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CBM – MC Loma – Rebola

CBM – MC Loma – Rebola

| Sally | | 21 comentários em CBM – MC Loma – Rebola

O que acontece quando o brasileiro resolve ser espontâneo? Mc Loma!

Como o Somir já comentou o primeiro clipe desta pérola de brasilidade, esperei até vir à tona outra obra digna de atenção. Não demorou muito… O clipe “Rebola” confirma que a percepção de tempo é de fato relativa: faz três minutos parecerem 3 horas.

Já fiz minha boa ação da semana, todo mundo vai sobreviver a terremoto, então, chupem essa manga comigo!

Logo no começo do clipe tive um flashback do demônio: o diálogo entre as três entidades me remeteu aos tempos em que fui obrigada a residir na região Nordeste. Esta é a constante: de conteúdo, de tom, de gestos de voz e de cores. A fala vem na velocidade da luz e a dicção vem na velocidade de um cágado coxo. Nos tempos em que morei por lá aprimorei minha arte em depreender conteúdo, pois geralmente entendia apenas a primeira e a última palavra de cada frase dita.

Exemplo de diálogo:

Sally: Tá gostosa sua comida?
Cosplay de Loma: Miiiiniiiina abdhsgeokfh jfksngegsikms pimeeeeeeenta!
Sally: Picante, né?

Alguns fatores são onipresentes no layout, além das cores berrantes e pele oleosa. Quanto tentam ornar o cabelo, sai algo bizarro, que no caso do clipe, é um look Yorkshire (o Terrier, não o Condado inglês). Os acessórios também costumam ser dignos de menção: é sempre excessivo, é sempre em cores desnecessárias. Mas elas se superaram, agredindo na textura também: uma gargantilha de pelúcia rosa dá o alerta: melhor não olhar diretamente para este clipe, recomendamos colocar uma radiografia entre a tela e seus olhos.

Como é de hábito, chamam a colega batendo palmas e gritando, afinal, é sempre mais legal que a vizinhança toda saiba o que está acontecendo. Percebi que, na cabeça do pobre, tornar público o que ele faz é uma modalidade padrão de lacração. Essa perseguição injusta e infundada ao bullying gerou essa distorção: o pobre desaprendeu a ter vergonha de ser feio, ruidoso e brega. Agora ele ostenta suas cores e seus decibéis com orgulho. Essa coisa de dar autoestima para pobre foi um tremendo desfavor.

Quando as Gêmeas Lacração (dançarinas não-praticantes) cacarejam no portão, aparece Loma, já aos berros e gesticulando. Emulando com perfeição a dinâmica no trato entre a baixa renda, as três já começam a colocar o dedo uma na cara da outra, a se empurrar e a se estranhar. A interação costuma ser essa mesma: metade da semana a pobralhada é “comadre” e se ama, e na outra metade sente raiva da mesma pessoa, chamando-a de “invejosa inimiga”. Pobreza é isso, é a dualidade elevada à agressividade.

Quando o clipe de fato começa, percebo que atenderam a nosso pedido e colocaram legendas. Como percebo isso? Da forma mais engraçada do mundo: o clipe começa instrumental e na legenda aparecem notas musicais. Aí dá aquele misto de compaixão com desesperança total que este país dê certo um dia. Mas vamos rir, que é a opção mais agradável.

O clipe começa com as três cerumanas deitadas em um chão tão imundo, mas tão imundo, que pombo deve forrar com jornal antes de cagar por sentir nojo. A maquiagem vocês já conhecem, é naquela pegada Césio 137 do último clipe. Um short que funciona também como sutiã deixa as pernas das mocinhas roçando no asfalto imundo. Não me admira que pobre esteja sempre com pereba e furúnculo.

Elas se sacodem, balançando os babados em suas golas. Pobre adora um babadinho, coloca em tudo: na roupa, no vaso sanitário, no bujão de gás, no cachorro. Aos 41 segundos de vídeo, algo estranho me faz pausar este estupro visual: as mãos da Loma.

Reparem no tamanho das mãos da Loma. A menina parece um gibão. Como pode, com 15 aninhos de idade, ter uma mão do tamanho de uma raquete de tênis? Eu tenho esse defeito terrível, depois que fixo em um ponto, não consigo me desprender dele. Cheguei ao cúmulo da perturbação e comecei a imaginar como seria a mão do filhos da Loma com o Temer. Uma nadadeira de baleia, provavelmente.

Ela começa a cantar e desde já meus mais sinceros agradecimentos a quem legendou este clipe, caso contrário eu jamais entenderia a meia dúzia de frases sem sentido que ela diz. Entra o título da música e percebo que não é uma produção Kondzilla.

Teria ele finalmente chegado ao seu patamar mínimo e se defeito da Loma por questões estéticas? Para vocês terem ideia do nível estético do clipe, o nome dela e da música aparece, aos 47 segundos, emoldurado pelo seguinte cenário: parede mofada, entulho de lixo e uma viga enferrujada.

Lembra que eu comentei que as Gêmeas Lacração eram dançarinas não-praticantes? Pois é, quem me dera. A menos que estejamos diante de uma crise epiléptica (não descarto) parece que elas começaram a “dançar”. Pelo visto elas não são apenas inimigas da Mc Loma, são inimigas do ritmo também.

Loma canta em um sofá no quintal de uma casa, com entulho e parede mofada com pano de fundo, enquanto lixa a unha. A Gêmea Lacração de blusa rosa está com nariz assustadoramente branco na ponta. Mirou na tentativa de afinar o nariz, acertou no Aécio Neves.

Você vai perceber que a música não tem uma coreografia. Aliás, muito pelo contrário, não permita Deus que elas façam o mesmo movimento jamais. É o primeiro caso de autismo musical que eu já vi na vida, cada uma está no seu mundinho instransponível e dança do seu jeito. “Dança”. Parecem estar tirando uma abelha do sutiã, mas enfim. Obviamente temos o onipresente CEBRUTHIUS (forma como Loma entende a pronúncia de Bluetooth) e ESCAMA SÓ DE PEIXE. Não riam, crianças nascidas neste ano estão sendo registradas como CEBRUTHIUS. Depois dizem que aborto é cruel.

Aos 1:37, em um close totalmente desnecessário, vemos que o sofá onde as mocinhas estão sentadas só tem um pé, o outro está quebrado. Eu afirmaria que Loma gravou este clipe em um ferro velho, mas se for a casa dela, isso será considerado ofensivo. Se bem que… a esta altura, o que é um peido para quem está todo cagado?

Para minha surpresa, do nada, a Gêmea Lacração Aécio Neves começa a cantar. Daí constato que além de não dançar nada, ela também não canta nada. A Gêmea Não-Aécio também canta, de onde eu depreendo que desafinar tem um componente genético.

Na vida há regras. Mas não para Mc Loma. O clipe segue com ela batendo cabelo dentro de uma caixa dágua… com água. As Gêmeas Lacração também de banham nesse tanque dos infernos. A Gêmea Aécio bate o cabelo e a Gêmea Não-Aécio faz uma versão baixa renda de Matrix.

E para mostrar que tudo sempre pode piorar, Loma decide lavar o sovaco com a água da caixa dágua. Com um olhar perdido que a mãe natureza costuma reservar apenas para os bovinos e os esquizofrênicos, Loma continua lavando o sovaco, alheia ao mundo e sem qualquer relação com a letra da música. É neste ofurô do capeta que termina o clipe. Desde a orca dizendo “Hello” que eu não via nada tão estranho.

Sim, Loma tem o mérito de não se levar a sério e uma certa insanidade no olhar, que a torna muito interessante. Porém, nessa progressão, vai chegar um momento em que ela vai ter que limpar a bunda e olhar o papel para conseguir continuar em uma crescente de mau gosto voluntário. Torço muito por ela, tomara que siga nessa ascendente de desgraçamento estético, tenho curiosidade de ver até onde ela vai chegar.

Para perguntar se o Somir morreu, para dizer que salvar a sua vida de um terremoto não me dá direito a isto ou ainda para dizer que sente saudade do Bonde das Maravilhas: sally@desfavor.com


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