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No bolso.

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| Desfavor | | 69 comentários em No bolso.

Nesta semana, Jair Bolsonaro participou de duas sabatinas, no Roda Viva da Cultura e na Central das Eleições da GloboNews. Em dois ambientes hostis, o candidato saiu mais forte que entrou, e isso tem muito a ver com a teimosia e incompetências dos seus detratores. Bolsonaro virtualmente eleito, desfavor da semana.

SALLY

Nós estamos avisando faz tempo: a coisa desandou num grau que o Bolsonaro já está eleito. Se você perguntar a qualquer pessoa que entenda de política ou que trabalhe com isso, vão te dizer o contrário, assim como os entendidos da CNN diziam que Hillary tinha 99,8% de chances de ser eleita. A verdade é que o que aconteceu nos EUA está prestes a se repetir no Brasil, inclusive pelos mesmos motivos, e ninguém parece estar percebendo ou aceitando isso.

Depois de muitos textos explicando o que está fazendo com que as pessoas votem no Bolsonaro, não tenho mais saco para falar no assunto. Está feito. É irreversível. O que me espanta é o grau de negação e desconexão das pessoas com a realidade. Como o brasileiro desaprendeu a ler os sinais e passou a acreditar naquilo que gosta, não naquilo que está de fato acontecendo.

É muito claro, é praticamente cristalino, é certo. Entretanto, pessoas que eu considero inteligentes e com boa experiência política, juram de pés juntos que Bolsonaro não vai ser eleito. Os motivos são claramente ultrapassados, coisas que impediriam alguém de ser eleito 4, 8 anos atrás. Hoje não. Não mais. Sim, de um ano pro outro todo o mindset muda, todo o funcionamento social, todas as regras, códigos. É o preço do crescimento exponencial, tudo muda o tempo todo, muito rápido, e nos obriga a fazer uma baita ginástica mental para acompanhar.

Esta semana, ao ver a entrevista do Bolsonaro no Roda Viva, percebe que me dói muito perceber que tantas pessoas queridas e supostamente inteligentes tenham ficado para trás e se tornado mentalmente obsoletas em menos de uma década. Os comentários, as previsões, as especulações. Tristeza de verdade. Tem que correr cada vez mais rápido para acompanhar o ritmo das mudanças e conseguir compreender e tentar prever o mundo atual. É muito, mas muito fácil ficar para trás.

Sério mesmo, estudem futurismo, vejam vídeos sobre o assunto, façam cursos. Não sejam essa pessoa que fica pra trás. Aceitem que é mentalmente cansativo acompanhar esta realidade na qual vivemos e invistam nisso, pois todo o resto um robô vai acabar fazendo melhor do que vocês, mais cedo ou mais tarde. Sejam os primeiros a perceber, a ver, a saber. Vocês estarão dez passos à frente da maioria, inclusive de profissionais da área.

Pois é, até profissionais renomados estão ficando pra trás. O grande problema não é mais se atualizar em informação e sim se atualizar em mindset. As tentativas de desacreditar o Bolsonaro nos programas de TV mostram claramente como os jornalistas não compreendem mais como o mundo funciona. Seja citando Wikipedia como fonte, seja apelando para “Jesus era um refugiado”, os jornalistas parecem não entender que jogar pedras só aumenta a simpatia popular pela pessoa. Parecem não perceber que não é a TV ou a imprensa que elege ou não alguém. Não compreendem que o fato do Bolsonaro bostejar pela boca não vai mudar o voto do brasileiro.

Entendam, quando eu demonstro tristeza aqui, não é por terem “perdido uma oportunidade” de derrubar o Bolsonaro. Salvo uma grande catástrofe, ele está eleito. Aquelas poucas pessoas da mídia não tem poder para derrubar o Bolsonaro. O que me entristece de verdade é ver como as mentes supostamente mais treinadas não estão conseguindo acompanhar a mudança dos tempos, como continuam pautando seu raciocínio, sua lógica e tudo que depreendem por realidades de uma década atrás.

Na década de 80, quando o debate era o único momento em que o povo efetivamente escutava os candidatos falando ao vivo, eu até entendo que ele fosse decisivo para vencer uma eleição. Hoje, a dinâmica mudou. A imprensa tem um poder bem próximo do zero, pois graças à internet e redes sociais, uma informação vinda de um Zé Cu qualquer pode ter mais repercussão do que o Jornal Nacional. Por favor, virem a página. O mundo mudou por completo. Aprendam a desaprender tudo que aprenderam e reaprender uma nova realidade todos os dias, caso contrário serão analfabetos mentais como esses jornalistas que acharam que estava atacando o Bolsonaro.

No texto de hoje eu quero deixar consignada minha tristeza por ver que a maior parte dos brasileiros, inclusive a suposta elite pensante e até mesmo pessoas próximas que me cercam, não tem a flexibilidade mental suficiente para acompanhar a mudança de dinâmica social que se dá diariamente.

Nós somos fodásticos inteligentões e por isso conseguimos? Não. Não é isso que nos diferencia. O que nos diferencia é que nós temos sede de conhecimento, estamos sempre abertos, estamos sempre estudando, estamos sempre observando atentamente e estamos sempre experimentando, com nós mesmos e com aqueles que nos cercam. O mundo é nosso laboratório e tudo que nele habita são nossas cobaias. É assim que se constrói e se desconstrói mindest todos os dias.

As regras do jogo mudaram. Por sinal, elas mudam o tempo todo. Quem quer estar preparado e capaz de depreender realidade e futuro tem que ter a cabeça totalmente flexível, observadora e atenta. A eleição do Trump era previsível, como o Somir bem o fez, antes mesmo dele vencer. Ninguém deu bola, a CNN garantia que isso não ia acontecer. Mas aconteceu. Agora estão contestando a vitória do Bolsonaro com os mesmos argumentos. Não aprendem não? Até quando insistir em um velho mindset que não funciona?

Estamos em um país de cegos, não por votar no Bolsonaro, mas por não compreender mais como a realidade funciona. Sim, claro, Bolsonaro se eleger é um tremendo desfavor, gritante, grotesco e, justamente por isso, vai roubar todos os holofotes. Mas o desfavor sobre o qual falamos hoje, essa desconexão com a realidade, essa desatualização de mindset, é muito mais grave, pois vai gerar infinitos Bolsonaros em infinitas áreas. As pessoas são, socialmente, aquela tia-avó que clica um link com vírus no grupo do whatsapp. Isso não vai acabar bem.

O estrago está feito, Bolsonaro está eleito e os principais cabos eleitorais foram os que tentaram falar mal dele. Vamos respirar fundo e pensar na Big Picture, nessa falha de atualização mental, de compreensão do funcionamento social cada vez que ele muda, de percepção de presente e futuro. Isso sim ainda pode ser modificado, ao menos em cada um de vocês.

Para tentar me explicar os motivos pelos quais o Bolsonaro não ganha, para dizer que não entendeu qual é o desfavor da semana ou ainda para dizer que esperava que a gente se limite a dizer que o desfavor era o Bolsonaro ter se saído bem: sally@desfavor.com

SOMIR

A missão da Sally era o Roda Viva, a minha era o programa da GloboNews. A entrevista de ontem foi muito mais previsível do que eu gostaria: numa sala com jornalistas de renome claramente combativos, Bolsonaro não só resistiu à pressão como conseguiu dominar a discussão usando vários dos truques popularizados no ciclo eleitoral de Trump nos EUA. Quando o atual presidente americano utilizou a tática, foi uma surpresa generalizada, mas… agora que pelo menos as pessoas mais estudadas em política sabem que é uma estratégia viável, como é que funcionou de novo?

Bolsonaro abraçou a hostilidade (natural, ele fala muita merda mesmo) e fez dela sua linha guia durante as mais de duas horas de sabatina. Percebia-se claramente que era sua estratégia causar divisões dentro do grupo de jornalistas, dando tratamentos mais ou menos agressivos para alguns do que para outros. E pelo o que eu vi ali, funcionou: desestabilizou alguns como o Gerson Camarote e o Merval Pereira com agressão direta, matou duas das três mulheres ali basicamente cagando para o que elas diziam (a Cristiana Lôbo não conseguia nem terminar as perguntas dela), abraçou o Fernando Gabeira como “amigão” no grupo; e até mesmo a única grande força contrária lá dentro, a Miriam Leitão, terminou a noite passando vergonha tenho que ditar uma nota editorial vinda de cima basicamente pedindo desculpas pelo Roberto Marinho ter apoiado o Golpe Militar…

Provavelmente não foi algo treinado exaustivamente pelo estafe do candidato mas algo natural da pessoa: ele conseguiu analisar os “adversários” da vez e desmontar a pretensão de neutralidade tão necessária nesses casos. Bolsonaro se vira muito bem no meio da pancadaria, é onde ele se sente mais seguro, e por tabela, é o que o cidadão médio está realmente analisando ali: se ele pareceria fraco diante da mídia. Eu posso achar o Bolsonaro uma merda de um candidato ao ponto de aceitar votar até no Alckmin contra ele (eu sei, eu sei…), mas sei reconhecer quando alguém faz as coisas direito.

E Bolsonaro resolveu essas duas provas de fogo com desenvoltura. Começava qualquer resposta com algum ataque pessoal, contra os jornalistas ou outras pessoas, mantinha-se forte o tempo todo evitando interrupções, nunca perdeu a disputa no grito, soube fazer piadinhas no meio da situação para não demonstrar nervosismo… e ainda não arredou o pé em nenhuma de suas posições. Percebem que só agora eu entrei na parte do conteúdo da sua fala? O verdadeiro desfavor da semana era que o candidato não estava sendo julgado realmente pelo o que propunha para o país, mas em como resistiria diante de pressão da mídia.

Porque, em última instância, nada do que ele dissesse teria chance de mudar algo na corrida eleitoral, bastava mostrar força e um mínimo de estabilidade mental. O resto, como de costume, os bolsominions resolvem nas redes sociais depois. E nada do que os outros candidatos disseram também fez muita diferença… nessa sociedade extremamente polarizada que vivemos, as pessoas estão colocando suas crenças em um candidato e só esperando que ele se mantenha estável o suficiente até o dia da votação.

Quem entende de economia, educação, saúde ou mesmo política internacional no Brasil mal conseguiria eleger um Deputado Federal pelos números. Não precisa de um plano de governo excelente para ser eleito, basta falar obviedades que chamem atenção do grande público (que basicamente só tem o próprio senso de lógica pessoal para analisar qualquer política pública) e ter o carisma necessário para carregar esse gente até as urnas. Não se enganem, Bolsonaro é um babaca, mas um babaca carismático. Não no sentido agregador de um Lula, mas um carisma de força e ordem, algo que provavelmente falta na maioria das casas hoje em dia.

Sua personalidade é previsível e seus posicionamentos ideológicos ressoam com a maior parte de uma população brutalizada. Muitos especialistas previam que ele derreteria quando fosse exposto ao grande público, estou vendo exatamente o contrário. E isso é tão parecido com a eleição do Trump que não tem mais nem desculpa para a grande mídia ser pega de surpresa assim. Cada vez que você bate no Bolsonaro, é mais um voto que ele garante em Outubro. E quanto mais gente tiver o primeiro contato “real” com ele vendo programas como o Roda Viva e o Central das Eleições, menos insano ele parece, reforçando sua “votabilidade” para quem estava indeciso.

“Peraí, eu achei que ele ia dar um murro no Gabeira e passar a mão na bunda da Sadi… mas ele só falou com convicção das ideias dele…” Deixar as expectativas tão baixas assim só aumenta o poder dele quando é exposto ao grande público. A mesma merda que aconteceu com o Trump: foi pintado de forma tão caricata antes de ser apresentado ao grande público que ao falar meia dúzia de coisas minimamente racionais não só recuperou boa parte da sua imagem como ainda queimou o filme da grande mídia no processo.

Ainda não sei se essa armadilha foi planejada ou se era inevitável com o Bolsonaro, mas que está acontecendo, está. Nós aqui calculamos que Bolsonaro ganharia a eleição assim que calou a boca sobre o caso da Marielle, e parece que acertamos mesmo. A TV não tem mais a força que tinha, e os 8 segundos dele no horário eleitoral não vão ser tão negativos quando esperava-se. Os vídeos das entrevistas dele estão nos trending topics de todas as redes sociais neste exato momento.

Prever ganhador de eleição com certeza não é uma ciência exata, mas a minha impressão só se reforçou depois das entrevistas. Continua achando que ele vai ser um presidente bem ruim, mas nunca foi sobre convencer uma minoria tão minoria dessas, é sobre ganhar o coração do povão. E ele parece que sabe como fazer isso. Preparem-se para o impacto, 2019 tende a ser um ano no mínimo curioso…

Para dizer que até esqueceu que o Alckmin estava concorrendo (a gente esquece que ele é governador aqui em SP há décadas), para dizer que adorou ver a Globo pistola, ou mesmo para dizer que pelo menos não é o Lula: somir@desfavor.com


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