Bíblia Pilhada: Gênesis Parte 6
Continuamos na fase Esaú e Jacó. Mês passado paramos naquele lastimável evento no qual a filha de Jacó foi estuprada e, em vez de vingar a desonra com um duelo ou coisa do tipo, Jacó criou uma armadilha na qual circuncidou uma cidade toda, passando a mão em tudo quanto é pinto, para só depois atacar e matar todo mundo.
Parece que depois disso Deus finalmente acordou da sua soneca e resolveu dar instruções: mandou Jacó ir morar em um lugar chamado Betel e construir um altar ali. Jacó pegou a família e foi.
Em agradecimento, uma série de eventos aconteceram na vida de Jacó. Entre eles podemos destacar dois: sua mulher Raquel morreu parindo um filho homem chamando Benjamim, seu filho mais velho Rúben teve relações com a concubina de Jacó, decepcionando e enfurecendo seu pai.
Desgostoso, Jacó pegou as coisas e resolveu voltar a morar com o pai, o que me causou bastante espanto, pois até onde eu sabia, seu pai, Isaque, estava em seu leito de morte uma década atrás, tanto que deu aquela treta entre Esaú e Jacó, onde um enganou o outro para roubar os direitos do primogênito. Quanto tempo dura o leito de morte de alguém? Talvez eu esteja mal-informada, mas, na minha concepção, um leito de morte não dura décadas.
Eu não sei quem escreveu essa parte da Bíblia (me parece que declaradamente ela tem diversos “autores”) mas a pessoa não estava bem. Longe de mim julgar, quando eu não estou bem não faço meus melhores trabalhos, mas o pessoal da revisão poderia ter melhorado um pouco a situação, tanto para corrigir as faltas de continuidade como os erros factuais.
O troço é longo, são 50 capítulos, é normal que no final a qualidade caia. Gênesis parece aquele Meme do cavalo, que começa muito bem desenhado e no final tá um rabisco de criança. Talvez antepassados dos autores de Lost tenham escrito essa parte final? E pelo visto estava todo mundo pouco se fodendo, inclusive o pessoal da revisão (essa porra foi revisada sim antes de virar a Bíblia) pois o final do Gênesis é uma zona sem coerência.
De agora em diante, a Bíblia foca no filho de Jacó, José. Confesso que quando começaram a falar de José eu pensei “que alívio, Jesus vai nascer logo, vamos para a parte que interessa”, mas parece que ainda não chegamos nesse ponto, não é mesmo? Parece que graças a uma escrita prolixa e a incontáveis baixarias irrelevantes narradas com graus de detalhes constrangedores não vamos falar de Jesus até 2030.
Diz a Bíblia que José era o filho favorito de Jacó e que por isso, os outros irmãos sentiam muita inveja dele. Porém, em várias passagens podemos observar que José era bastante escrotinho e X9: “José sempre contava ao pai as coisas erradas que os seus irmãos faziam”. Então, quem sabe, talvez, isso seja o motivo de ninguém gostar dele, e não inveja. A Bíblia já pavimentando caminho para a “enveja”, aquela desculpa que todo arrombado usa para justificar que não gostem dele.
Vale dizer que José também era chato e meio megalomaníaco. Ficava contando aos irmãos o que sonhava quando dormia, uns troços auto-elogiativos e desinteressantes. Sobram motivos para não gostar de José, até mesmo eu que nunca tinha ouvido falar achei ele um grande pau no cu.
O fato é que os irmãos estavam de saco cheio de José por diferentes motivos válidos. Um dia, eles estavam em um local afastado cuidando dos animais e Jacó mandou que José X9 fosse até lá verificar se os irmãos estavam fazendo tudo direito. E José se prestou a este papel.
Quando viram que José se aproximava, os irmãos ficaram revoltados de ter que viver sempre com esse chato do caralho espião controlando e delatando tudo que eles fazem. Ficaram tão putos, mas tão putos que resolveram matá-lo.
Bolaram o seguinte plano: jogariam o corpo em um poço, rasgariam as roupas e voltariam para casa com pedaço de roupa rasgada dizendo que um animal o havia devorado. Longe de mim tomar o lado de um dedo-duro, mas achei o lance do poço meio cruel. Uma morte imediata seria mais piedosa.
Pegaram José e tacaram em um poço. Porém, pensaram duas vezes e tiveram uma ideia melhor. Deixar o irmão vivo? Claro que não, não há espaço para bondade, misericórdia e amor neste livro psicopático. Eles perceberam que poderiam faturar se vendessem José como escravo em vez de matá-lo. Ele desapareceria, pois o levariam para longe dali e ainda embolsariam algum bem.
Tiraram José do poço e o venderam por 20 barras de prata a ismaelitas que ali passavam. O que são ismaelitas? Não sei, só sei que José foi vendido e revendido até acabar no Egito. Mas José no Egito é assunto para nosso próximo texto. Apenas guarde esse desfecho: ele foi levado como escravo para o Egito.
Os irmãos mataram um cabrito, cobriram a túnica de José de sangue e disseram ao pai, Jacó, que seu filho fora atacado por um animal e estava morto. Assim, a informação oficial reportada foi a morte de José.
Infelizmente não podemos continuar falando de José, pois o capítulo seguinte não prossegue com sua história. Em vez de continuar a narrativa, ele nos oferece um mix sórdido e baixo nível que não pode ser ignorado. Seria irresponsabilidade minha deixar de citar tanta putaria. Então, vamos esquecer José e focar na história do seu irmão, Judá.
Enquanto José era levado como escravo, o capítulo seguinte nos conta a história de Judá, outro filho de Jacó (e irmão de José). Judá se casou com uma moça chamada Sua e tiveram três filhos: Er, Onã e Selá. Por qual motivo isso é relevante? Por mais uma baixaria desnecessária que está por vir, que, por sinal, é irrelevante para o resto da trama.
Judá casou seu filho mais velho Er com uma mulher chamada Tamar. Sem dar maiores detalhes, a Bíblia diz que o Senhor não gostava da vida perversa que Er levava e por isso o matou. Se alguém, por gentileza, tiver maiores informações do que Er fez que aborreceu Deus, me avise, pois da última vez em que Deus se aborreceu não foi por pouca coisa: moradores de uma cidade tentaram comer à força o cu dos anjos que ele mandou. Ao que tudo indica, Er era muito barra pesada e Deus ficou irritado e o matou.
Não que isso seja fonte confiável, mas, ao pesquisar sobre o assunto, achei uma novela na Record que diz que Er foi castigado por Deus por bater em sua esposa. Não parece real, todo mundo se bate impunemente na Bíblia e muitas vezes Deus até encoraja. Talvez os reais pecados de Er sejam muito pesados, até mesmo para uma emissora que transmite A Fazenda. Esse é o nível da Bíblia, pessoas que veiculam A Fazenda dizem “pera, isso aqui é baixo nível demais, vamos omitir”.
Pesquisei mais e achei um fórum de discussões no qual o assunto estava em pauta e, a versão menos desagradável foi a de que ele preferia fazer sexo com animais (“fêmeas, pois não era gay” – sim, havia estar ressalva) do que com sua esposa. Como todo o resto era muitos degraus abaixo disso, vamos nos apegar a essa versão. Er supostamente fazia sexo com animais e não com a esposa e Deus se aborreceu por ele não estar procriando e o matou.
Depois da morte de Er, Judá chamou seu outro filho, Onã, e mandou que ele “tenha relações com a viúva de seu irmão” (Tamar), para que o irmão tenha descendentes através dele.
Onã não gostou da ideia de ter um filho e esse filho ser atribuído a seu irmão, então, cada vez que “tinha relações” com a viúva do irmão, nas palavras da Bíblia, “deixava que o esperma caísse no chão para que o seu irmão não tivesse descendentes por meio dele”. Deus ficou puto com isso também e resolveu matar Onã.
Se você achou tudo isso baixo nível e desnecessário, calma que piora.
Tamar, duas vezes viúva (de Er e de Onã) agora queria se casar com Selá, o terceiro filho de José. Mas, ao ver que dois filhos morreram supostamente por causa desta moça Buceta de Túmulo, Judá a mandou um “tá bom senta lá Cláudia”, pedindo que ela volte para a casa do seu pai e que quando Selá fosse mais velho eles se casariam. Obviamente não cumpriu sua palavra, só queria se livrar da moça.
Tamar foi morar com seu pai, mas ao perceber que não conseguiria se casar com Selá como lhe fora prometido, começou a planejar uma vingança.
Quando ficou sabendo que José estaria na cidade. Se vestiu como uma prostituta, cobriu o rosto com um véu e o abordou na entrada da cidade oferecendo um programa. Ela fez sexo com ele em troca de um cabrito, que ele mandaria entregar depois. Tamar pegou alguns pertences de José como garantia de que ele efetivamente entregaria o cabrito.
Piora um pouco mais, minha gente.
Tamar ficou grávida de seu sogro, José. O boato chegou até José e ele ficou puto com a desonra, já que ela deveria estar se comportando como uma viúve e não dando por aí. Então ele mandou buscar Tamar para queimá-la.
Quando foram buscar Tamar para queimá-la, ela disse que estava grávida de José e mostrou os pertences dele que ela havia retido como caução de pagamento. Desistiram de queimar Tamar, que teve gêmeos: Peres e Zera.
Deus? Nada fez. Talvez o próprio Deus estivesse atordoado, espantado, desconcertado com a pá de bosta que esses filhos da puta conseguiram fazer em tão poucas linhas. Eu fiquei. Talvez ele tenha olhado atônito, sem reação. Nem a onipresença, onisciência e onipotência te prepara para isso.
Juro para vocês, eu fiquei uns dez minutos olhando para esse capítulo pensando qual dos trechos seria o mais memorável, para virar ilustração desta postagem. Seria um retrato da vida perversa de Er? Onã jogando esperma no chão? Tamar vestida de puta dando para o sogro? Muitas possibilidades, ficou bem difícil de decidir, como vocês bem podem ver na imagem (da qual eu não me orgulho) que ilustra esta postagem.
Aí eu questiono como pode existir ensino bíblico para crianças e encenações teatrais bíblicas para crianças e vocês me respondem que “cortam as piores partes”. Francamente, o que sobra? Jesus pregado numa cruz deve ser o momento mais light. Se não falar disso, não tem mais nada que possa ser dito.
E nessa altura eu já nem sei, é bem capaz de chegar na crucificação e ela ser no mesmo nível, de ser um ritual BDS, com anões, roupas de látex e muito fetiche. Capaz das chicotadas serem a pedido. Eu já não sei mais nada. Continuo em choque por esse livro existir, por ele ser chamado de “sagrado” e pelas pessoas que o cultuam serem moralistas.
Alguns ainda tentam me explicar que “é uma parábola”. Precisa escolher esses temas para contar uma parábola? Precisa ser putaria? Não poderia ser com animais, com natureza ou com algo que não envolva tanta baixaria?
Também tem quem diga que na época os costumes eram outros, e eu entendo isso, mas, pelo que consta, isso era errado mesmo na época, tanto é que a regra é Deus punindo e matando quando percebe as bostas que estão fazendo.
Certamente existiam outras formas de contar uma história ou transmitir uma mensagem que não envolvam comer cu de anjo, jogar esperma no chão seduzir o pai bêbado e engravidar dele, seduzir o sogro de passando por puta e engravidar dele e tantas outras atrocidades que já vimos (e ainda estamos no primeiro livro!).
Não era indispensável para a história usar parábolas-putaria. Seria a Bíblia uma versão antiga de Game of Thrones? A história é boa, mas entopem de baixaria, só para garantir audiência?
Tem tanta putaria nesse livro que eu imagino jovens adolescentes se trancando no banheiro com ele na era Antes de Cristo. Andressa Urach deve ter ficado constrangida quando leu. Se os roteiristas da Bíblia estivessem vivos, seriam contratados pelo Brasileirinhas.
E essas mesmas pessoas que idolatram esse livro pregam por decoro, respeito e puritanismo. Eu não sabia onde estava me metendo. Eu achei que era um livro com uns tios pedindo para você ser bom, ensinando a rezar. Francamente, se filmar isso aqui com roupas modernas, vende muito bem como pornô.
Da próxima vez que um católico vier pregar qualquer moralismo, eu tenho tanto material para responder, mas tanto, que estou até com medo de ser presa. Em algum momento vai acontecer…
Nomes que apareceram neste capítulo, caso desejem nomear um animal de estimação com alcunha bíblica: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulom, Raquel, José Benjamim, Bila, Dã, Naftali, Zilpa, Leia, Gade, Aser, Edom, Ada, Elom, Aná, Zibeão, Basemate, Ismael, Nebaiote, Elifaz, Reuel, Oolibama, Jeús, Jalã, Corá, Temã, Omar, Zefo, Gaetã, Quenaz, Timna, Amaleque, Naate, Zera, Sama, Miza, Dison, Belá, Joabe, Husã, Hadade, Bedade, Samlá, Saul, Baal-Hanã, Acbor, Meetabel, Matrede, Me-Zaabe, Judá, Hira, Sua, Er, Onã, Selá, e Tamar. Desta vez não temos predileção por nenhum nome, mas desaconselhamos que escolham Sua, pois alguém pode entender como sendo uma doação ao perguntar o nome do seu pet.
Para dizer que está tão chocado quanto eu, para dizer que me ensinar a mexer no Photoshop foi um erro horrível ou ainda para dizer que chegamos num ponto onde não duvida que até mesmo o Somir me demita: comente.
Wellington Alves
“Tamar, duas vezes viúva (de Er e de Onã) agora queria se casar com Selá, o terceiro filho de José”
Sally, a partir deste parágrafo você confundiu e passou a chamar Judá de José. Por favor, mais respeito com a Bíblia. kkk
Olha, tem sim metáforas na Bíblia, mas não é o caso aqui. A partir de Abraão os textos são bem literários. Não se espante com os absurdos que o ser humano é capaz de fazer. Lembra que uma vez eu disse que a Bíblia não é um livro de pessoas santas e perfeitas, mas mostra exatamente o quanto somos falhos e dependentes da misericórdia de Deus?
Sally
Vou corrigir. Malditos nomes parecidos
Cris
O pior é que ensinam essa história bizarra de Onã para adolescentes
para explicar que deus não gosta de masturbação
Sally
De onde tiraram isso? Não tem absolutamente nada a ver com mansturbação?
Que povo maluco!
GILCO COLHOS
Não é pra fazer sentido mesmo. É só pra doutrinar.
UABO
Um festival de devassidão, bizarrices e incoerências! E pensar que isso é o guia moral de tanta gente…
Sally
Eu escolho acreditar que essas pessoas nunca leram a Bíblia, ficaram sabendo dela pela visão filtrada de terceiros
W.O.J.
Ah, mas nisso o populacho ignorantão de hoje em dia não é muito diferente do medieval: incapazes de ler por si mesmas o seu livro sagrado – e tampouco o mundo de verdade lá fora -, essas pessoas acabam dependendo que uma “figura de autoridade” lhes “interprete” a realidade. E essas figuras se aproveitam para encher o rabo de dinheiro e controlar os incautos, a quem justificam qualquer coisa esquisita como sendo o “desígnio divino” que não cabe aos meros mortais entender ou contestar.
Sally
950 páginas, imagina só, para um povo que reclama de texto de 4 páginas
GILCO COLHOS
Isso sem falar na promessa fácil de um paraíso eterno em outro plano depois da morte terrena. Algo que, se não se cumprir, ninguém vai poder voltar do além pra cobrar…
Ana
Caaaalma Sally, caaaaalma que piora! Posso te prometer que pioooora!
Quanto mais você ler, mais você entender porque crentes são crentes: eles não leem a própria Bíblia.
Quando leem, não meditam nisso mais do que como se fossem histórias. Eles bradam que são histórias reais e tal, mas se realmente levassem esses relatos com a seriedade que exige, já teriam banido a própria Bíblia como um atentado à moral e aos bons costumes.
Uma desculpinha muito frequente entre os cristãos é que “a gente vive agora sob as regras do Novo Testamento” que é bem mais light do que o Velho Testamento. Porém, na hora de condenar gay, irmãozinho que não é dizimista e mulher que não é virgem, voltam para o Velho Testamento rapidinho, né?
Sally
Eu estou chegando a essa conclusão: essas pessoas não leram a Bíblia, elas ficaram sabendo dela através da visão filtrada de terceiros. Se tivessem a capacidade de ler (e compreender) esse livro de cabo a rabo, não o defenderiam.
Honestamente, me falta perversão para tentar imaginar como isso pode piorar.