
Bíblia Pilhada: Êxodo Parte 1
| Sally | Bíblia Pilhada | 16 comentários em Bíblia Pilhada: Êxodo Parte 1
Retomando de onde paramos, agora os israelitas estavam livres e podiam sair do Egito. Começa uma longa jornada pelo deserto, permeada pela obsessão de pão sem fermento, circuncisão e sacrifício de animais, rumo à terra prometida.
A dinâmica era a seguinte: Deus ia na frente, para mostrar o caminho. De dia ele aparecia como uma coluna de nuvem e à noite como uma coluna de fogo. O povo tinha que ir atrás e seguir as eventuais instruções que Deus passava, via Moisés.
Gente, essa parte é chata de doer. Chata e demorada. Insuportável. Por isso não vamos dar muita moral para o livro Êxodo e focar apenas nas principais partes.
Depois que os israelitas saíram, os egípcios “se arrependeram” de ter libertado seus escravos resolveram ir atrás deles, enviando seu poderoso exército para capturá-los de volta. Segundo a redação da Bíblia “O Senhor fez com que Faraó, rei do Egito, continuasse teimando, e ele foi atrás dos israelitas”, ou seja, o mesmo Deus que libertou, botou os inimigos para caçarem seu povo. Fascinante.
O exército egípcio rapidamente alcançou os israelitas, que estavam acampados na beira do mar vermelho. Ao se verem encurralados Moisés recorreu ao Senhor, pedindo ajuda para salvar seu povo da iminente captura.
Deus, muito amável, respondeu o seguinte: “Por que você está me pedindo ajuda? Diga ao povo que marche. Levante o bastão e o estenda sobre o mar. A água se dividirá, e os israelitas poderão passar em terra seca, pelo meio do mar. Eu farei com que os egípcios fiquem ainda mais teimosos, e eles entrarão no mar atrás dos israelitas. E eu ficarei famoso quando derrotar o rei do Egito, todo o seu exército, os seus carros de guerra e os seus cavaleiros. Quando eu derrotar os egípcios, eles saberão que eu sou Deus, o Senhor.”
Ao que parece, Deus fez com que seu povo seja caçado como um animal para ter mais uma oportunidade de ostentar seus poderes e ficar famoso. Deus era uma espécie de subcelebridade antiga. Eu achava que vaidade era pecado, mas eu devo estar enganada.
Assim, ocorreu uma das cenas mais famosas da Bíblia: Moisés abrindo o mar vermelho ao meio e os egípcios atravessando. Acho que todo mundo, mesmo os ateus, já tiveram contato com essa cena da alguma forma. Minha impressão dela era algo grandioso, imponente, épico. Agora que sei os bastidores, acho apenas uma pirotecnia desnecessária criada artificialmente para que um Deus egóico e inseguro mostre seu poder.
O próprio Moisés, que eu achava ser um messias fodástico, que eu imaginava naquela pegada Charlton Heston, era apenas um gago inseguro pau mandado fantoche de Deus, que sacudia os braços enquanto quem fazia toda a mágica era o Senhor. Tudo era uma dinâmica para Deus mostrar seu poder. Tudo era sobre ele. Deus daria um ótimo influencer.
A perseguição injusta aos israelitas não era real, era criada por Deus por motivos egóicos, para que possa performar seus efeitos especiais, suas mágicas, seus poderes. E a adoração dos israelitas a esse Deus só pode ser classificada como um relacionamento abusivo. A Bíblia arruinou essa cena épica para mim, a menos que alguém me ofereça uma explicação melhor nos comentários.
Os israelitas cruzaram o mar vermelho quando ele se abriu e os egípcios foram atrás para capturá-los, mas o mar se fechou por cima deles e morreram todos afogados.
Vejamos, os egípcios não foram atrás dos israelitas por escolha, foi o Senhor quem fez isso. E os matou por algo que ele mesmo ordenou que fizessem. Para mostrar seu poder ele tirou a vida de milhares de egípcios que nem ao menos estavam ali por vontade própria. O mesmo que te manda não matar. Mesmo embarcando na fantasia da história, desde cobra falante até mar aberto, tem muito furo de roteiro.
Passado esse obstáculo, os israelitas continuaram peregrinando pelo deserto, rumando em direção à terra prometida. Se alimentavam de um pão que Deus fazia cair do céu para eles e de outros alimentos que apareciam de forma igualmente mágica e meio anti-higiênica. Muita andança e batalhas depois, Deus mandou um “precisamos conversar” para Moisés e pediu que ele reunia o povo todo aos pés do Monte Sinai, marcando dia e hora para a conversa.
Deus apareceria no alto do monte, mas só Moisés poderia subir. Nas palavras do próprio Deus: “Se alguma pessoa puser o pé no monte, deverá ser morta. Ninguém deverá tocar nessa pessoa; ela será morta a pedradas ou com flechas. Isso deve ser feito tanto com pessoas como com animais”.
Porra, filho da puta, nem os bichos? E bicho que tinha sua casa lá no alto? Como o bicho vai saber que “O Senhor” vai palestrar? E que medo é esse que qualquer ser vivo suba o monte? Parece o desespero do ET Bilu quando alguém começava a chegar perto demais dele a ponto de perceber que era um fantoche.
No dia marcado, em meio a trovoadas e relâmpagos, uma nuvem escura apareceu no alto do monte. Ouviu-se o som alto de uma trombeta. A Bíblia conta que Moisés falou com Deus e Deus respondeu na forma de trovão, pedindo que ele suba o monte.
Assim até eu, né? Eu não queria ser chata, mas neste exato momento está chovendo e trovejando aqui e eu estou a um passo de comunicar que é Deus falando comigo e ordenando que todos vocês me deem uma contribuição em dinheiro.
Moisés subiu o monte e deixou o povo lá embaixo. Deus falou com Moisés e deu várias instruções. As dez principais, que ficaram conhecidas como “Os dez mandamentos”, seriam as regras básicas para fundar uma sociedade que esteja à altura desse Deus. Eu suponho que todos conhecem os dez mandamentos, mas vamos recapitular.
Não adorar outros deuses, não criar imagens, não usar o nome de Deus sem o respeito que ele merece, guardar o sábado pois é dia santo, respeitar pai e mãe, não matar, não cometer adultério, não roubar, não dar falso testemunho e não cobiçar a casa a mulher ou os pertences de outro homem.
Claro que existiram algumas instruções secundárias, muitas delas fascinantes, como por exemplo a recomendação de matar toda mulher que fizer feitiçaria ou não colocar degraus nos altares para que as genitálias não fiquem à mostra, mas a base eram essas dez regrinhas que, apesar de serem muito simples, nunca conseguiram ser cumpridas até os dias de hoje.
Entretanto, o povo concordou e jurou que seguiriam todas as regras estipuladas por Deus. Seguiram? Não seguiram. Levaram paulada de Deus e foram mortos por isso? Aos montes. Mas isso é assunto para mais adiante.
Deus também deu orientações bastante específicas sobre construções de diversos objetos, como mesas, altares, tendas, candelabros, arcas e outros. Específicas mesmo, dando medidas, cores, materiais. Também especificou como deveriam ser construídos e seus parâmetros foram insanos: a mais tranquila foi usar uma tesoura de ouro para cortar os materiais.
Além de tudo, fez o estilista: determinou como deveriam ser as roupas dos sacerdotes: escolheu tecidos, cores, tipos de bordados e muitos outros detalhes. Vingativa, chiliquenta e design de roupas, parece que Deus foi precursor do Clodovil.
O Senhor também coreografou os rituais (como tinham que ser feitos, onde e quando) e, em um ato extremamente miliciano, ordenou que cada pessoa do povo pague um tributo em barras de prata para que “não lhe aconteça nenhuma desgraça”, deixando bem claro que esse tributo não iria para os homens, iria para Deus.
O povo seguiu tudo? Claro que não. Deus castigou com morte, doença e danação? Claro que sim. O povo continuou adorando esse Deus? Inexplicavelmente sim. O ser humano parece ter uma tara de fábrica por seguir e prestigiar líderes que o sacaneiam.
E encerramos por aqui o livro Êxodo, Senhoras e Senhores. O troço é tão chato que em uma postagem matamos 40 capítulos. No mês que vem entramos em Levítico, igualmente chato, de forma igualmente acelerada.
Nomes que aparecem neste trecho e recomendamos que sejam usados em animais de estimação: Arão, Bezalel, Itamar, Uri, Hur, Aoliabe, Aisamaque, Josué, Num, Nadabe, Abiú e Eleazar. Sugerimos Nadabe para um peixe, cujo apelido pode ser “Be”: nada be! nada be! (desculpa).
Para dizer que eu pulei partes importantes (o que não é divertido não é importante), para dizer que não sabe quem era Clodovil (melhore) ou ainda para dizer que a qualquer momento Deus vai me amaldiçoar (no aguardo): comente.
Os próximos livros são bem chatos de ler mesmo. Se você passar de Deuteronômio aí boto fé que chega fácil em Crônicas, que é quando volta a ficar chato com uma sequência de fulano que gerou sicrano…
Mas esses 5 primeiros livros são muito importantes pois fundamentam todo o judaísmo. Todas as tradições e leis. Por isso Deus gastou um tempinho segurando eles no deserto, 40 aninhos, pois precisava ensinar e formar uma nova nação, além de renovar a população. Esperou morrer todos aqueles que foram escravos, pois tinham mentalidade de escravos, medrosos, jamais teriam condições de enfrentar os outros povos para tomar a terra prometida.
Sim, ao menos Crônicas está cercado de livros legais, como Juízes e Reis.
Não sabia que a demora na peregrinação tinha eugenia como fundamento! Muito errado…
Esse vídeo é sensacional!: https://www.youtube.com/watch?v=gHTRMLtxkMs
Em vários dos textos desta série da Bíblia Pilhada, a Sally tem “recomendado” ao final que os nomes exóticos com que ela se depara seja dados a animais de estimação. Mas eu tenho visto por aí muitos PAIS evangélicos batizando os seus FILHOS com exatamente esses mesmos nomes. Da postagem de hoje e das anteriores. E, quando perguntados do porquê, vários desses pais alegam que, com nomes de inspiração bíblica, seus filhos serão “mais abençoados”. Fiquei tão estupefacto que fiquei sem saber o que dizer…
Isso é uma coisa que eu nunca entendi. A Bíblia tem muitos nomes socialmente aceitáveis… a pessoa quer um nome bíblico para o filho ser abençoado? Por qual motivo não vai de Daniel, Mateus, Lucas, Tiago, João… por qual motivo o nome, além de bíblico, tem que causar estranhamento?
Zezócas e Sally, eu também não entendo, mas imagino que o porquê desses nomes se deva a alguma(s) dessas justificativas:
1 – os pais simplesmente acham a grafia bonita
2 – os pais queiram “esfregar na cara de todo mundo” o quanto são virtuosos por serem religiosos
3 – talvez certos nomes soem aos pais como “importante” ou “imponentes”
4 – pode ser que o significado – que desconhecemos – desses nomes evoque algo importante para os pais
5 – identificação dos pais com o personagem bíblico
6 – desejo dos pais de que o filho tenha as virtudes do personagem bíblico “homenageado”
Por que pobre é especial, oras.
É bem por aí mesmo…
Eu adoro Levíticos. O excesso de regras e punições, a abertura sobre como sacrificar o cordeiro ao senhor (era cordeiro? Faz tempo que li)… Fascinante!
E a parte que fala sobre o que fazer com problemas de saúde? Até sobre corrimento falam.
Sally, nos comentários rejeitados desta sére da Bíblia Pilhada teve muita gente te acusando de blasfêmia?
Não com esse nome, mas avisando o quanto eu vou para o inferno e vou sofrer teve muitos
E vale compilar alguns desses comentários em uma postagem humorística futura ou são choruminosos que nem pra isso servem?
Sim, é uma possibilidade
Nem imagino quanta merda deve ter sido despejada nesses comentários rejeitados…
“Além de tudo, fez o estilista: determinou como deveriam ser as roupas dos sacerdotes: escolheu tecidos, cores, tipos de bordados e muitos outros detalhes. Vingativa, chiliquenta e design de roupas, parece que Deus foi precursor do Clodovil.”
“Nóóóóóóófaaa, meU amoooooORRRrrrr…” Não deu pra não rir nessa parte….