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SSS: Dia 2 – Atividade Física

SSS: Dia 2 – Atividade Física

| Desfavor | | 54 comentários em SSS: Dia 2 – Atividade Física

SALLY

Olá Blogueirinha!

Seu segundo desafio é se exercitar de forma produtiva, para gerar um ganho real para o seu corpo. Nada de caminhada ou hidroginástica, afinal, você não é uma vovozinha de 83 anos. Vamos fazer algo que realmente gere um benefício para o seu corpo!

Quem busca saúde tem que atuar em duas frentes: ganho de massa muscular e perda de gordura corporal. Não tem milagre, não tem truque, não tem atalho. É um processo lento e demorado, mas com resultados finais maravilhosos.

O ganho de massa muscular é a parte mais importante, pois é ele quem te garante mais saúde (quanto mais massa muscular, menos gordura, portanto, mais saudável o corpo e menores as chances de doenças). Por isso, sua rotina de atividades começa com ele.

O ganho de massa muscular, também chamado de “massa magra” se consegue através de exercícios de força resistida, ou seja, exercícios onde seu corpo tem que empurrar ou puxar pesos. O melhor e mais eficiente é a musculação, mas você também pode posar de gay e fazer ginástica localizada ou posar de idosinha do tricô e fazer pilates. Fica a seu critério.

Em anexo, segue a série de musculação que você vai fazer. Talvez você não se lembre, mas é a que eu fazia naquela época em que fizemos aquela viagem com aquele lugar onde tinha uma grande escadaria e você disse que “é frescura não conseguir subir escada” quando eu reclamei. Um dia malha perna, no outro dia malha braço, siga esta ordem, para que os grupamentos musculares tenham tempo para se recuperar. Você vai malhar E fazer aeróbico todos os dias desta semana.

Pode ser que você fique dolorido? Pode. A hipertrofia muscular consiste em micro lesões na fibra do músculo, que “cicatrizam” criando um “músculo maior”. Mas a solução é bem simples: malhe por cima da dor, é comprovadamente eficiente. Malhando novamente você ajuda o corpo a se livrar do ácido lático, responsável por esta dor que outrora você chamou de “frescura”.

Além do ganho de massa muscular, é preciso acelerar a perda de gordura. Por isso, vamos fazer exercícios aeróbicos. A opção é o aeróbico de alto impacto intervalado, ou seja, em vez de andar como uma bichinha 40 minutos na esteira, você vai fazer Like a Boss: anda três minutos, corre em velocidade muito rápida por um minuto, anda mais três minutos, corre em velocidade muito rápida por um minuto. Sem intervalos, emendado. 20 minutos disso por dia. Após a musculação.

O saldo final que teremos disso é: na academia você vai queimar gordura durante seu aeróbico e em casa você continuará queimando gordura devido ao ganho de massa muscular, pois o músculo consome a gordura como “alimento”. Você tem uma academia de graça na esquina da sua casa, portanto, não há desculpa para não executar esta série diariamente.

Não tome nenhum medicamento para dor, até porque, a dor pós-treino é “frescura”, não é mesmo? Remédios para dor prejudicam seu pós-treino e impedem que o corpo perceba sinais de uma possível lesão.

Boa sorte, Blogueirinha!

SOMIR

Essa experiência está me abrindo os olhos. Nunca pensei realmente sobre o fato dos grandes avanços intelectuais da humanidade nunca virem de pessoas saradas. O que pessoas com grande foco no desenvolvimento do corpo realmente contribuíram para o mundo? Antigamente espetavam espadas em outras pessoas, hoje em dia chutam bolas. Eu tinha a teoria preconceituosa que só pessoas sem muito material para trabalhar dentro da cabeça que se aventuravam nesse estilo de vida. A famosa dicotomia entre inteligência e beleza, o clichê do marombeiro burro.

Mas é claro que isso é papo furado. A capacidade mental de uma pessoa não tem nada a ver com sua propensão à atividade física. Teoricamente, nada impede que você tenha as duas coisas muito bem trabalhadas! Então chega de propagar essa mentira: teoricamente as coisas não se excluem. O problema é a prática. E na prática… tempo é um fator determinante. Não é novidade para ninguém que ficar bom em qualquer coisa depende do tempo que você investe nela. Não só no ato em si, mas em tudo o que permite realizá-lo.

Vejam bem: Sally me exigiu uma série de exercícios incluindo musculação e aeróbicos que não é para tomar mais do que uma hora do meu dia. Dá para reorganizar a agenda de uma pessoa para encaixar isso! Uma horinha? Em outros tempos eu até consideraria viável. Mas na prática… a teoria é bem outra. Estou no meu terceiro parágrafo do texto, o que tende a sair em uns 15 minutos em média em dias normais, mas que hoje já me consumiu uma hora e meia. Para vocês terem uma noção da confusão mental, eu honestamente pensei que isso significava dez vezes mais tempo, por alguns segundos.

E se você não entendeu o humor da última frase, não se sinta mal, tem um monte de gente nas academias que também não entenderia. Não necessariamente por não terem um mínimo de capacidade de compreensão, mas porque a vida de quem quer ser saudável no padrão que a Sally me impôs simplesmente não permite derivações da norma: ou você vive por aqueles minutos na academia, ou vai acabar absolutamente desmotivado para continuar. Academias não tentam te empurrar seis meses de plano porque acham que você é preguiçoso, mas porque sabem que a maioria das pessoas vão perceber o buraco em que se meteram e correr dali assim que puderem. Alguns incautos vão até fazer isso várias vezes com o passar dos anos.

E honestamente, nem acho isso tão horrível. De uma certa forma, as pessoas saradas são realistas: a imensa maioria de nós não vai contribuir com uma vírgula na evolução intelectual humana. Faz mais sentido pular fora disso logo e colher os benefícios possíveis: parecer mais atraente e poder exercer sua vontade através da violência física. De uma certa forma, burro mesmo é quem teima em fazer o que não é capaz. Digo tudo isso porque o ambiente da atividade física é tudo menos acolhedor para quem não abriu mão completamente da felicidade oriunda do campo intelectual.

Você chega no ambiente e já é recepcionado pelas piores músicas possíveis: músicas que mulheres gostam e muitos homens toleram para ter mais chance de fazer sexo com elas. Seja pop, funk ou sertanejo, sempre vai ter algo ofendendo cada célula do seu sistema auditivo no último volume. O som da academia é cientificamente criado para invadir qualquer fone de ouvido e defecar diretamente no seu cérebro. Pelo jeito, pessoas com funções cerebrais danificadas por impactos constantes e frequentes restrições alimentares só conseguem manter qualquer senso de ritmo se ouvirem um tambor ser espancado sem parar.

O ecossistema da academia também é especialmente incômodo. Primeiro vamos eliminar a terrível falácia que por lá você pode ver mulheres muito bonitas com roupas apertadas. Qualquer mulher com dinheiro suficiente para ficar bonita ao ponto de te querer fazer frequentar uma academia ou tem um personal trainer, ou paga uma fábula para estar nas que estão na moda. Na vida real, são mulheres normais na melhor das hipóteses. E essas não se encontra exclusivamente nesse tipo de local. Você vai acabar vendo mesmo um bando de pessoas tão fora de forma quanto você, e um ou outro exemplo de dedicação quase que exclusiva ao desenvolvimento do corpo. Quem está lá de saco cheio só querendo terminar seu treino logo tem que ficar esperando gente que enrola em aparelhos e fica batendo papo para passar o tempo.

Não me pareceram pessoas ruins, mas não tem muito o que tirar delas na média. Não é à toa que eu limito bastante o meu círculo de amigos e conhecidos: a maioria das pessoas não é tão interessante assim. E quando o que as une é um interesse comum por sofrer por esforço físico ou por passar fome, não é como se saíssem grandes papos dali. Colhi duas informações sobre a greve dos caminhoneiros hoje: “foda, né?” e “por isso tem que colocar o exército lá”. Mas eu falava sobre dedicar sua vida ao masoquismo da saúde: por não poder me alimentar, decidi usar minhas reservas de gordura e nem passar pelo sofrimento de cozinhar algo que seria horrível de qualquer forma.

Meu corpo não resistiu. Eu resisti minha vida toda sem passar a vergonha inenarrável de desmaiar (homem não pode), mas graças à gracinha da Sally, hoje aconteceu. Naquela série bizarra de correr sem parar por vinte minutos, meu corpo fez o humano e desligou tudo antes que eu me matasse. Por sorte, consegui sair da esteira a tempo. Olhei instintivamente para cima e tudo ficou preto. Abri os olhos com um dos professores da academia tentando me dar um copo com água e atenção total de todos os presentes. Como a porcaria da água estava turva, eu sabia que ia perder meu desafio e ter que recomeçar tudo por causa do açúcar na água. Tive que estapear o copo da mão do cidadão porque as palavras não estavam saindo. A única sorte é que professores de academia não são lá muito brilhantes e foi fácil convencê-lo que foi um espasmo, até porque aquele cidadão poderia me matar em segundos caso ficasse irritado.

Agora, graças à dieta da Sally, eu nunca mais posso voltar lá. Não quero ser o cara que desmaiou. Vou ter que encontrar outra amanhã. Se eu pelo menos pudesse me alimentar… de nada adiantam as dicas que me deram hoje, porque infelizmente eu pude completar a série de musculação e agora parece que enfiaram mil agulhas nos meus braços. Já é complicado o suficiente cozinhar o peito de frango como as coisas estão. Aliás, mais um ponto sobre dedicar sua vida só para isso: com essas dores, eu fico parecendo um T-Rex, meus braços não esticam mais, estou praticamente abraçado com o computador para escrever meu texto. E tendo que parar de cinco em cinco minutos pela dor. Estou feliz que não estou comendo nada, porque ir ao banheiro significaria uma dor sem fim para me limpar. Essa, crianças, é a vida saudável. Uma viagem sem paradas para o sofrimento, a dor e a humilhação.

E eu honestamente não consigo pensar em mais nada. Mantenho: não se exercitem, não façam dieta. Qualquer coisa é melhor que isso.

Para dizer que está aprendendo muito, para dizer que desmaio é coisa de mulherzinha, ou mesmo para dizer que pelo menos eu não vou vomitar na academia (eu falei que essas pessoas estão sempre peidando?): somir@desfavor.com


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