Paunocuzação em série.

Séries dependem de suas personagens. São as conexões humanas que nos fazem ter interesse pela história. Sally e Somir concordam que mesmo nas melhores, algumas dessas personagens são insuportáveis, mas não qual a que merece o maior grau de incômodo. Os impopulares atuam.

Tema de hoje: qual a personagem mais pau no cu da história das séries?

SOMIR

Eu realmente queria ser hipster aqui e falar de alguma série que vocês não conhecem, mas a putez com Game of Thrones não passa tão cedo. Tenho que ir com Jon Snow. Um dos arcos de história mais desperdiçados da história da TV! Eu sei que a discussão não é sobre o final mais cagado, e sim sobre a personagem mais pau no cu, mas poucas personagens são mais insuportáveis que Jão das Neves quando você sabe no que a história dele vai dar.

Desde o começo, ele era o ponto fora da curva na narrativa. Numa série de personagens que tentavam ao máximo fugir de clichês, Jon Snow era um exemplo óbvio de “underdog”, a personagem que começa totalmente na merda e vai crescendo junto com a história. Passava a sensação de algo como Luke Skywalker, o zé ninguém que eventualmente se tornaria um grande herói. Na primeira conversa entre Tyrion e Jon já dava para sacar o que vinha por aí. Jon passaria pela jornada do herói… o que até certo ponto é tolerável, afinal, boas histórias precisam de alguma estrutura para acompanhar.

Mas não era um bom começo. Ele destoava como o arco mais óbvio da história. Até por isso demorou um pouco para assumir o protagonismo da série, passando por sofrimentos e aprendizados no caminho, como era de se esperar. A história se enchia de reviravoltas, surpresas e mistérios, mas Jon continuava sua jornada previsível. Sempre um bunda mole, com raros lampejos de coragem, normalmente empurrado por outras personagens. Jon foi empurrado roteiro acima com a expectativa que ele se pagaria no futuro.

E por muito tempo, várias temporadas, ele foi sendo tolerado por essa expectativa: a do dia que se tornaria alguém com alguma espécie de peso na história, não só um boneco reagindo aos elementos. Agora que sabemos que os produtores da série ficaram de saco cheio e desistiram de tudo nas últimas duas temporadas matando todos os arcos da história, Jon Snow foi tolerado por nada.

Toda aquela carência e necessidade de aprovação por oito temporadas. Herdou o senso de honra suicida do pai e o útero da mãe. Sempre assustado, confuso, talvez o ator tenha contribuído para a insuportabilidade com aquela eterna cara de quem está segurando para não se cagar, mas as atitudes dele contribuem muito mais para a putez com sua inépcia na história. Arcos de coitadinhos cansam rapidamente se o coitadinho não faz nada com aquilo. Jon faz muito pouco, seu grande ato na série toda é um de diplomacia, o que impacta a história, mas não transforma toda aquela energia acumulada de só tomar pancada em nada de novo.

Estávamos esperando o momento no qual Jon faria uso de sua experiência de vida para agir de verdade, mas os roteiristas preferiram que ele se tornasse pau mandado de “mulher empoderada” pela quantidade de cretinas que se tornaram fãs da série e escolheram Snow como o mocinho que ficaria com a “rainha culpa branca”. Se há algum alento no final cagado, é que esmagou os sonhos dessas harpias mongoloides. Como é a sensação de ter seu casamento dos sonhos estragado por dois homens com preguiça e medo de comprometimento?

Um dos clichês mais imbecis dos últimos tempos é o de “mulheres super poderosas” no cinema e séries: para apelar para um público que basicamente só reclama na rede social, retiram os defeitos de personagens femininas e as colocam ao lado de homens fracos e extremamente burros. O curioso é que nerds já faziam isso há décadas com mulheres “perfeitas” em suas histórias, mas era basicamente o resultado de isolamento do sexo oposto e idealização. O protagonista masculino desajeitado e inexperiente que ganhava o coração da mulher poderosa era uma fantasia de inserção do nerd, e por incrível que pareça foi mantido quando mulheres começaram a consumir o conteúdo. E aí, os nerds como eu que já passaram dessa fase e sacaram o mecanismo precisam ver essa babaquice se espalhando sem parar pela mídia.

O que basicamente matou Jon Snow e o tornou extremamente frustrante de se assistir. Dava para notar como a personagem era enfraquecida e acovardada para aumentar o valor das “empoderadas” na sua vida. Tornou-se inconsistente traindo seus princípios expostos a duras penas durante a série para manter essa ilusão de personagens femininas perfeitas, e quase toda vez que aparecia na tela da quinta temporada para a frente, era para que não esquecêssemos que ele ainda existia. O único momento de redenção da personagem foi sua morte. Pelo menos o arco fechava: era realmente filho de Ned Stark, morrendo como ele morreu. Mas não… tinham que arrastar ele para fora do túmulo para ser capacho de empoderada e manter os números das pesquisas de popularidade lá no alto.

Ele se tornou tão boneco do roteiro, um fantasma tão pálido do que seu arco na história deveria alcançar, que aceita entrar no romance mais sem química da história da TV e agir feito um bunda-mole sem cérebro pelo resto do seu tempo na tela. Até seu grande momento final é mais do mesmo: ele era a faca que mataria Daenerys e só. Aguentamos a fraqueza dele por oito temporadas só para que ele tivesse um final broxante e covarde. Não assumiu o Norte, porque tinha uma empoderada para colocar no lugar, não disse para ninguém que tinha direito ao trono, porque os produtores tinham que forçar um final surpreendente de qualquer jeito… não fez nada. Não defendeu a família, não se rebelou contra o sistema que o manteve subjugado, não fez bosta nenhuma.

Antes de sabermos o final, restava uma esperança que ele poderia fazer algo e completar seu arco na história, mas depois que a série acabou, não tinha mais para onde correr: foi tudo em vão. Horas e horas de cenas de um pau mandado para absolutamente nada além daquela cara de constipação perpétua. Não tem nada mais irritante do que perder seu tempo. Até o Locke do Lost tinha alguma redenção: apesar de tudo, ele estava certo no final, era tudo uma palhaçada religiosa tirada do rabo e ele foi fiel aos seus princípios. Jon Snow não, ele foi só tempo das nossas vidas que não pode ser recuperado. Poderia ser qualquer outro personagem em qualquer uma de suas cenas. Não tem nada mais pau no cu do que isso.

Para me chamar de misógino, para me chamar de incel, ou mesmo para dizer que é mulher e está de saco cheio dessas fantasias de poder infantis com tetas te representando nas telas: somir@desfavor.com

SALLY

Qual é o personagem mais pau no cu da história dos seriados?

Skyler White, a esposa de Walter White no seriado Breaking Bad. Ela personifica tudo que há de chato, controlador, neurótico e insuportável em uma mulher, reforçando um estereotipo péssimo. Machismo não é criticar gorda ou dizer que celulite é feio, machismo é fazer um seriado onde todas as mulheres são insuportáveis, malucas e dependentes de homem. Parabéns, Breaking Bad!

No papel, Skyler deveria ser uma mulher com nervos de aço, que nunca se desespera nem perde seu eixo, ao menos isso é o que foi dito pelos autores da série. Porém, um roteirista coloca muito de suas crenças pessoais ao criar um personagem e, ao que tudo indica, os roteiristas responsáveis por Skyler tinham mães ou esposas totalmente neuróticas. Não estou sozinha, forma criados grupos e fóruns pelo mundo todo para falar mal de Skyler, o estereotipo clássico de mulher chata. Ninguém gostava dessa mulher.

Ao perceberem o ódio do público pela personagem, declaradamente a favorita do autor da série, justificaram dizendo que era misoginia, que eram machos opressores criticando uma mulher que não se calava e não era submissa a um marido bandido. Quanto entendimento equivocado…

A atriz que interpretou esse papel lixo credita o ódio ao fato da personagem não fazer todas as vontades do protagonista. Negativo. Ninguém queria uma Skyler submissa, tudo que se pedia é que ela não fosse absurdamente chata, hipócrita e interesseira. Poderia peitar o marido de frente sem ser neurótica e pau no cu.

E outra: ela nunca foi empoderada como tentam fazer parecer. Sempre dependeu do marido, nos bons e nos maus tempos. Além disso, era dependente emocional. Veja bem, seu marido some diversas vezes, dorme fora de casa, se recusa a dizer onde está, tem um segundo telefone sobre o qual nunca te contou e você não tem o numero… o que você faz?

Uma mulher empoderada dá um pé na bunda de um sujeito desses. Skyler não. Skyler é mulher que vasculha as coisas do marido para tentar descobrir algo, aquele típico caso de mulherzinha insegura e neurótica que não tem autoestima: “se ele quer me excluir disso, eu não vou permitir”. Ora, se alguém quer me excluir de algo, fique à vontade, não vou forçar minha presença ou não sou bem quista. Skyler era uma Control Freak chata, insuportável, grudenta e vitimista.

Ela cobrava mil satisfações de quem claramente não estava disposto a dá-las. Vasculhava as coisas do marido, ligava até para a mãe dele para tentar ter acesso ao que ele não queria contar. Francamente, que mulherzinha deprimente. Chataaaaaaaa. Inconveniente. Aquele típico caso de pessoa neurótica que pensa “é MEU marido, eu tenho o direito de fazer o que eu quiser”. Não dá para respeitar uma pessoa assim, sobretudo se levarmos em conta que TUDO que ela fez foi com um marido com câncer em estágio terminal. Custa deixar o cara em paz em seus últimos meses de vida?

Quando Skyler descobre uma ligação de seu marido para um aluno (Jesse Pinkman) mexendo no celular de Walter sem que ele saiba, ela vai até a casa do rapaz de surpresa, confrontá-lo e tentar extrair informações. Você apareceria do nada na casa de um aluno do seu marido apertando o menino para tentar descobrir algo? Problemas conjugais se resolvem em casa, não se envolvem terceiros de fora, muito menos se estes terceiros estiverem vinculados ao local de trabalho da pessoa.

Além de tudo, é uma hipócrita. Recrimina as atividades criminosas do marido (que só entrou nesse meio para deixar algum dinheiro para a família, já que morreria em pouco tempo), mas rapidamente revê seus conceitos e começa a aceitar o dinheiro sujo.

Não valem nada as convicções da filha da puta. Mesmo ciente das atividades ilícitas do marido e do dano que isso causou à família (sua irmã é casada com Hank um agente do departamento de combate ao tráfico que investigava o caso) ela mente para irmã e a faz aceitar dinheiro das drogas para dar assistência a Hank. Além de fazer caridade com dinheiro alheio que ela tanto criticou, ainda coloca a carreira do marido da irmã em risco.

Não bastasse tudo isso, a guardiã da moral e dos bons costumes ainda tem um caso com seu chefe, Ted. Não apenas tem um caso, como ainda faz questão de contar para seu marido que está “fucking Ted”. Olha o nível da gentalha! Foda-se o que o outro fez com você, descer o nível dessa forma te faz uma pessoa nefasta, baixa, promíscua e nojenta. E descer o nível assim posando de “o lado certo”, da juíza moral, da julgadora mor é caso para tijolada na boca mesmo.

Skyler passa o seriado todo fuçando nas coisas dos outros sem o menor respeito, julgando, dando lição de moral, reclamando ou se vitimizando. É o pior pesadelo que qualquer marido possa ter. Depois de ameaçar Walter de todas as formas, de detoná-lo ao saber que ele fazia meta-anfetamina, a virtuosa Skyler monta um esquema de lavagem de dinheiro para limpar os lucros obtidos com tráfico de drogas. Mulherzinha incoerente, hipócrita, sem moral.

Skyler é uma contradição ambulante, um compilado de decisões erradas, sempre jogando a culpa dos resultados negativos nos outros. Ela causa o acidente de Ted, seu amante. Ela é responsável por quase todas as desgraças que acontecem no seriado, graças à incapacidade de alinhar um discurso moralista com seus atos completamente imorais e ilegais. Uma vendida que em dez segundos abre mão de suas convicções quando começa a receber dinheiro vindo de tráfico de drogas.

Bastou o dinheiro entrar que Skyler virou tudo que ela criticava no marido: começou a mentir para tudo e todos, começou a burlar a lei, etc. Mas sempre julgando o marido, mesmo fazendo as exatas mesmas coisas que ele. Ela sempre foi uma vítima. Ninguém a obrigou a ficar ali, ela ficou por ser uma mulherzinha patética de baixa autoestima, se tinha que sentir raiva de alguém, que fosse dela mesma. O faniquito que ela dava não era para proteger a família ou para não descumprir a lei, era apenas pelo fato de ser contrariada.

Sinceramente, Jão das Neves foi um personagem bem bosta, não acrescentou absolutamente nada além de matar a rainha louca, mas pelo menos não atrapalhou. Skyler paunocuzou do primeiro ao último episódio, encheu o saco, transtornou, reclamou. Foi desagradável de se ver, cansativo, irritante.

A personagem é um desfavor para o seriado e também para a imagem das mulheres.

Para dizer que não viu Breaking Bad, para dizer que não viu Game of Thrones ou ainda para dizer que não tem personagem mais pau no cu que o John Locke de Lost: sally@desfavor.com

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Comments (5)

  • Professor Girafales. Eu sempre gostei dos personagens do Chaves, mas sempre tinha mais ódio dele quando batia no Seu Madruga do que da Dona Florinda. Sempre torcia pro Seu Madruga usar as técnicas do boxe pra dar umas porradas no Mestre Linguiça.

  • Não vi nenhuma das séries. Acho q sou muito “do contra”. Qto mais falam de uma série, menos vontade tenho de ver. Talvez por achar q se é popular deve ser uma bosta. Só depois q estreou a terceira temporada de Stranger Things é q dei o braço a torcer e assisti. E pra minha surpresa achei sensacional. Nela o personagem pau no cu pra mim foi o Will.

  • Todo personagem detestável de série já teve algum momento ameno em que a gente poderia até simpatizar um pouco com o indivíduo, mas a Skyler foi insuportável praticamente do primeiro ao último minuto de sua aparição em BB. Pra mim, não tem melhor escolha do que a da Sally.

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