Skip to main content

Colunas

Arquivos

Tudo lixo.

Tudo lixo.

| Desfavor | | 16 comentários em Tudo lixo.

Um assunto domina a internet nos últimos dias: a fala da influenciadora digital conhecida por fazer streaming de jogos, Gabi Cattuzzo, e o posicionamento da marca de acessórios para games Razer. Na última sexta-feira (25) Gabi publicou uma foto sua em um touro mecânico e recebeu comentários com ofensas sexuais em tom de piada. Irritada, a influenciadora respondeu de forma ríspida. Quando questionada se precisava generalizar as ações masculinas, Gabi, acostumada com ambientes dominados por homens, respondeu sustentando seu discurso. A resposta da marca foi dada em uma nota nesta segunda (21) dizendo que a Gabi Cattuzzo não é porta-voz da empresa e que o contato de divulgação da influenciadora não será renovado. A resposta, apesar de agradar parte do público da marca, decepcionou muitas pessoas — principalmente o público feminino. LINK


Só a gente acha que essa polêmica não deveria existir em nenhuma das etapas que existiu? Desfavor da semana.

SALLY

Para quem não está a par da confusão, um breve resumo: uma influenciadora digital (aquelas pessoas anônimas, mas com muitos seguidores, que as marcas pagam para divulgar seus produtos em redes sociais), que representava uma marca de acessórios para games, postou uma foto sua montada em um touro mecânico, fazendo uma piada. Não havia nada de sexy na foto, era humor mesmo.

Logo depois, um rapaz postou outra piada em resposta: “Pode montar em mim à vontade”, com uma carinha sorridente ao lado, o que indica que aquilo não era para ser levado a sério. A moça ficou putíssima e começou com um discurso que, em meio a muita grosseria, culminava com a conclusão que “homem é tudo lixo”.

Uma terceira pessoa se meteu e disse, com toda a educação, que ela não precisava generalizar. Ela disse que precisava generalizar sim e, novamente, em meio a grosserias, disse que “homem que não é MERDA é exceção”.

Minha opinião sobre o tema é bastante impopular e eu vou ser curta e grossa: no mundo não existem vítimas. Você cria sua realidade. Você atrai para perto de você pessoas compatíveis com o seu estado interno. Se, aos olhos desta moça, na realidade desta moça, os homens que aparecem são todos lixo ou merda, a minha conclusão é de que ela está se sentindo um lixo e uma merda.

Só pode estar se sentindo um lixo e uma merda para ser tão neurótica insegura dando tamanha dimensão a uma brincadeira (ainda que de péssimo gosto) feita por um estranho em redes sociais. Internet tem seu bônus e seu ônus. Ela faz dinheiro ali, por ter muitos seguidores (bônus), como qualquer trabalho, tem um lado negativo (ônus), que é: ao ter muitos seguidores você se sujeita a todo tipo de pessoa, inclusive uns mais malucos ou inconvenientes.

Se isso te faz mal, se isso te desestrutura, faça outra coisa para ganhar dinheiro. Eu, por exemplo, não estava mais aguentando fazer o que era preciso fazer para ser uma operadora do direito e decidi recomeçar, mesmo trabalhando na área há 15 anos. Portanto, esta mocinha, na flor da idade, pode fazer o mesmo.

Fato: se você tem muitos seguidores, vai aparecer inconveniência de tempos em tempos. Ou não se deixa afetar, ou sai fora para não se sujeitar a algo que te faça mal. Ficar e se aborrecer é um puta projeto de sofrimento que apenas uma pessoa que se sente um lixo ou uma merda (portanto, que merece alguma punição) cria para si mesma.

O ideal seria não dar importância ao que desconhecidos falam. A ofensa está na cabeça do ofendido. As coisas têm a importância que nós damos a elas. Sim, está em seu poder escolher isso, ainda que em certas situações, em um primeiro momento, não pareça. Quando pisam no nosso calo tendemos a reagir quase que instintivamente, mas nossa mente pode ser treinada para ver tudo de um novo ponto de vista.

Ela não deve ter sequer a noção da vergonha que passou. É aquela velha frase: “Quando Maria fala de João, sabemos mais sobre Maria do que sobre João”. Pessoas não falam verdades absolutas, pessoas falam coisas que espelham seu estado interno.

Por óbvio, o estado interno dessa moça deve estar muito ruim, pois ela só está encontrando em sua realidade homem lixo, homem merda. Não adianta chutar o espelho, se você não gosta do que vê na sua vida, a transformação tem que ser em você, aí sim a realidade muda. Não há nada externo a você. Não há vítimas. Você cria sua realidade.

Além disso, por outro enfoque, quero deixar consignado que essa coisa de cobrar da marca o que ela fez ou deveria fazer é coisa de mimadinho débil mental sem vivência e sem capacidade de frustração. São empresas privadas, elas podem fazer o que quiserem desde que respeitem a lei.

Se a empresa achou que a postura da moça não está alinhada com aquilo que querem passar ao consumidor, a empresa tem o sagrado direito de não vincular mais sua imagem à da moça. Não gosta? Não compre mais nada da empresa. Querer obrigar uma empresa a comungar da sua filosofia de vida é de fazer cair o cu da bunda.

Ninguém TEM QUE nada. Sua opinião pessoal só é importante para a pequena bolha que te cerca: família, amigos, etc. E é apenas a SUA opinião, não uma verdade absoluta, é o seu ponto de vista da sua realidade. E, acima de tudo, NINGUÉM TE DEVE NADA. Se você não internalizar isso rapidamente, vai sofrer muito quando tiver que sair de redes sociais e ir para o mercado de trabalho, para a vida real, como de fato essa nova geração Rivotril está sofrendo.

Uma empresa pode fazer um comercial só com gente magra, é sagrado direito da marca. Uma empresa pode vender apenas roupas P (que só cabem em um feto) ou PP (que só cabem em uma boneca Barbie), é sagrado direito da marca. O mundo não é como você gostaria que ele fosse, o mundo é como ele é, e se você tem vontade de mudá-lo, saiba que não será gritando e se vitimizando. O mundo se muda com consciência, não com briga, embate e vitimização.

A vida real não é uma bolha de redes sociais ou dos seus amigos. Para transitar nele com sanidade e serenidade, sem depressão ansiedade ou qualquer outro transtorno da mente, você precisa ser forte. E para ser forte você precisa adquirir cada vez mais consciência. Brigar é ser fraco. Ser combativo é ser fraco. Atacar é ser fraco. Geralmente tanto em cães como em seres humanos, os que atacam são os mais medrosos. É um mecanismo de defesa, e muito bobo. Se alguém vive no ataque, pode ter certeza que essa pessoa tem um medo enorme dentro dela.

Partir para o ataque contra outra pessoa que falou algo em redes sociais só mostra que o que quer que seja que ela fez, doeu em você, a ponto de te desestruturar, de te tirar do seu estado normal. Você está dando um poder enorme a essa pessoa quando faz isso.

Ser forte é deixar que nada externo a você te abale, é não colocar suas metas em coisas externas a você, é ter a plena consciência do seu valor e de quem você é independente do olhar de terceiros e sem se incomodar com o olhar deles. Uma pessoa inteira não se deixa abalar pelo que estranhos dizem, muito menos transparecem isso, dando poder a estes estranhos.

Se ofender com gracejos ou até grosserias virtuais é coisa de mulher DÉBIL MENTAL. Basta bloquear a pessoa e seguir sua vida. Mas o ser humano adora apontar o erro dos outros, para se sentir menos merdinha. É bem visto pela sociedade, é uma pessoa guerreira, que luta por uma causa, que não leva desaforo para casa. Só que não. Uma sociedade doente só poderia ter uma visão doente mesmo…

Em vez de usar seu tempo olhando para dentro, percebendo seus erros e corrigindo seus erros, é mais agradável pegar um coleguinha que errou e jogar o holofote nisso, divulgando o erro alheio (que faz você parecer melhor) e, no auge de um devaneio egóico, tentando “corrigir” a pessoa que errou. Como somos magnânimos, não? Banhamos o outro com nossa sabedoria infinita, depois de dar algumas porradas para puni-lo pelo erro.

Ao atacar o rapaz, esta moça ganhou para si: 1) afagos dos que compraram seu papel de mulher vítima desrespeitada por homens, 2) sensação de poder e pertinência ao ver que um chamado seu convoca um bando para defende-la ; 3) Distração dos seus próprios problemas e coisas a serem corrigidas, pois está focada no erro alheio e 4) uma aura de detentora da verdade e do que é certo, trucidando o errado e ensinando à sociedade como é correto se portar. É muito ganho secundário, né? Por isso ninguém olha para as próprias questões, muito melhor apontar as do colega.

Por isso a coisa está como está. Todo mundo tá ligado no erro alheio, propagando uma corrente de ódio e acusação, uma batalha hostil e dualista. Se cada brasileiro usasse o mesmo filtro que aplica nos outros para olhar para as próprias atitudes, já teriam se dado conta de muitos defeitos próprios e teriam oportunidade de corrigi-los. Hoje estaríamos melhor, provavelmente não seriamos o primeiro lugar mundial em índices de transtorno de ansiedade e em uso de Rivotril.

Anotem esta frase para a vida: NINGUÉM CORRIGE O OUTRO. VOCÊ SÓ CORRIGE A SI MESMO. E, ao corrigir a si mesmo, indiretamente, “corrige” o outro, pois atrai para você uma realidade melhor, com pessoas mais compatíveis com sua forma de pensamento. Só assim você torna o mundo um lugar melhor: colocando mais uma pessoa consciente nele. Esqueçam essa mentira de “salvar” os outros, trabalhem a vocês mesmos e o resto se resolve.

Parem de olhar tanto pra fora e passem a olhar mais pra dentro, foda-se o erro dos outros, ele não tem que te abalar nem ser importante para você. O que importa são os seus erros. Apontar e trabalhar seus próprios equívocos é o que pode fazer sua vida realmente melhorar.

Para dizer que prefere continuar apontando o erro dos outros, para dizer que de uns tempos pra cá não entende mais nada do que eu escrevo ou para dizer que viveu para ver tempos sombrios onde o texto mais objetivo é o do Somir: sally@desfavor.com

SOMIR

A cada passo dessa história, existe uma forma mais simples e madura de lidar com a situação. Nem digo mais racional, porque não é razoável esperar que seres humanos ajam dessa forma na maior parte do tempo. Acreditem em quem está tentando há muito tempo: o emocional tem um controle gigantesco sobre nossa forma de lidar com o mundo e você só vai se frustrar se não conseguir aceitar esse fato. Isso vale para as nossas ações e as ações dos outros. Passamos um tempo limitado no campo da racionalidade, e mesmo quando chegamos lá, podemos ter nosso senso de lógica contaminado por sentimentos mal resolvidos nesse caminho.

Digo tudo isso para reforçar o que você leu no texto da Sally: quem está num lugar de segurança e serenidade internamente toma melhores decisões. Sejam elas de fundo emocional ou racional. Dito isso, vamos analisar essa situação fase por fase e encontrar os problemas:

1 – Cidadã posta a foto na rede social e alguém faz um comentário sexual: eu nem posso começar a imaginar como pode ser cansativo para uma mulher lidar com isso. Nunca vivi e nunca vou viver essa sensação exatamente por ser homem. Mas eu tenho na memória a forma como a maioria das mulheres lidavam com isso num passado nem tão distante. E tinha algo de diferente ali que eu acredito que as mulheres de hoje estão perdendo: a segurança. Quando se começou a equiparar o abuso online com o abuso real, a linha entre o que configurava uma violação das liberdades de uma mulher foi começando a ficar mais difusa.

Como o ambiente online não presume interação física, mas muita gente tem a vida definida pela forma como se porta ali, a vida real vazou para dentro da tela, e ninguém parece ter entendido ainda quais os limites disso. Em outros tempos, a diferença entre um comentário sexual de um homem e um abuso físico era muito clara. Mulheres tinham a tendência de não equiparar as coisas, respondendo a uma ameaça consideravelmente menor quando as coisas estavam puramente no campo da verbalização. Antes dessa equiparação de abuso online com abuso real, talvez essa moça tivesse ignorado, desencorajado ou mesmo tirado um sarro com o cidadão.

Mas hoje em dia, para mulheres que vivem de exposição na internet, um comentário desses está quase parecendo um abuso físico. Isso está gerando pessoas neuróticas, inseguras sobre suas relações com pessoas que não estão por perto, sentindo ataques quase que físicos com palavras na internet. Um pouco mais de segurança da parte dela e a bomba estava desarmada ali mesmo. Mas como há o incentivo para a mulher agir de forma bélica na internet, vimos a explosão acontecendo.

2 – Homens sentem-se ofendidos com a mensagem dela: algumas partes da nossa cultura ainda estão protegidas dessa insanidade moderna, e por sorte uma delas é a liberdade para criticar homens em geral. Por isso, sem medo de repercussão alguma, posso dizer que todos os homens que se ofenderam e pediram a cabeça dela pelo o que ela escreveu estão convidados a devolverem as bolas, porque são uma vergonha para o gênero. Mas não vou só criticar, vou explicar de forma simples porque não faz sentido se ofender:

Generalizações desse nível são bobagens. Ninguém segue mesmo essas coisas. Se você encontrar uma mulher que diz que todos os homens são lixo (e ela se sentir atraída sexualmente por homens), as chances delas se interessar por você são idênticas às de qualquer outra mulher que não tenha dito isso. Todo mundo fala essas coisas e todo mundo continua à procura. É uma emoção mal expressada. Não muda nada no mundo. Além disso, vestir a carapuça é uma escolha pessoal. Quem quer se sentir ofendido vai se sentir, quem não quer vai ignorar. Se você tem um mínimo de segurança sobre o que é, críticas genéricas nunca vão te doer. E se no meio desse caminho você conseguir descobrir um ponto onde pode melhorar, transforma negatividade em valor agregado para você.

Homens costumavam ser melhores nisso de não se ofender por mulher criticando outros homens em geral, mas já notamos uma degeneração dessa segurança. Parece que estão se rebaixando à cultura da vitimização e nivelando por baixo a relação entre os gêneros. Um homem mais de bem consigo mesmo só reviraria os olhos para esse comentário. Um homem contaminado pela doença que é essa guerra cultural moderno quer bater de volta porque por algum motivo bizarro, sentiu-se atacado. Você escolhe se um comentário genérico de internet te atinge.

3 – A marca cortou relações com ela: negócios existem para fazer dinheiro. Marcas não são suas amigas, marcas não existem para defender interesses ideológicos. A Razer poderia muito bem ter ignorado a pressão e mantido sua contratada, mas poderia também ter feito o que fez e enviado um foco de polêmica para longe do seu esforço publicitário. Ninguém aqui sabe os cálculos que foram feitos, mas eu presumo que o público-alvo da marca não seja de mulheres empoderadas. Joguem pedras, mas ninguém precisa de mouses e teclados caríssimos para jogar Candy Crush e The Sims (sim, talvez algumas de vocês não sigam esse padrão, mas todas as pesquisas mostram que mulheres jogam basicamente só jogos de celular e simuladores de casinha). Na média, o público que consome o material deles ainda é o bom velho nerd. Mulher streamer é contratada porque forma um bando interminável de nerds sedentos ao seu redor, não por causa do público feminino.

Se os nerds inseguros estão bravos com a marca por causa dela, azar dela. Essa é a parte que menos tem a ver com estados emocionais, porque a marca só pode reagir com decisões técnicas a partir do que seu público-alvo está fazendo. Marcas fogem de polêmicas. Nada para ver aqui.

4 – Chatos começam a brigar com a marca: chamam de público feminino, mas tem muito homem nessa também. São os chatos da “justiça social de internet”, gente que reclama de tudo se tiver como colocar sua narrativa preferida. Se uma das suas classes protegidas sofre alguma represália, correm para pedir a demissão de quem escreveu algo ruim. Se um outro grupo faz o mesmo, eles se juntam para reclamar do absurdo que é pedir a demissão de alguém só porque disse algo que ofendeu alguém na internet. Novamente, questão de segurança e estabilidade emocional.

Quem fica se posicionando como guerreiro pela justiça na internet deveria ser mais capaz de enxergar que as regras que forçaram na comunicação online vão eventualmente servir para punir alguém que eles gostam. Ao invés de reclamar com a Razer, deveriam ficar felizes: o sistema funciona. Podem demitir quem quiser por causa de um comentário na rede social. Se fosse um desejo honesto de justiça na cabeça deles, seria fácil aceitar um contratempo e seguir em frente pela causa maior. Mas não tem causa maior: é mesquinharia mesmo. Não é sobre justiça, é sobre exercer poder sobre quem julgam ser o inimigo.

Quem faz essas coisas já está com problemas bem maiores por dentro. Essa necessidade de causar o mal para o inimigo que sequer conhece demonstra como tem algo podre e mal resolvido dentro da pessoa. E isso fica evidente quando não conseguem enxergar que a tal da Gabi caiu pelo clima que eles mesmos criaram. Se eu fosse lacrador, consideraria apenas uma casualidade numa guerra que está sendo vencida. Mas se eu fosse lacrador, eu não estaria pensando, né?

Para dizer que adora quando a gente bate em todo mundo ao mesmo tempo, para dizer que é gamer gurrrl (ninguém se importa), ou mesmo para dizer que ser humano é tudo lixo: somir@desfavor.com


Comments (16)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: