Skip to main content

Colunas

O pior de 2022?

2022 promete. Promete ser uma porcaria. Mas isso não impede que Sally e Somir olhem para o ano que se inicia e discordem pela primeira vez. Os impopulares começam com o pé esquerdo.

Tema de hoje: qual vai ser o pior evento de 2022?

SOMIR

Em ano de eleição, a eleição sempre ganha.

Eleição é o Brasil em estado mais puro. Carnaval? Todo mundo faz alguma bagunça ao redor do mundo, ficar bêbado e fazer sexo com um bando de gente não é invenção tupiniquim, nem de longe. Carnaval é a putaria global dublada. Agora, na hora da eleição, aí sim o Brasil tem algo que o mundo não tem: uma das organizações mais complexas da humanidade para decidir porra nenhuma.

Explico: o Brasil é uma das maiores democracias do mundo. E um dos poucos países que obriga sua população a votar. Não é muita gente nesse mundo que tem capacidade de organizar um processo minimamente decente nesse sentido. Ainda mais com urna eletrônica e apuração terminando no mesmo dia. Não é sarcasmo, o Brasil faz algo digno de nota a cada dois anos botando o povão pra votar sem quase nenhuma dúvida sobre a veracidade dos resultados.

O problema é que tudo isso serve para fazer o brasileiro (que não se importa com política) votar em outros brasileiros (que não se importam com política) e no final das contas, mudar apenas as moscas rodeando a merda que são nossos serviços públicos. Eleições são especialmente frustrantes porque conseguimos vislumbrar o potencial do país ao mesmo tempo que vemos sendo eleitas pessoas totalmente incapazes de realizá-lo.

E para 2022, a previsão é de mais uma dessas eleições inúteis. O atual presidente é de um grau de incompetência tão espetacular que fez o seu adversário político perder boa parte da rejeição que tinha. O povo está tão vidrado nessa polarização que nenhum outro candidato ou candidata parece ter a menor chance. E pior, ambos os candidatos sabem muito bem que é a polarização que aumenta suas chances de vitória.

Tudo se resume a quem conseguir montar o maior time de antis. Não é vantajoso para o presidente nem para o ex-presidente que outros candidatos apareçam, afinal, é bem capaz do brasileiro ter mais um daqueles cinco minutos e resolver votar num aleatório para a presidência. Enquanto for Lula contra Bolsonaro, os dois estão contentes, porque podem se alimentar um da rejeição do outro.

E isso quer dizer que as turbas reais e virtuais de fanáticos dos dois vão fazer o que puderem para manter esse povo bem dividido. Vai ser baixaria pura e proposta zero. Quem garantir a melhor esmola ganha o povo que vai sendo arremessado para a miséria, e quem fizer mais gente ficar com raiva do outro tem quatro anos para fazer o que bem entender, afinal, não serão eleitos numa plataforma política, mas puramente pela imagem pessoal.

E, picados pelo mosquito da Febre Polarizada, todos os outros candidatos vão acabar sendo obrigados a dar trela para essa briga estúpida entre o corrupto de esquerda e o corrupto de direita. Novamente, ninguém ligando para projetos ou ideias políticas, mas sim para qual lado da disputa a pessoa pende. Pode ser um completo retardado, desde que “reze para o deus certo”.

Mais ofensa ainda: nesse ano, de pandemia e de muitos brasileiros passando fome, vamos ter uma verba imensa do fundo partidário. Não só os candidatos vão tirar sarro de você fazendo campanhas sem propostas, como vão gastar muito do seu dinheiro com isso. Todos os safados que aprontaram durante o último mandato tendem a ser reeleitos, afinal, povo esquece fácil, ainda mais considerando que a grande maioria da população nem sabe o que aconteceu no poder legislativo nos últimos tempos.

O brasileiro achou que estava moralizando a política na última eleição, agora vai voltar para o colo de quem rouba mas faz. E nós vamos ver toda essa palhaçada se desenvolver diante dos nossos olhos, sabendo que o brasileiro não se deu sequer chance de votar direito.

Carnaval, Copa do Mundo e festas desse tipo sempre foram uma bobagem mesmo. Eu até acho que o jeitão esculachado do brasileiro combina bem com esses eventos. Eles são aquilo mesmo. Mas, é na hora da “festa da democracia” que as coisas realmente saem do tom e esse estilo relaxado falha com o povo.

Para dizer que o pior vai ser não sair do país, para dizer que só vai relaxar e gozar agora, ou mesmo para dizer que a Omicron vai salvar o Carnaval: somir@desfavor.com

SALLY

Qual vai ser o pior evento de 2022?

Hoje o tema está difícil. Em um ano com Copa do Mundo e Eleições Presidenciais o estresse é certo. Mas eu ainda acredito que o pior evento do ano seja o Carnaval, pela indignidade em si e pelas consequências que ele pode gerar quando falamos de pandemia.

Até a presente data, o que eu sei é que o carnaval do Rio de Janeiro está mantido “sem restrições”. Olha, em 2020 foi com restrições e covid chegou ao país. Em 2021 foi com restrições e vocês criaram uma variante de preocupação (P1, ou variante de Manaus, ou Gama) que colapsou o sistema de saúde do Brasil e dos vizinhos. Eu sinceramente não sei o que pode acontecer em um carnaval “sem restrições” em 2022.

Todos os outros eventos também são uma merda, mas as chances de descuido são maiores no carnaval: muita gente junta, muita gente bêbada, muita gente se beijando. As chances de um bêbado carnavalesco usar uma máscara de forma correta em um bloquinho de rua (foda-se que é ao ar livre, precisa de máscara) são ínfimas. Já não usam normalmente, imagina nessas condições…

Eleições são chatas? Podem ser. Fica aquela polarização babaca, você recebe cada coisa que o nome do aplicativo deveria mudar para Hiroshima Nagazap e é chato ter que ir votar (ou justificar). Mas nem se compara com a indignidade do carnaval. Você pode não ir às eleições, mas mesmo que você não vá ao carnaval, o carnaval vai até você: ruas lotadas, bloquinho com música merda invadindo seu espaço sonoro, ruas imundas, urinadas e fétidas e todo aquele conjunto da obra que vocês conhecem.

Sem contar que nas eleições a gente até consegue rir: candidato ridículo, argumentos risíveis, fã clube de político passando vergonha. No carnaval eu não conseguia rir não, eu ficava apenas irritada. Hoje felizmente moro em um lugar sem carnaval, mas tenho bem viva na minha lembrança a música alta o dia todo e as pessoas fazendo asquerosidades na porta da minha casa, se comportando como animais. Se já era insuportável antes da pandemia, agora é insuportavelmente perigoso.

Copa do Mundo (se acontecer) é chatinho, mas, cá entre nós, o brasileiro já não se importa tanto. Política é o novo futebol. Você tem um ou outro inconveniente em dia de jogo da seleção brasileira e só. Não tem multidão se revezando para urinar na porta da sua casa por conta disso.

Carnaval sempre foi, para mim, o pior do brasileiro em matéria de evento e comemoração. Acrescentando que, a toda a nojeira, indignidade e baixaria ainda se soma a pandemia, não me resta nenhuma dúvida de que é o ápice da involução humana. Além de ferir os sentidos, o descanso e a dignidade, ainda coloca a vida da coletividade em risco. E é, no barato, uma semana de evento.

Outro motivo que me faz escolher o carnaval é a impossibilidade de controle. Todos os outros eventos têm alguma possibilidade de controle. Podem cancelar um evento, podem adiar um evento, podem fiscalizar um evento. Mas carnaval? Pelas proporções que ele toma e pelo estado de espírito (e alcoolismo), ele é incontrolável.

Lembro de 2020 e 2021, quantos lugares supostamente com “carnaval cancelado” não tiveram carnaval. O povo sai todo na rua e foda-se. Para ter carnaval basta ter panaca bêbado e música. Você não precisa da Prefeitura para isso. Sai um monte de gente bêbada na rua aglomerada batucando, vai fazer o que? A polícia brasileira não tem vontade ou culhões de fazer o que precisa para evitar aglomerações. A verdade é essa: salvo honrosas exceções, no Brasil, faz carnaval quem quer.

E, quando você tem um evento incontrolável, ele fica nas mãos do discernimento do povo. O discernimento do brasileiro médio vocês já sabem qual é, ou seja, vai ser o pior evento possível, executado da pior forma possível, aumentando os casos de covid da pior forma possível. Ou vocês acham que até fevereiro todas as crianças estarão vacinadas e todos os adultos estarão com a terceira dose no braço? Porra nenhuma, coronavírus vai ter todas as condições de circular, de infectar e de mutar.

“Não seja exagerada, Sally”. Jura? Vocês já criaram uma porra de uma variante no ano passado, por bundear em excesso na rua. Jura que é exagero presumir que a mesma conduta do ano anterior pode gerar a mesma consequência do ano anterior? Não seja negador você.

Tomara que não aconteça nada. Tomara que os coronguinhos, ao entrar no organismo sujo, suado, fedido e bêbado do brasileiro se suicidem lá dentro por não suportar a insalubridade e nenhum brasileiro pegue covid, mas a possibilidade de dar merda existe sim e é bem grande, por sinal.

E aí, os bons pagam pelos maus. Gente que se cuida, gente que faz tudo certo, gente que entende a seriedade do que está acontecendo pode acabar contaminada e talvez até morrer. Não dá mais para continuar com esse discurso de “deixa eles pularem carnaval, problema deles, eles que vão morrer”. Muitas vezes quem pula carnaval tem a sorte de ficar assintomático, mas adoece e contamina outras pessoas que desenvolvem uma versão severa da doença e morrem.

Não é como se o vírus que entrou na pessoa fosse fraco, por isso ela não adoeceu. O que te mata, na covid, é a reação do seu corpo ao vírus. Quando a pessoa morre, o vírus nem está mais lá, é o seu corpo reagindo loucamente (papo técnico: tempestade inflamatória) que te mata. Então, todos nós corremos esse risco, pois não sabemos como o corpo vai reagir. E grupos vulneráveis como idosos, crianças e pessoas com algumas doenças mais ainda.

Mas o brasileiro prefere sete dias de putaria e bebedeira do que resguardar suas crianças. Uma verdadeira merda de povo. Depois ficam gritando “Bolsonaro genocida” como se tivessem zero participação no que está acontecendo. Carnaval é uma bosta, não apenas no durante, mas também no depois. Carnaval resume tudo que há de pior no brasileiro: baixaria, prioridades erradas e não responsabilização pelos seus atos.

Para dizer que carnaval é a expressão da cultura popular em sua mais pura forma e me chamar acusar de xenofobia (sim, esses merdinhas da lacrolândia estão voltando nos comentários), para dizer que todo dia é o pior dia no Brasil ou ainda para dizer que o pior vai ser eleição pois vai gerar 4 anos de Lula: sally@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

carnaval, eleições

Comentários (10)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: