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Não acredito…

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| Desfavor | | 14 comentários em Não acredito…

Manifestantes ligados ao MBL (Movimento Brasil Livre) protestam na tarde desta quinta-feira (26) em frente à sede do Facebook no Brasil, na zona sul de São Paulo, contra a desativação de páginas e perfis pessoais supostamente propagadores de ‘fake news’ e vinculados ao grupo. (..) Sem identificar usuários ou os nomes das páginas, o Facebook informou nessa quarta (25) que removeu uma rede com 196 páginas e 87 perfis no Brasil que violavam suas políticas de autenticidade. LINK


MBL é um desfavor, Fake News são um desfavor, e o Facebook fazendo “curadoria da verdade” é outro, talvez pior ainda. Unidos, são o desfavor da semana.

SALLY

Vamos falar a realidade da vida? Quem ainda está na militância de qualquer partido merece sérias ressalvas. Quem tinha um mínimo de bom senso já percebeu que este sistema, estas pessoas, este Congresso, que tudo que cerca política atualmente, está falido e irremediavelmente cagado. No Brasil não há ideologia, há apenas uma disputa muito baixa pelo poder, e, na real? Nem é pelo poder, é pelo favorecimento financeiro ilegal que ele proporciona. Nada que parta dessa premissa é bom ou descontaminado.

Toda militância propaga notícias falsas, de todos os partidos. Não tem pra onde correr. Faz parte do jogo, infelizmente. É nisso que dá deixar um povo sem educação, cultivar o não-raciocínio, patrocinar a preguiça mental. Criou-se um campo fértil para que qualquer Zé Cu de 14 anos de idade morador do interior de Moçoró do Cu do Mundo invente algo deliberadamente e a coisa se espalhe como verdade. A era da informação, que deveria ser usada para desmistificar ignorâncias, está servindo para propaga-las. Parabéns, Brasil.

O MBL vinha perdendo a linha e postando umas notícias falsas escabrosas, coisas como Marisa Letícia está viva e esperando pelo Lula na Etiópia. Não que o PT não poste coisas falsas, posta também, e tem que ser igualmente responsabilizado. No fundo, ambos são a mesma coisa, os dois lados de uma moeda extremamente polarizada, onde um aponta o dedo para o outro. Só que, dependendo do posicionamento de cada um só se critica um deles, nunca ambos.

Pois bem, pegaram umas mentirinhas muito sem noção e apagaram um monte de notícias e perfis no Facebook vinculados ao MBL.

Foi dedo no cu e gritaria a semana toda. De boa? Não gosta daquela rede social? Não use. Não concorda com as regras? Não use. Acha que é parcial e favorece algum “lado”? Não use. Ir fazer manifestação por causa de Facebook é bizarro. Se você está em um lugar onde são hostis a você, onde não te querem lá, onde inclusive te expulsaram de lá, não é meio patético ficar berrando e pedindo para voltar?

Mas o grande desfavor não é a indignidade do MBL. O grande desfavor é a terra sem lei que internet está virando – e vai piorar. Com essa postura paternalista do Poder Público de remover notícias falsas, o povo não vai aprender nunca a avaliar, pesquisar ou discernir o que pode ser real o que não: se o Fêicibuqui não tirou do ar, então é verdade. Isso coloca as pessoas em uma posição muito manipulável, para qualquer lado que seja.

Quando se delega a terceiros o papel de nos dizer o que é verdadeiro e o que é falso, nos colocamos em uma posição de vulnerabilidade muito grande, podemos ser facilmente manipuláveis. Facebook não é uma entidade divina, justa e imparcial, é uma empresa com fins lucrativos, é obvio que vai pender para o lado que lhe seja mais… economicamente favorável.

Gente que cobra imparcialidade do Facebook me comove. É como os imbecis que vem aqui dizer que comentário foi “censurado”. O blog é meu, fala quem eu quiser. Censura é impedir a pessoa de falar em qualquer meio. Na sua casa você cala a boca de quem você quiser.

Se você acha Facebook uma empresa escrota que toma atitudes partidárias, que é desonesta com o usuário ou qualquer outra coisa negativa, espero que não tenha um perfil lá, pois seria bastante hipócrita reclamar pra cacete e continuar usando esta rede social. Não gosta? Não consuma. É o máximo de poder que você vai conseguir exercer (e não é pouco). Ficar tentando mudar ideologia ou postura de uma empresa multinacional bilionária é se uma arrogância/burrice que chega a dar pena.

Por sinal, na maior parte dos países, Facebook é uma rede social ultrapassada e ultra queimada por todos os escândalos de falta de privacidade e manipulação nos quais se envolveu. Se só agora você percebeu que o Facebook não é uma instituição filantrópica justa e imparcial, você é meio desinformado. Não é a toa que toda semana esta merda perde bilhões em valor. Mas o Facebook é apenas um exemplo.

Isso tudo nos leva a crer que os próximos meses serão uma espiral de notícias falsas, de percepções falsas (quando falam mal de quem eu não gosto é sempre verdade, quando falam mal de quem eu gosto é sempre mentira) e muito chororô de “ain, me excluíram, ain, me censuraram”. Coisa triste gente que depende de rede social para falar o que quer. Coisa triste quem não tem autoestima para dizer “não quero quem não me quer”.

Vai ser essa espiral tóxica até novembro (já que o segundo turno vai ser na última semana de outubro). Uma guerra entre polos opostos, sem um mínimo de razão, sem um mínimo de discernimento, onde, no final, o vencedor será quem conseguir de alguma forma emplacar mais e melhores fake News, que induzam o eleitor, por medo ou revolta a votar em seus candidatos.

Me diz, pode sair alguma coisa de bom daí? Tá muito claro que a democracia (ou no que ela se tornou) já deu, né? Tudo desvirtuado, cagado e feito da forma mais errada, pelos motivos mais errados. Não vai vencer quem representar melhor a vontade da maioria. Simplesmente nojento. Não há esperança de que saia qualquer coisa boa nessa eleição.

E digo mais: se o definidor desta eleição é a manipulação, o medo e a lavagem cerebral, bem, temos um candidato que faz isso como ninguém. É melhor Jair comprando a passagem para fora do país, viu gente? Conforme profetizamos desde o ano passado, SE as coisas continuarem nesse rumo, Teremos Bolsonaro Presidente.

O PT é bom de grito, mas tá fraco de manipulação, usando os mesmos argumentos vitimizados de duas décadas atrás. “Mas Sally, as pesquisas indicam que…” – sim, as mesmas pesquisas que davam 98% de certeza de vitória para Hillary Clinton. Tem muito voto silencioso no Bolsonaro. Comecem a preparar a cabeça de vocês.

Quem ainda não fez esse exercício mental, comece a trabalhar isso: durante muito tempo o mindset era o de que se uma notícia foi veiculada, foi checada, confirmada, tinha presunção de verdade e se, SE fosse desmentida, aí sim se duvidaria dela. Desaprendam isso e reaprendam o seguinte: daqui pra frente, todas as notícias são falsas, exceto aquelas que vocês, com suas pesquisas, conseguirem provar como verdadeiras. “Mas Sally, tenho preguiça, não pesquiso nada”. Beleza. Não acredite em nada então.

Reprogramem a mente de vocês, os próximos meses serão complicados.

Para dizer que quer mais é ver o circo pegando fogo, para dizer que optou por ser um alienado para se preservar ou ainda para dizer que a partir de agosto não vai mais abrir redes sociais: sally@desfavor.com

SOMIR

Ou você morre um herói, ou vive o suficiente para virar um vilão. Essa frase batida de filme ajuda a explicar muito bem como funciona a mentalidade política aqui no Brasil. Se o MBL já chegou perto do heroísmo num passado nem tão distante, ajudando a organizar protestos contra a Dilma, hoje em dia acabou estabilizado na posição de PT da direita, fazendo qualquer negócio em prol de uma causa cada vez mais nebulosa.

Os barcos ideológicos deste país acabam infestados de ratos, inevitavelmente. Eu vivi o suficiente para lembrar do PT como o “partido limpo” do país nos anos 90 e a completa derrocada das últimas duas décadas. O sistema com certeza não ajuda, afinal, as estruturas de poder já são tão corruptas que qualquer flerte com elas significa permitir o embarque do fisiologismo para corromper suas ideias de dentro para fora. O poder custa caro por aqui.

E como já deveríamos ter aprendido, os inimigos dos nossos inimigos não são nossos amigos. Eduardo Cunha não é meu herói por ter articulado a queda do PT, assim como o MBL não soa uma alternativa saudável, independentemente do seu alvo preferido. E isso passa muito pela propensão a fazer qualquer coisa para chegar num resultado: não só estavam montando uma rede de fake news na cara dura, como ainda fizeram escândalo quando desmascarados. O Facebook não fez censura, afinal, não é direito humano usar a plataforma deles (que como já expliquei várias vezes, custa caro para manter e depende de viabilidade econômica para existir). Está na rede social quem quer.

Mas nada temam, onde há dinheiro há vontade: vamos ver sim um festival de notícias falsas durante as eleições, só não vai ser tão fácil montar a rede dessa vez. E por mais que incomode a ideia de que muita gente vai acreditar piamente em qualquer asneira que aparecer escrita por aí, pode ter um lado positivo de ensinar melhor para as pessoas o que se deve ou não dar atenção por aí. Normalmente a humanidade aprende sobre qualquer tema desde que seja saturada por ele por algumas gerações, em tempos pré-internet esses ciclos podiam durar séculos, mas hoje em dia o processo anda de mãos dadas com a evolução exponencial da tecnologia. E percebam que eu escrevi que a humanidade aprende, não exatamente que evolui.

Você pode aprender como lidar com algo sem necessariamente evoluir sua percepção sobre o assunto. Basta adaptar uma ideia já estabelecida num contexto novo. Não acredito que uma torrente de fake news vá fazer as pessoas evoluírem para pesquisar sobre as informações que recebem, mas provavelmente já ensina a desconfiar delas. Uma sociedade perpetuamente desconfiada de notícias não é exatamente um avanço, mas pelo menos lida com o problema mais imediato. Um passo por vez, se nada mais.

O que pode ser atrasado se empresas como o Facebook começarem a propor “soluções” como as que estão fazendo atualmente. Na dúvida, o ser humano prefere o conhecido, e alguém definindo por ele o que é verdade ou não tem longas e profundas raízes históricas. Quem já era ignorante o suficiente para acreditar em qualquer fake news provavelmente acredita também que seja possível que uma instituição como uma empresa seja capaz de controlar o fluxo de informações na internet. De uma certa forma, o Facebook tentando conter as fake news é uma fake news.

E como de costume com elas, pode levar incautos a tomar más decisões, a principal sendo achar que está mais seguro dentro do Facebook por causa disso. O MBL, o PT, o Centrão e todo tipo de movimento político fisiologista do país vão apostar em redes de disseminação de informações falsas para tentar controlar a narrativa, reforçando a separação ideológica no país e repetindo a histórica estratégia de dividir para conquistar com base em informação. Em tempos de polarização, é cada vez mais difícil mudar a visão de uma pessoa sobre quem está certo ou errado, então é mais eficiente segurar sua base de eleitores a todo custo, fazendo-os terem mais horror dos adversários que admiração por você.

Afinal, admiração custa muito mais caro. No mundo das campanhas eleitorais (tenho mais conhecimento disso do que gostaria) existe uma separação clara entre fazer campanha positiva e negativa. A positiva valoriza o seu candidato, a negativa bate nos outros. Todo candidato com estrutura suficiente (leia-se financiamento) monta um time para atacar os outros, e quase como se estivesse contratando assassinos de aluguel, não querem nem saber direito os detalhes, para não poderem ser implicados nas ações futuramente. Quem faz a campanha positiva gasta a maior parte da verba dos candidatos, mas quem faz a negativa tende a voltar com resultados mais… saborosos.

E como as limitações recentes nas campanhas eleitorais focaram exclusivamente na campanha positiva, afinal, a negativa nunca foi legalizada para começo de conversa, estamos vendo as duas formas equilibrar em tamanho ciclo após ciclo. Para atacar os candidatos de esquerda, basta financiar o MBL que eles fazem todo o serviço sujo por você. Se quiser atacar os de direita, só continuar dando dinheiro para os defensores do Lula, que eles vão atacar pela internet naturalmente. De uma certa forma, a campanha negativa ficou tão profissional que nem depende mais de um candidato específico, são empresas disfarçadas de movimentos sociais atuando quase que exclusivamente na internet.

Internet onde as pessoas ou acreditam em tudo o que leem, ou acreditam que alguém consegue controlar a disseminação de fake news. O campo está fértil como nunca. Eu torço para o brasileiro aprender, nem que seja pela forma mais difícil, mas… não acredito que tenha chegado a hora, não ainda.

Para me chamar de comunista, para me chamar de agnóstico cagão político, ou mesmo para dizer que eu só estou bravo porque qualquer um pode fazer o trabalho de mentir para consumidores hoje em dia: somir@desfavor.com


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