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Realidade básica 1 – Mágica

Realidade básica 1 – Mágica

| Somir | | 14 comentários em Realidade básica 1 – Mágica

Em tempos de fake news, é cada vez mais importante ter as ferramentas necessárias para compreender as informações recebidas e saber fazer uso delas. Com boa parte da humanidade cuspindo suas opiniões como fatos, e com uma enorme plataforma para tal, como saber se você tem o que é necessário para não ser pego nesse tiroteio ideológico?

Até onde eu aprendi, estar informado ajuda muito, ter a capacidade de pensamento crítico idem… mas, tudo isso pode ruir sem um conjunto de noções iniciais sobre a realidade em que vivemos. É o elemento mais básico da lógica: premissas levam a conclusões. Se as premissas estiverem erradas, pode apostar que as conclusões também. Por isso, no texto de hoje eu pretendo descrever alguns elementos básicos sobre a realidade em que vivemos. Arrogante? Talvez. Mas pode ser muito útil, você concordando ou não.

Ao analisar qualquer informação recebida, faz muito sentido compará-la com alguns padrões mínimos de realidade para saber como reagir. Vou descrever alguns dos meus, tentando ser o mais generalista possível. Acho saudável que você compare com suas crenças básicas sobre a realidade, e caso tenha algo a discutir ou adicionar, que divida isso com o resto de nós. Eu começo então, com as minhas definições básicas sobre como entender o mundo, uma por texto:

1) Não existe mágica.

Muito embora eu já tenha deixado claro aqui inúmeras vezes minha visão sobre o sobrenatural e o divino, nem é esse o ponto central dessa afirmação. Na verdade, a ideia é que na maioria dos casos, o pensamento supersticioso gera problemas lógicos irreconciliáveis. Quando eu digo que não existe mágica, trato mágica como qualquer acontecimento que não tenha explicação evidente e/ou possível. Um truque eficiente e um “milagre” religioso dentro do mesmo pacote. Afirmar que não existe mágica não é necessariamente rejeitar que existam coisas que não sabemos explicar, é rejeitar que existam coisas que NUNCA saberemos explicar. Acontecimentos fora do escopo da realidade, eternamente inalcançáveis. Há alguns séculos atrás, éramos incapazes de explicar porque ficávamos doentes, hoje em dia temos milhares de explicações plausíveis para a imensa maioria das doenças.

Mesmo que não pareça possível de ser explicado agora, não condiz com a realidade que algo esteja impossivelmente distante com o conhecimento adequado. Fantasmas, por exemplo, podem ser explicados mais facilmente como ilusões, mas caso realmente existam, também tem sua lógica e seguem as mesmas regras naturais que todos nós. O que pode acontecer é que nosso conhecimento das regras vigentes seja pequeno o suficiente para não ver quais que regem nós e eles. Tudo o que não pode ser explicado, não pode ser explicado com as ferramentas em nossas mãos, não por ser inerentemente inexplicável. O que é sempre inexplicável não tem nem mecanismos para existir.

Tanto a superstição quanto o científico lidam com esse problema do não explicado, a diferença básica é que o científico lida com isso como algo que eventualmente será resolvido. Se algo existe, esse algo dependeu de um conjunto de regras possíveis na nossa realidade para existir. Desde o Pé-Grande até a Matéria Escura, se existem, seguem regras. Muito se engana quem acha que ciência se preocupa prioritariamente com explicar as coisas, o método científico está muito mais planejado para encontrar e reproduzir fatos do que necessariamente saber por que eles acontecem. A partir do momento em que uma informação existe e pode ser reproduzida, faz todo o sentido tentar explicar aquilo, mas antes? Antes toda a informação pode ser explicada inclusive por imaginação humana pura.

Não existe mágica, existe ignorância e falta de ferramentas para lidar com uma informação. O conceito de mágica ou de desígnios divinos incompreensíveis não passam de atalhos que o cérebro humano toma para lidar com dúvidas grandes demais. Mesmo que os fatos relatados pelo o que se considera mágica e desígnios divinos sejam reais, não estão fora das regras que regem todo o universo, na verdade o conjunto de regras que é mais extenso do que considerávamos.

Ainda aqui, pode-se derivar mais uma noção sobre as coisas: existem muitas e muitas regras sobre a natureza que já são conhecidas por uma parcela mais esclarecida da humanidade, mas não pela maioria de nós. Mencionava como mal sabíamos o que causava doenças no passado, mas mesmo nos dias de hoje, o cidadão médio tem um conhecimento no máximo rudimentar sobre o tema. Não deixa de ser uma forma de “mágica”. E como definimos mais cedo nessa categoria, não existe mágica. O fato de você não ter os recursos para compreender um elemento da realidade atualmente não significa que o conhecimento não exista. E por experiência acumulada pela humanidade nesses últimos milênios, existem muitas explicações plausíveis para o que nos confunde que simplesmente não estão disponíveis para as grandes massas.

Ceticismo, na sua forma mais saudável, nada mais é do que não aceitar facilmente que não exista uma explicação razoável para qualquer fato ao qual somos expostos. Negar tudo não é inteligente. Percebam que não é necessário nem ser ateu para entender o mundo nesse tipo de base, ajuda, é claro, mas não é obrigatório. O entendimento da realidade pode tomar muita pancada de fatores externos desde que esteja fundamentado em uma lógica sólida. E poucas coisas se mostraram mais sólidas durante a evolução da humanidade do que a noção de que dado tempo e esforço suficientes, as coisas podem ser trazidas de volta para o campo do compreensível e reprodutível. O fato de que algo não pode ser entendido neste momento não significa que não poderá ser entendido no futuro, ou mesmo que outras pessoas com melhor acesso à informação podem muito bem já ter como resolver isso.

Não tenha pressa para entender algo. Costuma demorar mesmo. Acreditar em mágica é forçar um atalho onde ele não existe.

Para dizer que eu estou cada vez mais arrogante, para dizer que é mais uma série pra eu não terminar, ou mesmo para dizer que mágico mesmo é eu postar depois do almoço: somir@desfavor.com


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