FAQ: Coronavírus – 40

Saudades da coluna? CLARO QUE NÃO! Ainda assim, estamos de volta. Como acumulou muito tempo sem responder perguntas, temos muitas. Escolhi uma mais complexa e, dentro delas, respondo a outras. O que ficou de fora está explicado rapidinho ao final, se quiserem que a gente aprofunde algo, é só deixar nos comentários.

O que nos espera no futuro?

Não sei. Ninguém sabe. O máximo que posso fazer é te dar alguns possíveis cenários que estão sendo cogitados por pesquisadores sérios, mas nem estes cenários são garantidos. Podemos ver uma mistura deles ou podemos ver nada disso acontecendo. Porém, uma coisa é certa: me recuso a citar números, mesmo quando há projeções nos estudos. Já vimos a merda que isso dá, como fornece munição para encrenqueiros, certo?

Vamos deixar uma premissa clara: daqui pra frente o cenário é outro. O que vai acontecer depende mais do vírus do que da gente. E como é um vírus novo em humanos, podemos estimar, podemos cogitar, mas certeza mesmo ninguém tem do que vai acontecer. Então, estamos trabalhando no campo das possibilidades, não das certezas.

Para começo de conversa, as vacinas foram um sucesso, em todos os aspectos. Quando começaram a ser desenvolvidas, acreditava-se que poucas dariam resultado e muitas o deram. O Brasil hoje aplica pelo menos 4 vacinas diferentes (AstraZeneca, Coronavac, Pfizer e Janssen) e ainda existem outras que podem ser compradas, o que é algo muito bom. Melhor ainda: o país fabrica vacinas. O Brasil tem totais condições de aplicar doses de reforço e de assegurar a vacinação da população no ano que vem.

O vírus também colaborou por se mostrar muito reativo ao nosso sistema imunológico (papo técnico: imunogênico). Isto quer dizer que o nosso sistema imunológico está conseguindo parar o vírus com eficiência. A maior prova disso vem ao analisar quem está morrendo de covid-19: morte de vacinado é exceção, morte de não-vacinado é a regra. Sim, para frustração de alguns e alegria de muitos, as vacinas são um sucesso!

Com o bônus das vacinas causarem praticamente nenhum efeito colateral. Quase metade da população está vacinada e não foi encontrado nenhum efeito colateral expressivo. Se você der Aspirina para 4 bilhões de pessoas periga ter mais efeitos adversos do que a vacina causou. Novamente, para frustração de alguns e alegria de muitos, as vacinas são eficazes e seguras!

O Brasil está com pouco mais da metade da população imunizada com duas doses. Parece muito e, comparado com o que o país já viveu, é de fato um alento, mas, em termos epidemiológicos, ainda é pouco. A boa notícia é: o brasileiro quer se vacinar. O brasileiro está se vacinando. O brasileiro está dando problema por se vacinar mais do que deveria (gente tomando 4, 5 doses). Então, dá para dizer que o ser humano fez a sua parte.

O problema é: não depende apenas de humanos. Tem outras variáveis: quanto e como dura o efeito das vacinas + que ver o que vai acontecer com o vírus.

Sabemos que as vacinas são seguras e eficazes, mas não sabemos por quanto tempo elas garantem uma imunidade que nos traga segurança. Como é tudo muito novo e estamos no primeiro ano de vacinação, somos todos cobaias e só vamos descobrir que a imunidade está caindo quando pessoas vacinadas começarem a adoecer.

Já sabemos que em idosos a imunidade cai mais rápido, tanto é que foi detectada a necessidade de aplicar uma dose de reforço. Mas, fica a pergunta: será que essa imunidade cai apenas em idosos ou vai cair em todos nós? E, se cair em todos nós, quando isso vai acontecer e em que velocidade?

Você quer pagar para ver e descobrir se contagiando? Eu não quero, por isso que continuo tomando todos os cuidados que posso. Só vou relaxar quando entender completamente o tempo de funcionamento da vacina, e isso, só o tempo dirá.

Hoje, o que se sabe é que, entre as vacinas acompanhadas, a AstraZeneca tem uma imunidade mais duradoura, ela supera inclusive a imunidade gerada pelas vacinas de RNA (Pfizer e Moderna). Mas ninguém sabe o quanto ela vai durar. Vamos desenhar alguns cenários, do bom para o péssimo, e te dar ferramentas para que você identifique para onde está rumando a pandemia e se proteja de acordo com a danação.

CENÁRIO BOM

As vacinas protegem bem e de forma duradoura. Só idosos, por terem um sistema imune menos eficiente, é que precisam dessa dose de reforço no mesmo ano da aplicação da vacina. Por sua vez, o vírus se comporta e apresenta mutações que não escapam à vacina. É onde estamos hoje: por hora, não se constatou queda de proteção em pessoas jovens e o vírus, apesar de todas as mutações, não conseguiu escapar da vacina. Talvez nunca consiga, talvez esse coronavírus não tenha essa capacidade. Vamos torcer.

Como saber se estamos em um cenário bom: não veremos muitos casos de internados e mortos entre vacinados, especialmente entre jovens. O número de casos e mortes cai mais e mais, à medida que mais pessoas são imunizadas.

CENÁRIO RUIM

As vacinas protegem bem, porém se constata que a imunidade cai em todos os vacinados, só vimos cair primeiro em idosos por eles terem o sistema imune menos eficiente, mas, pouco tempo depois, a imunidade cai muito em toda a população. O vírus, por sua vez, continua mutando mas não consegue escapar da vacina.

Se a gente olhar para vírus respiratórios, como a gripe, ou até para os outros coronavírus, podemos ver um padrão: em todos eles a imunidade provocada pelas vacinas cai com o tempo, em pessoas de todas as idades. Isso quer dizer que a imunidade vai cair com esse coronavírus? Não, nós não sabemos. Nunca nos deparamos com este vírus antes. Mas é uma tendência inegável: em seus primos SARS e MERS a imunidade dura, em média, entre um ou dois anos.

Uma publicação de cientistas da Universidade de Yale estimou que a imunidade contra covid-19 deve durar, em média, um ano e meio entre pessoas comuns. O grande problema é: só vamos descobrir quando muito vacinado começar a adoecer. Como eu disse, estou fora desse teste, não topo ser cobaia de duração de vacina: não tiro a máscara, não saio sem necessidade, não me aproximo de quem não usa máscara.
Como saber se estamos em um cenário ruim: começaremos a ver aumento geral (de todas as idades) de mortalidade e hospitalizações de pessoas vacinadas, um aumento que vai piorando com o passar do tempo.

CENÁRIO PÉSSIMO

Aparecer uma variante que consiga escape total das vacinas, ou seja, uma variante do coronavírus para a qual a vacina não nos proteja. Pode nunca acontecer? Pode sim. Pode acontecer? Pode sim.

Vamos esquecer por um minuto o Brasil e falar do mundo: é provável que só se consiga mais da metade da população mundial vacinada em 2022 (com sorte no final de 2021). E é justamente aí, quando tem muita gente com vacina, que aumenta o risco de surgir uma variante resistente a ela.

Estimativas (que de forma nenhuma são uma previsão do futuro, são apenas estimativas) indicam que um vírus fica mais propenso a conseguir escapar das vacinas cerca de dois anos depois de entrar em contato com elas. Repito: pode nunca acontecer. Mas pode acontecer também – e não temos como saber. A partir do ano que vem começamos a entrar em risco e em 2023 o risco aumenta.

“Mas Sally, se isso acontecer vamos voltar à estaca zero, a 2020?” Quem dera, leitor, quem dera. Se isso acontecer, vai ser muito pior do que 2020, pois não estaremos mais lidando com covid raiz, que infectava 2 ou 3 pessoas por contagiado. Se o vírus original era um soldado, essa nova versão será um tanque de guerra: mais contagioso, provavelmente mais letal (pois vai encher hospitais rapidamente) e mais resistente às formas de combatê-lo que temos. Eu espero, do fundo do meu coração, que a gente não veja esse cenário.

Como saber se estamos nesse cenário péssimo: veremos surtos de contágio e mortes massivos em lugares com muita gente vacinada, não um aumento de casos progressivo, como no cenário anterior, mas abrupto. Muita gente vacinada de todas as idades morrendo e adoecendo.

“Que horror, Sally! Tem alguma coisa que a gente possa fazer para não chegar nisso?”. Não tem como te garantir que podemos evitar este cenário detestável com absoluta certeza, como eu disse, agora depende mais do vírus do que da gente, mas, existem coisas que podemos fazer para tentar reduzir as chances disso acontecer.

Vamos voltar aos primórdios do nosso FAQ: vírus que circula é vírus que muta. Quanto menos um vírus circula, menos chances de vermos mutações. Portanto, se queremos evitar isso, temos que fazer o vírus circular cada vez menos, principalmente entre os vacinados. Um vacinado que pega o vírus pode não adoecer nem morrer, mas contribuí para que o vírus aprenda a escapar das vacinas.

Então, a melhor forma de evitar esse cenário pavoroso é reduzindo ao máximo a circulação do vírus, especialmente entre vacinados. Isso significa vacinado usando máscara, evitando aglomerações, evitando sair de forma desnecessária e tomando todos aqueles cuidados que sempre se tomou para evitar contágio (inclusive testagem massiva na população e rastreio de contatos para evitar que um contagiado assintomático contamine meio mundo).

Vai acontecer? No Brasil, nós sabemos que não. Já tem estado abolindo o uso de máscara. Já tem gente levando vida normal, achando que vacinou = acabou. Avalia aí o custo-benefício de fazer a sua parte para não contribuir para esse cenário pavoroso, eu vou fazer a minha.


CURTINHAS (não sobrou muito espaço)

Vacina não causa HIV, nem AIDS (o primeiro é o vírus, o segundo a doença). Isso é um absurdo sem precedentes. Essa informação foi tirada pelo Exmo. Presidente da República de um site conspiracionista notoriamente conhecido por publicar notícias falsas e sensacionalistas. Temos bilhões de pessoas vacinadas e zero casos de HIV em decorrência de vacina.

“É seguro vacinar crianças e adolescentes?” SIM, já tem vacina (Pfizer) aprovada para crianças, com segurança testada (fase 2) e eficiência (fase 3), que por sinal, foi muito boa, em torno de 90%. Sobre os adolescentes, o risco de miocardite é de 9 para cada milhão de vacinados, enquanto o risco de ter miocardite por ter covid é 16 vezes maior. O risco de não vacinar é muito maior.

“Mas é um absurdo dar para uma criança a mesma vacina de um adulto!” Não, leitor. Não é exatamente a mesma vacina. É o mesmo princípio ativo, mas em quantidade diferente (a dose é um terço da dose dos adultos) e o reagente que é usado para diluir a vacina é diferente, muito mais seguro que o de adultos (e mais caro também). Já foi testada e aprovada, pode vacinar crianças e adolescentes sem medo. Onde eu moro já tem metade das crianças vacinadas e zero mortes.

“Acabou a pandemia?” NÃO! Nem perto disso. Leia a última pergunta que lá você vai ver o que pode acontecer nos melhores e piores cenários. Não custa lembrar que, no ano passado, nestes mesmos meses outubro/novembro estava todo mundo felizão achando que o vírus estava indo embora. E tomamos todos uma trolha depois.

“O Brasil está bem?” Defina “bem”. Para quem teve 4 mil mortos por dia, ter 400 parece bem, mas no meu mundo morrerem 400 pessoas por dia de uma coisa que tem vacina não é estar bem. Em um cenário mundial, hoje, o Brasil é o quarto país do mundo com mais óbitos por dia (em números absolutos), perde apenas para EUA (cheio de negacionista não-vacinado), Rússia (apenas um terço da população vacinada) e Romênia. Talvez nas grandes capitais o Brasil esteja ótimo, com 80% da população vacinada, mas tem cidade no interior com 10, 20% da população vacinada. Isso não é estar bem, é estar desigual.

“Agora que está tudo mais tranquilo pode abolir a máscara?”. Não deveria. Por diversos motivos. Alguns grupos não podem se vacinar (como imunodeprimidos) ou ainda não estão vacinados (como crianças ou idosos que não tomaram dose de reforço), então, para proteger esses grupos todos deveriam usar máscara. Não sabemos quanto tempo a imunidade das vacinas vai durar, então, se você tirar a máscara, pode acabar descobrindo que a sua venceu quando for parar no hospital. E, por fim, quanto mais o vírus circula, maiores as chances de uma mutação que escape à vacina. Não seja mimadinho, usar máscara não é um problema real. Use a porcaria da máscara.

Para dizer que achou que essa porcaria de coluna tinha acabado, para dizer que achou que essa porcaria de covid tinha acabado ou ainda para dizer que só deu valor depois que perdeu e quer os FAQ de volta: sally@desfavor.com

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Comments (8)

  • Eu continuo usando máscara, acho qur vou usar até se a pandemia acabar. Previne covid, previne gripe comum, diminui minha rinite, evita que semiconhecidos cheguem beijando meu rosto… só vejo vantagens.
    Estou completamente vacinada e só aceito ver pessoas, não muitas por vez, que também estejam vacinadas. Mas isso só porque aqui não há mais pacientes internados por covid e quase toda a população “vacinável” da cidade já está completamente imunizada. Se/quando começar a subir de novo, quarentena de novo.

    • Paula, eu não abro mão de máscara até entender exatamente por quanto tempo a vacina que eu tomei me protege com eficiência e tomar uma nova dose quando a proteção começar a ser insuficiente. E não serei eu a cobaia para perceberem que o efeito acabou.

  • É verdade o que tão falando que o país vai reabrir no período do réveillon até carnaval e depois fechar novamente até próximo da eleição? Eu sei que nunca existiu lockdown no Brasil, mas o comércio se prejudicou um bocado e o povão não tem estudo nem dinheiro pra migrar pra home office.

    • Acho que essa resposta ninguém tem, pois ninguém sabe ao certo como vai estar a situação no ano que vem. Pode estar ótima, pode estar ruim. Como sempre, eu acredito que o Brasil só feche se a coisa ficar muito, mas muito ruim.

      Temos que esperar para ver o quanto duram os efeitos das vacinas e como o vírus vai se comportar.

  • Esta coluna “FAQ: Coronavírus” pode até não dar saudade em ninguém, Sally, mas ainda é necessária. Até porque a pandemia, infelizmente, ainda não acabou e muita bobagem continua circulando por aí, fazendo tanto estrago quanto a própria doença.

  • Vai ser igual a da gripe 1X por ano. Todo novo vírus que aparecer vai ter vacina todo ano, simples assim. Eu antigamente não tomava a da gripe, mas pegava todo ano e gastava uns 100 contos de remédio, aí resolvi aderir porque é grátis. Um amigo meu antivacina pegou covid e gastou 400 em remédios. Até pela enconomia eu recomendo se vacinar porque é de graça remédio sai bem caro!

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