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Livin’ in America!

Se tem algo que não pode ser negado, é como os EUA são polêmicos no resto do mundo. Todo mundo é impactado de alguma forma pela maior economia, exército e indústria cultural do mundo. Sally e Somir enxergam claramente as falhas daquela sociedade, mas não entram em acordo sobre o valor de estar por lá. Os impopulares viajam.

Tema de hoje: vale a pena morar nos EUA?

SOMIR

Não vivo lá para bater o martelo da experiência, mas conheço o suficiente para presumir que sim. Não é perfeito, até porque não existe país perfeito, mas tem muita viralatice embutida na mente latina sobre o tema. Sim, é compreensível a negatividade sobre o país, até pelo seu histórico de manipulação e apoio de ditaduras no nosso continente; mas o ponto discutido aqui é sobre como as coisas são por lá.

E por esse ângulo temos que considerar o básico: o IDH deles é maior, o que define uma qualidade de vida média maior do que a maior parte do mundo. É um país onde as coisas funcionam, onde existe organização básica e muita excelência. Sofrem de um problema sério de desigualdade? Sim, mas em comparação com outros países desenvolvidos.

A linha base dos americanos é problemática se a sua comparação for a Noruega, mas isso não quer dizer que seja um país quebrado. Dos países continentais, é o mais funcional. Uma coisa é fazer uma ilha ou um país menor que um estado brasileiro funcionar bem, outra é tocar um colosso de um país como Rússia, China, Índia, Brasil e EUA. Seja em tamanho ou população.

É o único gigante de primeiro mundo. Russos tem poderio militar, chineses tem economia, indianos tem população, brasileiros tem agronegócio… os americanos têm tudo isso. E o país ainda é uma superpotência em todos os atributos. Ninguém fez isso na nossa história até hoje.

Óbvio que você vai desgostar de uma ou mais coisas típicas deles, mas é ignorar a realidade não considerar o sucesso imenso que tiveram. Americanos dizem que os EUA são o maior país do mundo, e tem fundamento, hoje e na história. Melhor país do mundo é muito mais subjetivo, mas dependendo de onde você se encontra na vida, também pode ser argumentado.

Uma democracia complicada, mas que tem e defende valores democráticos verdadeiros. A gente pode passar anos só batendo no que está errado por lá, mas não é uma ditadura, não parece correr risco de virar ditadura, e muitos dos valores do povo combinam bem com a visão moderna sobre o que configura ter direitos humanos.

A pergunta não é qual o melhor país do mundo para viver, é sobre se vale a pena morar nos EUA. Eu talvez escolhesse um país menos… americano… para viver, mas se rolasse uma loteria para decidir onde iria morar, respiraria muito aliviado se o resultado fosse os EUA. Vai ter seus problemas, mas você caiu num país que faz sentido com as sensibilidades de alguém que preza liberdade e senso de justiça.

O americano médio não é muito melhor que o brasileiro médio em vários aspectos, mas como eles tem uma cultura muito forte e valorizam sim conhecimento, não é como se você sempre fosse ficar isolado entre trogloditas. Tem muita gente inteligente, estudada, focada em excelência… muito mais que o Brasil, por exemplo. A sua chance de formar um grupo social intelectualmente estimulante é grande, comparável com muitos dos países mais desenvolvidos do mundo. Mas vai ter que procurar, é óbvio. Em qualquer país do mundo a maioria não é grandes coisas, precisa filtrar.

A vantagem é que em países do dito primeiro mundo, mais gente teve acesso à cultura necessária para dar esse passo a mais. Os EUA tem seus problemas, mas fazem parte desse time sim. O mais complicado dos EUA é o foco capitalista selvagem, você realmente depende de dinheiro para ter acesso às partes boas de viver por lá, mas novamente, com uma economia muito poderosa e sem barreiras institucionais para subir na vida, a chance está lá.

E como é um povo muito consumista, isso pode ser utilizado ao seu favor, americano gasta muito, é da cultura deles girar economia. Até mesmo se você focar nos seus interesses muito de nicho, é bem provável que encontre um público consumidor, investidores, empregos. A taxa de desemprego deles está muito baixa atualmente. E como até segunda ordem são a economia padrão do mundo, seu dinheiro não desvaloriza.

Eu entendo o ponto de quem diz que é um povo mais superficial, que dinheiro é religião e tudo mais. Com certeza são diferentes dos brasileiros nesse ponto. Quem vai para lá esperando o calor latino fica incomodado rapidamente. Mas se você não tem esse tipo de necessidade de amor brasileiro o tempo todo, é algo bem adaptável. Eles se abrem mais para quem está próximo, como é super comum nas culturas do tipo.

Eu sou um buraco negro de afeto, provavelmente pareceria frio para eles também, mas mesmo você com um pouco mais de coração provavelmente se adaptaria às regras da região e seria mais quente com os seus próximos e mais frio com estranhos. É fácil de adaptar do mais para o menos.

E o resto da vida seria mais razoável também, mesmo com os malucos armados, o risco médio de viver nos EUA é bem menor que o risco médio tupiniquim. Você com certeza iria para um lugar com menos criminalidade, e com uma polícia que apesar de fazer muita merda, não é meia dúzia de traumatizados enfrentando bandido dez vezes mais bem armados como é por aqui.

Sim, o elefante na sala é a saúde, uma bizarrice deles que te fale se você quebrar um braço, mas trocar SUS por nada é algo discutível ainda, não? Com um salário pequeno você já consegue ter um planinho de saúde para não morrer sangrando na calçada. E como você é brasileiro, provavelmente não vai se doer de deixar um hospital puto por não ter pagado a conta. Vai imigrante pra lá que nem fala inglês e dá seu jeito, você daria também. Primeiro mundo por primeiro mundo eu escolheria um país com saúde universal, mas novamente, é sobre valer a pena. Vale a pena pagar o preço dos EUA para ter as benesses dos EUA.

Se não valesse, não seria o país mais disputado por estrangeiros do mundo. É questão de entender onde está pisando e se adaptar, não tem país onde você cai e tudo funciona lindamente. É complicado, mas muito menos do que cair em um shithole qualquer dominado por um ditador maluco…

Para me chamar de colonizado, para dizer que sentiria falta da farofa, ou mesmo para dizer que pior que está não fica: comente.

SALLY

Morar nos EUA vale a pena?

Na média, não. Por muitos motivos, mas o principal é a falta de saúde mental do povo e do modo de funcionar da sociedade deles. É melhor do que o Brasil? Sem dúvida. Mas, podendo escolher, definitivamente não vale a pena escolher os EUA, tem muito país melhor e que acolhe imigrante de forma melhor.

Se você está muito fodido no Brasil, provavelmente a maior parte dos países (inclusive os EUA) serão melhores. Mas se falamos de uma pessoa média, que tem um padrão de vida mínimo e possibilidades de escolha, não acho que valha a pena, me parece melhor procurar outros países.

Para começo de conversa, independente da sua aparência física, nos EUA você será um cidadão de segunda categoria: imigrante e latino. Por mais branco que você se ache, lá você será eternamente um imigrante e um latino. Alguns não farão a menor distinção e te tratarão como um nacional, mas outros farão. Ao contrário de outros países, os EUA não precisam de mais imigrantes, então, a boa vontade com eles nem sempre é a regra.

E isso vai desde o atendimento que você vai receber até as oportunidades de emprego que vai receber. Não me parece a melhor escolha ir para um país no qual, para boa parte da população, o que você é pode ser considerado como demérito.

A economia do país é boa. Qualquer trabalho te garante uma existência digna. Mas, novamente me vejo obrigada a bater nessa tecla: economia não é tudo, nem é tão importante como a maior parte dos brasileiros pensam. Essa mentalidade comprar, de ter, de bens materiais é bastante rudimentar, é hora de aprender a olhar um pouco além.

O material humano é mais importante do que economia. Se der para reunir ambos, é o melhor dos mundos, se não, eu prefiro ficar com o material humano. Não adianta nada morar em um condomínio de luxo no qual os vizinhos escutam funk nas alturas, jogam lixo na porta da sua casa e tonam a convivência sofrida.

Nem é o caso dos americanos, eles costumam ser bem-educados, mas é um povo sem saúde mental e com prioridades que eu considero muito erradas. E viver cercado de pessoas que, como regra, não estão com a saúde mental em dia, é muito complicado. Por mais que a sua saúde mental boa, ela vai se deteriorar se o entorno não for bom.

A mentalidade do americano médio não me atrai. Me parecem infantilizados, sem cultura, rasos. É melhor que o brasileiro? Com certeza, pois ao menos são mais honestos, mas, podendo escolher entre outros países, certamente existem outros povos que serão mais enriquecedores no convívio, mais interessantes e mais agradáveis.

O americano médio me parece meio burro, limitado, focado única e exclusivamente em seu país, que acreditam ser o centro do mundo. Pessoas que acham que vaca marrom dá leite achocolatado ou que vacina causa autismo me dão preguiça. Se eu puder escolher, não quero me mudar para o maior país antivax do mundo. Não é pedir demais, não é mesmo?

A saúde física também é complicada. Uma alimentação muito ruim, uma série de facilidades que tornam as pessoas menos ativas e um sistema de saúde que custa uma fortuna desencorajam a escolha do país como residência definitiva.

Ter que pagar 1500 dólares por um braço quebrado ou esperar bastante por uma consulta (que vai custar caro) não me atrai. Podendo escolher, eu prefiro um país no qual a saúde pública funcione.

“Mas Sally, você pode comer o que você quiser, é só escolher comer saudável”. É bem mais difícil quando seu entorno se alimenta mal, quando a regra é gordura, açúcar, sódio e mais gordura. Não estou dizendo que seja impossível, mas é bem mais difícil. Prefiro um país que me estimule a comer melhor. E comer bem não significa comer sem gosto, tá aí a Itália e toda a cozinha mediterrânea para provar o contrário.

Os EUA ainda sofrem com diversas catástrofes climáticas às quais eu não gostaria de me sujeitar. Boa parte do país está no círculo de fogo do pacífico, correndo o risco de grandes terremotos. Inclusive, a maior falha geológicas do mundo, San Andreas, está no território deles. Existe a possibilidade de um enorme e massivo terremoto que pode afundar parte do país. Pode nunca acontecer? Pode. Pode acontecer? Pode.

E terremoto não é tudo. Tem tornados, que são altamente destruidores e praticamente imprevisíveis. Tem furacões que só aumentam de intensidade com o aquecimento global. Tem incêndios massivos que se alastram rápido para áreas povoadas, inclusive áreas com mansões de luxo. Podendo escolher, eu opto por um lugar no qual a natureza não esteja tão determinada a me matar.

Além disso, eles são uma sociedade de consumo que, para o meu gosto, está uns degraus acima do que seria saudável. Tratam bens materiais como prioridade e muitas vezes como descartáveis. Quando você se cerca desse entorno é muito fácil perder o parâmetro e começar a dar mais valor para o que não deveria ter tanto valor.

Essa cultura de arma de fogo nas mãos de qualquer zé cu também me gera ressalvas. Nada contra as armas, tudo contra pessoas sem saúde mental comprando armas no Walmart. Prefiro um país com a população mais centrada, mais calma, mais estável que sim tenha armas de fogo mas que as use com critérios em fez de toda semana sair atirando em escolas e em praças.

A polarização da população é outro fator que desencoraja. Estão muito extremistas, ou é aquele trumpista Qanon maluco enrolado na bandeira americana com arma na mão ou é um pessoal woke radical pro Palestina raivoso histérico que acha que o mundo tem que se adaptar a como ele se sente. Não, obrigada, quero um povo um pouco mais educado e que trilhe um caminho do meio.

Um detalhe que pode não ser importante para a maior parte das pessoas, mas me incomoda absurdamente é a estética do lugar. EUA tem uma estética cafona demais. Tudo parece plastificado, copiado, infantilizado com padrões cafonas e de péssimo gosto. Over, excessivo, ostentação. Haja complexo para precisar dessa demonstração de grandiosidade brega. Eu viveria triste em um entorno desses.

Temos ainda a decadência que o país vem enfrentando nos últimos anos, com o emburrecimento populacional, que faz a gente brincar que americano é brasileiro que ganha em dólar. O americano se acha muito, mas entrega pouco. Não vale a pena. Podendo escolher outro país que não tenha ao menos metade dos defeitos/problemas que eu citei aqui, eu teria uma vida muito mais agradável.

Nem sempre a gente pode escolher. Às vezes a oportunidade que se apresenta é nos EUA e, para sair do Brasil, eu apoio tudo. Mas, quando der para escolher, eu recomendo tentar outro país.

Para dizer que eu sou comunista, para me mandar ir para Cuba ou ainda para dizer que curte essa estética Mickey: comente.

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cultura, Estados Unidos, imigração, sociedade

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