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Bíblia Pilhada: Gênesis Parte 4

Bíblia Pilhada: Gênesis Parte 4

| Sally | | 20 comentários em Bíblia Pilhada: Gênesis Parte 4

No nosso último encontro bíblico paramos naquela cena tão edificante de pessoas tentando comer o cu dos anjos, Ló oferecendo o cu das filhas no lugar do cu dos anjos e os anjos enfurecidos cegando os moradores que queriam estuprá-los. Só eu tenho a impressão de que a Bíblia tivesse sido apresentada como uma obra de arte comum desvinculada de caráter religioso, certamente todos os Cristãos teriam criticado e pedido sua censura? Nunca vi tanta baixaria reunida…

Pois bem, prossigamos, ainda neste fascinante cenário de tentativa de estupro de anjo.

Mesmo conseguindo evitar o estupro, os anjos ficaram muito irritados, com toda razão. Eles disseram a Ló que pegue seus parentes e saia de Sodoma, pois iriam destruir o lugar. Nem bandido brasileiro tolera estuprador, acabam assassinando-os na cadeia, imagina se anjos e Deus iam deixar barato. Perdão é para os fracos, os fortes usam de violência mesmo.

Depois que Ló saiu, Deus fez chover fogo e enxofre na cidade, matando todos os moradores, animais e vegetação do local. Precisava ter matado bichinho e plantinha? Não. Mas não é como se estivéssemos falando de um Deus moderado, portanto, vamos fazer as pazes com os excessos divinos, pois eles ainda serão muitos. Não sobrou uma samambaia em Sodoma para contar a história.

Depois de algumas andanças, Ló resolveu se abrigar com sua família em uma montanha, mais precisamente dentro de uma caverna. Não deve ser uma recuperação fácil para o psicológico ver Deus tacando fogo e enxofre em toda sua cidade. E aqui começa outra parte que eu tenho a sincera curiosidade de saber como é tratada nas aulas de catecismo para crianças.

O tempo foi passando e as filhas de Ló, nas palavras da Bíblia, reclamaram que “não há nenhum outro homem”, apenas seu pai. Existiam muitas soluções para este impasse, como por exemplo, pedir ao seu pai que se mudem, sair em busca de um homem nas redondezas ou até fugir. Mas as filhas de Ló encontraram uma solução alternativa.

Vou transcrever, pois nas minhas palavras não ficaria tão bizarro: “vamos dar vinho a papai até que fique bêbado. Então nós nos deitaremos com ele e assim teremos filhos dele”. Sim, é isso mesmo que você leu. Se alguém souber como isso é ensinado a crianças, por favor me esclareça esta questão.

Elas deram vinho a Ló, que ficou bêbado. A filha mais velha “se deitou” com ele. No dia seguinte, fizeram o mesmo, só que agora foi a vez da filha mais nova. Eu achava que um bando de homem querendo estuprar anjos era o ponto baixo, meus amigos, mas estamos apenas começando. Duas filhas estuprando o pai me parece bem pior. O resultado dessa baixaria familiar vocês já devem imaginar: as duas filhas de Ló engravidaram do pai.

Fiquei um pouco confusa aqui. Estranhos tentando estuprar geram uma ira divina digna de fogo e enxofre, digna de destruição completa, mas filha estuprando pai e engravidar dele tá de boas? Qual foi o ponto de tirar Ló e suas filhas de Sodoma para matar geral por causa de baixaria se eles acabaram fazendo o mesmo? Não sei quem é mais débil mental, as filhas de Ló que fizeram isso mesmo vendo o que acontece quando a putaria se instaura ou o roteirista da Bíblia ou esse Deus que acha ok permitir que isso aconteça sem uma punição imediata. Nem no Rio de Janeiro você faz uma coisa dessas sem ser julgado!

E os quadros? As obras de arte que retratam essa passagem? Procura aí “Ló e suas filhas” no google imagens e você vai encontrar uma versão “brasileirinhas” de época. Minha Nossa Senhora da Bicicletinha, nem Game of Thrones conseguiu descer tão baixo. Quem escreveu esta merda de livro? O Woody Allen?

Voltemos ao tio de Ló, Abraão, já que suas histórias correm em paralelo. Lembram que Abraão e sua esposa estavam com quase cem anos, queriam ter filhos e Deus fez um pacto com ele, dizendo que se, entre outras coisas, saísse circuncidando geral, ele lhe concederia um filho? Pois bem, Abraão pegou em centenas de pintos e fez por merecer esta graça. Nasceu Isaque, essa criança improvável, filho de idosos cujo custo foi manusear todas as rolas da cidade.

Agora que tinham um filho legítimo, Abraão e Sara resolveram expulsar o filho bastardo que Abraão teve (Ismael) com uma escrava (Agar). Deus resolveu intervir, dizendo que é isso aí, pode expulsar mesmo, seu filho vai te dar herdeiros, bota o bastardo para correr. E assim o fizeram. Expulsaram Agar e Ismael. Depois de alguns perrengues, a Bíblia conta que eles tiveram um final medíocre, porém não trágico: Ismael se tornou um “bom atirador de flechas”.

Vida que segue. Anos depois, um belo dia, Deus aparece para Abraão e manda que ele leve seu filho para o alto de uma montanha e o queime como sacrifício. Aquele filho que Abraão demorou cem anos para conceber. Aquele filho que, para se tornar realidade, o obrigou a pegar em todas as rolas da cidade. A única esperança de herdeiros que ele tinha, já que enxotou o bastardo. Assim, sem mais nem menos, ele recebeu instruções de matar seu próprio filho. E topou.

Disposto a tacar fogo no filho, Abraão cortou lenha, selou seu jumento e chamou seu filho para dar uma voltinha. A voltinha demorou vários dias e Isaque começou a ficar desconfiado. Perguntou a Abraão por qual motivo estavam indo para o topo de uma montanha carregando lenha e uma faca. Abraão disse que era para fazer um sacrifício para Deus. Como vocês podem imaginar, o clima foi se deteriorando.

Isaque chegou a perguntar onde estava o animal que seria sacrificado. Longo silêncio. Climão. Abraão desconversou e disse que Deus se encarregaria do que fosse necessário. Cheiro de merda total no ar. Chegaram ao topo da montanha indicada por Deus. Abraão começou a montar um altar. Depois Abraão acomodou a lenha por cima do altar. Por fim, agarrou Isaque, o jogou por cima da lenha e puxou a faca em direção à sua garganta.

No exato momento em que Abraão ia cortar a garganta de seu filho, um anjo gritou lá do céu para que ele não o faça, pois era apenas um teste para saber se ele era realmente leal a Deus. Imagina a cena: a criança aterrorizada com uma faca no pescoço e um anjo berrando lá de cima “É BRINKS, ABRAÃO, NÃO PRECISA FURAR O MOLEQUE NÃO”.

Olha, no começo eu até comparava Deus com o Rafael Pilha, mas, pela progressão da história, eu acho que Deus é uma versão ainda mais potente. Pilha tem limites ainda que poucos. Pilha não tolera pegadinha de mau gosto, teve a decência de enfiar o cacete em idiota que faz pegadinha envolvendo drogas com ele (Sergio Mallandro, te desejo câncer no cu). Esse Deus, meus amigos, é o Ivo Holanda turbo.

Por isso se diz que “com Deus não se brinca”, as brincadeiras dele são bem pesadas. Não havia a menor necessidade disso. Não lê mentes o filho da puta? Não é onipresente, onisciente e onipotente? Não poderia averiguar a lealdade de Abraão pelos pensamentos dele? Sádico do caralho. É bem condizente com esse Deus fazer um mundo merda como este. Sim, a Bíblia vai acabar me convertendo, mas pelos motivos errados.

Pensemos racionalmente: Abraão não matou seu filho, mas imagina que delícia ficou essa relação depois desse evento? A confiança foi bem para a casa do caralho, não? O trauma. Imagina que delícia para uma criança pequena viver em uma casa na qual seu pai tentou te esfaquear e te incendiar e pode voltar a fazê-lo se assim lhe for pedido.

Nunca mais faço piada com o psicológico abalado ou com a preocupação excessiva das mães de origem judaica, eu mesma seria uma mãe em constante pânico se esse fosse o modus operandi dos pais no meu povo. Aliás, que grande odisséia de tortura aos judeus é a Bíblia, não? Aposto que Hitler se inspirou nela, nunca vi maltratar tanto um povo.

Tá de parabéns esse livro maldito. De um lado filhas embebedando pai para fazer sexo com ele, de outro pai tentando esfolar e incendiar seu único filho. A Bíblia faz o Brasil parecer um convento. E na maior parte das ocasiões, a vingança ou justiça de Deus recai sobre os inocentes, e não sobre os que efetivamente fizeram merda. Deus é tipo o Judiciário brasileiro: só faz merda, não pode ser questionado, não tem ninguém acima dele e o povo ainda tem que bancar suas regalias.

Depois desse incidente infeliz, a Bíblia pula para a morte de Sara e, apesar de não relacionar os eventos, eu tenho certeza de que o desgosto pelo fato do seu marido quase ter esquartejado e incendiado seu filho contribuiu para essa morte.

O tempo passou e Abraão, que já era velho no começo da história, estava velho para um caralho. Já debilitado, quase morrendo, ele resolveu tomar providências pensando no bem-estar de seu filho Isaque, aquele que ele ia esquartejar e incendiar. Chamou um empregado de sua confiança e lhe deu uma missão: ir até sua terra natal e trazer uma mulher da sua família para se casar com Isaque. E morreu. Assim surge Rebeca, parente de Isaque que, sem nenhum problema se casou com ele.

Diz a Bíblia que Rebeca não podia ter filhos, mas Deus foi mais generoso com Isaque do que foi com seu pai, dessa vez, bastou orar que Rebeca engravidou, Isaque não precisou pegar no pau de ninguém. Mas, durante a gestação, Rebeca descobriu que estava grávida de gêmeos, e percebeu isso por um motivo inusitado: os bebês estavam saindo na porrada dentro da sua barriga.

Preocupada, Rebeca pediu ajuda a Deus para entender o que estava acontecendo. Deus respondeu que ela daria a luz a dois líderes de povos inimigos, mas que um seria mais forte do que o outro, o mais velho seria dominado pelo mais novo. Porra, Deus, não dá spoiler! Já sabemos o final dessa história agora, que saco.

De fato, quando os bebês nasceram, eram dois meninos: Esaú (o mais velho) e Jacó (o mais novo). Já foram criados nessa vibe bad karma. Esaú era ativo, gostava da natureza e era um bom caçador. Jacó era menos ativo, menos chegado à natureza e mais caseiro.

Um dia, Esaú voltou do campo, muito cansado, e viu Jacó cozinhando um ensopado. Faminto e exausto, Esaú pediu para comer o ensopado. Jacó disse que ok, podia comer sim, desde que em troca cedesse a ele todos os direitos que possuía como irmão mais velho.

QUE?

Em troca de um prato de sopa?

O pior é que Esaú aceitou, pelo visto esse pessoal da força física nunca foi muito inteligente! Esaú fez um juramento a Jacó transmitindo-lhe todos os direitos de irmão mais velho em troca de um ensopado. Nem meu cachorro se vende por tão pouco. Esaú, meu filho, você é burro. Você é mais burro que um poodle!

O tempo passou, Isaque envelheceu e acabou cego e acamado. Já à beira da morte, quis abençoar seu filho mais velho antes de morrer. Eu não sei bem como essa coisa de bênção funciona, ao que tudo indica, assegurava alguns privilégios divinos para o abençoado… mas isso não importa, o que importa é sensacional história “Casos de Família” que ocorreu nesse processo.

Observem que cambada de filhos da puta: Isaque estava cego e debilitado na cama e mandou chamar Esaú, seu filho mais velho. Pediu que ele vá caçar um animal e prepare uma refeição saborosa para ele, pois depois dessa refeição ele abençoaria o filho. Esaú saiu para caçar a tal refeição. Mas, Rebeca, sua mãe, ouviu a conversa e, por ter Jacó como seu filho favorito, armou um plano para enganar seu marido moribundo e lesar seu outro filho.

Rebeca disse a Jacó que se faça passar por Esaú e receba as bênçãos do pai em seu lugar. Para passar na frente de Esaú, que havia saído para caçar, pegaram um cabrito que estava no quintal e o cozinharam. Como Esaú era muito peludo, usaram a pele do cabrito para cobrir os braços de Jacó, assim, se seu pai encostasse nele pensaria que era Esaú. Porra, o velho estava cego, mas estava surdo também?

Jacó foi falar com o pai, enrolado na pele do cabrito, se fazendo passar por Esaú. Isaque pegou nas mãos de Jacó, cobertas pela pele do cordeiro, e acreditou que era Esaú. Imagina o naipe de Esaú, hipertricose correndo solta. Também, com tanta cruza consanguínea, era o mínimo que podia acontecer. Isaque abençoou Jacó, achando que era Esaú. Entre outros benefícios, essa bênção incluía boas colheitas, conseguir dominar muitas nações, ser respeitado e outras coisas no estilo. Jacó aceitou e saiu de fininho.

Eis que chega Esaú, com a comida que lhe foi pedida, solicitando a bênção do pai. Isaque disse que já o havia abençoado e instaurou-se a confusão. Perceberam que Jacó havia enganado o pai e “roubado” as bênçãos do irmão. Esaú pediu que o pai o abençoe mesmo assim, mas o pai disse que não podia fazer nada. Aparentemente o estoque de bênção é muito limitado. Isaque previu um futuro meio merda para Esaú que, com toda razão, ficou muito puto.

Esaú, tomado pelo ódio, resolveu esperar o pai morrer (não faltava muito) para então matar Jacó, pois não queria dar esse desgosto ao velho. E é nesse clima alto astral e de harmonia que encerramos o texto de hoje. Mês que vem tem mais!

Antes de encerrar o texto, quero deixar uma pergunta sincera: soube, por fontes confiáveis, que crianças que fazem estudos bíblicos, seja em escolas ou em cursos, frequentemente fazem teatros e encenações das principais passagens bíblicas. Isso procede? Se procede, pularam todo o Gênesis, né? A coisa mais encenável por criança que tem nessa desgraça é o afogamento de todo mundo no dilúvio. Depois reclamam de encenação de funk nas escolas.

Nomes que aparecem neste trecho e cairiam perfeitamente bem em animais de estimação: Moabe, Ben-Ami, Naor, Milca, Uz, Buz, Quemuel, Arã, Quesede, Hazo, Pildas, Jidlafe, Betuel, Teba, Gaã, Taás, Maacá, Quetura, Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Isbaque, Sua, Jocsã, Seba, Dedã, Efa, Éfer, Enoque, Abida, Elda, Nebaiote, Quedar, Abdeel, Mibsão, Misma, Dumá, Massá, Hadade, Tema, Jetur, Nafis, Quedemá. Em nossa humilde opinião, o nome Pildas combina lindamente com um pug.

Para dizer que se a Bíblia é um livro sagrado imagina os profanos, para dizer que a Bíblia é um grande roteiro do Tarantino ou ainda para dizer que periga desse Deus aí premiar a gente em vez de nos mandar para o inferno: comente.


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