Integrando e andando.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, deram de cara com um povo bronzeado e estranho, muito longe do estágio tecnológico e social deles. Resultado: a população indígena foi basicamente eliminada, dando lugar à mistureba que somos hoje em dia. Na Austrália, não foi muito diferente. Quando os ingleses chegaram lá para fincar sua bandeira, encontraram os aborígenes. Assim como os portugueses, os ingleses também não foram gentis com os nativos australianos. E, infelizmente, eu preciso que vocês vejam o vídeo a seguir para entender o ponto que vou desenvolver hoje.

Atenção, Sally, esse vídeo é de uma anti-estética que eu acredito ser potencialmente fatal para você. Evite clicar no Play.


Sim, todas as pessoas são feias no vídeo. Mas, percebam uma coisa: até os aborígenes deram risada daquela situação estúpida, mas… o cantor/travesti fez uma cara séria o tempo todo, e ninguém na platéia reagiu como… como um ser humano normal! Complicado não notar a quebra violenta entre a arte do ser pianista (não sei se é o homem ou mulher até agora), e a dos sábios aborígenes. Isso é o clássico do humor, o inesperado! Se isso fosse um quadro de um programa de humor, seria um dos bons.

E nenhum puto além dos aborígenes riu daquilo! Se eles estavam trollando, parabéns, se não estavam, só estavam sendo honestos. Na sanha de homenagear uma cultura alheia, assume-se um baixíssimo padrão de expectativa sobre povos como esses. No final das contas, a maior sacanagem para os aborígenes chamados na apresentação foi não receberem no mínimo uma risada poderosa por terem cagado tudo, por não terem ensaiado nada ou mesmo por estarem sem saco de fazer aquela palhaçada toda.

O digno mesmo teria sido vaiar os velhos por estarem de sacanagem ou por serem incompetentes mesmo. Mas dá pra relevar com uma certa dose de condescendência. Talvez exista uma dose saudável disso, afinal, a desvantagem com a qual um aborígene nasce na Austrália é violenta. O povo nativo da região tem uma das médias mais baixas de desenvolvimento intelectual do mundo, abaixo de todos os outros povos. Testes de QI apontando que a média dos aborígenes estava abaixo do ponto considerado de retardamento só reforçam essa ideia.

Eu achava que o filme Mad Max era fruto da imaginação poderosa dos criadores originais até começar a estudar mais sobre o interior australiano, dominado pelos aborígenes. Aquilo é o Mad Max! Os aborígenes vivem mais ou menos daquele jeito, nos desertos com carros em frangalhos e lutando por gasolina. Aliás, os aborígenes são famosos por beberem e cheirarem gasolina como droga de preferência. E se você está vendo paralelos com a parte abandonada da população brasileira, não se esqueça de um pequeno detalhe: a Austrália foi colonizada por ingleses. Não dá para botar a culpa do “fracasso” aborígene nos portugueses ou em outro povo linha dura com nativos feito os espanhóis. Os ingleses eram mães perto dos outros colonizadores.

E eles tentaram, tentaram muito integrar os aborígenes. No começo da imigração, o mundo era diferente e ninguém ligava de matar nativos para proteger suas terras, mas são os ingleses os primeiros que começam a se importar de verdade com direitos humanos básicos (claro, tinham seus motivos, escravidão era uma merda pra revolução industrial), e os aborígenes australianos estão recebendo chances de integração há séculos. Mas por algum motivo, a coisa nunca avançou muito.

As leis locais vivem em dúvida se tratam aborígenes como cidadãos plenos do estado australiano ou se conferem a eles um status especial, levando em consideração a baixa capacidade intelectual média desse grupo. Não é só aquela confusão com territórios que a maioria das ex-colônias européias tem com seus povos nativos, é algo mais profundo: é saber até que ponto dar direitos aos aborígenes é bom pra eles. Os australianos tentaram colocar eles dentro de suas cidades, e agora vários vivem como mendigos, alguns há gerações. Deram e tiraram poder de voto, definições especiais nas leis que os tratavam como incapazes…

Mas tudo gera controvérsia. De um lado quem tem a ideia de que são humanos como quaisquer outros roubados de uma possibilidade de desenvolvimento justo pelos colonizadores, de outro quem afirma que nem da mesma espécie que o resto da humanidade eles são. Fisicamente são meio diferentes mesmo, com rostos bem específicos, principalmente no nariz alargado. A genética diz que espécies que conseguem cruzar entre si não podem estar tão distantes assim, por isso não gosto muito da ideia de tratá-los como uma relíquia evolutiva. Mas que gera alguma desconfiança que foi outra variação do desenvolvimento humano preservada em local isolado, isso gera mesmo.

Isso quer dizer que eles não sejam humanos? Não. Mas isso quer dizer que tem algo para ser considerado aí além da boa vontade da integração. O vídeo com o qual eu abro o texto é uma boa indicação de como fingir que não tem nada acontecendo ou que não temos problemas de integração entre sociedades completamente diferentes em suas bases. De uma certa forma, vemos o mundo fazendo a mesma coisa com muçulmanos na Europa. Observando o espetáculo dantesco acontecendo diante dos nossos olhos, e sem coragem nem de rir.

Nem de rir.

Para dizer que é uma desculpa muito esfarrapada pra postar esse vídeo, para dizer que nunca viu tanta gente feia junta, ou mesmo para dizer que vai começar a pesquisar sobre os aborígenes (é divertido!): somir@desfavor.com

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Comments (6)

  • Haha, curti o vídeo. Falta de estética mesmo é o do turn down for what, mas tá valendo… Eu queria saber a opinião de vcs sobre o motivo de ter tanta gente favorável a volta da monarquia no br. Será que já se convenceram que brasileiro não sabe administrar nada e melhor seria devolver aos portugueses?

  • Eu ri muito , principalmente desse cara estranho com ar de intelectual. ja sobre os aborígenes não vou comentar pq acordei insensível.

  • Tratá-los como fósseis vivos deixaria uma lacuna perigosa. Não consigo pensar em nenhuma solução razoável agora. E pegando o gancho do último parágrafo…

    Um dilema ético que eu tenho experimentado é os limites do multiculturalismo e da bondade (aspas opcionais).
    Se num lado eu tenho um monstrinho reaça gritando que tem expulsar todos os refugiados e tacar várias toneladas de napalm no Oriente Médio, meu lado mais internacionalista (revelando um pouco minha área profissional) acha isso uma barbaridade e uma hipocrisia, já que passei anos como imigrante na Europa. Até que ponto vai essa chamada empatia que militantes adoram se gabar? A única conclusão que cheguei é que nunca antes houve um choque tão grande entre politicamente correto e incorreto, idealização e realidade. Espero estar sendo clara.

    Mas voltando aos aborígenes. Não achei a aparência deles tãão diferentes de alguns brasileiros, sério. Consigo imaginar os caras desse vídeo num boteco.

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