Inimigo burro.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi considerado pouco inteligente pela maioria da população, segundo mostra a pesquisa do Datafolha divulgada nesta sexta-feira (26). LINK


Então por que tratá-lo como uma ameaça tão grande? Tem mais coisa aí… Desfavor da semana.

SALLY

Não falei sobre o tema até agora pois me custava acreditar que eu não estivesse cega, talvez por não morar no Brasil, talvez pela quantidade de pessoas que eu julgo serem inteligentes que me afirmam o contrário. Mas já me convenci de que eu não estou cega, então, lá vai: de onde vem esse medo RIDÍCULO que o brasileiro está desenvolvendo do Bolsonaro?

É simplesmente patético achar que o Bolsonaro pode causar uma ruptura democrática, uma guerra civil ou qualquer grande problema para o país. Vocês beberam? Vocês estão malucos? Bolsonaro é um incompetente que não consegue nem proteger os próprios filhos. Para fazer grandes gestos como impor uma ditadura é necessário, como mínimo, ter cérebro.

Não sei se vocês perceberam, mas Bolsonaro não tem cérebro. E quem tem cérebro, já se afastou dele faz tempo. Bolsonaro não tem poder, fez um escarcéu para conseguir mexer nas peças do tabuleiro para salvar o filho (o que inclusive lhe custou Sergio Moro, gerando um enorme desgaste) e mesmo assim Flavio e Carlos estão severamente encrencados. Bolsonaro não tem nem ao menos aprovação: apesar de distribuir cargos adoidado, não tem um grupo coeso de políticos apoiadores, o STF o detesta e, segundo as últimas pesquisa de opinião, a maior parte do povo não o aprova e ainda o acha burro.

No entanto, tem muita gente dizendo que Bolsonaro é perigoso para a democracia, que Bolsonaro pode causar isso, pode causar aquilo. Juro, demorou muito para que eu consiga entender de onde vem esse medo de uma pessoa que é claramente burra, sem poder e sem popularidade. Só posso concluir que as pessoas que sentem esse medo injustificado de um jumento sem habilidade precisam sentir medo de alguém para viver.

Me parece um jogo de mão dupla, que acontece em muitos setores da vida das pessoas, não apenas na política, onde cada uma das partes tira proveito da posição que ocupa, e, justamente por isso, o jogo se mantém por tanto tempo. Quando algo é apenas ruim para uma das partes, ela não fica muito tempo na dinâmica e pula fora. Para que uma relação assim se instaure é necessário, no mínimo, um ganho secundário, que, obviamente, nenhuma das partes vai admitir que tem.

É um jogo de opressor x oprimido. Quem tem vocação para vítima, quem almeja alguma condescendência, privilégio, afago ou atenção, cai no lado dos oprimidos: aqueles que gritam cada vez que o Bolsonaro fala alguma imbecilidade, “alertam” os outros em cansativas postagens de redes sociais sobre o quanto ele está errado, ameaçando a democracia ou sobre o quanto isso pode dar errado. São os guardiões da verdade e de tudo que há de bom, apontando o dedo para tudo o que há de ruim, felipenetando o dia todo e enchendo o saco.

Por outro lado, os fodidos sem relevância que querem sentir algum poder antagonizam com estas vítimas, dizendo coisas que sabem que vão aborrecê-las. Basicamente é o que Bolsonaro e seus seguidores fazem, com muita eficiência por sinal. É muito fácil ofender, alarmar ou chatear quem já está acomodado no papel de vítima, pode ser uma blusa tomara que caia, pode ser uma fala sobre meninos vestirem azul, vai ter gritaria de qualquer forma, e isso dá poder a quem conseguiu fazê-los gritar.

É o que a gente sempre diz aqui: alçar alguém à categoria de “inimigo” confere um poder e relevância enorme a essa pessoa. Se dar ao trabalho de ir antagonizar com ela só gera uma grande massagem no ego da pessoa que está sendo “atacada”. É a grande imbecilidade na qual a gente bate desde 2009: não gosta, não leia, em vez de dar ibope e perder seu tempo com essas pessoas – só que agora com uma nova roupagem. Tem alguém falando merda? Deixe essa pessoa morrer na escuridão, não perca um segundo da usa vida indo lá “revelar a verdade”.

Essa dinâmica só funciona e se perpetra por ser um lugar muito confortável para ambos os lados, por atender à necessidade deles. Ambos são desempoderados, mas com tendências diferentes. O lado das vítimas se sente poderoso por ser herói do Brasil lutando pela democracia contra um grande vilão, apontando erros, revelando verdades. Que se dane se são pessoas fodidas, em um relacionamento falido, com um emprego merda que as deixa infeliz, são os guerreiros da luz, que vão salvar o país e alertar os outros sobre a verdade.

Enquanto o outro lado, composto igualmente por desempoderados, se sente poderoso por irritar os babacas que perdem tempo refutando, indo confrontar e se indignando. Ver que alguém está perdendo sequer um segundo da sua vida para ir antagonizar com você dá sensação de poder a quem não o tem. Se sentir um opressor, um ditador, alguém passível da atenção de um desconhecido, alimenta egos frágeis: significa que você tem o poder de fazer com que uma pessoa olhe para você e de alguma forma se dê ao trabalho de interagir, mesmo que ela não te admire. Ou, em outras palavras: que bom que doeu.

E, para que esse jogo continue, é precisa causar cada vez mais impacto. É como o vício em drogas, a pessoa precisa de mais e mais quantidade para conseguir o efeito desejado. Isso significa que as brigas precisam ser cada vez maiores ou mais frequentes. As pessoas de fato parecem viciadas nessa polarização, isso praticamente define quem elas são. E nessa brincadeira de aumentar cada vez mais o tom até chegar a ações e reações ridículas, risíveis, vergonhosas. Basta ver do que militantes reclamam ou as coisas que o Bolsonaro faz para afrontar. Parecem crianças, é simplesmente vergonhoso.

E para que esse joguinho sadomasoquista aconteça, ambas as partes têm que topar. Quem não é desempoderado, apenas ignora o “outro lado” e o jogo não se estabelece. Quando esse jogo se dá, ambos os lados estão muito mal de cabeça. E, na real, nenhum dos lados o faz por ideologia ou qualquer motivo nobre: é egoísmo, é vontade de ter alguma relevância, obter alguma vantagem, algum holofote, algum reconhecimento.

Viver nesse antagonismo te torna protagonista de algo. Quem não tem protagonismo na própria vida, pelo que é, pelo que conquistou, precisa ir buscar isso em algum lugar. Que triste, né? Opressores e oprimidos, vítimas e algozes, oposição e situação, são todos o mesmo saco de bosta: gente desempoderada, carente, em busca de algum protagonismo.

Não entrem nessa furada, não se deixem contaminar pelo medo. Chega dessa mania de sempre procurar mocinhos e vilões. Não tem salvador da pátria, não tem destruidor da pátria. Não alcem um jegue como o Bolsonaro à categoria de ameaça. Não passem vergonha espalhando falas como se Bolsonaro fosse um grande estrategista, ele não tem cérebro para isso. Chega dessa dualidade, Bolsonaro é apenas um idiota e quanto mais vocês reverberam esse medo, mais status dão a uma pessoa que é apenas patética.

E como não dá para ser vítima de uma pessoa patética, muita gente vai preferir ver Bolsonaro como o demônio encarnado, como uma ameaça à democracia, como alguém que precisa ser combatido, afinal, quem a pessoa é se não for o guerreiro da luz que combate o mal? Um fodido.

Para tentar nos convencer da “ameaça Bolsonaro”, para tentar nos convencer da “ameaça comunista” ou ainda para confundir este texto com ser um conformista: sally@desfavor.com

SOMIR

Que muita gente que votou no Bolsonaro é pró-ditadura não é novidade alguma. Mas não são defensores raiz do autoritarismo, eu chamaria de fascismo Nutella: a ideia de um governo militar e nacionalista soa positiva como uma forma de controlar o ímpeto do terrível brasileiro médio, mas me parece mais frustração com o sistema vigente que propriamente o desejo de viver sob uma verdadeira ditadura.

Se a história nos conta alguma coisa é que o país continuou sendo uma bandalheira de corruptos, incompetentes e degenerados mesmo sob a mão de ferro dos militares. O PT não inventou os problemas que o Brasil tem. Nas décadas sob o comando dos generais não tínhamos uma diferença considerável na índole do povo, assim como no resto do mundo, tínhamos menos acesso à informação e mais discrição nos atos do dia a dia.

E tudo isso com um governo sem o menor pudor de acabar com a liberdade de expressão e perseguir, torturar e matar quem considerasse dissidente. Saber que não ganhamos nada com um governo autoritário é mera questão de estudo e bom senso. Se tudo o que estivesse impedindo esse país de ir para a frente fosse excesso de liberdade do povo, vá lá, mas no final do dia, ditadura ou não, esse país continua abarrotado de brasileiros. Brasileiros que não confiam em instituições (com motivo), que são costumeiramente punidos por demonstrar honestidade e desejo por excelência, que sofrem com desnutrição na infância e acabam severamente limitados nas suas capacidades cognitivas… ah, como eu queria que o problema fosse só o STF. Um cabo e um soldado para resolver tudo! É bom demais para ser verdade.

O desejo de que as coisas sejam tão simples assim provavelmente move essa gente que clama por uma ditadura. E por mais que esse comportamento de querer simplificar o mundo para caber na cabeça seja extremamente comum, não são tantos assim que escolhem esse caminho. Se você quer reduzir a realidade a uma solução mágica, o bufê de soluções é muito variado. Do comunismo ao fascismo ao liberalismo, não faltam “ismos” para serem as soluções definitivas de todos nossos problemas sem muito esforço. Assumir uma dessas posições acalma a mente, nos faz sentir parte de uma tribo e menos sozinhos na complexidade interminável da vida em sociedade. Com tanta oferta de ideologia, era inevitável que todo mundo acabasse com uma de estimação.

E aí, começa o verdadeiro problema na mente humana: se você realmente acredita que exista uma solução para tudo, começa a se perguntar por que mais gente não enxerga a mesma coisa. E aí, duas opções: ou tem algum motivo para sua ideologia de estimação não ser tão perfeita assim, ou tem alguma força externa impedindo que o resto da humanidade enxergue a verdade. Adivinha qual é a escolha mais comum nesses casos?

Quanto mais gente tomada por ideologias sobre as quais não se debruçou o suficiente para entender, mais “inimigos” surgem no mundo. Pessoas que votaram no Bolsonaro para resolver todos os seus problemas descobriram rapidamente que seu presidente não teria capacidade para isso. Mas ao invés de achar que um presidente colocado no poder para alterar a moralidade da população obviamente não teria sucesso, decidiram que o inimigo era a democracia e suas instituições. É por isso que o Bolsonaro não está impedindo que as pessoas se tornem gays: o STF está impedindo!

E a insanidade não é exclusividade da direita, a esquerda (que antigamente defendia o trabalhador, mas foi tomada quase que totalmente por lacradores) fez da busca por inimigos a razão de existir. A relação entre opressor e oprimido que estava na sua base foi tornada num fetiche sadomasoquista: tudo é uma relação de poder. São pessoas que colocam um imenso valor no papel de ser vítima, utilizando a quantidade de sofrimento como ponto de desequilíbrio em discussões. Ideias doentias como “lugar de fala” vão tomando conta de um sistema político que sofria uma crise de identidade desde o fim da União Soviética. O burguês não é mais o inimigo da esquerda. O burguês coloca bandeiras de arco-íris em junho no perfil da rede social e diz que vidas negras importam. O proletariado está ocupado demais definindo suas posições de poder baseadas em gênero e raça para se importar. Essa gente matou o socialismo porque queriam mais inimigos do que só o explorador financeiro.

Assim como a direita, toda a questão é achar um inimigo. O motivo pelo qual as coisas não dão certo na vida. Se você tem um inimigo, você pelo menos acalma aquela parte do cérebro que coloca em dúvida se seus planos para resolver os problemas do mundo são tão bons assim… e aí, cidadão ou cidadã aceita qualquer coisa, desde que pareça um inimigo. O presidente cuja maioria da população o acha burro se torna capaz de sozinho oprimir todo mundo. Pra ser considerado pouco inteligente por tanta gente assim no Brasil (lembra da subnutrição na infância?) a pessoa precisa realmente se esforçar.

E mesmo assim, é o inimigo que está atrasando a pessoa. É impressionante como quase toda a cena política brasileira não se sustenta se você parar para pensar nas coisas por alguns minutos que seja. E como a história também nos ensina, se você tem um argumento muito furado, é melhor apostar na fé. O Brasil vai fabricando fanáticos com medo de um inimigo que consideram burro e limitado… isso é claramente necessidade de botar a culpa em alguém, de fetichizar a relação de opressor e oprimido ao ponto de tornar sua vida dependente disso: você é quem te oprime. Tire isso dos fanáticos dos dois lados e eles vão ter que pensar sobre o que estão defendendo… e eu desconfio que eles morrem de medo desse dia chegar.

Para dizer que eu estou muito fanático no meu centrismo, para dizer que está cansado(a) de defendermos tanto o Bolsonaro chamando-o de retardado para baixo, ou mesmo para dizer que o verdadeiro inimigo está dentro da sua cabeça: somir@desfavor.com

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Comments (14)

  • Não adianta um vocabulário impecável e não ter capacidade de raciocínio, querida. Este foi o mesmo pensamento das pessoas acreditando que não seria possível o Brasil burro colocar um mais burro no poder. Estamos no Brasil, você não mais, parabéns. Aqui, a burrice ou a crueldade são valores considerados pelo “centrão” podre do populacho, muitos nas “elites” de merda. Portanto, em países toscos como este pardieiro, um idiota pode conseguir instaurar uma ditadura, especialmente se ele for um ventrículo de gente mais graúda e escondida.

    • Ventrículo é uma parte do coração. Se você quis dizer que o Bostamito é controlado feito fantoche, o certo seria boneco de VENTRÍLOCO. Aprenda a escrever antes de falar da capacidade mental dos outros.
      E a possibilidade de uma guinada pro autoritarismo passa longe de ser novidade por aqui, acha mesmo que algum político realmente se importa com você?

  • Curioso é que, mesmo sendo tão “desempoderados”, sempre merecem texto cagando racionalidade. Mais inusitado ainda é que utiliza-se a “necessidade de ignorar” como argumento, que é exatamente o que os autores do blog poderiam fazer com os “desempoderados”.
    Falta de coerência, como de praxe.

  • “Tem alguém falando merda? Deixe essa pessoa morrer na escuridão,“

    Bom, perguntar não ofende.

    Por que fazem a coluna “processa eu”?
    Por que divulgam fofocas e falam sempre tão mal de Anitta, Neymar, Regina Casé, Didi Mocó, Felipe Neto e tantos outros, em vez de não darem importância?

    • Ainda bem que alguém finalmente notou a contradição! Eu me sinto livre agora.

      Posso finalmente revelar que o desfavor é tudo mentira. Na vida real eu já matei duas pessoas por discordarem de mim sobre a Anitta, decidi meu voto por causa do Didi Mocó, acabei com um casamento porque não aceitava a opinião dela sobre a Regina Casé…

      Ainda bem que isso já está confessado. Me sinto mais leve agora que admiti que um texto debochando de uma pessoa é idêntico em todos os sentidos a sofrer terrivelmente e dedicar sua vida ao que pensa dela.

        • Te perdoo por ter me magoado. Nada que um ano ou dois de terapia não resolvam… eu já ia fazer mesmo para lidar com meus sentimentos de ódio incontrolável pelo Neymar. Estou quase perdendo meu emprego por isso…

      • É… perguntar ofende mesmo.

        Deve ser por isso que você tem tantos textos falando mal de pessoas, anônimas e famosas. O ego é tão frágil que se ofende com perguntas. Mais fácil falar mal do que perceber que tá sendo contraditório dando relevância pra quem não merece.

        Boa terapia! Vai ser longa… :)

        • Obrigado! Vai ser uma jornada difícil, mas suas palavras me darão força.

          Editado: a pessoa ficou repetindo a mesma coisa compulsivamente e não vou aprovar mais nada por vergonha alheia. Eu nunca vou entender isso de ficar rastejando atrás de quem supostamente não gosta…

  • Não adianta ficar debatendo qual modelo de sociedade é melhor porque a maioria não liga pra economia, política, educação, tradição, religiosidade ou o caralho a 4. Só querem saber de sextar, comprar, beber, transar, resenhar etc. E quando tiverem na merda irão votar em quem mais prometer assistencialismo.

    Falando nisso, recomendo esta série de textos (leia na ordem):
    https://spandrell.com/2017/11/14/biological-leninism/
    https://spandrell.com/2017/12/13/bioleninism-the-first-step/
    https://spandrell.com/2018/01/21/leninism-and-bioleninism/

  • Política é a nova religião. Uma massa de pessoas desinformadas e manipuladas, fanáticas, defendendo um lado sem lógica, e demonizando o outro. Antigamente era Pagão x Cristão, hoje é Direita x Esquerda. O mundo muda, as pessoas não.

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