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Eletrônicos.

Eletrônicos.

| Sally | | 52 comentários em Eletrônicos.

A gente pensa que os eletrônicos tornam nossa vida mais fácil, mas, será que em algum lugar alguém está contabilizando a quantidade de vezes que eles atrasam nossas vidas, nos irritam, nos deixam na mão e simplesmente arruínam nosso trabalho?

Em tese, eles parecem uma boa ideia. O problema é que nem sempre eles funcionam. Eu diria que, na maior parte das vezes, essas porcarias fazem o que querem e nós, como não temos outra opção, esperamos por sua boa vontade, nos adaptamos, nos rendemos.

Eu estou de saco cheio dos eletrônicos no geral e acho que eles ganharam mais autonomia do que deveriam. Tem criança passando fome na África? Tem. Tem gente morrendo de coronavírus no mundo todo? Tem. Tem gente que nem energia elétrica possuí para ligar um computador? Tem. Mas esta é a semana do mimimi, onde vamos reclamar de problema de privilegiados.

Vamos começar falando por aquele que já me tirou vários anos de vida devido a aborrecimentos: o computador. Se você precisa de certos programas para fazer o seu trabalho (como photoshop, excel e outros) não tem muito para onde correr: ou vende um rim no mercado negro e compra algo da Apple (e fica escravo da marca para o resto da vida, tendo que vender outros órgão quando precisar adquirir novos modelos) ou cai na desgraça do Windows, que é o meu caso.

Como se não fosse ruim o bastante depender do Windows, o demônio ainda se apodera das pessoas que te cercam e as usa como instrumento para dar o pior conselho do mundo: “já que vai comprar um computador, compra um Dell, é o melhor”. E você acredita, afinal, você não sabe que o conselho advém de uma possessão demoníaca.

Você pensa: “vou investir, é meu instrumento de trabalho, vou comer salsicha com macarrão por seis meses para comprar um Dell”. Pronto, você acaba de riscar um pentagrama virtual online e nada nunca mais dará certo para você em matéria de trabalho.

Começa pelo ridículo de ser obrigado a escolher um PIN, uma senha ou sei lá qual é o termo correto para ligar o computador. Eu não quero. Eu quero um computador completamente arrombado. Eu quero que o mendigo da esquina possa abrir meu computador e mexer nele. Eu quero clicar no botão de ligar e que abra a porra da área de trabalho sem qualquer obstáculo. Eu consigo o que eu quero? Não. Ficou determinado que tem que digitar a porra do PIN.

Lá vai o atraso de vida de digitar PIN e esperar a porra do computador decidir se quer trabalhar. Na maior parte das vezes, ele quer atualizar. Sabe quando funcionário liga pro chefe e diz que não vai trabalhar pois está com diarreia? A diarreia do Dell é a atualização. Sempre e quando ele não quiser trabalhar, ele fica atualizando.

Mas, vamos supor que seja um bom dia e a porra do computador me faça a gentileza de funcionar assim, milagrosamente, de primeira. É um Dell, ele deveria ser rápido, não é mesmo? Não, não é mesmo. “Mas isso depende do uso que você dá ao computador”. Arquivo de texto, basicamente. Não forço ele com nada: jogos, vídeos, streaming, downloads… nada. O vagabundo só tem um trabalho: me permitir fazer pesquisas na internet e me permitir escrever textos do Desfavor. Mas parece que isso é demais para a Madame, muitas vezes o Dell não está disposto.

Depois de um período cansativo esperando essa desgraça ligar, vem o Windows e sussurra no ouvido do meu Dell: “bora sacanear essa otária?”. Os dois riem. Começa a rodar uma centena de programas que eu não quero, que eu não preciso e que eu não pedi.

Um “antimalawarewhatever” consome toda a memória e energia vital do computador, logo, ele não abre nada, ele fica travado, congelado, sem responder a um comando. Ligou? Ligou. Mas foi apenas figurativo. É o funcionário público que deixa o paletó na cadeira e não vai trabalhar.

Eu não quero essa merda de “antimalawarewhatever”, eu quero pegar mais vírus do que a Índia. O computador é MEU, eu paguei os olhos da cara nele, se eu quiser encher ele de vírus eu deveria ter o direito. Eu posso escolher? Não, não posso. Essa merda vai rodar, atrasando minha vida, me impedindo de abrir arquivos, deixando o computador travado ou, na melhor das hipóteses, lento e engasgando.

Sem sacanagem, tem dias que demoro mais de uma hora para efetivamente conseguir começar a trabalhar depois que o computador liga. E ele é novo, ok? Não é o modelo mais foda, mas também não é nenhuma porcaria. Isso não deveria acontecer. Mas acontece, e não pode ser que seja só comigo. Deve acontecer com muita gente e tá todo mundo tomando no cu calado.

Vou no gerenciador de tarefas e a lista é maior do que a de efeitos colaterais de remédio tarja preta. Tento fechar o que eu não preciso. Eu posso? Não posso, foda-se o usuário, mesmo que você só escreva arquivo de texto trocentos programas de proteção vão ficar rodando ao fundo e você não pode desinstalar.

Ainda aparece aviso impertinente dizendo que eu não tenho autorização para fechar esse programa. Irmão, se eu, que sou a porra da dona, que paguei por essa merda, não tenha, quem nesse mundo tem? Isso mesmo: ninguém. A máquina só faz o que ela quer. Bem-vindos à modernidade.

“Mas Sally, se você fechar algo importante, pode ser que o computador pare de funcionar”. FODA-SE. QUE PARE. A ponta da cadeia alimentar sou eu, eu comprei essa merda, eu deveria ter o direito de fazer com que ele pare de funcionar, com que ele pegue fogo, com que ele exploda. Como assim vai vetar uma ação minha? Quem está no comando? Eu tenho que ter o direito de fechar até o cu do computador se eu quiser.

“É para proteção”. Eu não quero proteção, eu quero autonomia. Eu quero um computador arrombado. Eu quero poder clicar no “veja as fotos na nossa festa, ficaram ótimas” e encher ele de vírus. Eu quero decidir o que roda e o que não roda nele. Mas ninguém se importa com o que eu quero, ele vai rodar o que ele quiser e se eu estiver descontente, que compre uma máquina de escrever de depois vá tomar no meu cu.

E, para me relembrar do meu lugar, de tempos em tempos eu tomo uma sacaneada. E ele sabe onde dói e ataca lá. O mais comum é simplesmente corromper algum arquivo importante do Word, de preferência algum trabalho que eu tenha que entregar no dia seguinte. Melhor ainda: o arquivo do “A Semana Desfavor”, que eu passei sete fuckin’ dias catando manualmente. Vai lá e some com dez páginas de notícias!

O arquivo está devidamente salvo, o arquivo está na porra do Drive também, por questões de segurança. Eu faço tudo certo. Mas, lá vou eu trabalhar nele e a tela fica azul. Quando o computador reinicia, não é mais possível abrir esse arquivo, pois está corrompido. Não adianta tentar restaurar, não adianta tentar voltar para a versão de dois dias atrás, não adianta nem macumba. Está perdido, foda-se eu e meu trabalho. Posso fazer o que for, até dançar Ragatanga vestida de esquimó, que sempre aparece o mesmo aviso: “não foi possível abrir seu arquivo, ele está corrompido”.

Corrompido está o caráter de quem fez essa merda de Windows, tomara que a Melissa tome até a última cueca do Bill Gates no divórcio. Todas as tentativas de resgatar o arquivo são inúteis. Nesse ponto você pode estar pensando que eu sou uma inepta e não sei como fazer (e sim, você está certo), mas já recorri ao Somir e ele, depois de horas, também fracassou (na ocasião perdi dois textos do desfavor que seriam postados naquela semana). O arquivo está corrompido e ponto final, foda-se você, seus compromissos, seu trabalho e sua saúde mental.

Aí você pensa: “beleza, eu sou precavida, eu salvei no Drive”. Você vai no drive e só falta aparecer o Sérgio Mallandro na tela: está corrompido também. Não só o filho da puta do computador corrompeu meu arquivo sem motivo algum, como também se encarregou de corromper meu backup.

Não há motivo para isso acontecer. Não há denominadores comuns quando isso acontece. Quando ele está no clima, ele corrompe um arquivo. É como uma providência divina para me relembrar, de tempos em tempos, quem manda ali. Não gostou? Escreve em uma folha de papel com uma caneta, foda-se você.

Nessa mesma linha, vem os celulares. Eu fiz uma promessa faz bastante tempo: nunca mais na minha vida compraria um Samsung, tamanha a quantidade de lixo que vem nele e que não se pode desinstalar. Sigo fiel até hoje, mas não resolveu meu problema, pois meu atual celular também sobre de excesso de autonomia.

É de se esperar algum aviso ou até uma pergunta quando serão realizados procedimentos importantes, como por exemplo, uma atualização. Mas não para o meu celular. Quando ele quer atualizar, ele vai e atualiza, não importa o que eu esteja fazendo. Posso estar atropelada no meio da rua tentando chamar paramédicos que a Madame simplesmente desliga e começa uma atualização que dura, com sorte, uma hora.

“Já tentou mexer nas configurações?”. HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! As configurações parecem ser mera sugestão para determinar a sua preferência, que pode ou não ser lavada em conta pelo aparelho. Já tentei mexer nas configurações sim, já entrei em contato com o fabricante, já acionei o Papa Francisco. Quando meu celular quer atualizar, ele atualiza e pau no cu de quem não gostar. Quer controle? Pega dois copinhos de plástico, passa um barbante pelo meio e se comunica assim, otária! Meu Nokia Tijolão nunca fez isso comigo, sempre foi parceiro, mas essas porcarias modernas, elas não estão nem aí para o que você quer.

E se você usar um celular que tenha o sistema operacional Android (a maioria tem), você tem que ter uma conta Google. Não quer ter uma conta Google? Se fodeu, otário, vai ter que fazer uma. Você não pode escolher. Aí você vai e cria uma porra de uma conta Google só para saciar o ego do celular, para que ele deixe bem claro quem é que manda e nunca mais mexe nela. Só que um dia você vai precisar mexer nela novamente, ah vai. Nem que seja na hora de trocar de celular e passar as informações de um aparelho para outro ainda mais maldito – quanto mais modernos, mais malditos eles ficam.

Você lembra a senha? Óbvio que você não lembra a senha, você criou essa conta Google à revelia, contra sua vontade, forçada e humilhada por um celular tirano. Aí vem todo o processo de redefinir uma senha, que pode ou não ser bem-sucedido.

Já cheguei ao extremo de tentar por horas a fio uma senha que eu tinha certeza de que era a certa. E era mesmo, pois depois de apanhar, muito passei a anotar as senhas e essa estava anotada. Mas eles só aceitam quando querem, foda-se se a senha está correta. Pedi para redefinir a senha e, depois de várias perguntas insolentes, me foi concedida a graça de redefinir a senha. Digito a senha e aparece um aviso: “atenção, sua nova senha não pode ser igual à senha anterior”. SE ESSA ERA A SENHA ATERIOR POR QUE CARALHOS NÃO ENTROU QUANDO EU DIGITEI?

Para me humilhar, obviamente. Para mostrar quem está no comando. Não, não estava com maiúsculas, não houve erro de digitação, não fiquem do lado das máquinas e joguem a culpa para mim, é isso que elas querem, nos jogar uns contra os outros. Todo mundo aqui já viu que eventualmente essas coisas têm vontade própria, não é possível que aconteça só comigo.

Esses “avanços” nos eletrônicos são feitos a pretexto de facilitar a vida dos usuários, mas não são, são para te humilhar, para te deixar refém de uma vontade desconhecida. Talvez a culpa não seja das máquinas, talvez tenha alguma agência secreta onde pessoas randomicamente sacaneiam o usuário: “bora trocar a senha daquela otária?”.

E agora ainda tem a gracinha da “nuvem”. Eu não quero que informação nenhuma minha “vá para a nuvem”. Eu desmarco todo tipo de autorização, backup ou qualquer possibilidade de fotos, conversas ou dados irem “para a nuvem”. Adianta? Claro que não, tudo que o eletrônico deseja jogar na nuvem ele joga e foda-se o meu querer. A partir do momento em que eu inseri uma informação nele, esta informação não me pertence mais e se eu não gostar disso, eu que pegue uma pena, um tinteiro, um mata-borrão e escreva assim.

Houve um tempo em que eu me recusava a entrar em redes sociais pois acreditava ser um ambiente de evasão de privacidade. Pois bem, a evasão de privacidade chegou até mim, me foi imposta pelos eletrônicos. Rede social não é nada perto do que computador e celular fazem com a sua privacidade.

Percebi que, mesmo sem qualquer rede social, basta eu falar sobre determinado assunto que, no dia seguinte, recebia e-mails com propaganda sobre esse assunto. Qualquer assunto: roupa para bebê, óculos, hemorroidas. Se eu falar que quero matar alguém no dia seguinte chega spam sobre jogo de facas. Foi quando percebi que não adianta mais, foda-se, ter rede social não faz a menor diferença. Não há mais privacidade.

Veja bem, não estou falando de buscar por passagem aérea para Pindamonhangaba na internet e no dia seguinte chegar propaganda de hotéis em Pindamonhangaba no meu e-mail. Estou falando de uma conversa privada, entre duas pessoas, com celular fuckin’ desligado e chegar spam sobre isso no dia seguinte. O microfone dessa porra capta tudo e não tem nada que você possa fazer a respeito.

Na categoria propagandas por buscas na internet, minha vida também vira um inferno. Por causa do Desfavor, pesquiso todos os assuntos que vocês possam imaginar: suicídio, pessoas que enfiam objetos no cu, medo de palhaços… e tudo isso se reverte em publicidade tóxica para mim. Do nada, um popup no celular de um acessório para fazer uma chuca! Eu não quero receber propaganda de nada ou de ninguém. Eu posso escolher? Não, eu não posso escolher. Se quiser privacidade eu que envie meus textos do Desfavor através de sinais de fumaça.

Por isso cada vez que alguém tenta me “vender” como algo bom que existem geladeiras com computador, carros com computador de bordo e outros no estilo, eu me arrepio e mostro os dentes tal qual gato em fúria. Eu lá quero mais objetos com computador? Jamais! Eu não quero objetos tomando decisões por mim, me obrigando a coisas, me deixando na mão. Estar online ou ter algum computador é motivo para me fazer não querer comprar o que quer que seja!

Vai chegar um tempo em que daremos comandos a eletrônicos e eles passarão a responder: “Ah, você quer isso? Foda-se”. E vamos continuar usando, pois somos escravos dessas merdas. Eu não aguento mais ser sacaneada por eletrônicos e depender deles.

Para dizer que, se olhar pelo ângulo certo, isso não é um White People Problem, para dizer que se eu acho Dell uma merda deveria experimentar um Positivo ou ainda para dizer que eu estou ficando velha: sally@desfavor.com


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