Pequena rede.

+Ainda que mais da metade (52%) dos pais reconheça os riscos que as crianças correm na internet, pouco mais de um terço deles (39%) conversa com seus filhos sobre as ameaças, segundo uma pesquisa realizada pela empresa de segurança digital Kaspersky em parceria com a B2B International.

Ou seja, metade nem reconhece o risco. A que reconhece, não se mexe. Criado pela internet é o novo criado por lobos… desfavor da semana.

SALLY

Quando eu li a manchete “Estudo aponta que mais da metade dos pais não protege os filhos na internet” pensei que se tratava de um sensacionalismo forçado, que os critérios utilizados para “proteção” seriam altamente tecnológicos, inacessíveis às pessoas comuns. Mas, quando li o estudo, vi que a coisa é pior do que eu poderia imaginar mesmo no auge do meu pessimismo.

A proteção da qual estamos falando é apenas CONVERSAR com os filhos sobre os riscos que a internet oferece. Não é vigiar full time, não é vetar acesso à internet sem supervisão nem qualquer outra coisa trabalhosa. É simplesmente advertir dos perigos que existem ali. 61% dos pais nem ao menos alertam os filhos sobre eventuais perigos que eles podem encontrar na internet. Desculpa mas… porque merdas colocam filho no mundo?

O curioso (e triste) é que 52% dos pais reconhece que os filhos correm risco na internet. Daí eu tiro duas conclusões: 1) 48% das pessoas são dementes de achar que a internet é um lugar seguro e 2) existem pais que tem ciência dos riscos e ainda assim optam por não conversar com seus filhos. É ou não é de fazer cair o cu da bunda?

A mesma proporção de pais que diz não fazer absolutamente nada para proteger seus filhos de ameaças digitais diz também já ter visto seus filhos em contato com ameaças online, tais como a exibição de conteúdo inadequado, a interação com estranhos ou o ciberbullying. Isso faz sentido para vocês? Aliás, muito preocupante que apenas 20% dos entrevistados tenham detectado esse perigo, sinal de que 80% está cagando forte para os filhos. Só de conteúdo inadequado e interação com estranhos tem uma infinidade. Estamos em um país onde adultos saem para se encontrar com estranhos da internet e morrem, não é possível que não se perceba que crianças são ainda mais vulneráveis.

Para 53% dos entrevistados a internet afeta negativamente seus filhos, mas, pelo visto, não o suficiente para conversarem com eles a respeito. Um terço dos pais acha que não têm controle sobre o que seus filhos veem ou fazem online, lembrando sempre que boa parte deles está ciente da existência de perigos no ambiente virtual.

Estou estarrecida. Eu devo mesmo ser um ponto muito fora da curva. Estes números, conjugados e analisados de forma macro me parecem caso para denuncia ao Conselho Tutelar. Os pais sabem que ali existem perigos, já viram os filhos em situação de perigo, e ainda assim não fazem nada para protege-los, nem ao menos uma simples conversa. Que desconexão é essa que faz ver o perigo mas não permite relacioná-lo com seus filhos? Talvez a mesma de ver a corrupção e não querer linká-la ao PT?

O que mais me revolta é que dá para ser um pai/mãe preguiçoso que não quer ter trabalho e ainda assim proteger seu filho. Existem bloqueios e restrições automáticos através de aplicativo e software de controle que fazem um bom filtro de conteúdo impróprio ou de páginas para as quais seja necessário algum discernimento para entrar. Nem isso esses porras fazem, não se dão ao trabalho de dar um clique para preservar seus filhos!

Que conste, isso não bastaria. A melhor forma de proteger é ensinar, educar, dar informação. Mas se nem um simples clique eles fazem, imagina uma conversa séria. Quase um terço dos pais alegam proteger os filhos espionando seu histórico de navegação. Isso é de uma burrice infinita, pois não adianta saber que a criança fez bobagem depois que o dano já está feito, fora o fato de que nem sempre se pesca o que está acontecendo pelo histórico e, se a criança for espertinha, ela aprende a apagar em uma consulta de cinco minutos no Google.

É temerário, não gosto nem de imaginar com que tipo de cabeça essa geração vai crescer. E certamente vai perpetrar esse descaso com as gerações futuras, pois nunca na vida saberão o que é tomar cuidado. Já repararam como as pessoas tem essa trava em questionar o erro dos pais e criar seus filhos da mesma forma? “Eu fui criado assim e sobrevivi”. Só não contam o quão fodidos da cabeça ficaram, com problemas emocionais, tomando reguladores de humor, cheios de faniquitos, incapazes de um relacionamento saudável, movidos a Rivotril, Prozac (fluoxetina, se não for abastado) compulsões e manias. Sobreviveu sim, mas virou um retardado emocional, um ser humano medíocre. Quer isso para seu filho também?

A geração que hoje está com 30 anos não está nada bem, cheios de piripaques, sem estrutura para encarar as porradas da vida, vivendo com muletas (bebida, relacionamentos por carência, etc). Vamos parar de fingir que está tudo bem, pois não está. Nunca se consumiram tantos remédios para a “infelicidade” e para problemas de ordem emocional. Essas porras problemáticas que não tem força para tocar a vida estão criando essas crianças, que serão ainda mais problemáticas, em um crescimento exponencial de fodeção mental. E acham que está tudo bem, que mesmo com seus piripaques podem ter filhos. Não podem, ou melhor, não devem. Criança não deve ser depósito de neurose alheia, sejam menos egoístas e mais realistas, por gentileza.

Salvo honrosas exceções, muitas delas nossos leitores, os pais estão entregando os filhos de bandeja para a internet e seus perigos. Parte deles por preguiça, por dispender tempo, energia e disponibilidade emocional demais com outros afazeres como trabalho e redes sociais, exaurindo sua capacidade de vigiar e educar, sendo permissivos com tudo para não ter aborrecimento. Mas boa parte, acredito eu, o faz por não terem estrutura para conseguir ver e lidar com o fato de que o filho está exposto a um enorme perigo constante. A pessoa já é emocionalmente baqueada, frágil, com um pé no abismo, se tiver que lidar com essa realidade, piripaca de vez.

Por isso eu afirmo que se você não é muito emocionalmente inteiro, estável e forte, não deve ter filhos. Nem todos são emocionalmente fortes, mas fazem filhos mesmo assim e despejam um caminhão de neuroses nas coitadas das crianças. Isso é de um egoísmo escroto, escroto ao quadrado. Se existe um inferno, tem uma vaga reservada para essas pessoas. Pessoas emocionalmente fracas não devem ter filhos. Ponto. Assim como precisa de muito músculo para ser fisiculturista, precisa de muita inteireza emocional para se criar um filho. Não é para todos.

Se para conseguir dormir à noite você precisa se convencer que não tem perigo algum em sua filha de cinco anos acessar 6h por dia de internet sem restrições e sem supervisão, tendo inclusive redes sociais onde conversa com adultos desconhecidos (caso real), então desculpe, você não tem condições de criar uma criança. Se você fica repetindo que isso é seguro para sua filha, desculpe, ela é uma vítima nas suas mãos. O abusador não é apenas quem abusa, é quem negligencia também. Isso se chama alienação parental. Um pai/mãe não abandona o filho apenas quando o deixa passando fome, ele o abandona sempre que o expõe a um perigo do qual devia protege-lo.

Infelizmente a sociedade não condena estas pessoas, por conveniência: 61%. Eles são maioria. Paranoicos, chatos e estressados são os demais, os cuidadosos. Ao não existir a repressão social, a conduta nefasta continua sendo perpetrada. Não vê problema? Acha que filho de pai relapso tem mais é que se foder? O argumento só é válido se você não pretende deixar filhos no mundo, caso contrário, pense duas vezes, pois é com essas pessoas que seu filho vai ter que conviver na vida adulta.

Fico me perguntando (mentalmente, pois se falar em voz alta serei linchada) se não é uma manifestação do inconsciente desses pais: não tomam muito cuidado com os filhos pois eles dão muito trabalho e talvez, se um acidente acontecer, a vida, por mais que fique sofrida, vai ficar mais fácil sem os filhos.

Para dizer que perigos da internet são uma invenção da mídia golpista, para dizer que com seu filho não vai acontecer nada porque Deus protege ou ainda para dizer que quem tem filhos no Brasil não pode se dar ao luxo de se preocupar com segurança: sally@desfavor.com

SOMIR

Voltando uns dez anos no tempo, eu era a pessoa que mais entendia sobre tudo de internet que qualquer outra pessoa que conhecia. Tudo mesmo. Porque mesmo que eu não tivesse contato direto com o site, ferramenta ou programa da vez, conseguia presumir como funcionava bem melhor que o povo que estava apenas começando a lidar com a grande rede. Mas, o tempo foi passando… a base de usuários começou a aumentar de forma exponencial, assim como as possibilidades do que se fazer na internet.

Hoje em dia eu posso até ter um conhecimento maior do que a média, mas com certeza não posso mais me posicionar como figura de autoridade no meio. Não precisa mais ser nerd para entender o funcionamento da internet, mesmo que na média as pessoas tenham se especializado em redes sociais. Internet virou tão parte da vida da nossa sociedade que até por necessidade começaram a aprender como ela funciona.

E quem tem filhos pequenos agora com certeza já teve que fazer essa adaptação, de uma forma ou de outra. Teve que aprender primeiro como usar e-mail, como procurar informações no Google, como utilizar programas online… e isso só na parte do trabalho. Com as redes sociais, mais uma enxurrada de informações novas. Cidadão ou cidadão sabe mais ou menos a função de cada uma; como postar, curtir e compartilhar conteúdos; adicionar e gerenciar seus conhecidos… até mesmo numa diminuta e onipresente tela de celular.

Não é como se as pessoas hoje em dia fossem analfabetas no digital. Podem usar mal, podem ser babacas, mas… aprenderam as ferramentas para incluí-las em suas vidas. Pois bem… consegue aprender mil formas de animar o grupo do WhatsApp, mas não sabem como proteger seus filhos na internet? Façam-me o favor. São coisas que podem ser aprendidas. Existem programas para monitorar e bloquear o acesso de crianças pequenas a conteúdos danosos na internet. Eu que não tenho filhos posso cagar e andar para ter esse conhecimento específico, mas quem tem? É básico.

E nem precisamos ficar só nessa parte de usar um software para proteger os filhos, grande parte dos pais sequer conversa com os filhos sobre o que está acontecendo. Eu perdoo os meus pais por não terem a menor noção do que era a internet no final do milênio passado, quando eu comecei a fuçar pelas primeiras vezes, e eu também já estava consideravelmente mais vacinado contra os horrores do mundo estando na adolescência. Agora, em 2016, considerando filhos pequenos? Grandes chances dos pais dessa criança terem se conhecido na internet! Não é mais uma novidade incrível, é a maior mídia do mundo. Daqui a pouco vai ter mais gente no Brasil com perfil de Facebook do que com RG!

Curioso como o que se perpetuou nas gerações que cresceram com internet (mesmo que a rudimentar) foi a ideia de que é tudo incontrolável na grande rede. Pelo menos no que tange o conteúdo acessado por crianças. E isso não é verdade a não ser que a criança esteja especialmente interessada em aprender como burlar mecanismos de proteção. Adolescentes são outra história, hormônios incentivando comportamentos transgressivos; mas, crianças? Oras, as gerações que estão vindo aí com certeza terão mais facilidade para aprender os atalhos do mundo digital, mas temos que acabar com a ilusão que elas já nascem capazes de passar por cima de tudo com uma conexão de internet nas mãos.

Essa era a visão de uma geração que entrou “tarde demais” na internet, para a qual tudo parecia mágica. Se você está na faixa dos 30 agora, seus pais provavelmente sequer entendiam o que diabos você tanto fazia na internet… talvez mesmo na dos 20, considerando que a explosão de acesso e utilização não tem mais do que uma década. Mas, a geração que está tendo filhos agora? Essa cresceu com internet pelo menos da adolescência para frente. A geração anterior tem uma desculpa para não entender o que diabos estava acontecendo, mas essa não.

Aprenderam a atualizar seus perfis de redes sociais quarenta vezes por dia, a tirar selfies perfeitos… mas não conseguem explicar para os filhos o que pode ou não pode fazer na internet? Isso me cheira à preguiça. Como se pudessem tratar internet como TV, que tem obrigação de se regular por nós. Com grandes poderes vem grandes responsabilidades! Com supervisão deficiente, eu via bundas na banheira do Gugu domingo de tarde. Com supervisão deficiente, uma criança hoje pode acabar com sua intimidade gravada e distribuída para milhares de pessoas. Pode acabar se encontrando com um maluco sem o conhecimento dos pais. Pode acessar conteúdos fortes demais para uma mente em formação… a TV tinha algum limite, a internet nenhum.

E isso não é novidade! Não precisa ser nerd para saber disso. Se agora a moda é o on-demand para acessar conteúdos que queremos, a supervisão tem que ser on-demand também. Salvo exceções criminosas, ninguém é obrigado a ter filhos… se vai colocar alguém nesse mundo, responsabilize-se por esse alguém. A internet é inescapável, portanto, saber cuidar de seus filhos no ambiente virtual é igualmente inescapável.

Se teve o trabalho de aprender como usar suas redes sociais com inúmeras possibilidades, custa aprender como monitorar e controlar o conteúdo que seus filhos acessam? Não é impossível. Ninguém exige perfeição, mas, cuidado? Cuidado deveria ser a porra da obrigação. Se não entende nada de internet, aprenda. Aprenda porque é nela que seus filhos vão crescer. Eu posso esquecer tudo o que já sei e cagar pra internet o resto da minha vida se quiser, mas quem tem filhos perdeu esse direito. Ninguém mandou fazer, tem que cuidar.

Para dizer que eu sou um excelente pai teórico, para dizer que não é fácil (azar, tem que ser feito), ou mesmo para dizer que eu sou a prova que não é bom deixar alguém usar internet sem supervisão (e é verdade): somir@desfavor.com

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Comments (5)

  • Conversar com os filhos sobre o perigo da internet, tomar medidas para limitar o acesso e o conteúdo. Isto e o mínimo que podemos fazer para salvar a integridade e evitar dores de cabeça posteriores.

  • Se eu tivesse um filho – não quero nem fodendo, só pra efeito desse post mesmo – eu teria várias conversas com ele sobre a internet e o que pode ter de ruim nela, o potencial pra certas coisas darem merda, precauções, etc. Eu só controlaria o acesso e coisas do tipo no início da infância, mas de uns 10, 11 anos de idade pra frente eu deixaria na mão dele e a critério dele seguir ou não a minha orientação.

    Por mais que eu tenha boas intenções e queira educar, eu já fui moleque um dia e eu sei que se você proibir algo, a criança vai dar um jeito de contornar isso, seja dentro ou fora de casa. Quando a internet ainda tava engatinhando, e mesmo quando não existia, a gente não dava um jeito de ver putaria escondido? No meu caso, além da putaria, meu pai me proibia de jogar jogos de tiro porque ele achava que eu ia sair matando gente por aí, só que isso não me impedia de jogar escondido ou na casa de amigos, e ele simplesmente parou de se importar, até mais cedo do que eu imaginava. Com 12 anos eu já jogava jogos violentos e o máximo que acontecia era minha mãe olhar torto e falar pra eu jogar outras coisas.

    Se eu cresci e virei um adulto fodido, tenho certeza que não foi porque eu vi o que não devia na internet e fora dela.

    • O ideal é conversar com o filho sobre todos os perigos e riscos da vida, nem tanto para proibir, mas para dar informação. Pelo visto, os pais não o fazem.

  • Adriana Truffi

    Vocês estão certíssimos. Os pais hoje tem realmente preguiça de conversar com seus filhos, o que dirá educá-los. Relevam esse papel à escola, a quem culpam quando algo de ruim acontesse com seus anjinhos. Dão liberdade e não limites, e continuam com o pensamento idiota de que “essas coisas só acontecem com os outros”.
    São capazes de assistir um filme sobre os perigos da internet com seus filhos, e não emitir nenhum comentário sobre o tema, como se estivessem vendo um filme da Disney.
    Brinco que as crianças de hoje já nascem com chip, sabem mexer num tablet antes de aprender a andar, mas essa facilidade com tecnologias não vem acompanhada de discernimento, isso só uma boa educação pode dar.

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