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Escolhendo a carreira.

Escolhendo a carreira.

| Sally | | 38 comentários em Escolhendo a carreira.

Como você escolheu sua profissão? Como você pretende escolher sua profissão? Como você vai orientar seus filhos a que escolham a profissão deles? Decisão pessoal sua, longe de mim querer intervir, mas tem umas coisinhas que eu gostaria de falar.

Os melhores conselhos nesta vida costumam vir de quem fez merda, pois a pessoa tem as informações mais importantes de todas: o que não fazer. Seguem conselhos de quem escolheu errado sua profissão e jogou no lixo 15 anos de estudo e trabalho. Eu escolhi minha carreira de forma errada, não por não gostar dela, ela é linda, mas por não suportar a realidade na qual ela se apresenta. Eu não abandonei o direito, o direito é que me abandonou, como abandona a todos nós no Brasil.

Em um mundo ideal, pessoas escolhem suas profissões de acordo com suas vocações, com sua paixão, com seu “why” do Golden Circle. Na prática, sejamos sinceros, como é que um adolescente de 16, 17 anos escolhe sua profissão? Pensando em conseguir algum respaldo trilhando um caminho já aberto por outro membro da família para “herdar” os negócios, o consultório ou os clientes dos pais? Muitas vezes, mas não acho que seja a maior parte delas. Eu acredito que hoje a maioria dos jovens escolhe sua carreira, a atividade à qual dedicarão no mínimo oito horas diárias, baseados naquilo que a escola lhes diz, o que é pior ainda.

Um perigo isso. Um modelo de educação como o brasileiro, totalmente ultrapassado, linear e previsível simplesmente não encaixa no novo modelo de mundo não-linerar, multidisciplinar e conectado. E de quem é o erro? Dos pais. Os pais fazem das notas o grande medidor da inteligência de seus filhos, valorizando a capacidade de decoreba e adequação a um modelo chato, burro e ultrapassado. Eu desconfio de alunos excelentes e acredito que o preço que se cobra deles é sua criatividade, sua capacidade de adaptação e sua inventividade, que são ferramentas muito importantes no futuro do mercado de trabalho.

Aos 16 anos já começa a pressão para descobrir qual carreira deseja seguir. Uma pressão totalmente idiota, pois é algo que se sente, não adianta pressionar, isso não gera uma resposta. Um absurdo que se exija que um adolescente nessa idade saiba o que quer fazer para o resto da vida. Não pode dirigir, não pode fazer tatuagem mas pode tomar uma decisão muito mais séria. Obviamente, a maioria não sabe o que fazer (e entre os que dizem que sabem, a maioria está iludida por algo que mais tarde vai ruir). Então, como ajudar?

O curioso é que os pais, vendo a indecisão dos filhos, não ensinam a pescar, dão peixe, orientando-os a fazer aquilo que eles, os pais julgam que será melhor para seus filhos. Spoiler: só quem sabe, quem tem todos os subsídios para saber o que é melhor, é a própria pessoa. Tomar esta decisão do adolescente e influenciá-lo a fazer o que você acha melhor é medalha Alexandre Nardoni de bosta de cuidado parental. Por favor, não façam isso com seus filhos. Não é assim que se ajuda.

No meio da pressão, o adolescente acaba decidindo com base no que a escola lhe diz, que acaba virando o que os pais lhe dizem também. Se a escola lhe diz que ele é bom em matemática, bem, isso quer dizer que o caminho certo para ele é ser um engenheiro. Se, ao contrário, ele é ruim de matemática, resta o resto: vai para humanas se juntar com piolhento de centro acadêmico que teu dom é a palavra. TÁ ERRADO.

Um sistema escroto, falho e obsoleto como a escola não pode e não deve nortear uma decisão tão importante como a carreira que a pessoa quer seguir. O adolescente cometer esse erro eu entendo, mas os pais também cometem não é aceitável. Alô pais! Nunca orientam seus filhos de acordo com a “aptidão” que a escola apontou. Escola não prova nada, a única coisa que eu constato do alto dos meus… muitos anos de idade é que os alunos excelentes não são nem de longe os mais inteligentes nem criativos e que costumam ter uma vida bem miserável longe da escola, pois o mundo real, dinâmico e não linear, provoca um choque e mede profissionais por outros padrões.

Outro erro comum: escolher carreira pensando em dinheiro. Quando eu entrei na faculdade, na década de 90, direito era uma carreira elitizada, para poucos e que pagava bem. Quando eu saí, estava favelizada, cheio de “adevogado” no mercado aceitando trabalhar por merreca e havia uma faculdade de direito em cada esquina. Conheço advogado que ganha menos que diarista, mas não larga o osso para continuar sendo chamado de “doutor” e andar de terno no meio da rua para parecer importante. Hoje em dia advogado não é importante, mas esse ranço fica na cabeça da pessoa. O mundo muda muito rápido, não há nenhuma garantia de que quando a pessoa se formar aquela profissão ainda esteja valorizada.

Então, em uma era de crescimento exponencial e imprevisível, o que hoje é a profissão do futuro, bem remunerada e com status, em cinco anos pode ser a profissão do passado, abarrotada e obsoleta. Não se escolhe profissão focando em salário. Seu salário que vai fazer é você, não sua carreira. Suas ideias inovadoras, sua criatividade, sua combinatividade, sua raça, seu hardwork. Não importa qual seja sua profissão, ofício ou função, faça o que nunca ninguém fez antes e você terá reconhecimento. E é muito fácil ter a disponibilidade emocional para fazer essa imersão e fazer o que nunca ninguém fez antes quando se está verdadeiramente apaixonado pelo que se faz.

Não se escolhe profissão ouvindo conselhos sábios dos mais velhos. Eles costumam ficar presos no tempo e achar que o que era bom em seu tempo ainda é bom. Talvez seu avô sugira que você seja militar, ou funcionário do Banco do Brasil. Seus pais podem querer que você faça um concurso para “ter estabilidade” (ou ameaçar de ser exonerado quando se recusar a assinar um documento falso de licitação, como fizeram comigo, ou ficar sem receber salario por três meses, como os funcionários do Estado do Rio de Janeiro). Os tempos mudaram e, a menos que a pessoa seja muito antenada com estas mudanças exponenciais e velozes, vai te dar um conselho errado. Será sincero, será querendo o seu bem e o pior, será cheio de certeza (certezas convencem), mas não será um bom conselho.

Então, depois de meter o pau na sua arvore genealógica, na sua escola e no direito, qual é a mensagem que eu tenho para te dar? Qual é a resposta mágica, a solução dos seus problemas, o Santo Graal vocacional? Como escolher qual profissão você vai seguir?

Pois é, eu não tenho uma resposta mágica para resolver seus problemas, mas tenho sim algumas dicas para que você sozinho construa seu caminho.

A primeira dica é que não tenha medo de inventar uma profissão para você. Isso mesmo. Escolha algo inovador que mais ninguém está fazendo e faça o curso que mais se relaciona com o tema. Por exemplo, uma profissão muito bacana hoje é o Futurismo. Não tem faculdade de futurismo, tudo que você precisa ter é uma boa base e uma criatividade que não tenha sido estuprada e morta pela sua escola. Assim como o futurismo, muitas carreiras vão derivar das já existentes, como ramos ou como carreiras autônomas. Normalmente as pessoas escolhem a carreira de depois, dentro dela, o campo que mais gostam. Faça o contrário. Escolha o que mais gosta de fazer e depois pense na carreira que mais te dá subsídios para isso.

Outra dica valiosa é faça um mini-estágio nas áreas que você acha que são do seu interesse. Peça, na cara de pau, para observar o trabalho em instituições ou empresas ligadas ao que você quer explicando a finalidade vocacional. Dificilmente recusarão. Depois que você estiver lá dentro, cola na pessoa que parecer mais puta da vida e desenrola com ela para ela te falar umas verdades, aquela que só pessoas putas da vida tem coragem de contar. É um atalho para descobrir se você tem o que precisa para lidar com o que há de pior naquela carreira.

Em tese, é tudo sempre muito lindo, na prática, nem tanto. Veja o tamanho do problema, o tamanho das concessões que vai ter que fazer. Se eu soubesse na faculdade que teria que subornar pessoas e assinar documentos falsos, teria largado direito na mesma hora. Não duvide da capacidade humana para fazer sujeira, é sempre pior do que a gente imagina. E geralmente quem está de dentro não conta, ou por vergonha, ou pose ou precaução. É uma pequena máfia que varre toda a sujeira de uma classe para debaixo do tapete, afinal, ninguém quer admitir que sua profissão tem um lado horroroso e, pior, que participa dele.

Leia a respeito das áreas de interesse. Leia como está esse mercado em outros países mais evoluídos que o Brasil, isso te dará um bom indicativo para qual rumo esta área deve se inclinar. Um exemplo bobo: quando o Uber começou aqui no Brasil eu fui pesquisar para ver se estava funcionando bem nos EUA. Descobri que os motoristas seriam gradualmente substituídos por carros automatizados, carros inteligentes que dirigem apenas com um GPS. Não seu outra, muito tempo depois, a Uber Brasil admitiu que pretende substituir os motoristas por máquinas. Pense à frente do seu tempo, o crescimento tecnológico exponencial faz tudo acontecer muito rápido. Internet tá aí para isso, não para ficar no Facebook.

Talvez seja o único lado bom de viver em um país tão subdesenvolvido: países desenvolvidos funcionam como um spoiler, eles dão ao menos um norte de quais serão as profissões do futuro. Se houver alguma do seu agrado, abrace a causa, quem chega primeiro sempre senta nos melhores lugares.

Antes de olhar para fora, para as carreiras, olhe para dentro. Qual é o seu propósito de vida? O que você faz que te dá tanto prazer a ponto de fazer perder a noção de tempo? E não descarte as respostas. Se a resposta é “jogar videogame” saiba que desenvolvedores ou animadores de jogos ganham muito dinheiro. Saia da caixinha Engenharia, Direito, Medicina, que por sinal, não andam muito bem das pernas.

E saiba que não fazer faculdade é uma opção válida. Hoje eu uso meu diploma para forrar gaiola de passarinho. Papel não vale nada, experiência de vida, ousadia e criatividade sim. Papel valia muito no tempo dos seus pais, hoje não vale. E se você estiver se perguntando se não vale ao menos uma prisão especial no caso de você cometer um crime, eu te respondo: não, se você for CONDENADO, seu diploma não vale de porra nenhuma e você vai para a cela normal junto com assassino analfabeto. Então, OLX: Desapega! Desapega! Não quer fazer faculdade não faça, mas faça algo da vida. Empreenda, crie uma startup, um produto, um serviço. Inove. Leia o livro “Vai lá e faz”, inspire-se e mostre que a vida é muito mais do que um papel com notas de 0 a 10.

E mesmo fazendo faculdade, tenha sempre um Plano B em execução. Mesmo concursado, mesmo estável em uma empresa, mesmo qualquer coisa, tenha sempre um Plano B, não na teoria, mas rodando em paralelo. Algo que você possa monetizar se um dia desejar. Esse ditado é velho, mas anda cada vez mais válido: nunca coloque todos os seus ovos no mesmo cesto. Não precisa ter dois empregos, faça algo que ama como um hobbie mas com a clara visão de que, se um dia precisar, pode ser monetizado de forma rápida e eficaz.

Minha ultima dica é que, no final das contas, não esquente muito a cabeça com isso. Coisa de gente velha e ultrapassada se preocupar tanto assim com “a profissão” que vai escolher. Caminhamos para um mundo fluido, sem rótulos, sem profissões tais quais as concebemos hoje. Foque no seu desenvolvimento pessoal. Viva experiências ricas, leia bons livros, assista palestras TED, faça uma aplicação para a Singularity. Escute Murilo Gun, Thiago Mattos, faça um curso da Perestroika. Seja autodidata, estude, aprenda, tenha sede de conhecimento, não passe um dia sem aprender algo novo e, mais importante do que isso, sem compartilhá-lo com alguém. Quando ensinamos é quando fixamos melhor o conteúdo aprendido.

Coloque o máximo de inputs para dentro, das fontes mais variadas, para que sua cabecinha tenha uma riqueza de combinações e solte outputs inovadores. Resolva problemas mesmo que ninguém tenha te pedido para resolver. Pense em soluções. Inove. Reserve uma parcela do seu dia para criar soluções criativas para problemas que não são seus. Questione tudo e além de questionar, busque as melhores respostas para esses questionamentos, porque só questionar não te deixa inteligente, te deixa chato.

O resto, meus amigos, vem sozinho, independente do curso que você vai fazer, se é que vai fazer. Talvez, a profissão na qual você vai se realizar e vai ser reconhecido ainda nem exista. Talvez você a crie. Talvez quem seja reconhecido seja você, sem rótulos, sem necessidade de profissão. Não se deixe acovardar por pessoas mais velhas, você é o futuro profissional, eles são o passado. Escreva sozinho sua história. O importante não é fazer faculdade e sim não ficar parado ou investindo em um único projeto.

E, se seus pais reclamarem, pode mandar vir aqui falar comigo.

Para dizer que como coaching eu sou excelente humorista, para não fazer faculdade e culpar meu texto para fugir do esporro ou ainda para dizer que foi a gota d’água que precisava e largar sua faculdade hoje mesmo: sally@desfavor.com


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