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James Watson

James Watson

| Desfavor | | 18 comentários em James Watson

O cientista americano James Watson, ganhador do prêmio Nobel de 1962, perdeu seus títulos honorários depois de fazer comentários racistas sobre raça e inteligência. Em um documentário de televisão que foi ao ar em 2 de janeiro, o pesquisador, pioneiro na pesquisa do DNA, repetiu opiniões segundo a qual a genética tem um papel nas notas que brancos e negros têm em testes de inteligência e de coeficiente intelectual. LINK


Caça às bruxas não tem nada de científico. Pior, atos como esse só radicalizam mais as pessoas. Desfavor da semana.

SALLY

James Watson foi o responsável pela descoberta “do DNA” humano, mais precisamente pela estrutura da molécula de DNA. Você consegue imaginar o quanto isso impactou na ciência, biologia e medicina? Por este feito envolvendo DNA, que é uma das bases de sustentação da medicina moderna, ele ganhou uma infinidade de prêmios e honrarias, até mesmo um Prêmio Nobel.

Pois bem, graças a algumas declarações consideradas racistas (chegarei nesse mérito mais pra frente), ele acaba de perder todos os títulos acadêmicos que já recebeu. Só não perdeu o Nobel porque a fundação não permite “desdar” um prêmio a alguém. Uma opinião pessoal sua apagou todas as conquistas científicas que sua descoberta proporcionou.

E aqui chegamos ao ponto principal da questão: por fazer afirmações racistas a pessoa perde o mérito de uma descoberta científica? Não faz o menor sentido, na minha opinião. Por mais que ele tenha uma visão equivocada do ser humano, ele ainda fez uma descoberta que até hoje beneficia a humanidade em larga escala. E por isso ele merece sim os prêmios que recebeu.

Depois de muitas décadas estudando DNA (vide um Nobel que ganhou por isso) ele afirmou diversas vezes e ainda afirma que há diferença de inteligência entre brancos e negros graças à genética. Não que negros estejam fadados a serem burros ou brancos sejam invariavelmente inteligentes, o que ele diz é que existe uma tendência no DNA para que brancos aprendam mais rápido e melhor do que negros, mas nada determinante, apenas uma tendência.

Não dá nem para começar a discutir isso, primeiro porque nenhum de nós tem qualquer conhecimento genético suficiente para refutar um ganhador de Nobel na parte técnica envolvendo DNA e segundo porque não há espaço socialmente para aceitar, total ou parcialmente, este tipo de afirmação. Concordar, ainda que com 1% do que ele fala, é crime no Brasil. Portanto, há uma limitação de conhecimento e outra legal que vão me fazer parar de desenvolver um juízo sobre estas falas bem aqui.

O que eu vou questionar é esse usar da vida pessoal para desqualificar feitos técnicos. Mozart tratava as mulheres como lixo, era machista, batia em mulher, afirmava que mulheres eram inferiores, fazia tudo que há de mais abominável em relação ao sexo feminino mas… vamos desmerecer sua música por causa disso? O que tem a ver o cu com as calças? Se você quer não escutar Mozart por sua postura pessoal, joinha, vai fundo, tem o meu apoio. Mas querer que ele perca o reconhecimento profissional?

Esse “boicote” é vazio. Boicote mesmo seria as pessoas que discordam pararem de usar qualquer coisa que tenham relação com a descoberta deles. Adoeceu? Toma remédio da década de 80. Não estão dizendo que a descoberta dele não tem validade? Então não usufruam dela. É como per a presidente do PETA berrando que ninguém tem que consumir produtos testados em animais enquanto ela toma insulina, uma droga que só existe por causa de testes em animais.

Quem quiser achar James Watson racista, que ache. Se for o caso, que seja processado e julgado por suas falas. Mas querer tirar o mérito de suas pesquisas científicas que, comprovadamente, fizeram toda a diferença para a humanidade, não dá. Discutir DNA com um ganhador de Nobel e mais de 50 anos de estudos de DNA, você me desculpa, mas também não dá. Se recolhe aí à sua insignificância. Pode berrar que é absurdo o quanto quiser, se essa foi a sua programação mental e você não puder revisá-la, mas discutir uma afirmação técnica você não tem cacife para fazer.

E aqui, levanto um ponto perigoso: cuidado com essa pressão social de “somos todos iguais”. Não somos todos iguais. Homens são mais fortes que mulheres, pele negra tem mais resistência à luz do sol do que pele branca, etc. Se James tivesse apontado uma diferença entre raças que favorecesse os negros, como por exemplo dizer que negros tem mais preparo físico, tem mais resistência a doenças ou até que são mais inteligentes, não haveria gritaria. Mas pelo visto, pisou no calo. Assim como se ele tivesse apontado uma diferença entre raças que imputasse alguma condição negativa aos brancos, também teria passado em brancas nuvens. De fato, é cool falar mal de branco.

Então, sem entrar no mérito do que ele disse, quero apenas pontuar que existem diferenças entre sexos e entre raças, e isso não faz nenhuma inferior à outra, porém hoje é estritamente proibido sequer chegar perto dessa questão. Uma pena, racismo é justamente isso: não admitir sequer reconhecer as diferenças em determinado setor, se sentir diminuído se por algum motivo foi aventado não ser absolutamente igual a um branco.

Vamos usar como exemplo um grupo que foi perseguido, estigmatizado e socialmente oprimido por séculos: os ruivos. Se um cientista disser que ruivos tem, geneticamente, uma capacidade de aprendizado, tolerância a raios UVA e UVB e afinação para canto menores do que outros grupos, como você iria reagir?

Erra quem pula da cadeira e automaticamente grita que somos todos iguais (não, não somos, e tá tudo bem que não sejamos) e erra quem acata sem questionar. Inteligência tem sim um componente genético (ainda que não seja o único fator que a determina), tolerância a raios solares também e afinação também. Tudo pode ser desenvolvido, trabalhado, mas achar que todos nascemos absolutamente iguais, com os mesmos potenciais, é uma tremenda de uma burrice. E achar que esses potenciais nunca tem absolutamente nada a ver com raça, sexo ou idade, é igualmente burrice. Alguns tem, outros não.

Já repararam que quando se cita uma característica inerente a um grupo (homens, mulheres, negros, branco…) ela tem que ser sempre positiva, se não é automaticamente classificada como preconceito e gera histeria? Será que todos os grupos só têm características positivas? Não existe uma característica “negativa” que seja comum a determinados grupos? Ou seria só a brancos?

E outra: calar o cara dando punição não resolve nada. Muito pelo contrário, faz nascer uma simpatia a favor dele. Se o que ele diz é tão mentiroso, absurdo e descabido, deixa o cara falar e refuta ele com evidências científicas. Mas a comunidade científica está mudinha. Tem quem diga que não é isso não, porém, evidências científicas de ambos os lados não foram colocadas na mesma, que é o que apagaria de vez essa teoria de James Watson.

Se é algo tão absurdo, não deveria sequer doer ou incomodar. Se eu te digo que por ser branco com certeza você está propenso a se cagar nas calças, você faz o que? Ri de mim ou sente pena? Mesmo grupos historicamente perseguidos… diga a um ruivo que por ser ruivo ele é menos capaz em algum aspecto e observe se vai dar essa treta toda.

Se é visivelmente mentira, mesmo que seja difundido ao mundo, não vai causar dano, pois um simples olhar de cada pessoa vai fazê-la perceber que não é verdade. Mas aí entra outra questão complicada: James disse que “basta olhar para África” ou “basta ter trabalhado com um negro” para perceber que o que ele fala é verdade. E é por isso que doeu. Porque estas pessoas que se sentiram ofendidas não tem certeza absoluta dentro delas de que o James fala é uma tremenda de uma imbecilidade descabida.

Se doeu, passou recibo. Uma pena que as pessoas ainda não tenham percebido isso. Parem de passar recibo para esse tipo de gente. E a comunidade científica, faça o favor de deixar o cara expressar a opinião que quiser sem desqualificar seu trabalho científico, pois isso é passar recibo também. Refutem as ideias do cara em público COM PROVAS (e não com declaração indignada), que fazem muito mais pelo mundo.

Estão todos com muito medo, muito reativos, querendo muito calar a boca do outro, para quem tem certeza absoluta do erro alheio…

Para dizer que eu não cruzei a linha por um milímetro, para dizer que você sequer se permitia pensar desta forma ou ainda para dizer que entendeu mas não vai opinar porque não dá: sally@desfavor.com

SOMIR

Seres humanos são complexos. Pessoas que gostamos vivem fazendo coisas que não gostamos, e vice-versa. Até por isso, um dos marcos do fim da infância é a percepção que os adultos são falhos, somos obrigados a construir um modelo de realidade interno para reencontrar a segurança perdida nesse momento. Separar o certo do errado sozinhos e tentar aproveitar o máximo das nossas relações com outras pessoas.

Claro, em tese. Porque na prática a minha percepção é que muita gente ainda está presa num pensamento infantil de heróis e vilões absolutos: como se os outros fossem obrigados a serem só bons ou ruins o tempo todo. E como se bom ou ruim fosse um conceito universal e imutável para todo mundo ao mesmo tempo. Sem querer fazer um trocadilho com o tema: o mundo é branco ou preto, sem escalas. Tenho certeza que pessoas assim existiram em todas as eras da humanidade, mas a era da comunicação as fez tão “barulhentas” que essa infantilidade de bandidos e mocinhos puros começou a contaminar todos os níveis da sociedade.

James Watson é um cientista de renome pelo seu trabalho. Ele provou o valor da sua contribuição para a humanidade na prática contribuindo para a descoberta da estrutura do DNA, o que desembocou numa revolução da medicina que nos ensinou e ajudou muito até aqui e tende a moldar o futuro da humanidade como um todo. Ele não descobriu um jeito mais eficiente de fazer algo que já fazíamos ou tornou mais lucrativo um mercado, ele estava no ponto inicial de um desenvolvimento científico que vai continuar válido por milênios. Pessoas que conseguem esses feitos tornam-se imortais.

Ou… tornavam-se. No século XXI, estamos disputando esse paradigma. Já vimos exemplos menores na mídia e na indústria do entretenimento com pessoas perdendo empregos por causa de piadas consideradas incorretas, mas agora estamos vendo a sociedade atual tentando assassinar o legado histórico de um grande cientista. Julgaram James Watson um vilão absoluto e a pena é a morte de seu nome pelo resto da história. As mesmas pessoas presas numa noção infantil de que tudo tem que ser perfeitamente bom ou perfeitamente ruim tem um ego tão horrivelmente inflado que se acham no direito de matar um nome que deveria ser imortal. Cretinos que jamais contribuirão para a humanidade usam seus pequenos poderes para destruir um legado maior que todos eles juntos.

Se não concordam com o que James Watson diz sobre diferenças genéticas entre raças humanas, sintam-se à vontade para contra-argumentar ou mesmo para ignorar. É assim que a ciência funciona. Mas não é assim que a mentalidade infantil dos justiceiros sociais do século XXI funciona: a voz dissidente é considerada absolutamente maligna e deve ser destruída. Não existe nuance, não existe discussão, só existe uma mente presa na infância, validando sua existência com a ilusão de ser um herói e combatendo vilões.

E é inclusive nesse ambiente tóxico para o desenvolvimento intelectual humano que as ideias que eles parecem querer destruir só aumentam. É evidente que diferenças entre seres humanos não estão reduzidas à cor da pele, é evidente que raças desenvolveram-se de forma diferente nos milhares de anos que ficaram isoladas umas das outras. O que não quer dizer que qualquer pessoa de uma raça seja superior ou inferior a qualquer pessoa de outra raça, é muito mais complexo do que isso.

James Watson sabe do que está falando, mas não é perfeito. Ninguém é! Os dados apontam diferenças de inteligência entre as raças, e curiosamente, a raça de James Watson não é a superior nesse aspecto. Quem é nazista não defende inteligência genética, porque os judeus estão em primeiro lugar em todos esses testes. Ao invés de aceitarmos com naturalidade que existe algo sim para pesquisar sobre o que ele diz, tornamos ele um vilão que está 100% errado e deve ser apagado da história humana, ou… pior, tornamos ele em herói de gente igualmente burra mais ainda mais violenta que acredita que o que ele diz é prova de superioridade pessoal.

Sem pesquisa científica, a opinião dele é inflamatória e gera radicais. De um lado quem chama TODO MUNDO que não concorda com eles de nazistas, de outro quem tem que aceitar ser chamado de nazista para continuar buscando conhecimento e discussão. Isso radicaliza pessoas. E como o lado dos justiceiros sociais está diretamente conectado com uma percepção infantilizada da realidade, a maioria dos adultos vai sentir que tem algo errado ali. O cidadão médio humano é expulso da infância muito cedo por um mundo cruel e violento, e não consegue mais se conectar com a inocência de heróis e vilões perfeitos que os “guerreiros de redes sociais” enxergam.

Essa dissonância elege Trumps e Bolsonaros. Essa dissonância faz com que consigam maltratar James Watson agora, mas que o tornem um mártir no futuro. E aí, ao invés de ser lembrado pelas suas contribuições no mapeamento do genoma humano, vai ser lembrado por pessoas que defendem visões realmente racistas. Planos de crianças não consideram o futuro, e é exatamente isso que acontece nesse caso do James Watson: o clima social infantilizado gerado pela histeria politicamente correta não consegue enxergar um palmo diante do rosto, e vai criar movimentos reacionários enormes no futuro, estamos vendo só a ponta desse iceberg.

Somos diferentes. Mas temos que conviver, de preferência deixando a ciência fazer o seu trabalho.

Para me chamar de nazista porque eu usei palavras que você não entende, para dizer que lacrador preso na infância faz muito sentido, ou mesmo para dizer sente falta de só poder achar uma pessoa babaca sem querer destruir a vida e o legado dela: somir@desfavor.com


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