Dura realidade.

Vamos aproveitar o feriado para dar um descanso para o cérebro? Sally e Somir discutem o (não) fascinante mundo dos reality shows sob a perspectiva do participante. Os impopulares votam em quem não deve ficar.

Tema de hoje: se você fosse obrigado a participar de um reality show, qual escolheria?

SOMIR

BBB. É importante ressaltar que estamos falando de uma obrigação. Em condições normais de temperatura e pressão eu jamais me candidataria para participar de um, gosto de ser desconhecido. E isso influencia bastante nessa escolha: como no Big Brother Brasil pelo menos metade dos participantes são pessoas relativamente desconhecidas, a minha chance de ser eliminado na primeira semana aumenta consideravelmente.

Explico: hoje em dia a fórmula de reality shows é baseada em subcelebridades e famosos de internet. Descobriram que é o que mais funciona para atrair atenção do povão, depois das experiências de sucesso da Record com a Fazenda. Mas o BBB ainda se sente obrigado a fingir que segue a proposta original de mostrar pessoas “comuns” na tela. Na verdade não segue, todos os participantes são escolhidos de acordo com sua presença nas redes sociais. Mas, se o cidadão médio desconhece a pessoa, conta como pessoa normal.

A minha estratégia para conseguir me livrar rapidamente de estar num programa desses é uma combinação de deixar minha personalidade chata brilhar e não ter muita concorrência por rejeição imediata. Por querer me preservar, eu jamais faria algo como cagar no chão da sala ou sair dando porrada em alguém (até porque só colocam bombados e eu apanharia muito de volta), eu teria que ganhar a antipatia do povo fazendo o que eu faço melhor: sendo desinteressado e arrogante.

Num grupo de pessoas relativamente comuns, a chance de me destacar como personalidade chata é muito maior. É só não fazer amizades e esperar ser indicado para o povão me tirar. Agora, quanto mais subcelebridades ao meu redor, maior o risco de alguém aprontar tanto barraco ao ponto de fazerem com que eu seja esquecido num canto. E por mais desagradável que eu possa ser, eu sou humano: se eu ficar tempo suficiente, eu vou acabar formando alguns laços com outros participantes. E aí, infelizmente, eu posso acabar me tornando uma pessoa querida para um mínimo de pessoas que evite que seja eliminado tão cedo.

É experiência de vida: é difícil ser chato por muito tempo. Depois de algum tempo, ninguém é tão único assim ao ponto de não achar pontos de conexão com outros seres humanos. E considerando como subcelebridades normalmente são pessoas com problemas mentais, mas que são atraentes o suficiente para chamar atenção, é muito difícil se destacar diante delas. São profissionais de necessidade de atenção.

Numa dessas, eu poderia acabar sendo um daqueles participantes que passam meses na casa sem ninguém prestar atenção. Relativamente estabelecido entre meus pares, mas nunca fazendo nada tão ridículo ao ponto de ir para debaixo dos holofotes. Seria o pior dos mundos: teria que passar muito tempo confinado (sem um computador) e sem chance nenhuma de vitória. Eu preciso sair cedo para reduzir o grau de sofrimento. Por isso o BBB é uma escolha melhor: eu não tenho que disputar rejeição imediata com profissionais da rejeição.

Mas Somir, como você pensa pequeno! Tem prêmio!

Eu sei que tem prêmio, mas eu não sou do tipo de pessoa que ganha esse tipo de prêmio. Não fico feliz nem triste de não ser esse tipo de pessoa, é só uma constatação. Com a quantidade de conhecimento aleatório que eu tenho, eu provavelmente teria chances do Show do Milhão, mas não em concurso de popularidade. Cada pessoa tem seus pontos fortes e pontos fracos, quase sempre baseados em seus gostos e interesses.

Sem contar que é um concurso de popularidade baseado em votação online, o que coloca em vantagem imensa quem já tem uma legião de seguidores antes de começar o programa. Precisa ter gente doente da cabeça tocando suas redes sociais enquanto você está por lá, e por sorte, eu não conheço ninguém assim. Nem a Sally no modo mais favelada me ajudando lá de fora conseguiria enfrentar os verdadeiros doentes de rede social. Aqui a gente tem que ser prático: se você tem um mínimo de preocupação com dignidade na vida, é impossível ganhar reality show.

E é claro que eu não escolheria coisas como Power Couple por jamais aceitar dividir intimidade com estranhos, nem mesmo algo como No Limite, porque eu gosto de conforto e distância de natureza peçonhenta, obrigado. BBB pode ser um treco chato com gente chata, mas pelo menos é uma casa, dá pra dizer que está deprimido e ficar dormindo o dia todo para sair na primeira ou segunda semanas. Ninguém vai pegar no seu pé depois, e você volta ao anonimato se quiser.

Jamais iria para algo como a Fazenda, porque tem que lidar com animais fedidos (todo animal que você não pode dar banho fede) e tarefas físicas constantes. E na categoria animais fedidos, pode colocar as subcelebridades. Porque mesmo que a Globo esteja chamando um povo baixo nível para o BBB, a Fazenda escolhe essa gente pelo potencial tóxico. O mais estável emocionalmente das últimas edições foi o fuckin’ Pilha! Prefiro um ex-famoso global lacrando do que um funkeiro que provavelmente já matou pessoas na vida.

E mesmo que alguém lembre de você, é um pouco mais digno dizer que esteve no BBB do que em qualquer outro reality show. Pelo menos você vai ter um papo sobre como tudo é armado e vai poder dizer que uma subcelebridade não toma banho, ou algo do tipo, só de sacanagem. Sacanear subcelebridade do BBB é divertido, sacanear subcelebridade da Fazenda é jogar um balde no oceano. É gente tão queimada que nem essa diversão você vai ter.

Só consigo ver uma vantagem na Fazenda: pelo menos você não está no Rio de Janeiro. Mas já que você vai ficar confinado o tempo todo mesmo, não faz tanta diferença.

BBB é mais fácil de sair e suja menos a sua vida depois.

Para dizer que preferia a morte, para dizer que quer ver a Sally num reality show, ou mesmo para dizer que eu seria expulso antes mesmo de entrar na primeira opinião que desse: somir@desfavor.com

SALLY

Se você fosse obrigado a entrar em um reality show, qual escolheria?

Óbvio que seria A Fazenda. Eu seria eliminada na primeira semana? Certamente. Mas prefiro toda a precariedade da Record, as subcelebridades decadentes e os animais perigosos à indignidade de um reality que se leva a sério.

Eu já escrevi tanto sobre A Fazenda que posso dizer que conheço o reality. Eu já sei o perfil das pessoas que o frequentam, o perfil do público e o perfil das provações que alguém tem que passar por lá. É tosco? É. É trash como poucas coisas nesta vida. Mas é uma experiência inusitada. Não tem nada nem parecido com isso em outro reality e certamente me divertiria.

O prêmio está fora de questão, pouco importa quanto é em cada reality, afinal, em que mundo eu teria uma chance, ainda que remota, de ganhar um reality show? Se não pela convivência (o mais provável) eu acabaria saindo pelo meu total desinteresse e falta de esforço nas provas. O pós também me é irrelevante, afinal, em que mundo eu me prestaria a fazer presença VIP, comercial de cápsula de colágeno ou publi em redes sociais? A vida foi boa comigo, não preciso fazer isso para pagar as contas.

Além disso, A Fazenda tem um ponto positivo que não creio que outro reality tenha: animais muito mais agradáveis do que os participantes. Vacas, coelhos, porcos e outros bichinhos que alegram o dia. Sempre tem um bicho endemoniado, como o avestruz que odiava o Pilha, mas no geral, são bichinhos de boa, que te ajudam a não enlouquecer no lugar.

E, é inegável que o mundo das subcelebridades me fascina. Seria como um biólogo observando animais objeto do seu estudo em seu habitat natural. E o habitat natural da subcelebridade é A Fazenda. Imagina só, poder vivenciar ao vivo aquele ambiente sobre o qual eu já escrevi tanto? Imagina os textos que essa experiência renderia? Certamente eu entraria com um caderno e sairia com ele repleto de textos.

Não consigo pensar em nenhum outro reality onde o comportamento dos participantes me desperte interesse ou curiosidade. BBB e merda para mim é o mesmo por motivos de vivi 40 anos no Rio de Janeiro, logo, aquela dinâmica (infelizmente) era a das pessoas no dia a dia da cidade. Anônimos desesperados por fama, gentalha sensualizando compulsivamente e gente burra é algo no qual se esbarra em qualquer esquina no Rio. Já subcelebridades fazendo barraco ao vivaço…

Além disso, eu não me comunico com essas pessoas ávidas por fama. Eu não tenho nada em comum com elas, eu não saberia nem o que dizer. Já subcelebridades… Ahhh as subcelebridades me fascinam! Sei tudo sobre elas! Sua decadência, seu desespero por retomar os tempos de glória que não voltam mais, suas harmonizações faciais cagadas, tudo me é muito familiar e me desperta extrema curiosidade mórbida.

Eu acho chato o discurso de participante de reality, acho falso e forçado. Mas as subcelebridades? Acho fascinante. As contradições, a egolatria, a negação da decadência, tudo. Seria fascinante observá-los ao vivo. Eu sei como lidar com essas pessoas. Eu consigo lidar com essas pessoas, eu sei como elas funcionam. Eu consigo me divertir mais vendo essas pessoas do que vendo gente que é só uma casca, com zero conteúdo e que usa “tipo assim” como vírgula.

Sim, eu sei, subcelebridades não são um exemplo de conteúdo ou erudição, mas tem algo de muito verdadeiro e corajoso nelas: quem topa entrar na Fazenda não tem mais nada a perder, e essa é uma condição muito interessante no ser humano.

Ver um grupo de pessoas que não tem nada a perder brigando e competindo entre si é uma experiência única. Quem vai ao BBB está começando sua carreira, quem vai à Fazenda está lutando com todas as forças para não encerrá-la. É outro nível de motivação. Quem perde no BBB ainda tem muitas possibilidades a explorar, quem está na Fazenda, está ali sabendo que é sua última chance.

Se é para passar por uma humilhação como a de participar de um reality, que seja a experiência mais extrema possível. Vamos logo para aquele onde acontecem os piores barracos, onde a produção é mais relapsa, onde tudo é tolerado, de xingamento a cusparada na cara. Vamos vivenciar o ser humano no seu pior e estudar de perto quão baixo ele pode chegar.

Reality show é algo trash, decadente, baixo nível. Uma pessoa que vende a sua privacidade e que se deixa filmar 24 horas por dia, exposta a estranhos em meio a uma competição não difere muito de um cavalo de corrida, quer dizer, difere sim: o cavalo não escolheu estar nessa situação merda. Sofrer privações, ter a vida infernizada e ter que fazer esforços físicos para que as pessoas que te assistem se divirtam é o último degrau da dignidade humana, abaixo de prostituição, sexo com bonecas infláveis e fazer mapa astral.

Então, se eu tiver que chegar nesse patamar de indignidade, vou para um reality que se presta isso, que assume a indignidade que é e que a usa como arma. Sem hipocrisia, sem maquiar o real objetivo, sem glamour algum: a regra é clara, a humilhação é certa, o nível é baixo. Ao menos é coerente. A verdade, mesmo quando é feia, tem o seu valor. Com sorte eu iria junto com algum ex-Polegar e coletava ainda mais material para venerar o nosso amado Rafael Pilha.

Felizmente isso nunca vai acontecer, primeiro por nenhum reality no mundo ter interesse na gente, segundo por não toparmos por dinheiro nenhum. No dia em que a gente aceitar vender a nossa privacidade ou dignidade em troca de dinheiro monetizamos isso aqui em vez de ter que ficar limpando bosta de vaca.

Para dizer que castigo mesmo é ir para No Limite, para dizer que quer um reality Keeping Up With The Somires ou ainda para dizer que por dinheiro você topa indignidades: sally@desfavor.com

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Comments (4)

  • Realmente BBB é a cara do Sonia e a Fazenda Sally.
    Teve um participante chamado Max q era frio e calculista. Chato e ganhou … vc tem chances Somir.
    Sally , se passasse da primeira semana vc renderia barracos lendários e colocaria apelidos nos participantes. E contaria histórias da época q era dançarina de axé .
    Eu só participaria do Master chefe, mas não sei cozinhar.

  • A Fazenda, não gosto da aura “classe média descolada do sudeste” que as mansões do BBB passam. E não tenho muita frescura com mato, bicho e sujeira, fui criança raiz do interior.

    “Com a quantidade de conhecimento aleatório que eu tenho, eu provavelmente teria chances do Show do Milhão, mas não em concurso de popularidade.”
    Quando eles percebem que a pessoa não é burra, começam a mandar questões muito mais absurdas que não dependem de senso comum ou conhecimento/escolaridade, tipo aniversário do presidente fulano. Infelizmente é uma loteria.

  • Eu participaria do BBB, porque não é espontâneo, as pessoas tem roteiros a seguir, o resultado da votação é manipulado e também só participaria se o meu roteiro fosse me levar adiante perto das finais, pra depois eu poder ganhar dinheiro em redes sociais com bastante seguidores.

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