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Manifesto.

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| Somir | | 25 comentários em Manifesto.

James Damore, funcionário do Google, lançou numa rede interna da empresa um manifesto de dez páginas sobre o que considerou o perigo da empresa viver numa “câmara de eco” politicamente correta, criticando algumas das políticas de inclusão de gênero e raça aplicadas pela empresa. Sua principal crítica era que o Google parecia incapaz de lidar com qualquer voz dissidente sobre o assunto, atacando aqueles que pensavam diferente. O material vazou para o resto da internet. James Damore foi demitido logo em seguida.

Se você quiser ler, está em inglês aqui.

Mas se você não quiser ou não tiver paciência, eu resumo: James propõe que ao tratar proteção da discórdia e da ofensa como segurança psicológica de seus funcionários, criou uma cultura de calar e envergonhar no lugar. Essa cultura faz com que assuntos relacionados a diversidade e igualdade entre gêneros jamais fossem discutidas fora do script oficial, a ilusão de que todas as diferenças entre as pessoas são causadas por opressão (do homem branco) e que a única forma de corrigir isso é oprimir de volta (o homem branco). E tocou na ferida: tem muito mais do que repressão impedindo que as mulheres tenham representação igual na indústria da tecnologia.

Sou suspeito para comentar o teor do material porque de uma forma ou de outra já falei de tudo isso, inclusive nessa ferida da diferença de foco e capacidade entre homens e mulheres de acordo com a profissão. Ferida, aliás, que só virou ferida recentemente, julgo eu justamente por causa da proteção exacerbada ao discurso “igualdade, mesmo que de mentira” que encabeça a visão mais aceita do conceito na atualidade. Quando falta limite, as pessoas tendem a perder a linha.

O texto do ex-funcionário do Google começa mencionando as boas intenções de políticas de inclusão e proteção de minorias, mas que como elas foram distorcidas até a situação atual. Não faz muito sentido que o discurso de pluralidade torne-se obrigatório, não? Damore não foi muito esperto se jogando aos leões histéricos assim, mas talvez alguém tivesse que pular nessa granada pela indústria da tecnologia. Se der certo, palmas pra ele. Mas eu não apostaria muito nisso.

Até porque a reação ao material foi comicamente apropriada: várias funcionáriAs faltaram ao trabalho nos dias seguintes alegando estarem muito chocadas e ofendidas por terem sido expostas ao documento! É para rir e para chorar. Cidadã que não vai trabalhar alegando que dez páginas de um material que diz que mulheres tem um foco interpessoal maior na média a fez mal tem que ser demitida por umas cinco gerações, para não deixar nem descendente dessa safadeza poluir o mercado. Todo mundo tem direito aos seus sentimentos, mas isso é falta de vergonha na cara ou motivo para tratamento pesado com remédios e terapia! Se eu fosse uma mulher trabalhando no Google, cortava o cabelo e voltaria falando grosso no dia seguinte para não ser confundida com essas cretinas.

Sem contar aqueles que começaram a se “ofender na rede social”, pedindo a cabeça do cidadão que falou algumas coisas que eles não gostaram, PROVANDO o ponto da ditadura de opinião que ele levantava ali. Pena que eu não mando no Google, primeiro porque eu seria rico, e segundo porque eu não posso demitir essa gentalha covarde que só tem coragem de enfrentar a sociedade quando o alvo é fácil. Cidadão acha que vocês são exagerados e não escutam ninguém e para dar uma lição nele, querem que ele perca o emprego?

Se vocês forem ver as respostas dentro da rede do Google (saíram vários prints de histéricos e histéricas respondendo), é de “linchem!” pra baixo. Babacas que provavelmente nem leram o texto (quem entende o mundo pela rede social não gosta de mais que um parágrafo por vez) chamando o cara de nazista pra baixo. Todos se cagando de medo de olharem para algo além de politicamente correto na empresa… porque agora vem a minha cutucada na ferida: diversidade e representação no ambiente empresarial é um esconderijo enorme para gente vagabunda e/ou incompetente.

Não significa que a pessoa contratada por cotas ou políticas de inclusão em geral seja menos capaz POR DEFINIÇÃO. Mas, quando o contratante tem uma obrigação de contratar uma pessoa com uma cara específica, e não dá pra esperar aparecer a pessoa com a capacidade necessária (e dá trabalho chegar gente competente em entrevista de emprego, seja qual for a cor ou a genitália dela), acontece algo óbvio: os padrões de contratação diminuem. O que por si só não deveria ser um problema tão grande… não fosse a ditadura dos egos de cristal.

Se vai contratar alguém pela raça ou pelo gênero, pra que mais pessoas tenham acesso ao nível de trabalho que sua empresa realiza… que tal não fingir que essas pessoas entraram ali em pé de igualdade em capacidade, QUANDO for o caso? Se a sociedade cria dificuldades para alguns grupos de pessoas alcançarem o mesmo grau de formação que outras, não ajuda porra nenhuma para elas fingir que elas não precisam de mais esforço. Não dá pra corrigir o mundo antes de você agir. Se empresas metidas a avançadas como o Google quisessem incluir, jamais poderiam baixar o nível de exigência. Tinham que ajudar as pessoas a chegar nele.

De jeito que vai, não só baixa o nível de trabalho da empresa, como aumenta a carga de esforço de quem sabe o que fazer e cria um belo esconderijo para vagabundos de todos os tipos. O que fica pior: você vai ter um monte de “empoderada” que entrou pela janela na sua empresa dizendo que não vai trabalhar por estar ofendida e querendo que quem discorde dela seja demitido. Mulheres e homens competentes e esforçados, de todas as cores e credos, ficam com sua motivação no lixo ao ver que esse tipo de inútil tem um cargo igual ao dele.

E mais uma coisa: e se Damore estiver errado, mas por outros motivos? Jamais vamos descobrir. A internet mastigou e vomitou mais um dissidente, de novo sem saber do que ele estava falando.

Para dizer que me quer demitido do desfavor, para dizer que não vem ler o texto de amanhã por estar em choque, ou mesmo para dizer que vai começar a usar o Bing agora (ha! Brincadeira…): somir@desfavor.com


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