Bíblia Pilhada: Gênesis Parte 5
Na última postagem vimos Isaque muito doente, sendo enganado por um de seus filhos (Jacó), que se fez passar por Esaú, para receber as bênçãos que seriam por direito do irmão. Prosseguimos com esta fase “Casos de Família” da Bíblia, que não acrescenta absolutamente nada a ninguém.
Ao ver que Esaú estava furioso com seu irmão, a mãe, Rebeca, resolveu intervir para tentar evitar que os filhos se matem. Ela avisou a Jacó que a situação não estava favorável e o mandou para a casa de Labão, tio de Jacó, irmão de Rebeca, que morava longe dali. Pediu que ele fique uns tempos por lá, até a poeira abaixar.
Então, Jacó foi morar com Labão para não ser deitado na porrada por Esaú. Em uma jornada cheia de alegorias ridículas e inúteis, das quais vou poupá-los, ele chegou até seu destino e a primeira pessoa que encontrou foi Raquel, uma das filhas de Labão, e imediatamente eles se apaixonaram um pelo outro.
Labão acolheu Jacó e lhe ofereceu um trabalho remunerado, mas Jacó disse que o pagamento que ele queria era a mão de Raquel em casamento. Se Labão permitisse que Raquel se case com ele, Jacó trabalharia por sete anos sem cobrar nenhuma remuneração. Labão concordou. Jacó trabalhou por sete anos sem pagamento para conquistar o direito de casas com a moça.
Porém, ao que tudo indica, a família toda era estelionatária. Assim como Jacó deu um golpe no irmão, Labão deu um golpe em Jacó. Na festa de casamento, embebedou o noivo e empurrou sua filha mais velha, Leia, no lugar de Raquel para o quarto do noivo, que acabou tendo relações com ela na lua de mel.
Segundo a Bíblia, Leia era menos privilegiada fisicamente do que Raquel. Jacó levou gato por lebre e consumou o casamento com a irmã baranga. Eu gosto que a Bíblia ressalta que Raquela “era bonita de rosto e de corpo” e por isso era melhor do que a irmã. Espiritualidade pura.
Na manhã seguinte, quando acordou ao lado de Leia, Jacó foi tomar satisfações com Labão, que lhe explicou que naquelas terras a irmã mais nova não pode se casar enquanto a irmã mais velha estiver solteira, por isso, se queria casar com Raquel, primeiro teria que se casar com Leia. Como o casamento estava consumado, ele teria que aceitar Leia como sua esposa. Poderia ter explicado isso antes, não é mesmo?
Labão fez um novo trato com Jacó: se ele trabalhasse mais sete anos de graça, aí sim poderia se casar com Raquel também. Sim, ele ficaria casado com ambas. Jacó, muito puto da vida, acabou aceitando por estar muito apaixonado por Raquel. Mas dessa vez ele recebeu o pagamento adiantado: poderia usufruir de Raquel imediatamente.
Jacó então se viu com duas esposas em uma dinâmica muito difícil de competitividade entre elas, intrigas e muito choro e grito. Como gostava muito de Raquel e nada de Leia, o tratamento era desigual. Vocês podem imaginar o inferno que era a vida de Jacó, principalmente nas mãos de Leia.
Para piorar a situação, Leia paria filhos como um coelho. A cada filho que paria, Leia fazia afirmações no sentido de que isso salvaria seu casamento. Não deu certo com Leia nem com nenhuma mulher na história da humanidade desde então, mas, ainda assim muita gente ainda parece acreditar que o marido vai tratar melhor, vai gostar mais, vai mudar, vai ficar mais responsável ou será mais presente se houver um filho na equação. Não vai.
Então, se é que dá para aprender algo desse grande amontoado de putaria, violência gratuita e injustiça galopante que é a Bíblia, que seja isso: ter filho não salva casamento, não salva relacionamento nem prende homem. Espero que ensinem isso nas igrejas e nos cursos sobre a Bíblia, é uma das poucas partes que de fato trazem uma informação útil.
Muitos filhos e baixarias depois, Jacó estava compreensivelmente de saco cheio de Labão, de Raquel, de Leia, de toda a prole e da puta que pariu. Cumpriu seus outros sete anos de trabalho gratuito e mandou um “chega dessa merda”. Disse a Labão que ia pegar suas coisas e voltar para sua casa. Labão obviamente não queria perder seu trabalho escravo e tentou demover Jacó dessa ideia.
Jacó disse que continuaria cuidando das ovelhas de Labão se fizessem o seguinte acordo: os animais brancos que nascessem dali para frente seriam de Labão, os negros, com manchas ou malhados seriam de Jacó. Ele vendeu essa ideia a Labão dizendo que seria a forma mais segura, pois bastaria olhar para o rebanho para identificar o que pertencia a cada um, não dando margem para fraudes e roubos.
Mas, como dissemos, era uma família de estelionatários, por sinal, como quase todo mundo na Bíblia. Quem não é promíscuo é violento, quem não é violento é estelionatário. E às vezes temos os três elementos juntos. E no caso, parece que além de estelionatário, Jacó também era burro.
Jacó decidiu “manipular” a cruza dos animais para que não nasçam animais brancos, apenas malhados ou listrados. Ele pegava varas de algumas plantas e colocava diante dos olhos dos animais fortes quando eles estavam cruzando, acreditando que aquilo (olhar para listras) induziria a formação de um embrião listrado ou malhado.
Imagina o ridículo de um adulto vigiando a vida sexual de animais e, quando estes começam a cruzar, enfiar uma vara no campo de visão deles. Olha, eu não gosto nem de imaginar quais eram as opções de leitura à época para que a Bíblia se torne o livro de maior destaque…
O plano totalmente terraplanista de Jacó deu certo, não pela biologia, mas provavelmente por Deus ter ajudado um estelionatário reincidente em seu mais novo golpe. Não se fala muito de Deus nesse trecho, acredito que ele estivesse dormindo ou algo parecido. O fato é que os animais fracos cruzavam sem intervenção, e nasciam filhotes brancos (e fracos) que pertenceriam a Labão.
E nessa pegada de nazismo reverso, onde os brancos eram fracos e os negros e pardos eram fortes, Jacó prosperou muito mais do que Labão. Seu rebanho era forte e o rebanho de Labão era frágil e deficiente.
Obviamente Labão começou a ficar meio puto com essa dinâmica e questionar, então, Jacó achou que era momento de partir, levando seus animais, suas esposas e seus filhos consigo. Avisou às esposas que ele voltaria para a casa do seu pai e mandou que arrumem suas coisas discretamente, pois sairiam escondidos.
Em meio a tumulto e correria (com direito a Raquel passando a mão em coisas que nem eram dela), eles fugiram. Labão foi atrás disposto a fazer justiça com as próprias mãos, mas sonhou que se fizesse algo contra Jacó ele teria sérios problemas, então, resolveu recuar, enfiou o galho dentro e o deixou partir.
Jacó marchava com sua comitiva (empregados, rebanho, esposa e filhos) para casa e, quando se aproximava, mandou uma mensagem apaziguadora para Esaú, dizendo que estava voltando, na esperança se der bem recebido. Quando Esaú recebeu a mensagem, juntou 400 homens e foi ao encontro de Jacó.
Quando soube disso, Jacó ficou apavorado. Então, montou uma estratégia para acalmar o irmão: mandaria seus servos na frente com muitos animais para presentear Esaú, o bom e velho suborno. Muito covardemente, Jacó dividiu a caravana em grupos, sendo ele o último, assim, se Esaú ficasse furioso teria que matar a todos até chegar a ele.
Porém, quando Esaú encontrou Jacó, não o atacou, o abraçou e demonstrou afeto. O retorno de Jacó se consolidou sem maiores problemas e o roteirista da Bíblia é um filho da puta que passa dez páginas criando expectativas sobre coisas que não vão acontecer. Quando finalmente é coerente ter alguma violência, nada acontece. Quando não há nenhum contexto para violência, do nada desce um anjo e espanca uma pessoa. Tá puxado.
Jacó se estabeleceu de volta e a vida ia bem, até que uma de suas filhas, Dina, foi estuprada. Segundo a Bíblia, foi por amor, o estuprador (Siquém) se apaixonou por ela. Climão.
O pai de Siquém foi falar com Jacó, dizer que o filho estava apaixonado por Dina, coisa e tal, pedindo a mão dela em casamento e oferecendo bens materiais em troca. O que uma pessoa comum faria? Aceitaria o suborno ou compraria briga com os envolvidos, certo? Observem o que o imbecilóde de Jacó fez.
Jacó disse que sim, claro, tudo bem, podia se casar com sua filha sim, mas, pela tradição do seu povo, a filha só poderia se casar com um homem circuncidado. Isso mesmo, começou essa manjação de rola novamente. Foram lá fazer a bainha no estuprador e no pai do estuprador.
Depois, Jacó veio com uma conversa de “veja bem, isso não basta”, pedindo que todo mundo da família e da cidade de Siquém fosse circuncidado também, assim poderiam todos se casar entre si, a família de Jacó e o povo do estuprador, e se tornariam um só povo. Estamos falando de centenas e mais centenas de circuncisões.
O pessoal concordou. Cortaram a ponta do bilau de todo mundo. É prepúcio que não acaba mais. Devem ter ficado com tendinite por repetição de movimento. E tudo isso para quê? Três dias depois, os irmãos de Dina (filhos de Jacó) entraram na cidade e mataram todo mundo.
PRA QUE PASSAR A MÃO EM UM MONTE DE PINTO SE IAM MATAR TODO MUNDO? Tirando a profunda, contundente e pujante vontade de botar a mão na rola alheia, nada mais justifica isso.
Não é como se uma pessoa circuncidada fique totalmente inválida e impedida de se defender. Em que pese serem homens, que desde sempre acham que vão morrer por uma gripe, certamente haveria alguma forma de neutralizá-los sem passar a mão no pau da cidade toda, não é mesmo?
Poderiam ter envenenado. Poderiam ter ateado fogo. Poderiam ter feito qualquer coisa para reduzir as chances de resistência daquele povo. Mas não, foram à cidade passar a mão em todas as rolas. Olha, francamente, continuo sem entender como essas coisas são ensinadas e encenadas para estudantes da Bíblia.
Depois de matar todo mundo, os filhos de Jacó ainda roubaram tudo de valor que encontraram na cidade e levaram como prisioneiras as mulheres e as crianças. Hoje, por muito menos do que isso (no caso, basta a parte de meter a mão no pau do colega mesmo), Deus fica triste. Mas, ao que tudo indica, passou impune.
E Deus? Não viu, estava lavando o cabelo. Estava de ressaca dormindo. Estava jogando jogo do tigrinho. Vai saber. Deus não fez absolutamente nada. Nestes trechos da Bíblia Deus não dá muito o ar da sua graça. Em que pese a cortação de pinto ser em nome dele, dessa vez não foi um pedido direto dele, o que me leva a crer que os humanos tomaram gosto pela coisa mesmo.
Estamos passando da metade do Gênesis e eu ainda não entendi a razão dessa obsessão com circuncisão. Qual é o motivo da tara? Fazer em si mesmo pode até ser uma medida de higiene, mas essa compulsão por circuncidar o colega, alguém explica?
Era status usar pulseirinha de prepúcio no pulso? Eles colecionavam? Ou será que o pessoal tinha complexo de pinto pequeno e queriam diminuir o pinto dos outros na tentativa de passar menos vergonha? Por hora, meu chute é que queriam pretexto para passar a mão nos genitais alheios mesmo.
Para terminar, quero compartilhar que recebi relatos de crianças/jovens que copiaram e colaram um texto desta coluna e o apresentaram como um trabalho sobre esse trecho da Bíblia, acreditando que este é um blog sério. Este não é um blog sério, ao menos não quando se fala da Bíblia, então, em que pese as gostosas risadas que dei imaginando a cara do religioso que corrigiu esse trabalho, não façam isso. Guardem o corta-cola para o Desfavor Explica.
Para dizer que é um milagre que os patriotas não venham aqui nos atacar (bolsonaristas são tranquilos, quem sempre ameaça são os petistas), para dizer que Deus estava ocupado cagando ou ainda para dizer que eu vou para o inferno: comente.
Wellington Alves
Ah, sobre a estratégia de interferir na cor das ovelhas usando imagens, tenho uma experiência pessoal neste sentido.
Minha mãe amava desenhar corações. Vivia desenhando todos os tipos de corações apaixonados, nos cadernos, no braço, na perna, e durante a gravidez não foi diferente, desenhava na barriga. Meu irmão nasceu com uma pinta em formato de coração na panturrilha, um coraçãozinho perfeito, bem definido mesmo. Já eu, na lateral esquerda, abaixo das costelas, tenho um coração flechado! Mas no meu caso o desenho não tem o contorno bem definido, ficou meio esfumaçado, mas contornando a mancha fica bem nítido o coração com algo atravessado.
Então não subestime a cultura popular! kkkk
Sally
q
Wellington Alves
O lance da circuncisão foi estratégia pra deixar os homens da cidade fora de combate mesmo. Uma coisa é circuncidar um recém nascido, outra é pegar os adultos e fazer um corte, provavelmente sem assepsia adequada. Os caras deviam estar ardendo em febre com infecção aguda.
Já para os hebreus, a circuncisão foi uma direção de Deus para que seu povo se diferenciasse dos outros, mas hoje sabemos que tal procedimento contribuia com a longevidade e aumento populacional mais rápido do que os outros povos. Se hoje tem homem morrendo de câncer peniano porque não lava o pau direito, imagina naquela época! Portanto, a circuncisão era um diferencial competitivo.
Sally
Não tinha outra forma que não manipulado o pinto alheio???
Wellington Alves
Pense bem, era a chance que eles tinham de retribuir o bullying. kkkk
Sally
É preocupante o tanto que os heróis bíblicos gostam de manjar uma rola.
Paula
Gente, o Deus da Bíblia tem uns fetiches meio estranhos… será por isso que a antiga esposa dele foi excluída dos textos? Ela cansou dessa tara com circuncisão e estupro, foi embora e ele não superou o divórcio?
Estou achando a coluna extremamente instrutiva, aprendemos em edições passadas que não se deve mexer na comida alheia, que ser um velho bêbado e estranho atrai a simpatia divina e agora sabemos que estelionato e trabalho escravo em troca de esposas são bastante aceitáveis. É pra glorificar de pé!
Sally
Sim, são muitos ensinamentos edificantes. Eu sei que são parábolas, mas não tinha uma forma menos escrota de contar a história não?
Babsi
Sally, espero de coração que você não me leve à mal (ainda mais pq acredito que só você entenda meu carinho por esse muso) mas tenho uma dúvida pertinente: O canal do YouTube “Pilhando geral” é seu ou é do Pilha??
Sally
É do Pilha mesmo. Parece uma caricatura, mas não é.
Mag
Amo esta coluna!
Sally
Vai pro inferno junto comigo
Ana
Porra criançada, olha o nome do site, olha o teor do texto… Não precisa pensar muito pra ver que não é um site ou conteúdo convencional sobre a Bíblia.
Não, em nenhum momento na Bíblia é específico porque precisava ser o pinto circuncidado uma “aliança com Deus”. Somando com o fato que o ponto G masculino é no ânus, Deus claramente não odeia gays.
Eu acho interessante como uma cidade aceitou de boa forasteiros cortarem seus prepúcios, hoje em dia pras pessoas tomarem vacina é uma briga. Talvez devesse haver um programa vacinal direto no pênis, acho que vai dar bom!
Sally
A mãe da criança permitiu que ela consulte um Desfavor Explica uma vez, sobre um assunto técnico, para escrever um trabalho. A criança achou que todo o blog era sério. Eu sei que é muito errado, mas eu ri.
Eu não duvido que “vacina no pênis” vire nova fake news em época eleitoral…
UABO
Barracos entre familiares, inveja, golpes, putaria, tramóias, brigas intermináveis, justiçamentos sangrentos… Tem horas que até parece história de cangaço…
Sally
A Bíblia é uma mistura de novela mexicana com Tropa de Elite
W.O.J.
“Para terminar, quero compartilhar que recebi relatos de crianças/jovens que copiaram e colaram um texto desta coluna e o apresentaram como um trabalho sobre esse trecho da Bíblia, acreditando que este é um blog sério”.
Sally, eu queria que você tivesse visto a minha expressão de estupefato quando cheguei nessa parte…
Sally
Imagina a cara da professora de religião então…