Onde está Wa… Lázaro?

A força-tarefa que tenta prender Lázaro Barbosa entra no 16º dia. Para conseguir localizar o suspeito de cinco mortes, as equipes usam imagens de satélite e drones que conseguem registrar movimentação a 250 metros de distância e, inclusive, a noite. Cerca de 270 policiais de diferentes forças de segurança participam dessa operação, que está concentrada em Girassol, distrito de Cocalzinho de Goiás. LINK


Não é só um semianalfabeto dando olé na polícia do país, é só mais uma notícia que reforça como o brasileiro nunca sabe o que está procurando. Desfavor da Semana.

SALLY

Quem não sabe o que procura corre o risco de não o reconhecer quando o encontrar. Não é apenas uma frase feita, é o nosso fio condutor para o Desfavor da Semana: o brasileiro não sabe o que procura (forma de corrigir a merda na qual se encontra), por isso, periga nunca encontrar. Ao não entender o que procura, desperdiça seu tempo e energia nas coisas erradas e é feito de gato e sapato, por psicopata no meio do mato e por psicopata em Brasília.

O que o brasileiro procura hoje: conseguir se dar bem, conseguir vantagem, conseguir tirar do outro, tipo cachorro de rua quando disputa as sobras do lixo. Na cabeça do povo, o país é essa merda que está e sempre será, logo, o melhor que eles fazem é usar de todos os recursos para assegurar a sua sobrevivência em um ambiente de escassez e injustiça. Pois bem, estão procurando errado. O que tem que procurar é uma forma de melhorar essa bosta de país.

Mesmo quem consegue ter um senso de coletividade e fala no desejo de mudar o país, costuma não saber o que procura, pois vai buscar a mudança fora (na lei, no voto, na punição). Apontam sempre para caminhos errados e andam em círculos, pois querem mudar de fora para dentro e isso é impossível.

Ao procurar sucessivas vezes e não encontrar, se frustrar e se chatear, o brasileiro resolveu tirar proveito de viver em um país merda. Hoje, a maior parte dos brasileiros acaba vendo um ganho enorme em manter essa desordem e descaso que está o país, afinal, se isso perdurar, ele também pode fazer o que quiser e não respeitar regras.

Essa pandemia veio como um aviso em letras garrafais: não compensa viver na desordem para que você também possa ser desordeiro. Isso mata. Não adianta ficar reclamando, culpando político, culpando tudo fora e agir de forma malandra, esperta, individualista e egoísta. Isso mata. O problema do Brasil não é o Lázaro ou o Bolsonaro, o problema do Brasil é o brasileiro. Lázaro e Bolsonaro são apenas um sintoma de uma doença que já existia.

Não adianta querer resolver um problema sem atacar o problema. Atacar Lázaro ou Bolsonaro é perda de tempo. Obviamente ambos devem ser punidos, pois cometeram crimes, mas isso nem de longe vai resolver o problema.

O problema não se resolve de fora para dentro e sim de dentro para fora. O problema não se resolve com punição, votação ou morte. O problema se resolve com mudança. E, meus amigos, quando falamos em mudança, a única que podemos operar é em nós mesmos, todas as outras são perdas de tempo fadadas ao fracasso.

Essa é a ordem: a melhora tem que começar pelo povo. Não cola mais esse discurso de “eu faço isso pois o país é uma merda, quem não agir assim não sobrevive”. O país é o que vocês constroem. O país nunca vai mudar se vocês não mudarem antes. E cada um só pode promover uma mudança em si, nunca no outro, se ficar esperando que o outro mude primeiro, ficarão eternamente na merda.

E é aí que o brasileiro empaca: não é a resposta que ele quer ouvir, não é a solução que ele acha mais conveniente. Ele não quer fazer a coisa certa pois vai ficar na “desvantagem”, uma vez que o resto vai continuar fazendo a coisa errada e ele vai se sentir otário. Isso, meus caros, se chama imaturidade. Maturidade é parar de se comparar com os outros e começar a se comparar com você mesmo anos atrás para mensurar progresso.

O que eu sou, o que eu escolho, o que eu faço, de forma alguma pode se pautar nos outros. Minha ética, minha moral, minha postura são só minhas e fruto das minhas escolhas, não do que a sociedade “me obriga”. Quem acha que se não fizer malandragem vai se ferrar, vai passar fome ou vai ficar para trás não entendeu absolutamente nada da vida e vai apanhar muito. Ser correto e pensar na coletividade sempre gera melhoras para a vida. Além disso, pelas minhas décadas de experiência, me parece que o brasileiro vê um ganho enorme em manter essa desordem, afinal, se isso perdurar, ele também pode fazer o que quiser e não respeitar regras.

Quando se escolhe fazer bandalhas, dar jeitinhos, fazer espertezas, se cria um país onde um psicopata malnutrido, com privação de sono, sem boa escolaridade dá olé em mais de 300 policiais, muitos deles tropa de elite. Também se cria um país onde o Presidente se recusa a comprar uma vacina aprovada pela ANVISA, com mais de 90% de eficácia, pela metade do preço, para comprar uma não aprovada pela ANVISA, demorando muito mais para chegar e por um preço muito maior, para levar dinheiro nessa compra.

Quando se escolhe furar fila da vacina com atestado falso, ser sommelier de vacina adiando a vacinação e permitindo maior circulação do vírus, quando se escolhe sair de casa a lazer pois “o ser humano não nasceu para ficar trancado” se cria uma sociedade merda. Não vai sair nada de bom de uma sociedade onde as pessoas pensam mais em si do que no coletivo, onde as pessoas seus desejos ou vontades em detrimento da ética, onde se arrumam desculpas para fazer o que é mais conveniente para si mesmo causando prejuízo a terceiros. Não adianta tentar. Não adianta reclamar. Não adianta mudar o voto. Mude você, é a única coisa possível.

Quando se vive querendo cinco minutos de fama, promovendo uma falsa felicidade ostensiva ou controlando a vida alheia em redes sociais, se cria um país onde um psicopata que está fazendo vítimas há mais de dez dias é tratado pela mídia como estrela de um reality show, com reportagens sobre o que ele comeu, o que ele gosta, o que ele disse. A espetaculização (se não existe, criei) de tudo no Brasil autoriza e incentiva que a imprensa promova dessa forma um criminoso, fazendo com que vários que pensavam em enveredar por esse caminho o façam, pois é certeza que vão ganhar fama.

Não adianta criticar a imprensa. Não adianta criticar a polícia. Não adianta criticar nada. Foi construída uma sociedade onde há espaço para que se faça de um crime um entretenimento. Nada vai mudar com as suas críticas, abaixo-assinados ou protestos. Mude você, é a única coisa possível.

É como um pacote: ou você mora em um país que te trata de forma séria e você se porta de forma séria, responsável e ética, ou você se porta de forma malandra, esperta, conveniente, sem pensar no coletivo e recebe isso de volta do seu país. Esse grande sonho dourado de boa parte dos brasileiros de serem espertos, egoístas e se darem bem vivendo em um país civilizado não existe, não é viável.

O brasileiro tem o Presidente que merece, que o reflete, que o representa. O brasileiro tem a Polícia Federal que merece. O brasileiro tem o país que merece e não vai mudar isso nem com reclamação, nem com violência nem sequer com voto, pois enquanto não mudar a mentalidade, vai continuar votando merda. Só tem um caminho de mudança: comece por você, seja você a mudança que quer ver no mundo.

Ao ser uma pessoa ética, consciente e preocupada com a coletividade, isso vai transformar o país. “Mas só eu vou mudar, o resto vai continuar sendo uma cambada de filho da puta”. Problema deles, você fez a sua parte. Acredite, quando você se mexe, seu entorno se mexe junto, está tudo entrelaçado. Ao menos parte da sua realidade você vai mudar – e para melhor.

Então, para quem está querendo desesperadamente ver uma melhor no país, eu dou essa sugestão: você não sabe o que procura, por isso não consegue alcançar. Não há mais de uma possibilidade, o que você procura é: seja a mudança que você quer ver no mundo. Você só pode mudar a você mesmo, e quanto mais demorar a começar essa mudança ou colocar empecilhos, mais tempo vai viver em um shit hole. Pronto, agora você já sabe o que procura. Se quiser continuar procurando por isso, terá sucesso e contribuirá para um mundo melhor. Se não, continua aí nesse shit hole, mesmo que você esteja bem, uma hora a merda chega em você.

Mas, se tem uma coisa que aprendi em meus tempos de professora, é que a melhor didática é bom exemplo marcante. Por isso, preparamos uma surpresa para o leitor: desde que começou esse destaque da mídia à caça de Lazaro Barbosa (sábado passado), nós espalhamos Lázaros escondidos em todas as imagens do Desfavor. Não sei se vocês acharam, mas, se acharam, não comentaram. Quando você não sabe o que procurar, fica mesmo muito difícil de encontrar.

Porém, daqui pra frente, vocês sabem o que procurar. Não sabem onde está, mas sabem o que procurar. Garanto que muitos vão achar, pois saberão exatamente o que estão procurando. Enquanto a polícia não prender o Lázaro, ele vai estrar aqui escondido nas imagens do Desfavor. E, cada vez que vocês encontrarem um Lázaro, lembrem-se: vocês são melhores do que Polícia Federal.

Para dizer que só vai mudar quando o resto mudar (é por isso que o país está na merda), para dizer que você já é tudo que tem que ser (é por isso que o país está na merda) ou ainda para compartilhar quantos Lazaros encontrou (se achou um você já é melhor que a Polícia Federal): sally@desfavor.com

SOMIR

Meu texto tem um grande risco de não ser lido, todo mundo deve ter ido procurar o Lázaro nas imagens da semana passada. Mas tudo bem, pelo menos os impopulares vão ter mais sucesso que a polícia brasileira.

Sim, o escândalo da Covaxin tinha mais cara de Desfavor da Semana, mas acreditamos que seja tudo sintoma da mesma doença. País onde se tolera incompetência é país corrupto, por definição. É teoria antiga aqui no Desfavor que o que mata o Brasil não é a roubalheira, e sim o motivo pela qual ela acontece: a glorificação da esperteza acima da capacidade.

Político bom é político que você até esquece que existe, gente que faz o trabalho para manter as coisas funcionando e não chama a atenção. Polícia boa, idem. Num país onde a polícia tem incentivo e meios para ser competente, o cidadão médio pode até esquecer que ela existe. Afinal, competência normalmente está relacionada com prevenir o problema antes dele acontecer.

Quando não usamos essa métrica para definir o sucesso dos agentes públicos, tudo vira uma questão do que ficou tão grave ao ponto de virar notícia. Vai empurrando com a barriga até alguém perceber. O esquema bizarro de favorecimento à vacina com intermediário ficou em segundo plano até o governo irritar tanto os senadores ao ponto deles se mexerem para fazer a merda do trabalho deles: fiscalizar o executivo.

E aí, virou notícia. Todo mundo se mexe nessa hora. Mas como a incompetência estava integrada em todos os momentos do trabalho governamental, agora a coisa começa a enrolar sem parar. O ministro da Saúde enche a boca para dizer que não compramos a vacina indiana, como se isso fosse a resolução do problema. Quando o presidente liga para o premiê indiano para pedir para acelerar o processo, a coisa já estava suja além de qualquer ponto de volta.

Como sou gato escaldado de combater à corrupção tupiniquim, sempre estou na espera de não dar em nada, afinal, as entidades que deveriam colocar limites no governo estão no bolso do governo. E os outros poderes até agora se mostraram mais afeitos a uma negociata do que cumprir sua função institucional. Veremos quanta putez ainda tem no tanque da CPI para continuar fuçando nessa história. Mas nada que uma verba generosa para a base deles não possa resolver… a oposição não vai ceder, mas a oposição ideológica pura é minoria.

E, claro, falando em notícia, quando Lázaro virou ponto de interesse da mídia e das memes nacionais, lá foi a polícia brasileira correr atrás do tempo perdido. A melhor chance de ter justiça no Brasil é fazendo barulho o suficiente para pressionar os agentes públicos. Um serial-killer corre solto pelo interior goiano, o que deixa a imprensa babando. Agora a polícia tem que se virar para achar um semianalfabeto no meio do mato, e o tempo que estão demorando só prova como não estavam preparados.

Porque o mal da incompetência é que na hora que a coisa aperta, ninguém sabe o que fazer. O plano é torcer para não dar nada errado, e por não dar nada errado eu quero dizer não virar notícia e emputecer a população. O triste é que esse plano funciona na imensa maioria das vezes. É uma conjunção astral rara que um descalabro das autoridades nacionais ganhe atenção o suficiente para exigir uma resposta eficiente.

E conhecendo o ciclo das notícias, ainda mais no século XXI, às vezes vale mais a pena esperar até o povo voltar sua indignação para outro tema do que correr para resolver a que você causou. A janela de oportunidade para a polícia achar Lázaro está se fechando, se demorar mais um mês, capaz de esquecerem a vergonha que estão passando agora. As pessoas vão esquecer.

E no escândalo da Covaxin, algo me diz que tem uma janela de oportunidade também. Estamos na mão do vírus: se a terceira onda for muito grave, a pressão e o interesse vão continuar. Se ela começar a ceder e ficar nessa média (absurda) de 2.000 mortos por dia que o brasileiro já se acostumou, é bem provável que o interesse no assunto vá enfraquecendo até a CPI achar mais valioso focar em outra coisa.

Em tese, esse sistema de pressionar entidades públicas assim que algo vira notícia poderia ter resultados positivos (não ideais, mas positivos) se não fosse criado ao redor da permissibilidade que temos como povo com os incompetentes. O brasileiro já meio que espera que não vá dar em nada, é uma surpresa positiva se algo funciona, mesmo que só por algum tempo, tipo a Lava-Jato. Todo mundo com alguma experiência de Brasil já sabia que uma hora ou outra daria em pizza, mas só o fato de terem colocado o Lula na cadeia por algum tempo já foi um grande diferencial.

Mas pelo visto, as coisas vão continuar nessa de no máximo uma surpresa a cada ano bissexto, porque na hora que as autoridades brasileiras precisam dar uma resposta, simplesmente falta capacidade de fazer. Quem não faz quando tem tempo dificilmente consegue quando está pressionado. Em tese, poderíamos resolver alguns problemas com esse esquema de indignação momentânea, mas nem isso.

Na hora do vamos ver, o Brasil não sabe o que fazer por falta de treino.

Para dizer que só queríamos brincar de esconder o Lázaro nas fotos, para dizer que é bom ter um olho nessa terra de cegos, ou mesmo para dizer que corrupto de direita é melhor que de esquerda: somir@desfavor.com

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Comments (8)

  • Toda materia que eu vejo sobre o Lazaro é o mesmo roteiro: policia recebe uma ligação e ai sai todo mundo do quartel ao mesmo tempo…. tipo… eles ficam sentados no escritório esperando um milagre, ao invés de fazer um trabalho ostensivo (rs! Famoso rota na rua). Desse jeito não vão achar mesmo.

    Isso de o brasileiro ser um fdp que só pensa nele mesmo está muito escancarado nessa pandemia. Ficaram tentando entrar num grupo de comorbidade ou fazer com que sua característica X fosse reconhecida como comorbidade e eles pudesse passar na frente dos outros pra se vacinarem, ao invés de pressionar que o governo se vire pra arrumar vacina pra todos. Quando é o dia da vacinação de 50 anos ficam pentelhando pra saber quando vai ser o dia específico da idade deles, ao invés de cobrar um calendario decente e factível até 18 anos. Agora os que estão vacinados começaram a cagar (ainda mais) pro virus “eu já estou vacinado” vira lugar comum pra não usarem mascara e aglomerarem, foda-se os outros. Pior é que eu não vejo luz no fim do túnel.

  • Tenho medo de que o Lazaro bata o recorde do soldado japonês Hiroo Onoda, que se rendeu apenas em 1974 após seu antigo comandante durante a 2a Guerra ter sido trazido para convencê-lo. Até então, tocou o terror nas Filipinas.

  • O Lazaro não vai ser pego porque tem muita gente ajudando ele por vários motivos. E sobre o presidente, as pesquisas recentes dizem que o Lula vai ganhar logo no 1 turno. Não sou de engolir pesquisa, mas sempre tem um fundo de verdade, pode não levar no 1 mas ganha fácil no 2.

  • Aquele momento em que eu nunca tinha sequer notado os Lázaros das fotos, e quando fui procurar achei em questão de segundos

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