Giovanni Quintella Bezerra, 31 anos, o anestesista preso em flagrante por estuprar uma grávida durante a cesariana, atuou em pelo menos 10 hospitais públicos e privados. LINK


Resolvemos voltar ao tema porque tem mais o que falar. Mais do que focar no criminoso, como a mídia toda fez. Desfavor da Semana.

SALLY

Foi uma semana tenebrosa, aconteceu muita coisa escrota, mas uma delas se destacou por criar um atrito entre dois mundos: o mundo feminino e o mundo masculino. Por isso, no Desfavor da Semana de hoje vamos falar do tema desta forma: Somir, com a perspectiva masculina e eu, com a perspectiva feminina.

No Brasil, ocorre, em média um estupro a cada dez minutos. E esses são os casos registrados e provados, os casos reais gerariam um número muito mais assustador.

No Rio, local onde aconteceu o crime, é registrado um estupro em hospitais a cada 14 dias, e, repito, as mulheres que efetivamente querem se expor indo a uma delegacia são poucas, e menos ainda as que conseguem fazer a formalização do crime e obter uma condenação em um processo. No mundo real, esse número é muito maior.

Quem é leitor aqui sabe que eu trabalhei bastante tempo com direito, boa parte dele criminal. Vou te contar muito por alto a realidade que uma mulher estuprada enfrenta, ao menos no Rio de Janeiro, para tentar formalizar o crime, para que você tenha uma ideia de como esses números são subnotificados.

Via de regra, estupro é um crime que deixa vestígios, portanto, é preciso fazer um exame de corpo de delito para que se prove que o estupro ocorreu e quem é o autor. Não sei como está agora, mas, não faz muito tempo, simplesmente não tinha pessoal suficiente para fazer este exame de forma rápida e eficiente, mandavam a mulher para casa e, muitos dias depois, quando finalmente era realizado o exame, a prova tinha desaparecido.

Isso é só uma pequena amostra para que vocês entendam que, com sorte, apenas 10% dos casos de estupro chegam a virar um processo, a ter julgamento e condenação – se não menos. Bom, é daqui que parte a nossa conversa.

Se você é mulher no Brasil e vive no mundo real, sabe que estupro é uma possibilidade. Não uma possibilidade remota. Uma possibilidade. É factível que aconteça. Não é como cair um raio na sua cabeça, talvez seja mais do que uma possibilidade, é uma probabilidade.

Na cabeça da maior parte dos homens não. Costuma ser algo distante e improvável. Basta que a mulher não passe num beco escuro de minissaia, pois na cabeça da maior parte dos homens, o estupro é esse clichê de pegar uma mulher em um beco escuro, cobrir ela de porrada e fazer sexo com ela. Esse estupro do beco escuro pode até ser padrão em filmes, mas no Brasil, não costuma ser assim que o crime se apresenta.

No Brasil, o estupro vem da vulnerabilidade da mulher. Um padrasto escroto, um avô degenerado, um amigo da família abusado. O estupro acontece por pegar o táxi errado, por estar sozinha em casa quando o entregador veio deixar a comida, por estar sedada em um hospital. É no dia a dia que a mulher brasileira é estuprada. Muitas vezes em plena luz do dia.

Não é algo que se fale abertamente, seria inclusive enlouquecedor trazer esse pensamento à tona, mas toda mulher sabe que o risco existe. Toda mulher já passou por um susto, por uma situação de abuso em menor grau, por alguma violência. A gente aprende que é assim, a gente cria alguns mecanismos e a gente segue em frente, se não, enlouquece.

Eu desafio qualquer mulher a dizer que nunca sentiu medo, receio ou preocupação em um primeiro encontro. Você espera que a pessoa seja decente, você torce para que as referências que têm sejam condizentes, mas, a verdade é que quando você se encontra sozinha com um homem que não tem total e absoluta confiança, há um alerta ligado. Mesmo que seja o melhor amigo do seu melhor amigo, o risco está lá.

Como eu disse, isso fica rodando em segundo plano, é algo que sempre está presente, mas não consciente, se não a gente enlouquece, a gente não faz nada. Talvez por isso não seja tão percebido pelos homens. O homem brasileiro acha que o estupro é uma exceção, e não é. Algo que acontece uma vez a cada dez minutos em um país não é uma exceção, é algo bastante recorrente, lembrando sempre dos nossos primeiros parágrafos, pois, na real, acontece muito mais do que um a cada dez minutos.

Se o estupro fosse esse pegar uma mulher à força no beco escuro, seria ótimo. Bastaria não passarmos por becos escuros. Acreditar nesse cenário dá uma falsa sensação de tranquilidade, que talvez os homens precisem para viver em paz, afinal, ninguém gosta de pensar que sua mãe, sua filha, sua esposa ou sua irmã podem ser estupradas ao pegar um Uber, ao ir ao banheiro em um restaurante ou em uma sala de parto.

Mas a verdade é que no Brasil, isso pode acontecer. Pode inclusive acontecer de forma serial, sem que o estuprador acabe preso. Pode acontecer e ser encoberto pelo hospital, para não sujar seu nome. Pode acontecer e ser minimizado com frases como “tá, o que o cara fez foi errado, vacilão, mas não é estupro”. No Brasil, meus queridos, eu espero qualquer coisa.

Nós, mulheres, temos essa consciência. E isso molda nossas escolhas durante toda a vida, de forma consciente e inconsciente. Cada “sim” ou “não” que falamos para qualquer coisa tem esse programa secundário rodando ao fundo e, sendo muito sincera, é cansativo viver assim. Consome energia. Causa stress. Libera uma quantidade de toxinas nocivas à saúde no corpo. Não verbalizamos, mas vivemos com isso todos os dias das nossas vidas. Eu só percebi a real dimensão do estrago que isso faz quando saí do Brasil.

O que para você, homem, é algo normal, rotineiro, como ir ao médico, fazer um exame ou pegar um táxi, para uma mulher é diferente. Em um país onde só o estupro do beco escuro é falado, punido e reprovado, a insegurança das mulheres passa abaixo do radar dos homens, mas está lá, conosco, nas pequenas tarefas do dia a dia.

Eu sempre dou esse exemplo: imagine que você, homem hetero, vai viver em uma cidade onde a maioria esmagadora da população é de homens gays, todos tem pelo menos o dobro do seu tamanho e da sua força e a cada dez minutos um homem hetero é estuprado, basicamente em qualquer lugar e quase ninguém é punido por isso. Você consegue imaginar como seria sua vida em um lugar assim? Pegar um táxi nesse lugar? Precisar chamar um eletricista na sua casa nesse lugar? Seu carro quebrar no meio da rua à noite nesse lugar?

Homens não tem a menor ideia de tudo que uma mulher passa, de todas as precauções que ela aprende a tomar, de todo o estresse que permeia suas vidas. Acredito que muitos nem ao menos conseguiram acessar a sensação da hipótese do parágrafo anterior. Acredito ainda que se eu tivesse feito um texto duas semanas atrás falando do medo e dos riscos que uma mulher sedada passa em hospital ia chover comentário me chamando de histérica, mesmo existindo número que mostram que estupros em hospitais são frequentes.

Não é discurso feminista, é uma questão biológica: homem é mais forte que mulher. Homem consegue imobilizar mulher. Estupro raramente é punido, a menos que seja esse do beco escuro e praticado por um pobre. É uma situação real e legítima de vulnerabilidade que provoca medo mais do que justificado.

Acontece. Os números (que são muito subnotificado) mostram que acontece. Ainda assim, todo mundo escolhe não olhar para isso e pensar que nunca vai acontecer com a pessoa que está ao seu lado. E, assim, os homens vivem em paz – e muitas vezes, por se convencerem disso, acabam minimizando o medo, o estresse e as dificuldades de ser mulher no Brasil.

E eu honestamente não acho que homens pensem e se portem dessa forma por serem escrotos sem consideração. Suponho que seja um mix de ignorância (no sentido de desconhecer a realidade e como se sentem as mulheres) com autoproteção (muitos enlouqueceriam se soubessem o risco real que suas esposas, mães, filhas e irmãs correm).

Mas, de tempos em tempos a verdade bate à porte e um em um milhão acabam pegos e punidos por coisas que vocês, homens, supunham que não aconteciam, que eram raras. E, quando essa verdade bate à porta, o ódio vai todo para cima do estuprador, que de fato é o maior culpado, mas não é o único. Não dá para pensar que punindo o estuprador se resolve. A situação está como está por causa da sociedade, não por um filho da puta.

Então, o problema não é só o estuprador. É aquele seu parça que acha que se no meio do sexo a mulher desmaia por estar bêbada tá tudo bem continuar. É aquela roda de bar que acha que esse anestesista foi errado, mas não é estuprador. É um sistema policial e penitenciário que deixa impunes 90% dos casos de estupro. É um Judiciário que escrotiza a mulher em vez de julgar um caso como corresponde. É toda pessoa que de alguma forma minimiza o medo e as precauções que uma mulher adota.

Não é apenas obra de um filho da puta. Uma infinidade de coisas precisam estar erradas para que se chegue nesse ponto, de uma mulher que estava com seu marido em uma sala de parto e, quando ele sai para acompanhar o bebê, ela é estuprada na presença de outras pessoas.

Esse grau de certeza da impunidade mostra que não é só um filho da puta, está tudo errado. E mulheres tem motivos de sobra para terem medo e receio. O mínimo que vocês homens podem fazer é tentar colaborar para que elas se sintam mais seguras, em vez de minimizar, chamar de exagero ou negar a realidade.

Sobre o estuprador, você não pode fazer nada a respeito. Mas sobre você, sua postura e o apoio às mulheres que você quer bem, sim. Conversar e validar o que elas sentem e tentar reduzir seus medos e temores é um bom começo.

Você não pode resolver o problema, mas pode contribuir para que a vida das mulheres que você ama seja menos insuportável. Tire o dia para pensar como pode fazer isso.

Para dizer que nem deveria ter vindo aqui pois já imaginava o tipo de baque que ia tomar, para dizer que não há esperança pois as próprias mulheres escrotizam as mulheres ou ainda para dizer que mulher no Brasil não tem um segundo de paz: sally@desfavor.com

SOMIR

Hoje o meu texto é para os homens. Eu gostaria de dividir com vocês algumas realizações que tive e que acho que muito homem nunca parou pra pensar. A primeira delas é que na prática somos mais fortes fisicamente que a maioria das mulheres.

O que você já sabia.

Mas, será que já parou para pensar nisso de verdade? Porque pelo menos eu reconheci uma dificuldade de olhar para o mundo da mesma forma que uma mulher olha, muito por causa dessa diferença de força. Lembra quando você era criança e as coisas pareciam muito maiores do que são agora quando você é adulto? Isso é o ângulo da sua visão. A sua posição no mundo impacta a forma como você enxerga as coisas.

Pode parece bobagem, mas o simples fato do homem ser alguns centímetros mais alto que a mulher em média já faz essa visão ser diferente. O seu ponto de vista é como você se encaixa no mundo. É a partir do seu ângulo de visão que todas as outras pessoas se encaixam. Elas ficam maiores ou menores, elas ficam mais ou menos assustadoras.

E um homem adulto médio enxerga um mundo que poucas mulheres enxergam: um mundo onde você é maior e mais forte que, na pior das hipóteses, metade das pessoas que existem. Sim, eu sei que isso é tão normal para você que parece uma análise vazia. Todo homem sabe disso, certo?

Pois é… saber é uma coisa, entender é outra. Em quase qualquer interação que o homem tem no mundo, tem essa questão de ângulo de visão determinando suas reações. Eu não sou um homem alto, mas eu tenho uma altura média e um corpo largo o suficiente para raramente me sentir em posição de inferioridade inescapável na relação com outros seres humanos. Sim, tem um monte de homens muito maiores que eu, tem até algumas mulheres que provavelmente me quebrariam em dois, mas é tão raro eu me sentir na posição de ser mais fraco de um ambiente que o medo de ser dominado simplesmente não passa pela cabeça.

E a não ser que você seja excepcionalmente baixo e/ou franzino, é muito provável que sempre tenha visto o mundo de um ângulo parecido. Ninguém fica medindo as outras pessoas na rua e calculando se poderia vencer uma briga com elas, não conscientemente, mas ao bater o olho em outra pessoa, alguma informação sobre comparação de tamanhos e forças acontece.

E quando você interage com outras pessoas, essa comparação já foi feita. Imagine, se puder, olhar para o mundo como uma mulher de pouco mais de um metro e meio. Aliás, não imagine, lembre-se mais ou menos como as pessoas mais velhas se pareciam quando você tinha uns 10 anos de idade. Porque é assim que uma mulher média enxerga o mundo.

Imagine-se numa turma de moleques de 10, 11 anos de idade e chega um de 18. Não quer dizer que você vá ficar com medo na hora, mas tem um cara no seu grupo que todo mundo sabe que tem todo o poder físico em qualquer interação. Você pode achar ele super legal, como eu com certeza achava, mas instintivamente você queria estar no time dos amigos dele, afinal, era muito mais seguro.

Mesmo que esse moleque de 18 fosse meio babaca, tinha algo na sua cabeça sempre te avisando que era melhor não causar confusão. Que era melhor não chamar atenção negativa, e que valia a pena fazer uma outra coisa que não achava bacana para manter a paz. Você podia ter a certeza na mente que seria covardia ele bater em você e que nenhuma pessoa decente faria isso, mas era outra pessoa: você não controlava o que ela fazia ou pensava. No momento que esse moleque maior quisesse fazer mal pra você, ele provavelmente conseguiria.

Não à toa, a maioria de nós com essa idade achava os moleques mais velhos o máximo, mas nos sentíamos mais à vontade com os mais ou menos da nossa idade e tamanho. Quando você, homem, cresceu e se tornou um adulto, essa visão de mundo foi desaparecendo, não? Não tem mais um outro adulto que entra na sua vida e você imediatamente muda o comportamento para se proteger.

Para a mulher, essa visão de mundo não desaparece. Claro, tem o fator psicológico, uma mulher adulta é muito mais hábil para lidar com pessoas do que você na pré-adolescência, ela treinou como lidar com homens muito mais fortes que ela por muitos e muitos anos. Não estou chamando mulher de criança, estou dizendo que o homem não entende como essa preocupação com o tamanho dos outros nunca some para elas.

E os números de acidentes e mortes violentas de homens não me deixa mentir: o homem tende até a exagerar nessa confiança que vai dar conta de qualquer ameaça. Mulheres não vão se tornando uma porcentagem maior da população de acordo com a idade à toa. Elas não têm o mesmo grau de ilusão de invencibilidade que nós temos.

O que importa é que você que é homem enxerga o mundo como se fosse capaz de enfrentar todo mundo. Sally tenta me explicar a visão feminina como se eu estivesse convivendo com gays com o dobro do meu tamanho, mas simplesmente não entra no meu cérebro de caroço de azeitona testosteronizada a ideia de que eu não possa lutar de volta. “Eu chuto o saco dos gays estupradores gigantes! Eu pego um cano enferrujado e quebro na cabeça deles! Eu atiro neles!” O homem não consegue se ver de verdade numa situação de vulnerabilidade extrema. O homem tende a nunca se conformar com a ideia de que não tem como lutar de volta.

Na vida real, muitas vezes não tem como ganhar uma luta. Mas até nisso a mente masculina tem mecanismos de proteção: homem quando apanha ou é abusado de alguma forma tende a ter um pouco mais de defesa mental em relação ao risco que corre na vida. “Perdi essa briga, mas vou ganhar a próxima”. É um misto de realismo sobre sua força, que é maior mesmo, e um pouco de ilusão sobre os riscos que corre.

Por que eu falo tudo isso? Porque é importantíssimo para o homem médio perceber que o mundo é diferente para a mulher. O que você acha seguro ela não acha, o que você acha frescura muitas vezes não é. E muito por causa do nosso senso meio desiquilibrado de segurança sobre o mundo, é essencial entender que exageramos nos riscos assumidos o tempo todo.

Mesmo que você não entenda exatamente o que faz uma mulher ficar nervosa ou preocupada, faz diferença sim você escutar o que ela está dizendo ou, se possível, prestar atenção nos sinais que ela dá de preocupação. Eu sei, mulher é muito sutil na maioria das vezes, mas a gente vive se esforçando para ajudar os outros, não? É só mais um esforço.

Não faça pouco do medo de uma mulher, não ache, nem por um segundo, que ela está vendo o mesmo mundo que você. Porque do ângulo dela, as coisas são mais perigosas sim. E com razão. A gente é mais forte e a gente não calcula bem risco. Quando o assunto é proteger uma mulher, é mais importante prestar atenção nela do que em você.

Eu não estou colocando em dúvida o desejo de nenhum homem de proteger as mulheres que gosta, porque salvo casos de psicopatia ou ódio doentio, homens não querem ver mulheres sofrendo. Ao contrário de feministas malucas, eu não estou dizendo que todo homem é ruim e tem que virar um eunuco, eu estou dizendo que está na hora da maioria de nós largar de teimosia de achar que enxerga o mesmo mundo que elas.

E que o que a gente acha certo combina exatamente com o que elas vivem, porque não combina. Seja homem como sempre foi, mas não faça pouco do medo delas, porque não é pouco. Você tem uma força que muda TUDO o que acontece ao seu redor, sua vida toda foi moldada por isso.

Se tem uma lição aqui, que seja entender que elas sabem melhor o que incomoda elas. Mulher não entende metade das coisas que a gente pensa, é mais do que natural que a gente não entenda na mesma proporção. Mulher quer proteção? Protege primeiro e discute depois.

Para dizer que mulheres são diferentes só quando interessa (nesse caso não tem escolha nenhuma envolvida), para dizer que não é estuprador (nem eu, é a porra da obrigação), ou mesmo para dizer que os homens são as verdadeiras vítimas (eu não queria ser mulher, você queria?): somir@desfavor.com

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Comments (13)

  • Até eu que sou gorda e feia já sofri tentativa de abuso. É qualquer tipo de mulher mesmo, não importa se é jovem, criança, velha, bonita ou feia e a maioria absoluta dos homens é estuprador em potencial, basta surgir uma oportunidade. Nascer mulher num país de impunidade é muito triste.

    • Calma aí… a maioria dos homens não são estupradores em potencial não. Todo homem já teve “oportunidade” de estuprar uma mulher, pois já ficou sozinho com ela várias vezes na vida. Se fosse como você está dizendo, todas nós já teríamos sido estupradas várias vezes.

  • Além do risco de abuso em si, ainda tem o de gravidez. Você ainda pode acabar grávida da porra do estuprador. E nosso país está fazendo de tudo para que um feto tenha mais direitos que você.

    Se um dia ocorrer esse cenário do estupro homossexual e homem engravidasse, pode apostar, antes mesmo do dia raiar, direita e esquerda iam se unir, ia ter polícia de todo tipo na rua, abortivo vendendo em qualquer esquina como bala e um judiciário nível Sharia no quesito de punição.

    • Com certeza absoluta. E todo o repertório minimizando o medo das mulheres seria imediatamente substituído por um discurso exaltando quão grave é a situação.

  • E quantas de nós já não passaram pela situação absurda de ser alvo de assédio e/ou importunação física, e ao tentar se desvencilhar ainda foram alvos do ódio e agressão verbal, não apenas do abusador, mas de eventuais testemunhas? Como se devêssemos demostrar gratidão infinita ao abusador que se dignou a nos “premiar” com as suas atenções…
    Seres humanos deveriam ser todos de tamanho equivalente, hermafroditas e com opção para reprodução solitária por partenogênese ou cissiparidade. Acho que assim talvez a humanidade funcionasse.

    • Não apenas isso, como a naturalização disso: todo mundo assiste, ninguém fala nada. Ninguém se mete. É assim e pronto (principalmente em ambiente de trabalho).

  • Ambos os textos são ótimos, mas a vontade de imprimir o texto do Somir e distribuir é maior, porque até mesmo quando uma mulher fala o que ali foi exposto é considerada maluca.

    Duvido existir uma mulher no Brasil, da mais feia a mais bonita, da mais pobre a mais rica, que não tenha sofrido um episódio de assédio, risco de abuso ou efetivo abuso sexual.

    Não sou linda, não possuo uma grande beleza mesmo, sou franzina, magra, sem sal que chama, não sou rica, não uso roupas curtas e consideradas sensuais para que usassem a justificativa escrota de que eu provoquei, e o simples fato de pertencer ao gênero feminino já me expôs inúmeras vezes a casos de assédio e importunação sexual, risco real de abuso e inclusive um abuso sexual na infância.

    Não é fácil ser mulher no Brasil e pelo jeito não será fácil tão cedo.

    Me questiono o que está faltando para a mudança de comportamento ocorrer. Se é a falta de uma união feminina, se é a falta de punição estatal ou se expor na totalidade e de forma clara a atitude masculina dos casos mais “leves” aos mais pesados imporia um pouco de medo e receio de homens fazerem o que bem entendem conosco.

    • Concordo totalmente com você: não existe mulher que, no Brasil, não tenha sofrido algum tipo de abuso. É muito triste e se isso é verbalizado, é tratado como exagero. Os homens não tem a menor ideia de como é a nossa realidade.

        • É difícil conseguir estabelecer uma linha de até onde é seguro ir e até onde é excesso de preocupação. Se a pessoa erra, paga caro, sofre violência, por isso eu entendo que é sempre melhor errar para mais.

          • Quando se trata de se precaver e se preservar, é melhor pecar pelo excesso do que pela falta. E, infelizmente, nunca as expressões “todo cuidado é pouco” e “não convém dar chance para o azar” fizeram tanto sentido como agora…

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