Gaslighting da Esculhambação

Ser uma pessoa correta, pontual, ética e comprometida no Brasil tem um custo enorme. E pouco se fala disso, do inferno de ver o resto do mundo desvalorizando o que é certo como se fosse errado.

São muitos os que fazem isso, são maioria, então, em algum ponto, em algum momento, especialmente quando a pessoa está mais fragilizada, pode chegar a acreditar que essa maioria tem razão e duvidar de si mesma: “nossa, será que eu estou maluco? Será que eu sou exagerado? Será que eu me aborreço por pouca coisa?”.

E esta é a razão de ser do texto de hoje: para te dizer NÃO, a maioria não têm razão, você tem. NÃO, você não está maluco e NÃO, você não é esse tanto de coisas negativas que dizem.

Recentemente o termo “Gaslighting” de popularizou, em um contexto feminista, onde se acusa a homens de certas atitudes contra mulheres: de uma forma sutil, se mina a autoestima e confiança da vítima, usam-se manipulações ou mentiras para tentar fazê-la pensar que ela é maluca, exagerada ou que seus argumentos não são válidos, geralmente com o objetivo de se safar de algo ou conseguir o que deseja.

Do ponto de vista do feminismo, me parece uma grande bobagem, já que filhadaputez não escolhe sexo (nem cor, nem religião). O ser humano, por si, costuma ser bastante escroto e tem muita mulher fazendo isso com homens neste exato momento. Mas, do ponto de vista da esculhambação, faz todo o sentido, pois é um modus operandi dos incompetentes: tentar desvalorizar os competentes, para parecerem ou se sentirem menos incompetentes.

Então, quando se usa Gaslighting como mecanismo recorrente de persuasão, para desvalorizar quem faz o certo, eu chamo de Gaslighting da Esculhambação. O termo existe? Não. Mas o ato existe e é tão recorrente que merece receber um nome.

Então, hoje estamos aqui para desarmar essas falácias manipuladoras que só protegem incompetentes, vagabundos e a grande esculhambação na qual se encontra o país. E também para te lembrar que a luta não é para que as pessoas parem de fazer isso (os outros são problema dos outros) e sim para que você pare de se importar com isso. Está na dúvida se você é maluco, exagerado, chato ou exigente demais? Vamos te ajudar a desarmar algumas tentativas de Gaslighting da Esculhambação.

Vamos começar falando de pontualidade. Por razões que eu desconheço, pontualidade é muito relativizada no Brasil, e até desvalorizada: “Ai, sabe como é, Fulana é chatinha com horário”. Oi? A pessoa que cumpre horário é chata? Chato é o pau no cu que chega atrasado, que mostra que além de não saber gerir seu tempo, ainda se acha importante o suficiente para deixar outros esperando por ele.

Então, você está coberto de razão se ficar chateado com atrasos, de cobrar pontualidade, de descartar pessoas por impontualidade. A forma como uma pessoa se apresenta para um compromisso (seja ele forma ou não) diz muito sobre como ela se sente a respeito do compromisso – inclusive um atraso. Chegar na hora diz “eu quero estar aqui” ou “eu acho importante estar aqui” ou “eu priorizo estar aqui”. Você tem motivos de sobra para não querer estar com quem não quer estar com você, ou com quem não acha importante estar com você ou com quem não prioriza estar com você.

Imprevistos acontecem. Acontecem com todo mundo. Porém, imprevistos são eventos raros, impossíveis de prever e evitar. Ninguém tem um imprevisto toda semana. E mesmo em casos de imprevistos, podemos aferir a consideração de uma pessoa na forma de lidar com eles: o mínimo que se espera é um telefonema avisando que haverá um atraso ou que não poderá comparecer.

Então, você não é chato, nem maluco, nem paranoico, ou qualquer atributo pejorativo por ficar chateado quando horários, prazos e combinados não são cumpridos. Pontualidade é a mãe da educação. Chato, sem noção e difícil de conviver é o adultinho que não consegue gerir seu tempo para comparecer/cumprir a todas as suas obrigações da vida adulta. Pessoas assim deveriam ser penalizadas com uso obrigatório de fralda na rua, assim todo mundo sabe que não são confiáveis.

“Você quer tudo no seu tempo” ou “Você quer tudo do seu jeito” também são argumentos recorrentes do Gaslighting da Esculhambação. É assim que os símios desorganizados invertem o jogo e calam as suas reclamações diante de alguma incompetência deles. Não é como se o que eles fizeram estivesse pessimamente feito (mesmo quando há indícios inegáveis disso) ou totalmente fora do prazo para o propósito a que se destinava, é você que quer tudo do seu jeito e no seu tempo.

Um exemplo grotesco, porém, real: você pede para alguém regar as plantas para você e dá as instruções de como elas devem ser regadas. As plantas secam e morrem. Você reclama com a pessoa e a pessoa diz “Eu reguei”. Daí você pergunta “Regou como eu te disse?” (quantidade de água necessária) e a pessoa parte para a defensiva “Você quer tudo do seu jeito”.

Não é o jeito de alguém, é um ser vivo que tem necessidades que, se não atendidas, morre. Querer imputar intolerância a quem te diz a quantidade de água necessária para manter uma planta viva é de uma imbecilidade que não tem precedentes. As plantas morreram? Você não fez bem-feito.

E aqui entra um componente de arrogância: todo mundo acha que sabe tudo. Spoiler: a maioria das pessoas não sabe nem aquilo que deveria saber. E as pessoas se ofendem com instruções. Elas gostam de fazer “do jeito delas”, mesmo sem ter qualquer subsídio para isso. Ofende dar instruções detalhadas e isso acaba calando a boca de muitas pessoas, que permitem que o imbecil da vez faça as coisas “do jeito dele” (vulgo malfeito para um caralho). O resultado é esse aí. A planta morre, você reclama e ainda tem que ouvir “nunca mais te ajudo, você quer tudo do seu jeito”. Grotesco.

“Quer dizer que tem que ser tudo sempre do seu jeito?”. Não, quer dizer que quando você pede a alguém um trabalho, uma missão, uma ajuda, ela pode fazer de diferentes formas CONTANTO QUE o resultado final desejado seja alcançado. Se mantiver a planta viva, pode regar de cabeça para baixo. Mas, se não é profundo conhecedor do assunto, baixa a bola e faz da forma que uma pessoa que tem experiência está te dizendo.

Fazer “do meu jeito” e o resultado ser desastroso se chama arrogância, ou burrice, ou imbecilidade, ou comportamento símio. Você tem todo o direito de reclamar se delegou uma tarefa (ou apenas cobrou que o outro cumpra uma tarefa) e ele não a fez bem-feita, como comprova o resultado final. Se a pessoa falar que você quer tudo do seu jeito, chame-a se símio e saia, pois nem sequer vale a pena discutir, essa pessoa está fora do alcance da sua mão.

As únicas pessoas que podem bater o pé e querer “fazer do meu jeito” são as pessoas competentes, ou seja, 1% dos brasileiros, que tem o que se precisa (tempo, recursos, paciência, inteligência e interesse) para estudar e compreender qual a melhor forma de fazer aquilo. Todo o resto tem que calar a boquinha e fazer exatamente como lhe foi pedido, de preferência anotando as instruções, já que seus pequenos cérebros de caroço de uva parecem não ser capazes sequer de armazenar mais do que duas frases.

Outro comportamento que escancara as portas para o Gaslighting da Esculhambação é a crítica ao comportamento irresponsável quando ele não teve nenhuma consequência negativa. Imagina um pai balançando um bebê pelo pezinho do alto de uma janela no 15° andar, a mãe berrando que não tem que fazer aquilo, brigando e o pai dizendo “Não sei qual é o problema, não aconteceu nada, o bebê está bem”. Pois é. Certamente muitos de vocês já passaram por algo do gênero: serem taxados de histéricos, malucos, excessivamente preocupados quando apenas estão expressando bom-senso.

O fato pelo qual pessoas com cérebro e responsabilidade evitam riscos não é por achar que toda vez que corremos um risco uma tragédia vai acontecer e sim por saber que existem grandes chances de ela acontecer. Se houve um grande risco desnecessário e nada aconteceu, isso não significa que o risco não existiu, significa que foi um golpe de sorte. E só idiotas profundamente idiotas deixam suas vidas, saúde ou bem-estar (ou de entes queridos) nas mãos da sorte.

Quem corre o risco não tem controle de quando ocorrerá uma tragédia ou quando não, então, podem bem enfiar no fundo do cu esse discurso de “não aconteceu nada”. Não aconteceu nada é seu cu tocando gaita, aconteceu algo bem grave: um risco desnecessário que afeta terceiros advindo de uma decisão unilateral.

É como dizer “saí de carro sem cinto de segurança e não morri, portanto, não preciso usar cinto”. Uma hora algo vai acontecer, e se você não estiver de cinto, pode morrer. Quer fazer isso com você mesmo? Sagrado direito seu. Mas fazer com terceiros, sejam eles pessoas, animais ou pertences que são amados por outros? Isso é digno de reprovação, de reclamação e de punição. Mostra, além de burrice, falta de consideração, arrogância e incapacidade de cuidar de qualquer coisa que seja, até mesmo de um cacto.

“Mas Sally, o risco faz parte da vida, sair na rua todos os dias é um risco”. Olha aí mais um exemplo de Gaslighting da Esculhambação! Você está se fazendo de imbecil ou de fato tem algum retardo mental? Não conseguir diferenciar os riscos necessários (sair para trabalhar) dos desnecessários e não conseguir diferenciar os riscos enormes (sacudir um bebê pelo pé) dos riscos pequenos (sair na rua) denota um atraso mental daqueles em que a pessoa deveria se alimentar apenas com colher, para não correr o risco de enfiar um garfo no próprio olho e se matar.

Mas quem propaga Gaslighting da Esculhambação sabe muito bem que existem graus diferentes de risco, apenas fingem demência e repetem uma falácia perpetrada por gerações em um tom destinado a causar constrangimento no interlocutor, para calar sua boca e tentar se safar com suas péssimas escolhas. Sempre deu certo, então, eles continuam repetindo. Quem tenta ser a voz da razão acaba esculhambado, diminuído e envergonhado. Lamentável.

Tem ainda os idiotas que tentam constranger/humilhar/manipular com o discurso infantil de “é problema meu”. Quem nunca viu uma pessoa com enfisema pulmonar fumando? Ou um cardíaco comendo gordura até dizer chega? Estas pessoas ficam reativas se forem advertidas sobre seus péssimos hábitos de vida e disparam um infantil “é problema meu, é a minha vida”.

Olha, esse argumento só é válido se nada que decorra dessas más decisões respingar nas pessoas que estão à sua volta. Caso respingue, não é problema seu, é um problema de todos. E quase sempre respinga, pois nenhum ser humano decente abandona um ente querido quando ele está doente ou precisando de ajuda.

O problema é que geralmente essas pessoas morrem como viveram: dando trabalho para os outros. Dificilmente será uma morte rápida e tranquila. Não. Vai ser aquele AVC onde a pessoa vai ficar na cama por décadas e os coitados que o cercam terão que trocar suas fraldas e limpar sua bunda enquanto lembram do imbecil berrando “é problema meu”.

Então, não se deixe humilhar, constranger ou calar pelo infantil “é problema meu”. Um filho drogado é problema de todos. Um filho obeso é problema de todos. Qualquer pessoa que, caso adoeça, onere sua vida, é um problema seu também. Não é como se você estivesse tentando causar um dano à pessoa, muito pelo contrário. Tem que ser muito símio, muito tosco, muito filho da puta e burro para fazer com que uma pessoa que está tentando cuidar de você se sinta mal. Tanta gente tá aí, sozinha, sem cuidado… e quem tem, em vez de valorizar, escrotiza a pessoa.

Mas, gritar “é problema meu” e colocar a pessoa que tenta intervir como invasiva é uma tática para humilhar, desacreditar e constranger o outro, de forma a assegurar a manutenção de qualquer hábito nocivo. Como frequentemente funciona, continua sendo perpetrado. Se a pessoa que sofre o Gaslighting da Esculhambação não tiver uma autoestima muito boa, no lugar, se não estiver muito inteira, ela pode chegar a duvidar se ela não é a errada, se não está sendo exagerada, etc. Pois eu estou aqui para te dizer: errado é o outro e a puta que pariu o outro também por criar um manipulador babaca como esse.

Acho que já seu para entender o espírito do texto, né? Quem é correto, quem tenta fazer a coisa certa, quem é responsável acaba sendo detonado por quem é irresponsável, com o objetivo de fazer a manutenção dessa irresponsabilidade, dessa esculhambação.

Eu já viajei muito, já vi muitos povos bagunçados, esculhambados, caóticos, mas nunca vi ninguém com tanto amor pela esculhambação quanto o brasileiro. Existem graus, sabe? Antes que venha um dizer “mas em todo lugar tem…” PARE. APENAS PARE. Não no grau, quantidade e forma que tem no Brasil. Em quantos países do mundo você acha que eu conseguiria preencher 15 páginas semanais só com notícias de desfavores?

Outra diferença importante: como se lida com isso. Geralmente, quem vive na esculhambação sofre, por não conseguir fazer diferente e se sentir um merda pro isso. O brasileiro não: ele se orgulha.

Se orgulha, acha que isso é uma coisa boa, é saber “viver a vida”, é “não perder tempo com besteira”, é “não se estressar por pouca coisa” e faz o que for preciso pela manutenção da esculhambação na sua vida, mesmo que isso implique atirar merda em quem de alguma forma tenta ajudar e convencer a pessoa de que ela é louca/exagerada/chata/paranoica ou que for. “Deixa a vida me leva, vida leva eu”.

Ok, arrombado, se você não incomodar absolutamente ninguém quando estiver doente, aleijado ou precisando de algo, todo mundo deixa a vida te levar. Só que não é isso que acontece: plantam merda e depois te obrigam a colher bosta.

Se você este nessa posição, meu primeiro conselho é: saia de perto de uma pessoa manipuladora e filha da puta que, em nome de manter a própria esculhambação (algo a ser combatido e não protegido) tenta te fazer sentir mal, inadequado, exagerado, errado, inconveniente, invasivo ou de qualquer forma diminuir sua autoestima. Se puder, se afaste, pois essas pessoas não vão mudar por um motivo muito simples: não conseguem. Se conseguissem, já tinham mudado.

É um comportamento de viciado, de drogado: jogar o quão baixo for para manter seu vício. E a esculhambação, o descompromisso pode sim ser um vício e pode prejudicar em muito a vida da pessoa e de todos que a cercam. Sabe criança burra, aquela bem burra mesmo, que não importa o quê, vai mal em todas as provas e, para disfarçar a burrice toca o zaralho na aula e não estuda? É isso, só que na vida adulta. Para disfarçar uma incapacidade de gerir a própria vida adultinhos revestem isso de escolha. Mas não é. Mesmo que eles acreditem que é (é triste, mas alguns realmente acreditam na mentira), não é escolha, portanto, sem ajuda, essas pessoas não mudam.

Se sair de perto não for uma opção no momento, eu recomendo que você se blinde e compreenda que essa pessoa é uma idiota que está tentando te manipular (consciente ou inconscientemente), jogando shame, tentando te calar pela vergonha, constrangimento ou acusações, para fazer a manutenção dessa esculhambação. Então, ela vai tentar. Muito. Vai morrer tentando. Blinde-se, tenha autoestima e saiba que nada do que sai da boca desse símio viciado é verdade, é tudo desespero. Não pegue para si. Deixa falar e que entre por um ouvido e saia pelo outro. Se conseguir, sinta pena, sinta dó, pois é uma puta vergonha ser um adulto incompetente do caralho.

E não deixe que a pessoa consiga o que quer: te intimidar, te calar, te envergonhar. Finca o pé nas tuas convicções e não se mova de onde você está. Não precisa brigar, mas você não é obrigado a se calar. Fale o que acha que tem que falar, faça o que acha que tem que fazer. Se, por opção, você quiser ligar o foda-se e ignorar, eu te dou o maior apoio, mas que seja por opção.

Não permita que te calem no grito, na intimidação, na manipulação. Seja fiel a você e a aquilo que você acredita, ridículo é um adultinho que não sabe gerir a própria vida, que se destrói, que torna o ambiente onde se vive uma zona, que perde compromisso, que esquece obrigações. Esse tipo de pessoa é que tem que ter vergonha, não você, que pede o básico para uma vida limpa, ordenada e funcional.

Curiosamente, os pontuais, os corretos, os organizados, dificilmente escrotizam os errados. Apenas se queixam quando eles lhes geram prejuízo. Já o contrário…

Quem tá errado é que parte para cima de quem está certo no Brasil, em uma cultura de desvalorização do que é bom e correto, afinal, Deus os livre de que percebam que eles são os errados, não é mesmo? Spoiler: esses símios incapazes de gerir sua vida de forma decente vivem em um inferno muito maior do que você pode imaginar. Esta também é uma razão para jogarem merda em quem tem uma vida correta, sob controle e organizada. Sua existência lhes relembra quão merdas eles são.

“Então quer dizer que se alguém discordar da Madame, a pessoa está fazendo Gaslighting?”. Não, não quer dizer, mas muito obrigada por mais um exemplo de Gaslighting da Esculhambação.

Discordar é saudável e bem-vindo, porém discordar usando de argumentos que atacam a pessoa (e não a controvérsia) como, por exemplo, falar que a pessoa é maluca, paranoica, chata, estressada, quer tudo do jeito dela, exagerada ou coisa do tipo não é saudável. É babaca, é pequeno, é coisa de gentinha medíocre e escrota. Se tem alguém fazendo isso com você, não se deixe intimidar, mantenha-se firme e forte no seu argumento.

O errado não é você. O maluco não é você. O chato não é você. O ___________ (complete com o termo pejorativo que o imbecil que habita sua vida atribuí a você) não é você. Continue, firme e forte. E se quiser desabafar, tamo junto: vem anônimo nos comentários que a gente te ajuda a lidar com a situação.

Para dizer que você é o imbecil e também quer desabafar, para dizer que eu quero tudo do meu jeito (pode falar, já estou imune) ou ainda para dizer que trabalhar para mim deve ser a pior coisa do mundo: sally@desfavor.com

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Comments (26)

  • “Curiosamente, os pontuais, os corretos, os organizados, dificilmente escrotizam os errados. Apenas se queixam quando eles lhes geram prejuízo.”
    Ou nem isso, porque dependendo do caso, uma simples reclamação pode custar a vida.

    • Verdade. Tem descompensados que, além de ficar putíssimos quando lhes chamam a atenção, ainda querem partir pras vias de fato. Em um escritório em que trabalhei tinha muita gente assim. Era um inferno..

  • Enquanto eu li o seu texto, eu lembrei de um outro texto seu em que você narrava uma dramática experiência sua de uma viagem ao Nordeste onde você estava presa com um calango no quarto do hotel e aos prantos você pedia para o funcionário do dar um jeito ou matar o calango e ele se limitava a dizer lentamente “Matu nããããuuum, bichu lindu di Deus”.

    Podemos atribuir esse exemplo como Gaslighting da esculhambação também?

  • “Deixa a vida me leva, vida leva eu” deveria ser o hino do Bundil, pois sintetiza perfeitamente o inconsciente coletivo tupiniquim e seu modo de viver em sociedade.

    Na universidade em que trabalho, as aulas da manhã começavam às 7h30m. Eu sempre iniciei as atividades às 7h30m rigorosamente, independente de quantos alunos houvesse na sala (em geral poucos). Só que os atrasos gerais por causa da vadiagem do busão eram tantos que a direção entrou numas de botar as aulas começando no horário seguinte (às 8h20m), pra ver se resolvia o problema. Resultado: busão chegando todo santo dia 8h40m, 8h45m…

    Detalhe: a pocilga onde moro tem 30 e poucos mil habitantes e UMA ÚNICA empresa de busão. Um pouco de responsabilidade e senso de organização já daria conta dessa putaria, mas daí não estaríamos lidando com brasileiros e seria exigir demais de cabocos que só querem saber do futebolzinho, da pinguinha e cujas conversas nunca vão além de rodeio, caçada, sertanejo (raiz ou universiotário) ou mato/cavalgada.

  • O que mais me irrita no gaslight não é o erro em si, mas a pessoa ser sonsa é agir sem, ao menos, reconhecer que está errado. Uma coisa é se atrasar e assumir que perdeu a hora porque se distraiu olhando para o teto, outra é responder com “mas você também se atrasa”. Não tenho paciência para quem não assume os próprios BOs ou terceiriza a culpa. Como quem tem filho grande é elefante, me desobrigo da tarefa de educar e apenas me afasto. Dar conta do meu trabalho já me suga a alma, não preciso ter outras dores de cabeça (preguiçosa demais para isso).

  • Em quantos países do mundo você acha que eu conseguiria preencher 15 páginas semanais só com notícias de desfavores?
    ESTADOS UNIDOS
    O resto eu assino embaixo.
    Bjs no coração de todos.

  • Eu convivi com um lixo de ser humano assim. Pior, eu tinha que tratar aquilo como chefe. Toda vez, TODA VEZ que eu apontava um problema nas práticas daquilo (e eram muitos, porque tratava-se de um cabide que foi colocado num cargo de chefia técnica por pura politicagem), a resposta era “mas eu não vejo o problema em fazer assim”. Um dia eu ouvi isso, fui pro banheiro e esmurrei as paredes enquanto chorava de ódio daquele estrume. Fui para no INSS, e depois pedi pra sair, não deu pra aguentar.

    Outra pessoa que tem essa filosofia do “não dá nada” é meu sogro, mas numa escala bem menor que aquilo ali que eu mencionei acima. Meu sogro tem aquela mania de achar que sabe mais que todo mundo, e que o jeito como ele resolve as coisas é infalível, e portanto, melhor. Tem horas que não dá pra conversar com ele. Desde botar a casa dos fundos em site internacional para aluguel (sem falar uma palavra de inglês), até dar sorvete de chocolate na boca da neta quando ela tinha 6 meses (“foi só pra ela sentir o gosto”), tudo na vida dele é assim. Você tenta explicar, conversar, a resposta é “sempre fiz assim, nunca deu nada”. Cansa.

  • Me senti contemplada pelo parágrafo da pontualidade. Eu sempre fui a “chata do horario”. Se a pessoa marca comigo às 20h30, às 20h15 eu já estou no local.

    Essa “cultura do atraso” é tão odiosamente entranhada por aqui que virá até pretexto pra justificar certas tradições (quem nunca ouviu aquela frase de que “é normal/chique a noiva se atrasar um pouco” no dia do casamento?).

  • Eu não sei falar essa palavra aí, mas concordo. Questão de horário eu já vou logo dizendo que tenho psicose de horário, assim evita que me chamem de maluco do relógio. Brasileiro é bem esculhanbado e faz tudo de qualquer jeito sem capricho. Eu achava brasileiro também o mais porco, até ver uns videos de comidas de rua na Índia, é mul vezes pior. Se tem porquice maior que a indiana eu duvido!

  • Descreveu minha última chefia, chegou no cargo puxando saco e tapetes, narcisista e sempre precisava de um “alvo” pra fingir que tem autoridade. Eu virei esse alvo depois de me recusar a ir a uma reunião estando de licença saúde (Covid), depois de 2 semanas de assédio moral extremo, pedi demissão e foi a melhor coisa que fiz na vida. Pra vc ter uma ideia encontrei um antigo colega um mês depois do fato e metade da equipe tinha pedido demissão também, definitivamente o problema não era eu.
    Ainda pensando se processo a empresa, mas acho que é muita dor de cabeça pra um assunto que quero enterrar.

      • Discordo. O fim de quase todo mundo é triste. Doenças, velhice, traição, acidente, morte. Muitas pessoas boas e éticas têm fins terríveis, mortes violentas, são traídas, são roubadas, são abandonadas em asilos, tem transtorno neurodegenerativo quando envelhecem, tem câncer… E muitos filhos da puta vivem uma vida de privilégio, cheios de dinheiro, sem doenças e acabam morrendo dormindo, então essa história de “lei do retorno” é só uma crença nossa, não é a realidade

        • Não é nesse sentido de justiça divina, é no sentido que a pessoa colhe o que planta. Também atrai aquilo que foca ou tem medo. Se vc não mudar seu jeito de pensar, grande chance de te acontecer as coisas tristes que vc acredita.

      • Não acredito em justiça divina não. Escrotos conseguem levar uma vida muito boa em vários sentidos na maior parte das vezes. Isso não quer dizer que eu defenda, só estou discordando do argumento.

  • Vou morrer sem entender a dificuldade com horários. De verdade. Não é algo que exige qualificação, inteligência, habilidade, nada.

    Pessoal compra uns celulares tão caros, usam Uber pra qualquer coisa quando não possuem carro próprio mesmo que parcelado em trocentas vezes… Mas não consegue usar GPS, agenda, despertador, bloco de notas?

    De verdade, qual a desculpa?

    • A pessoa não dá importância, não coloca isso como prioridade, não é uma preocupação.
      “Ain mas eu não consigo chegar na hora”. Faz assim: avisa para a pessoa que tem uma mala com 500 mil dólares esperando por ela no endereço tal, que só estará disponível na exata hora tal, depois será recolhida. Observa e vê se essa pessoa “não consigo” não chega lá na hora certinha.

    • Também não acredito em justiça divina, muito menos que a vida puna os narcisistas, os escrotos e os psicopatas. A vida não é justa.

  • Concordo com cada palavra, Sally. Já perdi as contas das vezes em que eu me estressei por causa de gente que pratica esse “Gaslighting da Esculhambação”. Trabalhar com gente assim é horrível! Porque quem não cumpre prazos e metas, é incapaz de seguir instruções e ainda dá chilique quando lhe chamam a atenção prejudica não apenas a si própria, mas toda uma equipe. E o pior de tudo é quando um elemento assim faz com que até quem é o encarregado, coordenador ou gerente dessa equipe acabe levando umas “comidas de rabo” dos superiores quando algo dá errado e acaba muitas vezes sendo injustamente acusado de “não conseguir gerir pessoas”.

    • Quando eu morava no Brasil, eu me definia como uma pessoa “que tem dificuldade de trabalhar em equipe”. Durante muito tempo eu pensei que o problema estava em mim, que eu não sabia administrar as diferenças com outras pessoas. Hoje vejo que fora do Brasil trabalho muito bem em equipe. O problema é a equipe esculhambada mesmo.

      • O que os argentinos, vizinhos tão próximos, tem de tão diferente? É a educação que é melhor? O hábito de ler? O que eles fazem para que, na média, os hermanos sejam mais fáceis de conviver, de trabalhar, de cumprir horários do que o brasileiro?

  • Ahh que texto mais do que necessário! Me irrito bastante também quando a gente pede, solicita um mínimo do básico e a pessoa simplesmente faz por má vontade, faz nas coxas etc e ainda vem falar um monte pra gente. Não dá, ao invés de prezar pela excelência, faz questão de fazer mal feito. Ridículo isso! O problema é que essa cultura do desleixo já está tão enraizada no brasileiro, que ahci difícil que haja uma mudança a curto e médio prazo.

    • Pois é, o desleixo é visto de forma positiva, como esperteza, como um se dar bem por fazer pouco e colher o mesmo de quem faz muito. Lamentável.

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