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Fama internacional.

Fama internacional.

| Desfavor | | 30 comentários em Fama internacional.

O Brasil tem muitas famas ao redor do mundo, poucas realmente boas. Sally e Somir tentam escolher a pior dentre as piores, e os populares exibem seu orgulho ufanista.

Tema de hoje: qual a pior fama do brasileiro no exterior?

SOMIR

A fama de alegre. Dizem que o diabo está nos detalhes, e no caso da fama mais comum do brasileiro em outros países, a presunção de povo descontraído e despreocupado esconde uma das piores consequências: a condescendência.

Numa primeira análise, não parece de todo ruim ter a fama de ser uma pessoa animada e geralmente de bom humor. Pessoas tendem a gostar de quem torna a vida mais divertida, quem é “pra cima” normalmente recebe um bônus considerável em popularidade. Apesar de ser rabugento pessoalmente, sei que não tem nada de necessariamente errado com gente feliz e animada. Bacana, força pra elas.

Mas, estamos analisando algo maior que uma pessoa específica, estamos analisando o todo. Nada de mais em ser considerado alegre como indivíduo, mas como povo? Aí o buraco é mais embaixo. Para que toda uma categoria de pessoas receba essa imagem, é necessário um tanto de desdém pelo intelecto delas como um todo. Veja bem, não é sinônimo de burrice estar animado, mas… estar sempre animado já começa a entrar num território mais arenoso.

Se estou sendo muito sutil: um povo que é sempre feliz é meio retardado. Nem sou eu sendo amargo, é uma conclusão lógica até que simples. Quem está sempre disposto para as diversões da vida não está cansando o cérebro com mais nada. Então, por mais que a fama gere sorrisos no exterior (isso é, se você estiver bem vestido), são sorrisos com uma dose nem um pouco saudável de condescendência.

Bacana ser a pessoa animada, mas péssimo ser o bobo da corte. Porque a vida não é só intoxicação e simulação de cópula ao som de batuques, tem coisa muito mais séria acontecendo. E é nessas horas que a fama começa a pesar… as pessoas de outros países vão te levar inconscientemente menos a sério. Como se você não fosse a pessoa certa para tratar de assuntos mais profundos do que rebolar e chutar uma bola.

O que até pode ser válido caso você esteja viajando só por diversão, mas te torna uma pessoa mais bidimensional, que não é lembrada na hora de fazer um negócio, dividir conhecimento ou algo do tipo. Num mundo como o atual, extremamente conectado, boas oportunidades de crescimento pessoal normalmente passam pela relação com pessoas do resto do planeta. Foi-se o tempo que dava para ficar rico só falando português (ok, ainda existe a política), até mesmo funkeiro está colaborando com artistas internacionais!

E como uma opinião como a minha vai ser vista como amarga e chorona para muita gente, o habitual é acharem que essa fama de alegra é elogiosa. Quando a pessoa sequer tem que se preocupar com reações negativas pelo seu preconceito, ele fica totalmente sob o radar, indetectável. Então, até mesmo um estrangeiro que só tenha boas intenções é capaz de não pensar em você para algo mais sério que uma balada pelo simples fato que “brasileiro é alegre”.

Vamos pensar em outro povo tão fodido quando o brasileiro: o indiano. A fama internacional deles tem a ver com porquice, mas também com foco em tecnologia. Em vários países de primeiro mundo, os indianos são conhecidos como a mão de obra mais barata em programação e suporte técnico do mundo. Não é uma fama 100% agradável, mas esse preconceito te faz enxergar um indiano como alguém que tem noção de trabalhar com computadores e aprende rápido.

O chinês? O chinês pode ter todos os seus problemas, mas são os reis do hardware. Você lembra de condições de trabalho horríveis e produtos baratos. Ideal? Claro que não. Mas você sempre pensa num chinês num contexto de mais seriedade. E nem comecemos a falar de povos com famas realmente boas de seriedade como os alemães. Um alemão festeiro e divertido pode expor esse seu lado quando quiser, mas sempre vai ser lembrado como alguém que sabe fazer coisas bem feitas e é muito organizado.

O ponto aqui é: a fama de alegre e divertido do brasileiro gera um preconceito que elimina oportunidades para nós antes mesmo delas nos serem apresentadas. É muito mais fácil quando você é levado a sério logo de cara e depois tem a escolha de demonstrar um lado mais divertido. Agora, o caminho inverso é bem mais tortuoso. Condescendência é algo terrível de tirar, pior que fama de corno.

Você individualmente pode montar sua imagem para ser visto como alegre, mas quando isso cai em cima do você por causa do país que nasceu, pode apostar que seu país projetou uma imagem muito errada.

Para dizer que eu não gosto de felicidade, para dizer que prefere fama de festeiro do que nerd, ou mesmo para dizer que não é retardado: somir@desfavor.com

SALLY

Qual dos estereótipos normalmente atribuídos a brasileiro é o mais nocivo para a imagem do país?

Desonestos. Essa fama de malandros, de safados, de aproveitadores é um câncer que está por trás de todas as outras famas ruins do brasileiro.

A desonestidade é a raiz de tudo que é ruim sobre o brasileiro. A mulher está dando em cima do gringo porque é puta, porque quer cobrar, porque quer se dar bem dando um golpe para sair do país? Tudo desonestidade. O brasileiro vai pegar o seu dinheiro e não vai fazer o serviço, ou vai fazer mal feito, ou vai te roubar dizendo que algo que é desnecessário é necessário? Tudo desonestidade. A malandragem é a mãe da má-fama nacional.

Quando se é desonesto na essência, tudo pode ser mentira. Nada deve ser sincero, tudo que é dito ou feito deve ter uma segunda intenção oculta, sempre voltada para que o brasileiro se dê bem. Assim, da desonestidade nasce a falta de confiança. Brasileiros não são confiáveis. Brasileiros não hesitam em mentir, enganar, distorcer as regras para se dar bem. E, a partir do momento em que um grupo não é confiável, que se parte da premissa que ele quer te passar a perna, este grupo se torna um “inimigo”, alguém do qual você tem que se proteger.

Olha, eu sinto repulsa por todo o ridículo barulhento o colorido que brasileiro sempre passar no exterior. A falta de educação, a falta de adequação, a falta de bom senso, sim, tudo isso pesa, mas são coisas que, em minha opinião, causam um dano menos. Causam pena, causam um certo distanciamento ou, no máximo uma piadinha maldosa. Ser um babaca subdesenvolvido colorido e barulhento é humilhante, mas não coloca o resto do mundo necessariamente na posição defensiva.

A desonestidade é uma ameaça real. O mundo sabe que o brasileiro é capaz de ir ao limite da desonestidade: rouba dinheiro de hospital (ou vota em quem rouba), dinheiro da merenda das crianças ou o tão famoso caso de dinheiro da UNICEF, das criancinhas. Isso passa uma sensação muito ruim de que não há limites para a desonestidade: pode morrer gente, pode morrer criança, pode acontecer o que for, a desonestidade sempre fala mais alto. Isso é muito assustador, isso faz com que o brasileiro seja excluído do resto do mundo como cidadão confiável.

Outros defeitos padrões como breguice, cafonice ou falta de educação podem ser atribuídos a causas externas como cultura ou falha no sistema educacional. Também podem ser corrigidos. Já a desonestidade não, ela é índole, ela é questão de caráter, está no íntimo de cada pessoa e não me parece passível de correção. Honesto não se “está”, honesto se é. Ou você é ou você não é. Logo, o estado de desonestidade nacional soa quase que como irreversível para quem vê de fora.

É assim que brasileiro é visto: desonesto. Em muitos lugares turísticos pelo mundo há treinamentos específicos só para lidar com grupos de brasileiros, e faz parte do treinamento alertar o funcionários para que não roubem coisas nem apliquem golpes. É institucionalizado: até segunda ordem, brasileiros são assim. Imagina que boa vontade para contratar, hospedar ou até se tornar amigo de brasileiro que os gringos tem.

Sempre se espera uma malandragem, uma segunda intenção de fundo. E é merecido. Coisa mais engraçada é ver mulher brasileira indignada por ser tratada como prostituta. Gente, a realidade da vida é essa, não é preconceito, é pós-conceito. A maior partes das mulheres brasileiras de fato se comporta de forma indigna com gringos então, as pessoas seguem essa premissa.

Não creio que exista coisa pior do que a presunção de desonestidade e malandragem usando a questão sexual para obter benefício. Isso é o mais baixo que o brasileiro poderia ter chegado. E ainda reforça esse estigma com turismo sexual, vinculando o Brasil a bunda, aplaudindo mulheres que “caçam” gringos e os usam para alavancar sua vida, saindo do Brasil. Nem tão cedo esta fama vai mudar, e não consigo pensar em outra pior.

Quando você é apenas um idiota, um imbecil bem intencionado, um patético, o mundo ri da sua cara, sente pena mas não necessariamente fecha todas as portas. Ainda há coisas que pessoas incompetentes porém simpáticas podem conseguir. Mas quando você é desonesto, bem, todas as portas se fecham. A menos que seja para matador de aluguem ou para qualquer outro trabalho sujo, ninguém quer um desonesto por perto. Uma pessoa que pode obter uma vantagem ilícita às suas custas, que pode pegar sua mulher (e se achar o máximo por isso), que pode se dar bem a qualquer momento não importa o que ou quem ela tenha que sacrificar para isso.

Um idiota só faz mal a ele mesmo, desde que não lhe seja confiada nenhuma tarefa importante. Um desonesto é um perigo em potencial para todo mundo, pois não possui um limite ético, muito menos consciência. Isso pode se refletir em tudo, desde pequenas coisas como levar para casa o troco errado que recebeu, ficando com um dinheiro que não lhe pertencia, até ter um caso com a mulher do amigo. É a cada segundo, é a cada instante o perigo de dano a terceiros.

Não se enganem, essa imagem alegre e malemolente que brasileiro adora achar que tem no exterior não é o que melhor o representa. Brasileiro é visto como desonesto, como alguém a ser observado, que merece providências. É preciso se precaver de brasileiros, o que leva a um circulo de desconfiança que não apenas mina reputações como também fecha portas.

Para dizer que eu tenho inveja de brasileiros, para dizer que brasileiro não tem competência para chegar a se classificado como desonesto ou ainda para dizer que o que mais queima o Brasil são as próprias mulheres: sally@desfavor.com


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