Sally e Somir concordam que o brasileiro é muito ruim de voto e que algumas áreas do país são piores ainda. Mas quando é para definir qual dos estados faz o pior serviço, eles votam em zonas diferentes. Os impopulares fazem a apuração.

Tema de hoje: qual o estado que pior vota no Brasil?

SOMIR

Tenho que escolher São Paulo. A gente cobra de quem tem mais condição de entregar. O paulista não é inerentemente superior, claro que não, é que ele vive num sistema um pouco mais bem organizado que o resto do país, e sim, eu estou incluindo até o Sul nessa conta. Não é uma organização baseada em fatores humanos, e sim em financeiros.

Explico: no estado de São Paulo, tem mais dinheiro investido em praticamente qualquer coisa em média do que no resto do país. E isso vai se acumulando. A capital paulista é a mais rica do país, o interior paulista é o mais rico do país. Pode ser a mesma gentalha brasileira em média, mas é gentalha com estradas melhores, mais hospitais, mais escolas… e isso dá uma certa vantagem no final das contas. A baranga com mais dinheiro quase sempre parece mais bonita que a baranga pobre, por assim dizer.

Eu acredito que ambiente define indivíduo mais do que qualquer outra coisa. E nenhum outro estado tem mais gente sendo influenciada por um ambiente que São Paulo. A maior população do Brasil, com folga. Toda essa gente vivendo na região com maior investimento por metro quadrado do país ainda sim consegue votar de forma horrível eleição após eleição.

Nenhum outro estado tem o mesmo nível de estrutura média que São Paulo. Se alguém deveria dar o exemplo nesse país, seria esse estado. Não dão. Batem o recorde de votos para deputado federal com o Tiririca numa eleição e batem de novo na seguinte com o Eduardo Bolsonaro. Não tem diferença clara entre o que o paulista escolhe e o que o resto do Brasil escolhe. Deveria ter alguma vantagem relacionada com a pujança financeira, mas esse povo caga e anda para quem vota de tal forma que sai tudo no padrão Brasil de qualidade, vez após vez.

Eu julgo menos estados como Piauí, Amapá e coisas do tipo porque sei que por lá as coisas são muito mais precárias e o povo realmente está sendo enforcado pelas péssimas condições de vida. Até mesmo lugares como o Rio de Janeiro, que também tem um dedo muito podre para votar, podem ser perdoados pelo histórico caos criado pelo crime organizado. O carioca não tem muita liberdade para votar, com tráfico e milícia fungando no seu pescoço o tempo todo.

Embora o Sul também não tenha muitas desculpas para votar mal, ainda é muito mais mato que São Paulo: tirando as grandes cidades, é uma pegada meio Centro-Oeste de país paralelo de isolamento, fazendeiros e escravos modernos. Eu escolho meu estado como pior porque sei que a civilização vai muito mais longe aqui do que em qualquer outro lugar. Eu moro numa cidade interiorana com mais de um milhão de habitantes. Nem nos EUA isso é muito comum, para vocês terem ideia.

São Paulo deveria ser o estado que vota de forma mais eficiente no país: afinal, é o estado que mais dá dinheiro para o país na conta geral. Se fosse um país, São Paulo estaria dando lucro há mais de um século. Mas não, o paulista pensa pequeno e coloca sua ideologia do momento na frente do desenvolvimento nacional, garantindo que os recursos gerados aqui continuem sendo distribuídos país afora para alimentar os “coroné” que controlam boa parte do resto do país.

E tem outra: o volume de votos que vem do estado define eleições presidenciais. Quando o paulista faz besteira, mesmo que não seja completa, ainda resolve eleições. O Nordeste votou em peso na Dilma, mas se os paulistas não tivessem ajudado, não teria sido possível. Sim, acabaríamos com a Aécio, que talvez fosse ainda pior, mas pelo menos seria uma quebra do maior esquema de corrupção da história. Pequenas vitórias. A culpa de todos os presidentes pode ser traçada de volta a São Paulo.

E falemos de ideologia: o paulista tende a ser conservador. Mas muito se engana quem acha que é uma ideia de responsabilidade fiscal, não é: o paulista tende a não querer saber do candidato depois de eleito. Faz o que tem que fazer aí e não encha nosso saco. Isso é comum na capital e no interior, o grau de acompanhamento do que fazem nossos líderes é basicamente nulo. O paulista vota no que der menos trabalho toda vez. Não é à toa que por décadas ficamos apertando 45 sem pensar. Não é à toa que assim que o paulista ficou sabendo que tinha um candidato com o número 45, ele começou a subir rapidamente nas pesquisas e periga chegar no segundo turno.

É um povo que não entende que seu sucesso é baseado em volume de recursos e investimento médio e não em boas gestões. É um povo de status quo que só mexe a bunda para fazer piada (como o Tiririca) ou para defender ideologia conservadora cristã aleatória (como o Eduardo Bolsonaro). Quem mais deveria querer arrumar esse país para melhorar as próprias condições, afinal, com tanta gente e tanto dinheiro seria o primeiro a quebrar a barreira de “primeiro mundo” numa eventual estabilização do cenário nacional, mas fica com essa mentalidade tacanha de achar que é melhor não balançar o barco para não perder os benefícios que já tem.

O carioca, o nordestino ou até mesmo o sulista tem mais desculpas para votar errado, porque tem muita coisa possível para acontecer em seus estados que pode melhorar um pouco a situação. É mais fácil o povo de outros estados cair num conto furado, porque tem muito o que investir ainda neles, o povo paulista já deveria estar mais atento a isso. O que nos segura é a teimosia de se contentar com o pouco que temos a mais que os outros estados. A ideia errada de que se mantivermos as coisas como estão, pelo menos pior não fica.

Pior… fica. Eu vou pegar no pé do Maranhão quando eles tiverem estrutura para serem cobrados, eu vou criticar mais a fundo os cariocas quando… bom, quando eles foram mais do que uma cidade gigante no meio do mato. Quem tem mais a ganhar e mais a perder é o paulista, e por isso não acho possível perdoar esse povo pelas cretinices que vivem fazendo nas eleições. Aparentemente, esse povo está eternamente contente com ser o maior peixe do menor aquário.

E isso não está resolvendo porcaria nenhuma.

Para dizer que arrogância paulista deveria estar no CID, para dizer que pelo menos a gente pode escolher a merda que faz, ou mesmo para dizer que o Sul é melhor (deve ser, mas não é mais rico): somir@desfavor.com

SALLY

Qual é o estado brasileiro que pior vota?

Essa é fácil: Rio de Janeiro.

Talvez existam outros estados que votem ainda pior, mas são estados que não tem qualquer condição de fazer melhor. Estados com índice de analfabetismo enorme, mortalidade infantil devastadora, que recebem pouquíssimos recursos para educação e para o básico do básico.

No rol dos que teriam condições de fazer melhor, quem pior se sai é o Rio de Janeiro. Não dá para passar pano para o Rio de Janeiro nessa pegada “coitadinho do carioca retardado, ele não sabe o que faz”. Quando lhe convém, o carioca é bem espertinho, safo e estrategista. Essa porra já foi capital do país, Rio de Janeiro tinha a obrigação de ser melhor.

Longe de mim sonhar em defender que São Paulo vota bem. É uma vergonha, porém, é uma vergonha com menor abrangência. Tem um critério no votar mal de São Paulo: voto de protesto em palhaço, voto sem noção em família notadamente corrupta, são votos merdas, mas que ao menos seguem um padrão.

Rio de Janeiro não. É um mix, pode sair qualquer coisa dali. Votam em bandido, em subcelebridade, em miliciano, em funkeiro, naquele seu tio bêbado usando uma peruca… qualquer coisa. Não há critérios, não há limites, não há qualquer denominador comum entre os candidatos eleitos para o qual se possa olhar e entender um padrão.

E isso reflete muito bem o que é o Rio de Janeiro. O traficante evangélico que defende a família tradicional brasileira, mas tem uma amante fora do casamento à qual forçou a fazer um aborto. O Rio de Janeiro é uma contradição ambulante: edifícios de luxo cercados por favelas que trocam tiros o dia todo, igrejas onde freiras se prostituem e vendem drogas, Projac onde o lacre esmaga quem reza fora da cartilha, mas tem ator preso por pedofilia.

O Rio de Janeiro é um balaio de gatos, é uma Torre de Babel, é um lugar incompreensível. E olha que eu estou longe de ser uma moralista ou coisa do tipo. Nos mais de 40 anos que morei lá, não teve um dia que não me surpreenda com alguma barbárie, contradição ou absurdo. Isso, obviamente, se reflete nas urnas. Tanto nos candidatos, como nos votos.

São Paulo, com todos os seus defeitos, é menos caótico, contraditório e baixo nível que o Rio de Janeiro – e isso também se reflete nas urnas. Poderia fazer melhor? Poderia… ou não, considerando o número de pessoas que migram de todos os estados para lá em busca de uma ilusão e acabam vivendo em condições sub-humanas. Não dá para pedir que quem não sabe se vai ter comida no prato na próxima refeição estude plano de governo de político e vote bem.

No Rio de Janeiro, por incrível que pareça, boa parte dos votos abomináveis vem da classe A e B. Gente com diploma universitário, gente com a base da pirâmide de Maslow devidamente suprida, gente que teria condições de fazer melhor, mas por alguma disritmia cerebral se comporta como um babuíno bêbado. E não apenas na política, na vida.

Eu realmente não entendo o que se passa com essas pessoas. Óbvio que você encontra pessoas muito bacanas no Rio, eu mesma conheço várias, mas a maioria se comporta como um símio que aspirou óxido nitroso. Talvez um dia se descubra ser um surto coletivo causado por alguma combinação química no ambiente, vai saber. O fato é que pessoas “piores” geram votos “piores”.

Jogue o adjetivo negativo que quiser em São Paulo e eu provavelmente vou concordar com você: chatos, pedantes, arrogantes, caipiras… São cheios de defeitos, mas “maluco do caralho” é algo que veste apenas no Rio de Janeiro. Não é um defeito, é uma pane geral no funcionamento cerebral, é um colapso total que os transforma em macacos com navalhas.

Não é à toa que o Rio de Janeiro é piada nacional como referência de bagunça, crime e esculhambação. Até internacional. Nunca esqueço quando uma prima estava tentando me explicar o patamar que havia chegado a província de Rosário, na Argentina. Ela me disse “Rosário é tipo o Rio de Janeiro da Argentina”.

Uma cidade que é conhecida mundialmente pelo oba-oba, pelo turismo sexual (muitas vezes envolvendo menores), por ser um bom lugar para comprar drogas impune, pelo carnaval e por outras referências nada honrosas não pode ser comparada a uma cidade que é conhecida por sua força de trabalho, por seus workaholics, por sua indústria e por levar o país nas costas. Repito: São Paulo é aquele nerd esquisito, que tem eventuais comportamentos aberrantes, mas Rio de Janeiro é o Alicate.

A realidade reflete no voto. Um lugar dominado metade pelo tráfico e metade peça milícia (a polícia não manda em NADA no Rio de Janeiro) não pode ser um ambiente saudável. Um lugar onde informalidade, vulgaridade e vícios são valorizados enquanto pontualidade, ética e comprometimento são desvalorizados não tem nenhuma condição de eleger qualquer coisa diferente disso.

E eu não sou puxa-saco de São Paulo, acho que em muitas coisas o Rio de Janeiro ganha se for comparado: corpo, sensualidade, simpatia, carisma e tantas outras. Mas a maioria é de malucos do caralho incapazes de um trabalho de excelência, que acham que fazem muito quando, se você for comparar em um padrão internacional de produtividade e qualidade, não fazem nem o básico.

Quem não faz nem o básico vota em quem não faz nem o básico. Em São Paulo ou você trabalha bem, ou você é demitido. Digam o que quiserem, mas o pessoal de São Paulo sabe trabalhar. E é mais fácil que quem sabe trabalhar reconheça e valorize quem sabe trabalhar e acabe votando nesse tipo de pessoa. Por mais que nenhum político seja um primor no trabalho, os demais não costumam fazer a vergonha e os desfavores que os representantes do Rio de Janeiro fazem.

É uma questão de matéria prima: não sai nada de bom do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro se colocar paredes em volta vira um manicômio, se colocar uma cerca vira um zoológico e se colocar uma lona por cima vira um circo. Não tem como nenhum outro estado brasileiro fazer frente à sua loucura, incoerência e descontrole. Quem é mais fodido da cabeça, fatalmente vota pior.

Para dizer que o Rio de Janeiro tem que acabar, para dizer que São Paulo tem que acabar ou ainda para dizer que o Brasil tem que acabar: sally@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas: , , ,

Comments (16)

  • O oeste paulista condiz com a descrição um tanto quanto entusiasmada do estado? O Pontal do Paranapanema também?

  • São Paulo é a porra da locomotiva do Brasil que anda de lado tem 100 anos, e o Rio teve SEIS GOVERNADORES PRESOS. Páreo duro!

  • “Quando o paulista faz besteira, mesmo que não seja completa, ainda resolve eleições. ”
    O estado que decide não seria Minas Gerais? Há décadas que tem essa tendência do candidato que ganha em Minas levar a eleição.

  • ““Maluco do caralho” é algo que veste apenas no Rio de Janeiro. Não é um defeito, é uma pane geral no funcionamento cerebral, é um colapso total que os transforma em macacos com navalhas.”
    Essa descrição tinha de entrar nos livros escolares, quem sabe gerava alguma autocrítica nas novas gerações?

  • Nesse quesito o Brasil é super congruente, TODOS Estados votam mal.
    Mas depois de eleger o Tiririca, São Paulo levará o troféu forever :/

  • Acho que quem vota mal mesmo, conhecendo de perto como conheci, é MG e PR. Poxa, são estados excelentes, que tem tudo pra ser excelentes e super bem desenvolvidos. Mas a gentalha burra mineira resolve votar só no Aécio (que só governa pra Belo Horizonte!), ou no Zema (mais um bolsonarista de merda). E, no PR, ao invés de botar um Requiao pra coisa andar de vez, preferem colocar o ratinho jr, mais uma ratazana bolsonarista que nada traz de bom ao estado e só corta direitos das pessoas! Ridículo, simplesmente ridículo!

    • Mesmo nunca tendo morado nem em MG e nem no PR, eu, olhando de fora, também tenho uma impressão semelhante desses dois Estados, Ge.

  • Eu fico com o Somir nessa, apesar de entender os argumentos da Sally. Se bem que, seu eu tivesse morado no Rio por 40 anos, talvez eu tivesse até mais ranço de lá do que ela. São Paulo, por ser realmente o Estado mais desenvolvido do país (a “locomotiva do Brasil”) e pelo fato de parte de seus habitantes muitas vezes arrotarem superioridade na cara dos outros, tinha plenas condições de fazer bem melhor quando o assunto é eleições. Mas, em matéria de se usar a urna como privada – ou seja, fazendo gigantescas e sucessivas cagadas – , os paulistas são iguaizinhos ao resto do Brasil. Aqui também tem candidatos bisonhos, políticos pilantras e eleitores alienados. E um estado de coisas tão ruim como o que já se vive há tempos nesta “gloriosa terra bandeirante” fica especialmente mais vergonhoso quando se percebe que, pelas condições existentes aqui, dava para ser diferente…

  • Fecho com a Sally mas deixo uma menção desonrosa pro Rio Grande do Sul que se mantém por ter uma população decente mas tem fetiche em votar em gente com idéias de DCE de humanas.

  • Se for pra escolher somente dentre as duas opções da postagem, eu fico com a apresentada pela Sally. As informações que me chegam do Rio são sempre as piores possíveis e não dá mesmo pra esperar nada de bom de um lugar cuja situação de bagunça total foi muito bem resumida nesse único parágrafo:

    “E isso reflete muito bem o que é o Rio de Janeiro. O traficante evangélico que defende a família tradicional brasileira, mas tem uma amante fora do casamento à qual forçou a fazer um aborto. O Rio de Janeiro é uma contradição ambulante: edifícios de luxo cercados por favelas que trocam tiros o dia todo, igrejas onde freiras se prostituem e vendem drogas, Projac onde o lacre esmaga quem reza fora da cartilha, mas tem ator preso por pedofilia.”

  • Sally fez uma otima argumentação, mas nessa eu voto com o Somir.
    Quase metade do povo interiorano paulista é uma gentalha crente, ignorante, sem noção de matemática básica e não consegue juntar causa e efeito, sendo que em SP temos boas escolas públicas se comparar com o resto do país, parece que eles optam por serem jecas. O estado vai bem apesar deles.
    Na capital o negócio é mais cosmopolita e você tem bolhas cultas e civilizadas, mas é muito nicho, o que sobressai é o pensamento da gentalha caipira.

  • Eduardo Cunha e Cris Brasil vieram (repetindo a saga do Dadinho Pau Pequeno) do Rio de Janeiro pra São Paulo lançar campanha para deputado federal. Dois desfavores.
    Pelo menos se a Cris não forçasse tanto no personagem, ainda tinha alguma chance por aqui.

    • É tenebroso, mas eu consigo dar um desconto, pois a grande maioria é de pessoas muito ignorantes, sem condições de escolher melhor…

Deixe um comentário para W.O.J. Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: