
Filme antigo.
| Somir | Flertando com o desastre | 10 comentários em Filme antigo.
Lá vem o remake de mais uma das animações da Disney, Branca de Neve. Branca de Neve não é mais branca e os anões não são mais anões, segundo as fotos vazadas. Além disso, a atriz escalada para fazer o papel já deu várias entrevistas dizendo que agora Branca de Neve não vai mais sonhar com príncipe e sim com empoderamento, até disse que o desenho original era assustador e que o príncipe era um stalker. Vem cá, é impressão minha ou a lacração está ficando… velha?
Sim, você já pode estar azedo(a) com esse papo politicamente correto de rede social faz muito tempo, mas esse não é o meu sentimento dessa vez. Agora é algo mais próximo do tédio. Quando eu vejo o papo furado ao redor dos filmes da Disney “modernizando clássicos”, com suas atrizes jovens falando sobre empoderamento da mulher de cor, é meio como ver uma reprise de um filme que nem era tão interessante assim.
É claro que vão pegar uma personagem branca e mudar a cor da pele dela, é claro que vão mudar o roteiro (quase sempre baseado em fábulas ancestrais) para fazer a princesa ser brilhante e corajosa contra as injustiças sociais, é claro que vão tentar dar uma nova cara para pontos da história e personagens que podem ofender a turba furiosa da rede social.
É claro. Quando eu fiquei sabendo das entrevistas da atriz que vai fazer a Branca de Neve, é quase como se eu conseguisse terminar as frases dela. Inclusive nas que deveriam ser surpreendentes, como as várias vezes que ela critica o original por ser velho e não combinar mais com as mensagens que Hollywood deseja passar.
Nem o fato das pessoas fazendo o remake não gostarem do original consegue mais gerar uma reação emocional comigo. É previsível, é assim que as coisas funcionam há umas duas décadas, chegando no ponto atual, onde não tem mais surpresa. O remake que odeia o original e quer empurrar justiça social superficial numa produção sem imaginação virou uma fórmula.
E como eu digo para meus clientes de publicidade, eventualmente tudo vira paisagem. Se um outdoor com uma mulher pelada ficar seis meses no mesmo lugar, eventualmente nem adolescente tarado vai se importar mais com aquilo. O cérebro humano economiza energia vital deixando de dar importância para coisas com as quais lidamos muitas vezes.
O cidadão médio desse mundo nunca se importou com representatividade e justiça social em filme americano aleatório, mas até mesmo as pessoas que tinham mais energia para isso parecem estar cansadas. Claro, ainda gera uns clickbaits lucrativos aqui e acolá, mas se você já começa a prever exatamente o que vai estar dentro da notícia sobre a última lacração da grande mídia, precisa mesmo clicar?
Vimos alguns sinais desse cansaço durante o sucesso do filme da Barbie, os dois lados mais radicais do espectro político tentaram politizar a coisa toda, mas o ser humano médio simplesmente não mordeu a isca. E eu tenho muita dificuldade de acreditar que é porque as pessoas perceberam os argumentos furados dos extremistas, parece bem mais lógico que seja falta de interesse nessa problematização toda. Ficar preocupado(a) com os rumos da civilização e uma iminente tomada de poder de monstros assassinos realmente cansa uma pessoa.
Quantas vezes você pode fazer uma mãe se preocupar se seu bebê é racista ou se vai ter seu sangue sugado pelos comunistas? Bobagem vai acumulando, e talvez seja surpreendente para você, mas vai fazer quase uma década de auge do chiliquismo moderno. 2016 foi um ano emblemático com a eleição de Trump, mas mesmo esse marco já está quase sete anos no passado.
A suposta batalha pela “alma da sociedade moderna” está sendo travada entre gente que deixa de socializar para compartilhar histeria na internet. Gente entupida de remédio, ansiosa, cheia de esqueletos no armário. Talvez essa loucura toda tenha animado as massas por alguns anos, mas eu estou sentindo um limite prático de foco de atenção. Quando seus heróis vão sendo desmascarados como narcisistas e sociopatas com muito mais confiança do que conteúdo, é natural que as causas que defendem fiquem menos e menos interessantes.
Não precisa fazer análises profundas da sociedade para perceber esse vazio na indústria da lacração e da problematização, é algo que vai perdendo a força naturalmente, mesmo para a parcela mais ignorante e impressionável da população. Não tem esquadrões da morte caçando gays na rua e nem mendigo sendo realocado dentro da sua casa. O tempo se encarrega de expor as asneiras ditas para assustar o povo, e com essa falta de comprovação das ameaças dos radicais, começa a vir o desinteresse.
O que eu nem diria que é positivo. Sim, por um lado o povo vai começando a cansar de correr do lobo que nunca vem, mas por outro não é uma boa que discursos políticos fiquem tão desmoralizados. Discutir o que temos ou não temos que fazer como sociedade é válido, existe sim um espaço para exagerados de esquerda ou direita falarem sobre o que acham certo ou errado no nosso comportamento, mas é naquela pegada de negociação: pedem muito para aceitarem algumas concessões.
Agora, quando todos os pedidos daqueles nos extremos do espectro político vão virando barulho de fundo, insanidades jogadas aos quatro ventos que não mexem mais com o cidadão médio, o poder regulatório de progressistas e conservadores deixa de funcionar. Vira cantar hino para pneu ou filme lacrador da Disney, coisas que são muito difíceis de levar a sério.
São muitos anos de lacração, de esquerda e direita, ao ponto que já virou uma fórmula previsível. Da mesma forma como eu já reviro os olhos com o mesmo papo furado de mais um remake de desenho antigo, eu também já nem preciso ler teoria conspiratória de tiozão do Zap para saber onde ele vai chegar. Não só está ridículo como está chato. Os discursos não se renovam para conversar com mais pessoas, querem conversão à sua religião política e pronto.
E aí, as pessoas se veem pressionadas a aceitar tudo de um lado ou serem inimigas. A gente aqui gosta de uma terceira via, mas a verdade é que existe uma quarta: ignorar a gritaria e tocar sua vida sem se preocupar com política, costumes e todo o terror tocado pelos extremistas. O que pode gerar uma falsa sensação que o cenário político não nos pertence, mesmo em democracias.
De uma certa forma, me parece danoso também que o cidadão médio escolha a via da apatia. Apatia ajuda quem já está no poder a acumular mais recursos e capacidade de controle. Se o dono do Estado, o povo, não está mais interessado em cuidar dele, alguém vai. Não existe vácuo de poder na humanidade. Não vai ser uma ditadura comunista ou uma teocracia cristã, vai ser um grupo de bilionários fingindo que se importam com uma causa ou outra para aplacar os fanáticos, enquanto a grande maioria não vai mais nem querer saber dessa palhaçada toda.
Aliás… vai ser?
Já é. O resultado mais concreto de lacradores até aqui foi a concentração absurda de recursos na mão de poucos. O povo foi convencido a esquecer das guilhotinas para pensar compulsivamente em genitálias alheias. Quando a lacração da vez vira mais do mesmo, temos comprovação que quem quer que queria o esvaziamento do pensamento político moderno… conseguiu.
Para dizer que não vai ver a Morena de Neve, para dizer que sente muito mais já cansou mesmo, ou mesmo para dizer que não custa dar uma chance aos bilionários no poder: somir@desfavor.com
Para quem quiser entender a lógica da exploração da sexualidade pra parte da Disney, seja no contexto da era clássica, seja da era identitária, bem… O primeiro episódio da décima terceira temporada do South Park ilustra bem.
Colocaram Jonas Brothers como os peões da Disney Way Of Life, mas podia ser Britney Spears, Miley Cyrus ou as boy bands que pululavam como Gremlins na virada do milênio que daria no mesmo.
Eles vendem idealização no campo da sexualidade pra faturar em cima disso, sendo que tal episódio foi bem sagaz em expor o golpe.
É a mesma fórmula de sempre.
A favela passou a se chamar comunidade, mas continua com os mesmos problemas de sempre.
Só que agora, ninguém mais reclama da falta de saneamento básico e etc.
Eu sempre achei algo de genial nessa ressignificação.
É uma pena, mas discutir com profundidade sobre política, cultura, relações internacionais etc. é privilégio. Poucos adultos empregados, casados e com filhos podem se dar esse luxo. No fim do dia só sobra tempo pra dormir e olhe lá. Por isso até evito levar a internet muito a sério, grande parte dos usuários são crianças, jovens desempregados e a escória rejeitada da sociedade no geral. Já pararam pra pensar nisso?
Quem é que tem tempo pra ficar o dia inteiro na internet postando coisas, moderando fóruns, administrando grupos de Discord, assistindo lives, puxando saco de streamers, perseguindo pessoas etc. e ainda por cima de graça? Não é o pai com 2 filhos e 3 empregos, a dona de casa cheia de encomendas de doce pra fazer, o jovem descolado que vive em festas e namora uma pessoa diferente toda semana, o estudante que está se preparando pra passar numa faculdade, o imigrante que batalha pra juntar dinheiro e enviar pra família, o fazendeiro que precisa cuidar da plantação e dos animais. Quem tem tempo é a escória que acha que as atrocidades nazistas/comunistas são inventadas, ou que acha que lésbicas são monstros transfóbicos por não gostarem de pênis, ou que acha que político X é o diabo em pessoa, entre outras maluquices. Por isso essa coisa de “guerra cultural” parece tão grande na internet, essas pessoas não têm vida, não têm amigos nem emprego, são repulsivas na personalidade e na aparência, provavelmente têm doenças mentais. O tipo de pessoa que você não deveria se importar de receber aprovação. Por que a opinião dessa escória vale alguma coisa?
“o desenho original era assustador e que o príncipe era um stalker”
Pra ser justo, muita coisa foi cortada do roteiro original porque o waldisney precisava reduzir gastos. Era pra Branca de Neve e o príncipe se falarem mais e criarem uma conexão maior. Mas não tem muito o que salvar desse conto. É literalmente uma história sobre uma balzaca com inveja da beleza “fresca” das moças jovens.
Você critica quem é preconceituoso mas chama de “escória” pessoas que não conhece apenas por um fator: ter tempo para ficar na internet.
Por sinal, para uma pessoa tão ocupada, você deixou um comentário enorme, eu não teria tempo na minha vida para ir em blog escrever algo desse tamanho. Devo pensar que você também é escória?
Por isso que eu disse “grande parte dos usuários” e não a maioria.
Olhei a foto e pensei que fosse algum remake do Monty Python em busca do cálice sagrado. Até porque, em comum com aquela época, também vivemos em uma época de buscas sem sentido…
Quando fiquei sabendo desse remake da Branca de Neve, com esses “anões”, só consegui pensar naquela musiquinha: “Eu vou, eu vou/ Flopar agora eu vou… Eu vou, eu vou/ Flopar agora eu vou…”
Hahahahahahahahahahaha!
Só um adendo a título de curiosidade: a animação “Branca de Neve” original de 1937, que agora é enxovalhada pelos envolvidos na nova versão live action, é simplesmente uma das duas grandes pedras angulares de todo o Império Disney! A outra é o Mickey Mouse. Primeiríssimo longa-metragem animado da História, “Snow White And The Seven Dwarfs” não só fez a empresa se transformar na gigante que ainda é até hoje como também foi o “marco zero” da tradição de desenhos adaptando os contos de fada clássicos que, por gerações, incutiram em meninas do mundo inteiro o sonho de serem princesas.
A lenga-lenga “inclusiva” da esquerda lacradora está tão repetitiva e previsíviel quanto a reação “furiosa” da direita delirante do outro lado da cerca. E o inverso também é verdadeiro. Toda essa punhetação mental, em vez de conscientizar, apenas esvazia o debate e os “apocalipses” que os dois lados tanto alardeiam nunca vêm. Radicais perdem tempo batendo boca por bobagem, os assuntos realmente importantes acabam deixados de lado e, para quem tem questões mais urgentes e de ordem prática para resolver, só resta ignorar essa “guerra” estúpida e inútil enquanto toca a vida em frente.