    Vi as invasões, as opiniões até de quem nunca teve filho e percebi como é punk ser mãe. Esse mulher, Juliana, fez um grande favor, acho justo as mulheres tomarem conhecimento que nao se trata de um conto de fadas.

    A sensação do escudo retirado causa panico, Sally, pq dói encarar imperfeições, ninguem (raras pessoas) gosta de perceber em si o que ainda precisa ser melhorado em varios aspectos de sua vida. Se cobram muito, e não suportam qualque sinal que indique uma suposta cobrança externa. É como em física, quando um carro colide com outro na contra mão, as velocidades são somadas.

    Outra coisa que percebo é a cultura da culpa. Enfiam guela abaixo essa culpa na gente. Vc nao pode discordar dos seus pais, pq é pecado, vc nao pode se sentir incomodada de receber um parente em casa, incoveniente, pq vc é uma egoista escrota… vivemos a cultura da culpa, não só para a mulher que tem filhos, mas as solteiras tb… ja ouvi varias vezes que mulher só se realiza e vive sua nissão quando viver a maternidade. Mas vá …

    • Eu não preciso limpar merda para me realizar… hahaha

      Falando sério, no Brasil custa muito caro destoar do mainstream. Aqui é quase uma ditadura social, um povo que parece viver na adolescência: se você é diferente todos vão apontar e ridicularizar. O diferente é desconhecido e o desconhecido é ameaça presumida. Assim, um mesmo comportamento medieval é perpetuado pelo simples medo do novo. Lastimável.

      • DS versus (muitos e muitas...)

        hahahahaha, nem eu !

        Exatamente, idolatria ao mainstream e à “pós-adolescência” !

        * Corpo encostado e sexismo(s) ?!

        Então…

        Exatamente na (mesma) época em que mais julgavam até que eu seria assexual “lesado”; uma amiga solteira (“ajuizada”, mas – tão – legal e espontânea também) apenas fazia um tipo de apresentação quando um molequinho fez a surpresa de “pivetar” ao pegar nos seios dela, e depois disso só soube do que tive de ouvir pouco, de um espertoide (além de BM…) em comum a eu e essa, quase em seguida : “(…) bem mais esperto que você !” – também um tipo de tosco que depois vi ser platônico e tão sem chance quanto quem nunca a quis…

      • Falando (mais) sério : para acusarem de frouxidão e generalizarem que “carioca é puta / tem espaço demais” são “um monte” (com trocadilho), sobre “esquecerem” no sentido de a jogarem (mais ainda) no ostracismo e voltarem às futilidades…

  • O início do declínio populacional brasileiro esta projetado para daqui 20 anos. Tomara que esse fato não contribua para a sociedade querer empurrar cada vez a mais a glamourizacao da maternidade.

    • Talvez com um surto fodido de Zica aconteça antes. Aliás, tomara. Não vejo a hora dessas pessoas pararem de reproduzir.

    • 20, mas não duvido se for daqui a 15 (ou, concordando vom a Sally, até antes)…e, sim, tomara !

      Também prefiro “(quase qualquer) uma chacoalhada para menos” do que como é hoje !

    • Os governantes desesperados pela diminuição da natalidade (não só no Brasil) deveriam pensar em outras estratégias em vez de criarem projetos para “estimular” (ou seria forçar?) os casais a terem filhos. Se eles não querem é porque não querem. Simples.
      Os japoneses chegaram ao ponto de criar um bebê robô para despertar instintos (????) nos adultos. Gente, baixas taxas de natalidade não podem ser tão desesperadoras assim.
      Que tal investir em crianças órfãs, por exemplo? Investir em instrução para elas serem trabalhadoras e não acabarem na rua quando completassem 18 anos. A sociedade dá tanto valor ao sangue, aos genes e ao parto (hurr durr milagre da vida um mini-eu) que acabamos nos esquecendo dessas pessoas.

      Posso estar falando altas bostas aqui, é palpite de leiga.

      • Será que governante brasileiro quer diminuir a natalidade? Me parece que não, que querem uma massa enorme de pessoas pouco instruídas para continuar fazendo o que querem sem um povo apto a questionar e fiscalizar. Tá aí o PT dando dinheiro por cada filho feito!

        • E também que o critério para 2º turno municipal é o mínimo de 200 mil habitantes (“um quinto de milhão” !), muita cidade que ainda é “lugarejo” e muita injustiça em uns casos contrários, ! “Espetáculos do inchaço em mesmice, ops, crescimento”, sabe…

      • “Apenas” que no Brasil (ainda ?!) não, pelo contrário (!), inclusive “o telecanal carioca” havia comemorado total e descaradamente o fim da (chinesa !) política do filho único…

      • Pois é, ainda falta (até) à humanidade se “desgrudar” melhor dessa “lavagem de egos” na forma desse “natalismo-hereditarianismo”…em pleno século XXI e ainda não “passam desta página” !

      • justamente por isso que a ressocialização de criminosos deveria ter sido levada mais a serio, imagina quanta força de trabalho estamos perdendo…

        • Presos querem trabalhar, o problema é que governantes preferem pagar por obras públicas, assim podem superfaturar licitações e embolsar dinheiro

  • Em tempo, discuti com um cara que jogava pedras numa outra mulher que falava quase a mesma coisa e ele justificava que podia até não ser errada a opinião dela, mas “a criança inocente estava sendo exposta, e isso era muito errado…”

    Ignorando o fato de que o cara nem devia estar julgado a vida da mulher, que um depoimento assim as vezes é mero desabafo, respondi:

    “Expondo? Como assim expondo?! Essa criança vai crescer e quando se tornar um adolescente vai chegar pra mãe e dizer algo como: “Pô mãe, mó mancada. Descobri que tu falava que quando eu era bebê, te dava trabalho e não te deixava dormir direito. Desculpa aê, mas vou te processar.”

    Os justiceiros sociais estão cada vez mais ridículos.

    Isso que da força pra louco tipo Bolsonaros e Malafaias.

    • Eu queria muito entender essa deturpação de que para amar, para ser amor de verdade, não tem que ser possível ver nenhum defeito, nenhum lado negativo. É passionalidade demais para meu gosto! Como pode esse sujeito ter achado que a criança estava exposta?

  • Esse é um movimento que anda tomando cada vez mais força.

    As redes sociais se tornaram tribunais, onde se apura e se julga tudo e todos em nome do bem estar social e do politicamente correto.

    Já existe um senso comum com temas/termos e palavras mais ou menos definidas como impróprias. E outros termos vistos como moralmente como necessários.

    Vivemos uma censura prévia, onde opinião é crime, e crime só é mesmo crime, se for realizado pelo grupo errado.

      • Exatamente.

        Tanto que já tem agencia de publicidade/marcas/empresas que não admitem, mas acredito que estejam se aproveitando dessa vitralização fácil que grupos militantes dão quase se usa estes termos ou palavras ‘erradas’.

        Eu aproveitaria…. Não existe publicidade ruim.

          • Churrascaria Buffalo Grill em Cruz Alta
            Esmaltes Risqué
            Dryworld que fez as camisetas do Atlético
            Penalty que se aproveitou da polemicazinha
            Lego
            Gillete

            E o restante não lembro agora. Mas da pra se aproveitar da energia e sobra de tempo da militancia fazendo campanhas pró e contra (mesmo que não intencional).

            Mas dá eu já estou saindo MUITO do tema, e deixarei essa discussão, assim como reunião de mais material pra embasa-la para outro momento.

            • Você diz que eles provocam a militância abertamente para ter publicidade da militância falando mal? Olha, é uma teoria muito interessante… Não duvido nada!

              • Alguns desconfio que é proposital. Outros não é, mas a má publicidade acaba gerando mais vedas e visibilidade como no caso da churrascaria e da Risqué.

                O caso do Atletico é tão sem noção que desconfio que possa ter sido proposital, e outros.

                Imagine que todo mundo quer viralizar. Hoje vc vê um viral e não sabe que existem agencias trabalhando para que aquilo parecesse espontâneo e não proposital.

                Pra se aproveitarem dessa histeria do politicamente correto é um pulo. Se não acontece intencionalmente, acontecerá.

                Mas como disse, estou saindo do tema. Vou me controlar. ;)

                • Você não está saindo do tema, está falando dessa histeria politicamente correta que fizeram com a moça no facebook e como ela vem sendo usada de forma manipulativa

      • Praticamente; e acredito que faz tempo…tanto que era tão curtidor quanto leitor, membro de grupos secretos com alguns dos melhores(?!) de lá…e nem neste sentido e nesta perspectiva eu aguentei !

    • Isso mesmo, Hugo, foi o que reparei exatamente no caso da família fantasiada de personagens do Aladim no carnaval. E tenho mais um caso de histeria punitiva/tribunal facebookiano pra contar pra vcs: Aqui em Valsador – terra dos piores BMs do Brasil – tem um bloco, “muquiranas”, de homens vestidos de mulher que brincam de pistolas de água. Eis que uma camelô que está grávida estava tirando a água do isopor em umas garrafinhas colocando no chão, para que entregasse uma garrafinha de água daquelas para um dos muquiranas para usarem esta água nas pistolinhas, quando comprasse cerveja na mão dela. Eis que um desqualificado FILHO DA PESTE (não vou chamar de filho da puta porque as putas não merecem um filho destes) FILMOU e ainda por cima divulgou em pleno facebook dizendo que a mulher estava pegando água de isopor pra VENDER. Eis que a coitada foi desmoralizada, xingada, achincalhada e difamada de milhões de maneiras e palavrões possíveis nas redes e não vendeu mais nada depois do ocorrido. Tudo por conta de um salafrário (que deveria estar na cadeia pelo que fez, difamação é crime). Mas aí veio a parte boa: Um programa daqui falou com a moça, e muitos se mobilizaram para ajudá-la e, graças à ajuda das pessoas, as coisas estão bem com ela. Com ela pelo menos resolveu, quantos têm a mesma sorte que ela? Pois é… Mas a histeria punitiva e a ânsia de apontar o dedo na cara dos outros tão cara ao BM não tem limites, e BM não aprende com os próprios erros.

  • Certa vez uma amiga psicóloga me falou que esse negócio de instinto maternal (a vontade inerente da mulher em ser mãe ) não existe. Não nascemos com vontade de ser mãe coisa nenhuma… É algo que a sociedade enfiou na nossa cabeças.

    E aí, quando as mulheres que cresceram acreditando que TINHAM que ser mães e TINHAM que gostar disso por ser natural delas, percebem que era uma questão de escolha, o mundo delas desaba…

    • Deve ser bem mais fácil quando se pensa não ter opção. A ideia da escolha, depois que o filho está feito, deve ser mesmo desesperadora. Por isso jogam pedras em quem ousa dizer que é totalmente possível ser feliz e plena sem filhos.

    • Engraçado é que nunca endereçam instinto paternal para homens desta mesma maneira, o que me leva a crer que este mito do instinto maternal humano não passa de disfarce para o patriarcalismo impôr à mulher que ela serve principalmente pra parir e mais nada. Mais uma forma de opressão contra a mulher disfarçada de “valores” e tudo mais.

  • Já imaginava que esse caso seria mesmo o Desfavor da Semana e também pensei imediatamente na Sally e no seu texto recordista de comentários quando li. Infelizmente é assim mesmo. O que incomoda tanto essa gente disposta a “xingar muito na internet” é que algumas verdades sobre a maternidade acabam expostas em textos como o da Sally antes e o da Juliana agora. Essas verdades – que até podem ser “inconvenientes”, mas não são nada mais do que a realidade – abalam as certezas dessas pessoas, que “sentem o golpe”. Somando isso à absurda incapacidade que a maioria dessas pessoas têm de depreender o que um texto realmente disse e à uma “sanha justiceira” que só aparece na internet, temos a receita perfeita para que essa cambada nos inunde com uma enxurrada de idiotice.

    • Uma vez discuti nos tempos de orkut com uma pessoa que dizia que a ira vinha da mentira, que quando pessoas se emputeciam era por causa de mentiras. Essa pessoa insistia em afirmar que, quanto maior a mentira, independente de qual fosse, mais irado ficaria quem estivesse envolvido com ela. A poeira abaixou. Passou muito tempo. Daí eu fiz uma comunidade chamada “a mãe de fulana é uma ovelha” (Fulana = pessoa que teve essa discussão comigo). E não é que Fulana não se incomodou quando eu apontei que a tal comunidade existia?

      É como o Somir falou: a verdade é o que incomoda. A verdade que faz ruir escudos, negações e mecanismos de defesa. Uma pena, pois a verdade, e somente a verdade, liberta. Quero distância de quem se mantém de pé na base da auto-mentira.

  • Quando rolou essa ‘treta’ eu não tive a menor dúvida que seria o desfavor da semana.
    A coragem da Juliana me parece fruto de algumas sementinhas jogadas por aí. Vi pelo menos mais um post do gênero, ambos super compartilhados e curtidos e comentários favoráveis a esses relatos (mesmo sendo poucos, o fato de existirem já é uma grata surpresa). Volta e meia vejo o assunto sendo pauta em sites e blogs evidenciando o lado mais nefasto da maternidade.
    A raiva que essas declarações geram, como vocês bem disseram, é só porque é tudo verdade e as mulheres não podem se permitir pagar de fracassadas na missão de ser a mãe perfeita, conforme exige a sociedade.

    • É que se a gente admite que tem um lado ruim, automaticamente se trabalha com a ideia de que não é para todas, que há escolha, de quem quer passar por isso. E se deixa de ser obrigação e passa a ser escolha, gera desespero, pois muita gente entrou nessa por pensar que era a única forma de uma mulher se feliz e completa.

      • Exatamente, muita gente ‘escolheu’ sem ter todas as informações, se ressente e se arrepende. Eu, enquanto pessoa privilegiada e informada, decidi há muitos anos que criança nenhuma sairia do meu ventre. SE um dia sentir falta de ser mãe (não sei do meu ‘eu’ do futuro…), adotarei, mas nunca engravidei nem pretendo. Não estou disposta a pagar esse preço.

        Devido à repercussão do tema, ressuscitaram uma entrevista da Elisabeth Badinter que trata justamente do quanto o mito da mãe perfeita é um enorme desserviço às mulheres. Pra quem quiser conferir: http://veja.abril.com.br/multimidia/video/o-culto-da-mae-perfeita-e-diabolico-com-as-mulheres-afirma-elisabeth-badinter

        Alguém aqui já leu os livros dela? Eu ainda não a conhecia, confesso.

        Tenho o fantástico ‘Sem Filhos’ da Corinne Maier, mãe de 2, que lista 40 motivos pra não se ter filhos. É ótimo ver alguém que pode falar do assunto (porque teoricamente quem não tem filhos ~não pode~) dizendo que se arrepende e não faria de novo. Ser mãe definitivamente não é pra qualquer mulher não.

          • Só lembro que já tive toda uma listagem dessa temática…

            Ainda não conheço essa, mas com certeza passo os nomes de um casal que lembrou dos solteiros e de muitos mais : Edson Fernandes e Margareth Moura Lacerda, do “sem filhos por opção” – esse eu havia conseguido logo !

  • Faz poucas semanas li um post no facebook de uma mãe esbravejando que quem não tem filhos não pode reclamar de birra de criança em locais públicos ou em visita à sua casa porque não entende o quanto é difícil controlar uma criança. Teve muitas curtidas e comentários desabafo.
    Mães podem tudo, menos ouvirem verdades.

      • Detesto esse “eu que estou ajudando com repovoamento e previdência” e suas variações !

        Aliás, também nessa semana que “tive de” saber de uma (anti-tele)reportagem sobre as recentes e futuras reformas dos sistemas de aposentadoria…

        • Até parece que as pessoas tem filhos pensando na previdência! Esse argumento chega a ser ofensivo, é chamar o interlocutor de idiota…

          • Pois é !

            Mas quem prefere exatamente essa variação continua fazendo algumas pessoas (no mínimo) parecerem razoáveis ou até intelectuais a maioria, neste assunto (umas até para si, pelo menos quando ou pouco após fazerem isso), daí continuam e continuam…

          • Isso me lembra uma coisa que li num grupinho childfree internet afora: Algumas pessoas querem ter filhos, outras querem engravidar.

            • Sim! Tem gente que quer os desdobramentos ou ganhos secundários do filho (não ficar sozinha, prender marido, mostrar para a sociedade que é bem sucedida etc) e não o filho em si.

            • Boa essa, Hiraku! Penso o mesmo! Até eu, que quero ter filhos um dia (não no Brasil, pelamordedeus, não quero compartilhar minha miséria com seres inocentes) concordo e aplaudo de pé! Curto sinceridade, venha de onde venha, pois ela é libertadora… Se todos soubessem disto, o mundo seria melhor, muito melhor.

            • “Isso me lembra uma coisa que li num grupinho childfree internet afora: Algumas pessoas querem ter filhos, outras querem engravidar.” – Hikaru

              Assim como existe uma grande parcela (pra não dizer a vasta maioria) de mulheres, principalmente, que não quer casar, quer a cerimônia/festa de casamento.

  • Nossa, quando li essa notícia pensei em vocês imediatamente, só não comentei em Off Topic porque o bicho estava pegando aqui nos últimos dias.

    “(…) ser mãe requer entrega, sacrifício, doação total e amor.”

    É exatamente essa a palavra ”sacrifício”. A legião de mães histéricas precisa entender que é a coisa mais necessária ao longo da maternidade e que isso nem sempre implica em felicidade e alegria. Mães obrigatoriamente radiantes e total permissividade deveriam estar completamente fora de moda.

    Parabéns à Juliana pelo discernimento e a vocês por considerarem esse caso o Desfavor da semana.

    • As pessoas acham que vão tirar mais energia e disponibilidade emocional do fiofó e dar conta de tudo que fazem + um filho. Não existe, vai ter que renunciar a muita coisa para deslocar a atenção para o filho. Essa ilusão, quase uma lenda urbana, é um desfavor para com as mulheres!

  • Concordo com o argumento exposto de que a idealização da maternidade é um ponto fundamental para que muitas mulheres suportem a tarefa de se mãe. Acho, inclusive, que isso não é de agora – Virgem Maria e suas variações mandam um abraço. Contudo, será que não há um componente regional forte em toda esta reação? Não consigo imaginar um depoimento similar na Suécia ou na Dinamarca levando a reações tão exageradas, por exemplo.

    • Sen dúvida o atraso civilizatório do Merdil contribuí: a visão do papel da mulher na sociedade é sempre a maternidade.

    • Com certeza !

      Já vi muita concordância sobre esse grau de natalismo ainda ser tanto no Brasil e mesmo nos EUA, aquele outro país em que quiseram filmar “American Beauty” (a citação do “realismo familiar” em filme é minha, acho que o nome é este)…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: