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Escrotos da Pandemia.

Escrotos da Pandemia.

| Sally | | 32 comentários em Escrotos da Pandemia.

Como temos um elefante branco no meio da sala (a condução desastrosa de uma pandemia por um Poder Público ignorante), algumas atrocidades menores estão passando abaixo do radar. Mas estão ali e falam muito sobre o brasileiro. Hora de falar delas, já que mais ninguém parece querer tirar o foco da desgraça principal. Sim, senhoras e senhores, o Brasil está tão cagado, que até quem acerta erra. Fiquem de olhos nesses tipinhos, e mantenham distância, hoje e sempre, pois quem se porta de forma escrota no meio de uma desgraça, não vai hesitar em pisar seu pescoço.

Sabemos que a condução do Bolsonaro tem sido a pior possível, mas, ainda assim, por mais que ele mereça todas as pedras que eleitores venham a atirar, a coisa muda de figura quando falamos se subordinados hierárquicos. Ninguém é obrigado a trabalhar para o Bolsonaro, é uma escolha. Quando você trabalha para alguém, deve respeito e fidelidade a essa pessoa. Se não suporta ou não concorda, é bem simples: sai fora. Ficar e detonar seu superior para o país todo ver é falta de caráter.

Sei que vocês querem que o Ministro da Saúde fique, pois no meio de lunáticos ele parece ser a voz da razão, porém o que ele está fazendo é de uma falta de ética sem tamanho. E quem falta com a ética com um, faltará com outros no futuro, inclusive com vocês. Esse pensamento seletivo de “quando sacaneiam alguém que eu não gosto pode” é nojento, vil, baixo. Sua ética deve independer do interlocutor, é sua. São seus valores, seus princípios. Eles não podem oscilar conforme a pessoa, pois isso te faz um hipócrita.

O Ministro diz que não se abandona um paciente doente, mas ele não precisa abandonar o Brasil, pode apenas abandonar o cargo e ir trabalhar em um Estado que esteja alinhado com sua política de isolamento social. Por mais correto que ele esteja no mérito, ficar forçando uma imposição de baixo para cima é escroto e muito errado. E, cá entre nós, quem segura o Bolsonaro no cargo é o Mandetta. Se ele sair, o Bolsonaro cai, o que me faz pensar que é muito melhor que ele saia.

E não é só o Mandetta. Basicamente todos que cercam o Bolsonaro, excetuando os Bolso-Filhos, estão ridicularizando-o, em graus mais discretos ou escancaradamente. Pode ser a discreta risada de deboche do Mourão, pode ser o tiro de fuzil na cara do Presidente da EMBRATUR, que postou, sem a menor cerimônia, em suas redes sociais, aquele Meme do Caixão, onde pessoas carregam um caixão e dançam, com a cara do Bolsonaro em uma das pessoas que carregam o caixão. Vocês devem ter achado graça, eu achei graça, mas analisando pelo aspecto da ética, é um horror. Não é por desgostar do Bolsonaro que eu vou achar que está tudo bem em faltar com a ética dessa forma. Não caiam nessa armadilha.

Outra babaquice que tem se tornando ainda mais comum são as fotos de “Fulana posa de biquini e empina o bumbum”. Francamente, alguém acha que tem clima para sensualizar? Quem estiver sozinho e carente que acesse os milhões de recursos pornográficos que existem disponíveis hoje, os portais de notícias são para notícias, para informar o público sobre algo pertinente. Não entendo como alguém pode achar ok postar que um bebê de cinco dias faleceu de Coronavíris, com uma foto da mãe aos prantos e ao lado a Fulana que tira foto de biquini e empina o bumbum.

Fora que, todas essas Fulanas que tiram foto de biquini e empinam o bumbum se dizem feministas, falam em sororidade e criticam a objetificação da mulher. Entretanto, em tempos de menor exposição (tem até global fazendo isso), o desespero por mídia é tão grande que enviam foto do cu ao sol para não serem esquecidas e poderem fazer seus publiposts. Enquanto isso, notícias muito mais importantes, como quais máscaras caseiras tem maior índice de proteção ficam em segundo plano, muitas vezes nem chegam a aparecer no portal de notícias.

E não critico os portais aqui pois eles nunca mentiram: querem cliques, querem dinheiro, querem visualizações. Nunca disseram o contrário. Nunca discursaram em sentido oposto. São escrotos, mas ao menos não são hipócritas. Já essas mocinhas da sororidade, se ficam duas semanas sem serem citadas pela mídia esquecem todo o discurso de objetificação da mulher, todo o feminismo projaquiano e não pensam duas vezes antes de enviar esse tipo de foto. Depois falam do combate ao vírus. Sabe o que combate o vírus? Não postar foto do seu cu soterrando notícias que ensinam a combater o vírus.

Outro desfavor que virou moda no Brasil são as Lives de cantores, em especial sertanejos, permeadas por condutas muito reprováveis. Se você vai transmitir algo ao vivo da sua casa, sendo um formador de opinião, tome um mínimo de cuidado para não ser um escroto e, em vez de entreter as pessoas, levar mensagens erradas. A partir do momento em que você liga uma câmera e torna público ao mundo o que está fazendo, tenha a adequação de se portar de uma forma decente, sobretudo quando uma tragédia já matou mais de cem mil pessoas no mundo todo.

É gente entupindo a casa de pessoas (até com garçom para servir os convidados!) em época de isolamento social, é gente deixando ver drogas ao fundo, é gente bebendo até cair e estimulando a bebedeira… Já seria feio normalmente, mas quando o mundo está de luto, quando a mãe de alguém morreu ontem e a mãe de alguém vai morrer amanhã, quando pessoas estão no limite do psicológico, trancadas em quarentena, estimular o extravasamento por festa, bebedeira ou drogas é indecente. Que tipo de pessoa lixo estimula bebedeira em um momento social onde todos tempos que estar atentos e cuidadosos?

Na mesma linha, tem os sem-noção que usam a quarentena ou o isolamento social para ostentar. Fotos de uma mesa farta, de um bom vinho em uma taça, uma sala enorme com seis sofás e a legenda “quarentene-se”. Vai tomar no cu, sabe? Não é momento de ostentar nada, muito menos bens materiais em público. Estamos em uma época de privação, de sofrimento, de luto. Não vai ajudar a ninguém ver a sua fartura. Não estou mandando esconder nada, só estou sugerindo não ostentar.

Fica mais difícil se trancar em uma casa de um cômodo com um marido bêbado (estimulado pela Live dos sertanejos) e oito filhos quando você vê gente no maior conforto ostentando bens materiais. É óbvio que isso gera um sentimento errado de “para essa pessoa é fácil, né? eu não consigo ficar em quarentena nas minhas condições”. Passa a impressão de que quarentena é coisa “para quem pode”, e não é. Tem que ser para todos.

As mensagens têm que ser de união, de resiliência, de luta em conjunto contra um inimigo comum: um vírus letal. O foco não é na porra do vinho que a pessoa está bebendo ou na piscina na qual ela se refresca. Tenham um mínimo de sensibilidade social, em tempos de guerra e procurem despertar união, em vez de relembrar aos outros como estão melhores do que eles.

Tem os coveiros, os Sônia Abrão, os urubus que devem passar o dia vasculhando o obituário para encontrar os “merecedores” da morte e ir no seu perfil ou no dos seus familiares tripudiar que a pessoa, a mãe ou o filho morreu. Não resta um pingo de humanidade em gente assim.

Não interessa em quem a pessoa votou, se foi a manifestação no meio da quarentena, se disse que o vírus não existia, se peidou molhado… não interessa nada, se essa pessoa está enterrando um filho de dez anos, é escroto ir no perfil dela e dizer que é bem-feito que a criança tenha morrido. Se a pessoa está internada doente, é escroto ir ao perfil dela rir da sua situação e desejar que ela morra.

Quer rir? Quer achar que foi merecido? Faça-o no seu perfil, no seu blog, com os seus amigos. Invadir a vida da pessoa que está sofrendo para tripudiar é falta de caráter, muito cuidado com quem faz isso, esse tipo de pessoa um dia será sem caráter com você também.

Religiões que de alguma forma colocam interesses pessoais acima do bem estar de seus fiéis também não faltam. Confesso que até me surpreendi positivamente, pois muitas religiões que eu sempre critiquei, como o catolicismo, estão se mostrando bastante cuidadosas com seus fiéis, mandando que fiquem em casa, fazendo eventos online e dizendo que Deus está com você e te escuta, onde quer que você esteja.

Em contrapartida, tem outras, principalmente as evangélicas, que estão contratando carros de som para passar nos bairros dizendo que o Coronavírus acabou, que estão seguros, que podem sair pois Deus não permitirá a morte deles. Tudo isso para fazer com que as pessoas compareçam fisicamente aos templos, o que permite que recolham o dízimo. Não tenho palavras para expressar o que eu sinto por essas pessoas.

Se sua religião ou seus prepostos estão fazendo qualquer coisa parecida com isso, estimulando as pessoas a saírem de suas casas seja lá por qual motivo for, repense seriamente se vale a pena seguir esse tipo de pessoa. Pode ter certeza de que o seu Deus vai te escutar se você falar com ele desde a sua casa, sem pagar um centavo para ninguém, sem a necessidade de intermediários. Quem afirma o contrário é um filho da puta explorador. Não precisa de reza, não precisa de altar, não precisa de tempos. Para falar com o seu Deus basta a intenção. Ele não está na igreja, no céu, no pastor, ele está dentro de você.

Pessoas que pregam discriminação ou até discurso de ódio contra doentes ou supostos doentes também são uma categoria de novos nazistas da qual devemos manter quilômetros de distância. É inacreditável que pessoas estejam hostilizando profissionais da saúde que estão dando o melhor e arriscando suas vidas para salvar doentes. É inadmissível que preguem avisos nos elevados proibindo essas pessoas de fazer isso ou aquilo no prédio onde moram. É de uma falta de humanidade e ingratidão sem tamanho.

Os profissionais da saúde estão trabalhando, muitas vezes, 14h seguidas, sem comer, sem beber água e sem poder ir ao banheiro (sim, usam fraldas) para tentar aproveitar ao máximo os poucos equipamentos de proteção que tem (se fizerem um intervalo, o equipamento deve ser descartado). Alguns estão trabalhando sem equipamento de proteção, “protegidos” apenas por um saco de lixo. Pessoas que arriscam suas vidas para salvar as nossas, e, em vez de aplausos e gratidão, estão sendo hostilizadas, como leprosos: expulsas de transporte público, impedidas de entrar em seus prédios e tantas outras barbaridades. Sem palavras. O brasileiro médio é que é tóxico, não os profissionais da saúde.

E pessoas que usam o falso dilema “preservar a saúde ou preservar a economia”? Já temos tempo de pandemia suficiente para desmentir isso. Estudos sérios mostram que não entrar em quarentena rapidamente causa mais do que o dobro de prejuízo econômico para um país do que insistir em continuar trabalhando em uma pandemia. Basta olhar para os países que não pararam: Itália, EUA e tantos outros. Estão se fodendo dobrado. Estão gastando dobrado. Estão paralisados da mesma forma que se tivessem feito quarentena, mas por mais tempo.

Pessoas doentes e mortas não produzem, não custa lembrar. Quanto antes um país fica em quarentena, menos tempo ele ficará parado, portanto, menor será o prejuízo final. E, sinto informar, o Brasil ainda nem entrou em quarentena. Quando entrar, só sai em 2021. E não, não é uma força de expressão, são projeções de quem entende do assunto. Demorou para entrar? Vai demorar para sair. Esse isolamento social merda que estão fazendo é prenúncio da desgraça.

Da mesma forma, fuja de canalhas que supostamente defendem a população dizendo que vão passar fome e que as pessoas têm “o direito” de sair para trabalhar para não passar fome. Quem defende a quarentena não exige que o quarentemado passe fome. Cabe ao Estado cuidar dessas pessoas e fornecer o mínimo para uma existência digna, de modo a proteger suas vidas e impedir que tenham que ir às ruas trabalhar se expondo ao risco de contágio e expondo o sistema de saúde a um colapso.

Então, quem defende o direito das pessoas de trabalhar é um baita de um filho da puta. As pessoas devem ter é o direito de ficar em casa sem que nada lhes falte, amparadas pelo Estado, sem precisar se expor e expor seus familiares a risco de morte para conseguir comer. Em vez de gastar tempo e energia tentando jogar as pessoas na rua para correr riscos, pressionem o Estado para que ele cuide dessas pessoas. Sim, há dinheiro para isso.

E, é claro, como sempre, tem os ícones, os guerreiros, os heróis que reclamam por pouca merda em público. Fulaninha reclama que sente falta de fazer sexo – força guerreira. Tem gente passando fome, tem gente morrendo em corredor de hospital, tem demissões em massa, mas sua vida sexual é a grande preocupação que você quer compartilhar com o mundo, né princesa?

Tem gente reclamando que o cabelo está feio pois não pode ir ao salão fazer retoques – força ícone. Um vírus para o qual não existe vacina se alastrou pelo mundo, tem tanto morto que estão sendo enterrados em covas rasas sem atestado de óbito, mas o que te aflige e merece ser compartilhado com o mundo neste momento é a raiz do seu cabelo. Pessoas em um grau de desconexão com a realidade que sequer tem a noção de que, por mais que se sintam assim, devem calar a boquinha.

Enfim, temos muitos outros tipos de pessoas nocivas, em tempos difíceis o ser humano mostra o que há de melhor e de pior dentro dele. O importante e o que quero destacar neste texto é: fiquem de olho. O que a pessoa faz agora diz muito sobre ela.

Marquem essas pessoas escrotas, para nunca votar nelas, aturar discurso moralista delas, consumir nada que venha delas. São pessoas que não valem a sua atenção. Se forem do seu convívio, afaste-se, pois mais cedo ou mais tarde se portarão dessa forma asquerosa, egoísta e vil com você.

Para dizer que você fez metade dessas coisas, para dizer que está firme na torcida pelo Coronavírus ou ainda para dizer que esses são os que não vão ficar por aqui: sally@desfavor.com


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