C.U.radoria de Conteúdo: Paris de Janeiro – Parte 2
Continuamos o experimento do C.U. (opa…) de ontem.
SALLY
As Olimpíadas só ressaltaram algo que nós já apontávamos faz bastante tempo: a decadência social da França. Não aconteceu do dia para a noite, não deveria surpreender a ninguém e sim, nós avisamos.
É muito difícil construir um país de gente educada, com bons níveis de educação e IDH, com material humano que valha a pena. Mas é muito fácil botar tudo a perder. Esta é uma lógica que rege a maior parte das dinâmicas do mundo moderno: difícil de conquistar, fácil e rápido de destruir.
O que eu acho que aconteceu com a França (principalmente na sua capital) para cultivar essa decadência em progressão exponencial que se reflete nessas Olimpíadas desastrosas com mais falhas do que o Rio de Janeiro? Falharam em incluir.
Incluir não é pegar algo ou alguém e atirá-lo à sua própria sorte em um contexto novo. Isso é acumular. Incluir é, além de agregar, é integrar. Atuar efetivamente para que o que foi agregado tenha condições de se adaptar e acompanhar seu entorno.
Não é sobre imigrantes serem ruins e causarem a decadência de um país, muito pelo contrário, o que mais vemos no mundo são países construídos com a força de imigrantes. Deu certo em diversos países, o que falhou na França?
Primeiro, o conceito errado de que inclusão é abertura de fronteiras. Se você vê uma pessoa passando necessidades na rua e resolve ajudar, não basta abrir as portas da sua casa. Essa pessoa precisará de comida, de uma cama, de um banheiro, de condições mínimas para uma existência digna e, acima de tudo, de regras de convivência para que se possa manter a rotina da casa de forma produtiva e harmônica.
Botar um estranho para dentro e esperar que ele, sozinho, adivinhe a rotina da casa, as regras de convivência e se adapte é preguiça. Ou burrice. Ou ambos. Bagunça a rotina da casa, bagunça a vida de quem vive na casa e com certeza não será nada agradável para o novo morador, que não se sentirá totalmente integrado, querido e aceito.
O problema é que o francês quer ser inclusivo, mas vai até a página 2. Deixar entrar. Pronto. E nos últimos anos estamos vendo os resultados.
Percebam que não é sobre uma cultura ser “melhor” do que a outra. Não é sobre “civilizar selvagens”. Se franceses fossem morar no país dos outros, eles também teriam que passar pelo mesmo processo de adaptação. É uma premissa básica, que usamos até aqui no Desfavor: minha casa, minhas regras. Ninguém é obrigado a ir à sua casa, mas se escolher ir, é obrigado a seguir as suas regras.
E isso não quer dizer discriminar, oprimir ou segregar. É um ingrediente fundamental para que a inclusão realmente aconteça. Quer morar no país dos outros? Vai ter que se adaptar a uma nova realidade.
E é aqui que a coisa começa a ficar truncada. Uma mente simplória pode pensar que estamos falando apenas de hábitos culturais: não comer certos alimentos, não fazer certas coisas, não vestir certas roupas. Vai muito além disso. Se parar nisso, é apenas inclusão “para inglês ver”, inclusão na forma, não na essência.
É preciso que o cidadão que entra se nivele com o cidadão do país, ao menos nos principais aspectos. Educação, cultura, hábitos de higiene locais, convívio social e muitos outros quesitos que não recebem a atenção que merecem. Se você quer morar lá, é apenas justo, caso contrário corre o grande risco de acabar marginalizado, inapto para competir de igual, para igual e até discriminado.
Abrir as fronteiras para acolher quem precisa de uma nova pátria é só um primeiro passo insuficiente. Sentir-se um país maravilhoso, bom e inclusivo por fazer apenas isso é ilusório. Chega até a ser cruel. Quer realmente acolher pessoas e incluí-las na sua sociedade? Dê ferramentas para que elas saibam como, e não apenas um passaporte que autoriza a entrada.
E esse vem sendo o principal erro da França. Existem outros, menores, sobre os quais vamos falar mais para frente. Por agora, vamos focar nesse: abrir as portas é apenas um bom começo. É preciso criar instituições que acolham essas pessoas e proporcionem as ferramentas e o conhecimentos para sua completa inclusão social, caso contrário, você está apenas importando mão de obra muito barata, uma espécie de escravidão do século XXI.
A forma como isso seria feito não vem ao caso aqui, contanto que fosse eficiente e gratuito e pudesse dar aos imigrantes todas as ferramentas para que eles operem uma adaptação eficiente e fiquem “de igual para igual” com os franceses. Novamente, não estamos chamando ninguém de inferior, estamos chamando de diferentes culturas, educações e hábitos. Qualquer um de nós teria que operar mudanças se desejasse se adaptar à cultura de outro país.
Pode ser um reforço na educação formal, pode ser um ajuste nos hábitos sociais, pode ser aprender uma habilidade que é cobiçada e valorizada no mercado de trabalho local para conseguir um trabalho digno e uma fonte de renda. Pode ser um código de conduta social, pode ser uma lição sobre o as leis do país, pode ser suporte psicológico. Cada indivíduo de cada país terá uma necessidade e é, no mínimo, sacanagem, abrir as portas e deixar ele descobrir e aprender na porrada. É pedir para reforçar o estereotipo de imigrante que atrasa o país. Isso não é inclusão, é jogar as pessoas na fogueira e posar de bonzinho inclusivo.
Talvez muitos de vocês estejam pensando que é obrigação de quem muda de país estudar sobre e se encarregar de uma adaptação completa à realidade que encontrará em seu novo lar. Nem sempre isso é possível. Pessoas fugindo da extrema pobreza, de guerras ou de outras catástrofes humanitárias não têm nem a base da pirâmide de Maslow, estão preocupadas em sobreviver, jamais terão condições financeiras, emocionais e físicas de lidar com essa preparação.
É dever de quem acolhe, inclusive para preservar a harmonia social da sua nação. Se quer realmente acolher, se quer receber os aplausos por ser uma nação inclusiva, então acolha direito.
Não quer gastar dinheiro e mão de obra com esta infraestrutura de acolhimento? Então faça como tantos outros países e não abra a porteira, pois arreganhar as fronteiras sem o devido acolhimento no processo de adaptação é sacanagem com quem chega e com quem já mora no país. Todo mundo sai perdendo para que um país possa alardear uma postura supostamente inclusiva.
E é especialmente cruel quando as pessoas que entram vêm de uma sociedade com menos oportunidades. Jogar imigrantes com escolaridade deficiente, hábitos contrastantes e realidades inimagináveis na sociedade francesa é cruel.
Esperar que essas pessoas entendam e aprendam tudo sozinhas é mais cruel ainda. A realidade é que essas pessoas vão sofrer discriminação e provavelmente acabarão marginalizadas, como já dissemos, servindo como mão de obra barata.
Inclusão não é apenas dar oportunidade, é também dar as ferramentas para que essas pessoas possam performar como seus colegas diante dessas oportunidades. Banalizar inclusão, resumi-la a abrir fronteiras, é canalhice, mas como rende aplausos, muitos países continuam fazendo. Tudo que aconteça daqui para a frente com a França é resultado das suas péssimas escolhas. E, que fique claro, a péssima escolha não é deixar entrar imigrante, é deixar entrar e não dar suporte.
O mínimo que eu esperaria seriam locais dignos de acolhimento, no qual cada imigrante tivesse uma moradia individual e gratuita e auxílio mensal assegurados por pelo menos um ano, frequentando uma espécie de “escola” sobre o novo país. Ali, poderia aprender coisas basilares como o idioma, as leis e a estrutura social (entre outros), mas também coisas importantes para convívio como hábitos, cultura, modo de funcionamento de instituições (bancos, correios, hospitais, etc.) e até matemática básica. Ao final, poderia tomar uma decisão informada se quer morar ali ou não, se quer fazer o esforço para se adaptar ou não.
Não seria uma escola de doutrinação. Ninguém seria obrigado a seguir, apenas a aprender. Aprendeu tudo? Escolhe se quer ficar. Quis ficar? Escolhe quais daquelas ferramentas que aprendeu quer usar em qual momento. Não quer usar nenhuma delas? Não tem problema, se conseguir se adaptar plenamente sem nada disso, sem causar problemas ao país, tá tudo certo.
Não haveria dinheiro para isso? Reduz o número de imigrantes que aceita por ano. É preferível aceitar 10, 100 ou 1000 que recebam suporte do que aceitar 500 mil que serão submetidos a essa realidade cruel de virar mão de obra barata, cidadão de segunda categoria, excluídos.
Então, e só então, podemos falar da segunda parte, que é a punição. Punir sem educar antes nem é punição, é apenas covardia/sadismo mesmo. Depois que todos recebessem informação, ferramentas para plena adaptação e para estarem nivelados com o que se exige se um cidadão médio naquele local, é que podemos falar em cobrança e punição.
E nesse momento sim se pode aplicar o rigor da lei. Cometeu um crime grave ciente das leis do país e tendo recebido ferramentas para viver sem atentar contra outras pessoas? Julgamento justo, com direito a defesa. Foi condenado? Hora de excluir da sociedade e devolver para o país de origem. É com a maior parte dos países se comportam hoje em dia, só que sem a primeira parte, a da inclusão real.
Nem mais rigor, nem menos rigor: já que a pessoa recebeu ferramentas para se nivelar com o cidadão médio daquele país, ela tem que ser julgada como ele. E controle, muito controle, de imigrantes ilegais. Zero tolerância.
É difícil entender toda a histeria envolvendo imigrantes ilegais. Vejam o caso do Trump: praticamente todas as falas consideradas ofensivas que ele solta sobre imigrantes são sobre imigrantes ilegais e, ainda assim, ele sempre acaba como o vilão. Prejudica o país, tem que ser combatido. Existe jeito certo de entrar, dentro da lei? Tem que ser cumprido.
Entrar ilegalmente em um país é crime, pode e deve ser repudiado. E se o país oferece uma entrada pela porta da frente, com todas as ferramentas para facilitar sua adaptação e não transtornar o equilíbrio social do lugar, quem tenta entrar pela porta dos fundos está ainda mais errado.
Dando uma oportunidade decente não só de entrar, mas de se adaptar em igualdade de condições com os nacionais, aí sim a cobrança tem que ser grande, como se cobraria de qualquer outra pessoa: não pode entrar ilegal e não pode violar as normas, a segurança, a paz social e o bem-estar daquela comunidade.
Essa dinâmica garantiria uma transição pacífica tanto para imigrantes como para os nacionais, todo mundo sairia ganhando. Mas dá trabalho, dá despesa, leva tempo. Como o objetivo é ganhar seu pin de woke inclusivão, é mais fácil só deixar entrar, a pessoa que se vire, sofra, a paz social que se lasque. O importante é entrar para a história como um governo inclusivo.
A França está decaindo, não por culpa dos imigrantes, mas por culpa de como o governo os trata. Eles também são vítimas. Mas é um assunto sensível demais para ser discutido nesses termos “no mundo lá fora”, pois qualquer um que esboce uma opinião contrária a abertura de fronteiras é tratado como se fosse o Donald Trump.
Somos contra imigração sem critérios, sem suporte, sem inclusão. E todo mundo deveria ser.
Para dizer que deveríamos estar falando das eleições na Venezuela (reclama com o C.U.), para dizer que nunca tinha pensado nisso ou ainda para dizer que esperava mais: comente.
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Etiquetas: C.U.radoria, França, imigração, política internacional
Anônimo
Esses imigrantes majoritáriamente são daquela cultura em que se você vai pro país deles, você tem que agir conforme a cultura deles. Se eles vão pro seu país, você tem que agir conforme a cultura deles.
Eles não estão abertos a negociar. Logo, esse “curso de cultura e adaptação local” não funcionaria.
Sally
Pois é, mesmo em eventos festivos como a Copa do Mundo, quem não seguiu as regras do Catar acabou preso.
Mas se você prende um imigrante por não seguir as regras do seu país, está “oprimindo” e “não respeitando a cultura”.
É como os cuzões e chorões que vem aqui reclamar que comentário não aprovado é censura. Se você foi banido, são apenas as regras.
Anônimo
Claro, o imigrante tem que ser submisso e está proibido de pensar diferente, afinal os “nacionais” são sempre superiores, não é mesmo?
Aliás, isso curiosamente condiz com a censura de comentários praticada neste site.
Anti-parabéns!
…Eu acharia destaque, mas não riria por falta de surpresa, se entrarem no “Fala, desfavor”.
Gui
Se por “ser submisso” você quer dizer “não estuprar as locais” e “não cagar na rua”, então acredito que sim.
Ana
“censura de comentários nesse site”
Regras, pra quê te quero!
Sally
“se eu não concordo, a regra é censura”
GILCO COLHOS
Somir, para a decadente França de hoje, o importante não é ser realmente inclusiva, mas só parecer que é. Estou ceto?
Anônimo
Spoiler: Não é só na França.
Gui
Literalmente tudo que leva “inclusão” no nome. É só o parecer ser que conta.
UABO
Concordo com vocês dois, GILCO COLHOS e Gui.
W.O.J.
Infelizmente , “inclusão”, hoje em dia, é só uma palavra bonita cujo significado acabou “esvaziado”….
GILCO COLHOS
Falando em “inclusão”, viram a o caso da lutadora argelina trans – ou inter-sexo – que arrebentou o nariz de uma italiana no boxe feminino e a fez desistir da luta chorando em apenas 40 segundos?
Sally
Ela não é trans, ela tem níveis de testosterona acima do normal, mas é mulher.
Eu acho um absurdo, pois ter testosterona elevada gera uma força acima da média e coloca as adversárias em uma desvantagem absurda.
Inclusive nas Olimpíadas anteriores, duas atletas foram desclassificadas por isso.
Mas a França, que faz atleta nadar no meio da merda, não se importa muito com regras.