Carta aos Millenials.

É cada vez mais contestado classificar pessoas de acordo com sua geração: a época na qual a pessoa nasceu não é uma sentença sobre suas características. O que ela é, sua personalidade e a forma como trabalha depende de muitos outros fatores. Por isso, nada do que será dito aqui hoje tem caráter científico nem absoluto. Se servir pega, se não servir passa amanhã que tem texto novo. Vamos conversar, Millennials?

É inegável que existem tendências: determinadas gerações, pelo contexto no qual cresceram, tendem a determinados comportamentos. E os Millennials não parecem estar em um bom caminho, o que é uma pena, pois tem muito potencial. Além de não parecer estarem em um bom caminho, me parecem meio perdidos, sem saber como sair dele. Então, espero de coração que este texto, além de ofender, ajude a alguém.

Para quem não conhece a classificação por gerações aqui vai um breve resumo: os Baby Boomers são os nascidos entre 1946 a 1964 (na explosão demográfica após a Segunda Guerra Mundial: “baby boom”), a Geração X são os nascidos entre 1965 e 1980 (a que vos fala), a Geração Y (ou Millennials) são os nascidos entre 1981 e 1996, a Geração Z os nascidos entre 1997 e 2010) e a Geração Alfa os nascidos a partir de 2010.

Os Baby Boomers tiveram a missão de reconstruir o mundo, muitos em famílias capengas, com mortos pela guerra. Essa realidade os moldou para serem batalhadores, pois não viveram em uma época fácil. Trabalho duro, esforço e planejamento de vida eram essenciais. Criaram seus filhos (Geração X) de forma rígida, com muitas cobranças e proibições.

A Geração X, a seguinte, foi basicamente uma geração que pegou todas as transições importantes, seja na tecnologia, na cultura ou no comportamento. Viu surgir (e teve que se adaptar) a internet, os telefones celulares, os smartphones, a necessidade de sexo com seguro (por causa do HIV), a transição da ditadura militar para a democracia (no Brasil e em outros países) e muitas outras mudanças.

Com um pé em cada barco, é a única geração que de fato vivenciou os dois mundos: aprenderam a valorizar o trabalho duro com seus pais Baby Boomers, mas também aprenderam a melhorar a vida com a tecnologia que surgiu e facilitar as coisas para seus filhos, os Millennials.

A Geração Y, ou Millennials, já nasceu com tudo na mão: internet, celular, informação acessível e tempo de sobra. A vida foi facilitada desde a primeira infância pelo digital, pela abundância de informação, pela abundância de produtos no mercado e por pais melhor estabelecidos (a Geração X passou menos dificuldades do que os Baby Boomers).

Isso fez com que os Millennials tenham uma infância mais confortável do que gerações anteriores que estivessem no mesmo patamar de vida, isto é, um pobre Millenial teve mais facilidades que um pobre Baby Boomer ou um pobre Geração X e um rico Millennial teve mais facilidades que um rico Baby Boomer ou um rico Geração X.

A Geração X, ao criar os Millennials quis, na melhor das intenções, tornar a vida de seus filhos mais fácil, mas errou para o outro lado. Superproteção contra bulliyng, excesso de brinquedos, de permissividade e de prêmios sem mérito. Todo mundo ganha troféu, só por participar. Ótimo para construir autoestima, péssimo para preparar para vida. Existem formas de construir autoestima sem criar um mundo irreal para os filhos.

Pois muito bem, depois dessa pincelada por alto nas diferentes gerações, e sempre lembrando que não é uma sentença, é apenas uma tendência, vamos conversar sobre o atual momento: os Baby Boomers estão aposentados, a Geração X está nos cargos de liderança, mas envelhecendo e se retirando aos poucos. Os Millennials, que são hoje maioria no mercado de trabalho brasileiro, estão prestes a assumir o bastão. E isso me preocupa.

E, não se enganem, isso não é papo de velho, de “minha geração era melhor”, é um papo de “preste atenção onde você tem que melhorar para botar o mercado de trabalho no bolso”. Millennials tem potencial para serem muito melhor do que Baby Boomers e Geração X, mas, me parece que não sabem nem por onde começar.

Se a tendência é que todo mundo seja muito bom em algo e muito deficitário em outras coisas, é justamente nessas habilidades deficitárias que você deve investir, para se diferenciar da multidão. Alguém vai ter que assumir o volante quando a Geração X for embora, portanto, recomendo que se preparem para isso.

Os Millennials são vistos como egoístas, mimados, imediatistas, desestruturados, incapazes de trabalho duro (o que eles consideram trabalho duro não é o que as outras gerações consideram), de imersão naquilo que não gostam e de executar com sucesso projetos de longo prazo.

Também são vistos como acostumados a ter tudo muito fácil, como pessoas sem foco (multitarefas com dificuldade para focar em uma coisa só e trabalhar nela por horas, principalmente quando não tem interesse nelas), impulsivos e sem senso de sacrifício.

Já foram chamados de geração “eu, eu, eu”, pois tudo é sobre eles e de “a geração perdida”, pois muitos pressupõe que os cargos de liderança pularão dos X para os Z.

Lembro até hoje de uma das pessoas mais competentes com as quais trabalhei que, cada vez que uma pessoa nessa faixa etária se portava dessa forma gritava “MALDITOS MILLENNIALS!”. Eu não sei como os Millennials se sentem, mas a visão que o mercado tem deles não é das melhores.

O resultado tá aí, os Millennials com dificuldade em assumir as rédeas e a Geração X se mantendo nos cargos de liderança, com dificuldade para sair, por não ter quem colocar no lugar. Se você não vê boas notícias aqui, permita-me desenhar para você: quando a maioria é muito ruim em algo, basta você se tornar muito bom nesse algo que estará à frente da sua concorrência e será facilmente valorizado. Então, o desgraçamento da sua geração pode ser um puta trunfo para você.

Tem uma frase muito boa usada para descrever os Millennials: “não aguento mais não aguentar mais”. No geral, é bem isso; baixíssima tolerância à vida adulta. Muitos cargos ocupados pela Geração X vão vagar e poucos Millennial terão o que é preciso para substituí-los. Percebe a oportunidade? Se você for um dos poucos aptos para isso, muitas portas vão se abrir.

Então, o que é preciso para ocupar as lacunas deixadas pelas gerações anteriores? Para responder a essa pergunta, temos que olhar melhor para eles.

Antes de mais nada, é preciso aprender a se autogerir e auto motivar, ser capaz de ser sua melhor ferramenta de trabalho, sem depender de computador, de tutorial, de vídeo, de coach ou de chefe que te passe um planejamento pronto. O que vai demandar alguma capacidade de frustração (nada sai como a gente queria e no tempo em que a gente queria), disciplina e planejamento.

Eu pertenço à Geração X, uma geração para a qual nada nunca foi fácil em matéria de aprendizado. Provavelmente a vida dos Baby Boomers foi mais dura, pelo período de escassez e estresse mundial, mas a Geração X é a única entre todas que teve que aprender dobrado: sabemos pesquisar em enciclopédia e sabemos pesquisar na internet. Sabemos usar máquina de escrever e sabemos digitar no computador. Sabemos escrever à mão (um livro, se precisar) e sabemos digitar. Sabemos fazer conta no papel e sabemos fazer conta na calculadora.

Da X para trás, o pessoal não sabe o digital. Da X para frente, o pessoal é escravo do digital. Se antes de prezava pela produtividade e resultados, depois parece que a única coisa que importa é a criatividade, sem método ou organização. Para completar, fomos forjados no fogo do bullying, da vivência e da bizarrice. Quem foi criança na década de 80 é um sobrevivente. Então, versatilidade, independência e uma boa armadura social serão indispensáveis para passar o bastão.

Então, a Geração X não teve que se virar apenas aprendendo um novo modo social de funcionar, graças a doenças, tecnologia e mudança de sistema de governo. Ela teve que se virar SOZINHA. Os Baby Boomers não podiam nos ensinar sobre internet. Nem sobre democracia. Nem sobre HIV. Nem sobre a maior parte das coisas que aprendemos. Aprendemos sozinhos, batendo cabeça, errando, acertando, errando novamente.

Não tínhamos tutorial para dizer como cada coisa funciona. Muito menos abundância de informação (a internet era bem precária no começo). Ninguém nos pegou pela mão, ninguém nos ensinou nada. E a recompensa por essa vivência é aprender a se autogerir e não precisar de ninguém que te pegue pela mão para porra nenhuma.

Se antes da Geração X se prezava pela produtividade e resultados, depois parece que a única coisa que importa é a criatividade, sem método ou organização. Se você já trabalhou com um Millennial, sabe do que eu estou falando. Muita criatividade, muito fluxo de ideias, mas pouca autogestão, organização e ação racional. Criatividade, imaginação e inventividade não são nada sem organização, planejamento e autogestão.

Vejo muito Millennial e posteriores fazendo curso de “desbloqueio criativo”, de “desbloqueio intuitivo” e similares. Meus queridos, vocês não precisam disso. O que vocês precisam é retornar às origens e catar o que havia de bom ficou para trás dos Baby Boomers e da Geração X. A parte criativa, engajada, disruptiva e social vocês já têm de fábrica. Todos vocês têm, todos vocês são muito parecidos nisso. O grande diferencial será na parte de planejamento, organização, no racional e no hard work. Invistam NISSO, pois isso sim é um diferencial.

Trace você mesmo seu mapa e aprenda a seguir a rota sem se perder. Quantos projetos a longo prazo (= mais de um ano para execução) que dependiam apenas de você, você já concluiu na vida? Pergunto isso por saber que os Millennials sequer acham que tem um problema com autogestão, organização e planejamento – mas a maioria tem.

“Mas Sally, tudo isso que você está narrando são traços de personalidade, ou você tem, ou você não tem”. Não, querido Millennial, tudo isso são construções. Você pode não ter, mas trabalhar e construir. Não é rápido, não é imediato, não é online, mas pode ser desenvolvido sim, e, se você o fizer, vai te ajudar muito no mercado de trabalho. Inclusive temos vários textos no Desfavor que podem te ajudar.

Esta mudança não é um adestramento, como se fossem focas com bolas no nariz. Ela é de dentro para fora. Menos foco em mudar o mundo, mais foco em mudar a sua vida. “Mas Sally, qual o problema em querer melhorar o mundo?”. São basicamente dois grandes problemas: o primeiro é que seus recursos pessoais (energia, disponibilidade, força de trabalho etc.) são limitados, ou seja, se seu foco for mudar o mundo não vai sobrar muito para melhorar você e a sua vida. O segundo é que não se muda o mundo assim.

Hora de revisitar alguns conceitos. Ser ambicioso não necessariamente é sinônimo de ser um crápula que pisa nos colegas. Ser proativo significa de fato fazer algo, não ter muitas ideias. Ideias boas todo mundo tem alguma vez na vida, o grande diferencial é conseguir executá-las. Execução é a palavra-chave.

E execução pressupõe erros, e está tudo bem em errar, desde que não seja de forma irresponsável e nociva a terceiros. Alguns aprendizados não podem ser conseguidos na teoria, apenas na prática, através de erros. O problema não é errar, é errar e não aprender com seus erros. É cair e não conseguir levantar. A época do troféu por participar acabou. Agora é vida real.

Chega se serem conhecidos como geração mimizenta, ou, como são chamados oficialmente, “a geração deprimida” (que engloba os Millennials e a Geração Z, os maiores consumidores de tarja preta do Brasil). Qualquer um que coloque seu foco em mudar o mundo e em construir um mundo mais justo vai se deprimir. O mundo se muda pelo exemplo. Seja a mudança que você quer ver no mundo e você terá contribuído com o grão de areia que pode contribuir, mais do que isso é utopia – e um convite à depressão e à estagnação.

Conectem-se com pessoas. De verdade. Ao vivo. Olho no olho, sem migrar a atenção para telas ou eletrônicos. Não falo de conversar ou jantar com alguém, realmente conectem-se. Criem laços, cumplicidade, projetos. Criem relações significativas, mesmo que são sejam amorosas. Tenham parceiros para vida, pessoas que, não importa o que, vocês sabem que podem contar. Conexões verdadeiras, profundas, sólidas, que te permitam conhecer melhor o outro e se conhecer no processo. Não criar conexões verdadeiras e profundas é um estopim para ansiedade social e depressão.

Hora de colocar o pé no chão, ser mais racional, concreto, objetivo, executor e resistente. Hora de reagir, Millennials. Até a Geração Z está com vergonha de vocês e fazendo piada. A Geração Z, aquela que protagonizou vários vídeos chorando feito bebês quando informados que teriam que fazer hora-extra. Sem condições, não? Continuem assim e vamos pular uma geração no poder, o poder vai passar da X para a Z.

Potencial vocês têm, Millennials, o que falta é casca, é couraça para não se abalar tanto com a vida e pé no chão, foco, concentração e racionalidade. A boa notícia é: tudo isso pode ser conseguido por vocês mesmos, sem depender do ensinamento de ninguém.

É só se desconectarem um pouco e viver a vida real. Cair, levantar. Ouvir críticas e aprender a não se importar com o que estranhos dizem. Esquecer um pouco o mundo e focar nas suas vidas (não, isso não é egoísmo, é a única forma de melhorar o mundo: melhorando você). Hora de virarem adultos, e não crianças grandes que tem seu próprio apartamento.

E, por último, aproveitem os anos de convivência com a Geração X que ainda lhes sobra, vocês podem aprender muito com ela. Acreditem, as coisas importantes vocês não aprendem online.

Eu realmente torço pelos Millennials, espero que eles consigam essa volta por cima.

Para dizer que eu sou velha (fica à vontade), para dizer que estamos com a última geração responsável ao volante ou ainda para dizer “Malditos Millennials!”: sally@desfavor.com

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Comments (32)

  • Texto de gen X pra gen X, pra aplaudir e falar que “no meu tempo era bom”, tomando uma lata de Kaiser.
    O autor ou autora desse texto acha que a economia mundial é igualzinha à economia do século 20, onde um encanador tinha bens: um carro, um terreno, 8 filhos que nunca passaram fome e ainda se aposentava antes dos 60.
    Aí a geração que não consegue nem se manter sozinha num AP alugado ganhando um salário de 3 mil reais, trabalhando 12 horas por dia em contrato PJ que é a fraquinha e mimada. Boo-hoo.

    Basicamente esse texto diz: “São todos depressivos e cheios de vícios pois não viram uma 2ª guerra mundial. ”
    O capitalismo tardio, modelos econômicos e sociais ultrapassados, além do provável fim do mundo por colapsos ambientais não tem absolutamente nada a ver com isso, eles são assim “por quê sim.”

    E outra, superproteção da gen X ???
    Ausência de Bullying ????????????

    Já conversou com algum millennial que não seja de classe média alta?

    • Não foi isso o que eu disse no meu texto não, muito pelo contrário. Meu texto não é voltado para a parte financeira. Inclusive respondi a um comentário hoje mesmo dizendo que não acho nenhuma vergonha morar com os pais, acho uma escolha válida.

      Mas pelo visto você tem isso dentro de você (essas questões mal resolvidas), pois projetamos nos outros o que temos dentro de nós. Uma pena que você não entendeu meu texto. Abraços.

    • Até chegar perto do final estava do rindo do tanto de merda que a pessoa depreende, mas depois que li o salário…

      Filhão, cê tá ligado que tem gente (eu, em exemplo) que se vira, com filho, com pouco mais de um salário, né? Se quiser debater que isso não é digno, concordo, mas dizer que é impossível (embora seja uma merda)… Por favor, saia de sua bolha e vá pro mundo real.

  • Texto de gen X pra gen X, pra aplaudir e falar que “no meu tempo era bom”, tomando uma lata de Kaiser.
    O autor ou autora desse texto acha que a economia mundial é igualzinha à economia do século 20, onde um encanador tinha bens: um carro, um terreno, 8 filhos que nunca passaram fome e ainda se aposentava antes dos 60.
    Aí a geração que não consegue nem se manter sozinha num AP alugado ganhando um salário de 3 mil reais, trabalhando 12 horas por dia em contrato PJ que é a fraquinha e mimada. Boo-hoo.

    Basicamente esse texto diz: “São todos depressivos e cheios de vícios pois não viram uma 2ª guerra mundial. ”
    O capitalismo tardio, modelos econômicos e sociais ultrapassados, além do provável fim do mundo por colapsos ambientais não tem absolutamente nada a ver com isso, eles são assim “por quê sim.”

    E outra, superproteção da gen X ???
    Ausência de Bullying ????????????

    Já conversou com algum millennial que não seja de classe média alta?

    • Opa, comentário repetido. Parece que o gênio não percebeu que é um blog moderado e que precisa da aprovação do comentário para ele aparecer e ficou deixando vários… Reforça bem o que eu falei sobre ansiedade e não saber lidar com imprevistos ou com o que foge à regra. Abraços.

      • Oi, surtado da Kaiser aqui.

        Realmente não estou acostumado com esse formato de site, você está certa quanto à ansiedade, ahahaha, você está certa sobre bastante coisa que afirmou.
        Confesso que fiquei desconcertado mesmo, podia ter me expressado de outra forma, mas como Millennial, sou impulsivo.

        De certa forma, achei seu texto com teor meio culpabilizador e tomei as dores, sou um cara de 1996, a segunda metade dos anos 90 foi meio incógnita, é um limbo estranho.

        Não tenho nada a ver com pessoas que nasceram em 1992, meu irmão nasceu em 2000 e nossa cultura e experiência de vida é um abismo.

        Tive uma criação para ser uma pessoa do século 20, foi prometido um mundo de abundância e que o Brasil iria ser pelo menos a 4ª ou 5ª economia do mundo, essa ideia era forte entre 2005 e 2012 e não se concretizou.

        Aquela esteira de produção onde o aluno mais aplicado teria sucesso na vida profissional não aconteceu “como sempre” e o século 21 se apresentou como um século que não exige necessariamente faculdade para exercer uma profissão de salário de 5 dígitos, além de outras contradições repentinas. Nos anos 2000 explodiu um hit chamado “O nerd de hoje é o cara rico do amanhã”, e essa música não se profetizou.

        Isso somando ao fato de terem sido cobaias de algoritmos de redes sociais viciantes e nocivas criou um exército de pessoas desamparadas, sem hiperfoco ou com muito hiperfoco (num joguinho de celular), que contraditoriamente quer mudar o mundo mas não arrumam seus próprios quartos, essa quebra de expectativas trouxe uma desmotivação muito forte.

        É uma imensa vergonha alheia verbalizar isso, mas é a verdade, um sentimento de poderoso e fraco ao mesmo tempo e em proporções extremas, uma hora narcisista, uma hora com baixa auto estima.

        Por outro lado, talvez a reflexão que eu gostaria de ter feito tenha sido a seguinte:
        Vejo a gen x romantizar que na escola o professor agredia o aluno a reguadas quando o mesmo trocava “ss” por “ç” na lição, falando isso de forma super orgulhosa.
        E esse tipo de afirmação é o que distancia nossa geração da x, é o que tira o nosso interesse de aprender com ela.
        A geração que acelerou o aquecimento global, a geração anti-psicologo, a geração que junto aos Boomers engole fake news com azeite numa facilidade tremenda. Os gen x atuais são líderes, poderosos, prestes a se aposentar.
        Mas o mundo que deixaram pra gente tirou certa credibilidade e interesse de aprender com eles.
        O movimento LGBT forte atualmente, o movimento anti-racismo e os movimentos de “quebre o ciclo” como o de não agredir os filhos veio geração “eu eu eu” ou “mi mi mi”, como você diz, e você há de reconhecer esse mérito.
        Sobre as gerações nascidas a partir de 2010 nos chamarem de tiozinho é normal, porém afirmar que vão pular a gen Millennial em cargos de liderança achei uma afirmação muito forte, essas pessoas mal chegaram na adolescência.
        Além disso pesquisas indicam que a maioria dos Z (do ocidente) querem ser influencers, não policiais, empresários ou astronautas.
        Não leve a mal, só queria dizer isso.

        Se não quiser expor esse comentário, entenderei.

        • Imagina se eu vou deixar de aprovar um comentário cuja intenção é argumentar e trocar ideias! O blog existe justamente para isso.

          Os erros dos Millennials são fruto dos erros da Geração X como pais. A intenção do meu texto foi contextualizar histórica e culturalmente para apontar os erros da Geração X e mostrar aos Millennials que eles podem melhorar, mesmo tendo sido vítima desses erros.

          Não acho a Geração X superior não, tanto que no texto digo que somos sobreviventes, sobrevivemos aos anos 80, à falta de psicologia, didática e proteção. Tudo isso que você falou de deixar um mundo pior para vocês é verdade, mas em uma época sem internet, sem acesso a informação, foi o que deu para fazer. Não meça a geração X com os parâmetros atuais, o mundo era outro quando tomamos algumas escolhas.

          Para nós, não há muito tempo para melhorar. Para vocês sim. Sejam melhores que a Geração X e, além de ser melhores, saibam executar as mudanças que planejam.

        • Uma geração que cai na conversa de coach, não pode reclamar de uma geração que acredita em notícias falsas ou que é anti-psicologo. Uma geração que romantiza bipolaridade e outros transtorno e remédio controlado não pode reclamar de quem romantiza abuso de professor. Todos os erros da Gen X a Gen Y comete, mas com pautas diferentes. Nós deveríamos sim aprender com a Gen X pq em muita coisa eles são melhores do que a gente. Que alguém tenha errado em algum ponto (que geração não erra?) não quer dizer que não possamos e devamos aprender com o que ela tem de bom.

  • Badalhocas Perdidas

    Sally, uma pergunta: teve comentários rejeitados de millennials tentando desmerecer seu texto? Se sim, acho que seria interessante juntar esses comentários desdenhosos em um “Ei, Você!”…

  • Ana, outra maldita millenial

    Agora perto dos 30 anos que estou entendendo melhor isso de “recursos limitados”. E olha que eu ainda nem tô sentindo os maiores baques da idade.

    Aliás, boa parte dos meus relacionamentos e trabalhos foram com outros millenials, agora me pergunto se isso não influenciou muitas das coisas ruins (pior do que funcionário millenial é patrão millenial) que aconteceram nessas experiências.

    E como escritora, sempre fiquei de cara com outros escritores millenials simplesmente não quererem usar papel e lápis para escrever. Eu vi pessoalmente, mais de uma vez: se não tiver celular ou notebook, não escrevem, sendo que por 25 conto você compra tranquilo caderno, lápis, apontador e borracha. Eu mesma já fiz isso muitas vezes.

    Mas não, preferem sobrecarregar o cérebro com ideias e pagar de cult em rede social por ter sei lá quantos ebooks no Kindle.

    Aí chega na hora de usar PC ou celular, as trocentas ideias que a criatura genial teve, simplesmente não se desenvolvem. Por que? Porque quando não se distrai com internet, com joguinho, com conversinha do zapzap, só sabe cuspir no editor de texto a ideia que teve, mas não sabe mais o que fazer em seguida. Aí corre pra vídeo de coach, pra vídeo comercial de gente que é paga pra te contar o que você quer ouvir, pra ChatGPT, etc.

    • Pois é, falta foco, falta atenção, falta concentração. E isso não se resolve com coach, se resolve com mudança de estilo de vida. Se não dormir pelo menos oito horas bem dormidas, comer comida saudável e se exercitar diariamente, seu rendimento cai. Ninguém parte dessa premissa, acham que tem um problema e tomam Venvanse. Falta a base, falta o mínimo.

  • Texto excelente, Sally, e mais do que necessário!
    Eu tenho visto por aí também uma geração escrava da tecnologia, que não sabe fazer nada se não tiver um tablet ou smarpthone na mão. E, no nível mais básico de lidar com coisas físicas ou tarefas manuais, são uma negação completa! Concordo contigo que tem que acabar essa modinha de “querer mudar o mundo” a todo custo, e, antes de tudo, olhar pra si mesmo e ser uma pessoa íntegra, bem resolvida, com maturidade emocional. É um longo caminho, mas se quisermos nos ajustar à sociedade e aos novos tempos, temos que fazer isso.

    • Em poucas décadas o mundo vai estar nas mãos dos Millennials. É hora deles começarem a se preparar, pois não estão prontos.

    • Eu como millennial, tenho a dizer que eu uso smartphone, mas não gosto de smartphone.
      Tem coisas para as quais eles são bem úteis, como para roteador, para apps de banco, de previsão de ônibus e alguns outros negócios, mas a autonomia é horrível, além da tela quebrar até com certa facilidade.
      Tenho horror ao Whatsapp. É um app cuja única vantagem em relação ao Telegram é o ZERO RATING e que os boomers confundem com a função de telefone. Pelo menos isso tem alguma praticidade nas mensagens por meio do app, mas o backup depende do iCloud ou então do Google Drive caso seu celular use iOS ou Android respectivamente… Além de ser espaço pra acumular fácil um monte de tralha inútil.
      Era mais um Nokia brutão, que quando eu saia aguentava o dia inteiro no rádio.

      • Eu tenho horror à função telefone do whatsapp, mas, como mora fora do Brasil, é o que me resta para conversar com meus amigos brasileiros

  • Sou uma millenial do fim de 96, então algumas coisas da Geração Z acabam reverberando em mim também. Ando pensando muito isso em relação a sair da casa dos pais: tenho visto uma galera (tanto millenials mais jovens quanto Geração Z) falando que não vale a pena ir ter sua própria casa pra “”passar perrengue””. Mas a vida adulta é cheia de perrengues, não tem pra onde fugir… É claro que tudo vai ser mais fácil enquanto tem alguém pagando suas contas, cuidando da manutenção da casa, te ajudando a segurar as pontas emocionalmente. Criar essa casca pra aguentar o amargo da vida é necessário.

    Enfim, texto excelente, Sally. Obrigada.

    • Maya, tudo é questão de ponto de vista: dependendo do contexto, é perrengue maior morar com os pais. Ele pagam as contas, mas os filhos pagam com a alma. Tendo pais amorosos e uma casa na qual você se sinta bem, não acho reprovável morar com os pais não, desde que seja por opção.

      Desde que você se sinta bem, faça o que quiser, mas sempre cuidando de ter a possibilidade de mudar de vida se isso se tornar necessário. Morar com os pais não é se acomodar, se acomodar é não correr atrás de independência financeira por morar com os pais e ter as contas pagas.

  • “a Geração X é a única entre todas que teve que aprender dobrado”
    Verdade. Especialmente crescendo em países cheios de abismos como o Brasil. Eu sempre me senti um ser com um pé no século XIX e o outro no século XXI. Para o bem e para o mal. É interessante, mas muito cansativo.

      • Tivemos que aprender a fazer as coisas no modo analógico e depois também no digital. Porque tivemos nossa formação/início da vida profissional justamente no momento em que o mundo passava pela revolução da “Era da Informação”, advinda da popularização da internet. Muitas coisas nova surgiram, outras ficaram obsoletas, prioridades e necessidades mudaram e passamos todos por esse período de transição.

  • Sou um Millenial. Me identifiquei bastante com o que foi escrito e, sinceramente, é como um tapa na cara. Ou um soco no estômago mesmo.

    Cresci em uma realidade descrita no texto mas, sendo um caso raro (é somente uma constatação), eu não desenvolvi ansiedade, depressão, doenças que requerem o consumo de tarja preta. Porém a coisa não para por aí, infelizmente.

    Meus pais decidiram por me sustentar até que eu me formasse (tenho 23 anos, em um curso de graduação em Física, desempregado, sem experiência alguma com mercado de trabalho e sem ter aprendido coisas básicas e essenciais sobre a vida adulta) e eles insistem que assim seja. Além disso, tenho vários interesses em termos de querer adquirir conhecimentos variados, tanto a nível teórico quanto prático, mas ter crescido com bastante tempo livre e sem ter aprendido sobre o básico de gestão de projetos e organização (só estou começando a aprender agora), bem como maneiras de monetizar (nem que seja só um pouco) algo que já sei fazer, cria em mim um horrível ciclo de autocobrança e estresse porque, no contexto “sustentado pelos pais e sem emprego” minha mente fica martelando “estuda, estuda, estuda, aproveita todo esse tempo, seus pais não estão te sustentando para ficar à toa pipipi popopo”. Estou tentando aprender a remediar isso.

    Sou uma pessoa MUITO introvertida e um pouco tímida, até. Daquelas que, do ponto de vista de outros colegas, é o aluno que “sabe tudo” e fica sempre quieto. É muito mais fácil para mim escrever algo para uma pessoa do que conversar com ela cara-a-cara, olho no olho, eu simplesmente não sei direito como puxar assunto ou manter uma conversa. Tudo fica num diálogo altamente básico ornamentado com palavrinhas mágicas. Desde o Ensino médio não formo laços que sejam bastante duradouros. Basicamente, quase um espécime de “antissocial” (o que, paradoxalmente, é um fenômeno social).

    Matemática financeira? Declaração de Imposto de Renda? Currículo? Projetos de longo prazo? Poupança? Economias? Alimentação?

    Não o sei. Mas sei como deduzir a equação de uma onda eletromagnética unidimensional e dizer quais suas propriedades. [Ironia]

    Estou começando a aprender um pouco dessas partes mais essenciais sobre a vida só de algumas semanas para cá, e avançando lentamente… e eu não posso contar com meus pais para sempre.

    Salvarei este texto para relê-lo sempre que possível e necessário. Desculpem-me o textão, mas tive que comentar os pontos nos quais mais me identifiquei ou, se preferirem, nos que mais me doeram.

    No mais, obrigado por texto tão essencial.

    • Olha, só de você ter a consciência de tudo isso, já te coloca na frente da maioria das pessoas. Desenvolva as habilidades que você sente que estão deficientes e crie novas formas de aprendizado: nem tudo é leitura, nem tudo é online, nem tudo tem tutorial. Tem coisas que só se aprende na prática, e depois de muita prática.

      A boa notícia é: você tem uma base educacional boa, isso vai te dar mais ferramentas para aprender a vida prática. Insista. Sem medo de errar, errar é normal, errar é parte do aprendizado. Mais vida real, mesmo que seja difícil, é questão de tempo até você desenvolver as habilidades que te faltam. Comece hoje, e em um ano você estará muito grato por ter começado.

  • “Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos; mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes”. Sally, você resolveu escrever esse texto porque tem perdido a paciência com frequência trabalhando com Millennials?

    • Já perdi demais, mas com o tempo, depois que entendi de onde isso vem, consegui ser civilizada e falar de uma forma que talvez possa ajuda. Realmente precisamos dos Millennials, é hora deles crescerem e começarem a assumir as rédeas.

  • Ótimo texto, nem sou millennial mas li mesmo assim <3
    E verdade seja dita: se a pessoa não consegue se destacar e ser bem sucedido numa terra onde a média de QI é 80 e poucos, é porque ela não é tão diferente do "hurr durr bostileiro médio".
    "ain mas eu não jogo lixo no chão, não ouço música alta, não roubo, vivo honestamente" Assim como outros milhares de brasileiros. Não faz mais que a sua obrigação.

  • Excelente texto, Sally. Tudo o que você escreveu aqui tem que ser falado em uma conversa muito séria, olho no olho, entre pais (ou avós) da Geração X e filhos (ou netos) Millennials. E a frase de que eu mais gostei foi esta:“Menos foco em mudar o mundo, mais foco em mudar a sua vida”. Como de costume, eu já repassei o link da postagem de hoje para todos os meus contatos, mesmo sabendo que muitos nem sequer vão se dar ao trabalho de ler. Mas, se de alguma forma, o seu texto ajudar pelo menos uma dessas pessoas que eu conheço justamente nessa importante – e necessária – conversa entre gerações, já terá valido a pena.

    • Tomara que ajude a alguém. A única forma de mudar o mundo é mudando a você mesmo, o resto é delírio megalomaníaco de pessoas com síndrome de super-herói que olham para fora por medo de olhar para dentro de si mesmas.

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