Frieruol… frieral?

O presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) virou meme mais uma vez nas redes após tentar seguidas vezes pronunciar a palavra “firewall” durante sua live de quinta-feira (5). Mesmo após ensinado por várias pessoas que estavam presentes, Bolsonaro anda errou a pronuncia. “A manutenção faz solucionar travamentos dos freuais? Friuol? Friuaili?” Neste momento é corrigido e repete, assertivo: “Faireualis!” LINK


Se fosse só a dificuldade de pronunciar, seria só uma piada rápida. Mas é a dificuldade de entender o que está fazendo. Desfavor da Semana.

SALLY

Lembra dos seus tempos de escola? Lembra quando professor mandava fazer trabalho de grupo, como era o esquema? Com sorte, o grupo tinha um ou dois alunos responsáveis que acabavam fazendo tudo e o resto nem tomava conhecimento do que foi mandando estudar, apenas pegava e lia sua parte ali, na hora, no dia da apresentação. Pois bem, senhores, é isso que está acontecendo na Presidência da República e é isso que costuma acontecer no Brasil.

Vou te pedir um favor: se você ainda não viu o vídeo do Bolsonaro pronunciando “Firewall”, por favor, veja. VEJA. É só clicar ali, no link do parágrafo que anuncia o Desfavor da Semana. É uma experiência antropológica, não deixe de vivenciar essa aberração.

E, que fique bem claro: ninguém, nem mesmo o Presidente da República, tem a obrigação de saber outro idioma, de pronunciar uma palavra estrangeira com exatidão. Eu mesma escorrego no inglês, tanto escrito quanto falado. Não é sobre isso. É que quando faz parte do trabalho da pessoa, quando ela está opinando sobre isso, o mínimo que se espera é que saiba do que está falando.

Fica claro que Bolsonaro não tem a mais pálida ideia do que é ou o que faz um Firewall (a pronúncia correta é “faireuóu”). Ele é o aluno vagabundo que não estudo e está lendo feito um papagaio o trabalho feito por outra pessoa, só que não em uma sala de aula, e sim em rede nacional.

O descaso é tanto que não se dão ao trabalho de conversar com ele antes, explicar o que é, explicar como se pronuncia ou até trocar por outra palavra similar no português (“o programa que protege contra invasões” ou coisa do tipo). Não. Foda-se, tá tudo bem falar sobre um assunto totalmente despreparado, essa é a regra no Brasil, não a exceção. Não sabe direito sobre o que vai falar? “Fé em Deus e manda ver!”. Assim está o país.

FREUAIS. FRIUOL. FRIUALI. FAIREUALIS. Saiu de tudo ali menos o nome certo. O improviso, o descaso, o pouco compromisso com a excelência do político brasileiro está todo resumido e simbolizado nesse vídeo. E sim, falo em “político brasileiro” pois não é um privilégio do Bolsonaro, Lula fazia e falava coisas no mesmo nível. É grotesco, é desrespeitoso com o povo brasileiro, é aviltante.

Lá vamos nós, bater na mesma tecla: políticos são todos uns safados incompetentes? Não. Políticos são um reflexo do povo brasileiro. E o povo brasileiro age de forma tão grotesca quanto, só não tem um microfone na boca para captar cada trabalho porco, cada desleixo, cada improviso no lugar do profissionalismo.

Quando publicamos algumas frases em um “Ei, Você” sobre vacinação, onde as pessoas falavam que não tomaram a vacina por não ter tempo, muita gente veio dizer que isso não era possível, que só podia ser inventado. Taí o surfistão imbecilóide Gabriel Merdinha, cortado de um campeonato esta semana pois não se vacinou. Ele foi para a internet dizer que isso era “sacanagem” com ele e que não tomou a vacina pois “não consegui encaixar na agenda”.

Esse filho da puta teve a possibilidade de se vacinar antes do resto, graças às Olimpíadas, pois o Comitê Olímpico disponibilizou vacinas para os atletas, mas… “sem tempo, irmão”. Não só correu o risco de levar vírus para o país dos outros, como ainda fica indignado quando não lhe permitem seguir viajando o mundo sem vacina. Isso é um deboche, um desrespeito com todos aqueles que morreram por não estarem vacinados. Não tomou por não ter tempo? Irmão, em que mundo você vive?

É muito sério isso: essas pessoas do Ei Você existem, e são maioria. Depois, quando muita gente começou a cobrar do Bradesco, via redes sociais, que retirem o patrocínio desse bosta, ele foi se desculpar publicamente – só quando ameaçaram mexer no bolso. O arrependimento falso e improvisado tem um cifrão em cada olho. Gente como Gabriel Merdinha vota em gente como Bolsonaro.

Percebam que a gente não está aqui batendo em brasileiro por maldade, por sadismo, para querer escrotizar o povo. Estamos apontando um defeito horrível que atrasa a vida de um país que poderia ser uma potência mundial. Estamos dando o caminho, o que tem que melhorar: ou muda o povo, ou tudo será sempre a mesma merda, não importa quantas vezes troquem de Presidente.

Eu nunca esqueço uma notícia de 2013 que, para mim, simboliza bem o problema. Não adianta ter toda a esperteza, toda a malandragem do mundo, se você é um tosco que faz as coisas malfeitas: os brasileiros queriam protestar contra uma suposta espionagem praticada pelos EUA, por sua agência de segurança nacional, cuja sigla é NSA. O que fizeram? Invadiram o site da NASA (que cuida de programas espaciais) com frases como “parem de nos espionar”.

Convenhamos que não é para qualquer um invadir o site da NASA, as pessoas que o fizeram tiveram algum trabalho. Mas, se você é um tosco, se você faz as coisas nas coxas, mesmo empenhando tempo naquilo, faz merda.

Bolsonaro é um mero papagaio repetidor que lê em voz alta o papelzinho que dão para ele. Os brasileiros que invadiram o site da NASA são meros papagaios repetidores que não entendem nem onde estão. Gabriel Merdinha é um mero papagaio repetidor que digita o que sua assessoria mandou escrever para limpar sua bunda.

Todos padecem do mesmo mal: a falta de empenho em fazer as coisas bem-feitas, a escolha errada de prioridades, o grau de esforço muito abaixo do necessário. Até quando vai ser aceitável compensar despreparo com simpatia, com carisma, com improviso? Brasil, vocês estão passando vergonha. Bora melhorar?

Ninguém é obrigado a saber pronunciar “Firewall”, mas, se você vai falar sobre “Firewall” e se isso é uma questão no trabalho que você está desempenhando, sim, você é obrigado a saber falar “Firewall” e entender em detalhes seu funcionamento. Mas o brasileiro é aquele povo que estuda o mínimo possível, o necessário para passar de ano e só, pois malandro é quem faz isso, quem não “perde tempo” se aprofundando.

Chega de gambiarra, de improviso, de deixar tudo para o último minuto e entregar uma bosta que poderia ter sido feita muito melhor. Chega de malandragem, esperteza, de enrolar o outro para que ele pense que você entende do assunto. Chega de desculpa esfarrapada, de “não ter tempo”, de “foi mal não deu”.

Mudem de mentalidade, caso contrário, continuarão elegendo esses bostas que não entendem de nada com nada. Políticos são apenas o reflexo do povo. Se o político é uma merda, não se muda nada trocando de político, e sim modificando o povo.

Não é sobre o Firewall, é sobre o que ele representa.

Para nos agradecer por trazer à luz este vídeo maravilhoso, para dizer que quem puxa o saco dos EUA tem que saber pronunciar palavras em inglês ou ainda para dizer que contanto que eu não fale de covid posso fazer uma postagem só sobre um erro de pronúncia: sally@desfavor.com

SOMIR

Devo, não nego, pago quando puder.

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas: ,

Comments (16)

  • Bernardino Teixeira

    Infelizmente, nossa cultura permite isto: Sarney, Lula, Dilma e Bolsonaro são representantes do brasileiro médio, que não gosta de ler, trabalhar e reza para chegar o final de semana para “beber muiiiito”.
    O nosso jeitinho, este improviso grotesco, a suposta malandragem chegam ao limite do absurdo.
    Para ilustrar, um colega meu, que é servidor público, passou a ir à sua repartição, trabalhar presencialmente (com os cuidados por causa da pandemia), pois a maioria dos processos ainda são físicos (processos com mais de 500 páginas). Pois bem, em algum tempo, ele conseguiu finalizar uma grande parte, colocando o trabalho em dia. Seu chefe, ao saber disso, ligou para ele e disse para que parasse de ir, pois os colegas estavam “se sentindo ofendidos e ele não era escravo do estado”. Dá para acreditar!? Meu colega foi obrigado a diminuir seu ritmo de trabalho e voltar para o teletrabalho (para alívio do chefe e dos colegas).

  • Se eu fosse assessor do Bolsonaro teria escrito faireuól na folha para ele ao menos chegar perto da pronuncia certa.

  • O Bozo é tipo o Tiririca, eles não manjam nada de política, mas foram eleitos como protesto. E esse Gabriel Merdinha, tomara que perca todos os patrocínios mesmo! Eu quero voltar a viver, ir a festa, sair sem panos na fuça. Odeio esses filhos da puta que adiam o fim da pandemia! Bota um passaporte de vacina pra ir a eventos, quero ver se algum arrombado vai ficar de mimimi!

      • Não, o brasileiro não tem competência pra isso. Ele vai vender no camelô sim, mas cópia falsificada na xina (olha só onde!) trazida pra cá via Paraguai.

      • De papel não, né! Alguns eventos no RJ vão exigir mostrar o app do ConectSUS que mostra nome, CPF. as vacinas. Vai falsificar como? Fazer uma tela falsa hackeada pra mostrar? Proibe de ir ver jogo de futebol que eu duvido sobrar 1 antivacina!

        • O brasileiro invadiu o site da NASA. Sim, vão falsificar. Para fazer coisa errada, o brasileiro é capaz de qualquer coisa.

Deixe um comentário para X-D.FUN Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: