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Bíblia Pilhada: Gênesis Parte 7

É hora de mais alguns capítulos da Bíblia comentada, na coluna onde o brasileiro médio sou eu: não sabe nada sobre o assunto, não quer pesquisar, mas tem muitas opiniões para dar!

Mês passado paramos no momento em que José foi vendido como escravo pelos seus irmãos por ser um dedo-duro filho da puta. Iam matá-lo jogando em um poço, mas perceberam que poderiam se livrar dele e ainda lucrar com isso. Ele acabou vendido e revendido até chegar ao Egito.

A Bíblia gasta muitos capítulos com a vida de José no Egito, que vamos resumir, pois desinteressante. Acabou virando um escravo do Rei e, por ser abençoado por Deus (tinha alguns dons como prever o futuro pela interpretação dos sonhos), foi promovido a Governador do Egito, um cargo altíssimo. Basicamente, ele mandava em tudo e só o Rei estava cima dele.

Graças aos seus dons previu um período de muita escassez de alimentos e preparou o Egito para isso, estocando os alimentos que sobravam. Acabou reencontrando os irmãos, fez as pazes com eles e levou-os junto com seu pai para morar lá. Seu pai viveu no Egito até falecer. Fim. Vocês acabam de ser poupados de 11 capítulos chatíssimos.

E aqui termina o Gênesis, vamos agora entrar no livro Êxodo.

Êxodo poderia ser contado em uma página, mas Deus estava de péssimo humor e atazanou a vida de todo mundo para tornar as coisas muito mais difíceis do que precisaria ser. Este livro basicamente conta a história dos israelitas tentando sair do Egito em 40 capítulos, que poderiam ser um só se o Deus que dizia defendê-los não tivesse sacaneado eles em cada tentativa.

Vamos à história. Há uma passagem de tempo, e José, que era o protagonista até aqui, morreu, bem como todos os seus irmãos, mas deixaram muitos descendentes que se espalharam rapidamente pelo Egito. Como os israelitas eram muitos, os egípcios ficaram com medo deles e os escravizaram e maltrataram. Mas nada adiantava, eles continuavam procriando como coelhos e era maioria.

Com medo de uma população tão numerosa se revoltar e tomar o poder, o Rei deu uma ordem extrema: todos os meninos israelitas que nascessem deveriam ser mortos, apenas as meninas deveriam viver. E foi nesse contexto que nasceu nosso atual protagonista, Moisés.

Pelas regras vigentes, Moisés deveria ser morto, pois menino. Para tentar evitar sua morte, a mãe o colocou em cesto na beira do rio, na esperança de que alguém o salve e ele possa viver. Moisés foi encontrado pela filha do rei, que o adotou. O tempo passou, Moisés virou um homem adulto e, ao se aventurar fora do palácio, viu como os egípcios tratavam mal o seu povo e se revoltou.

Acabou matando um egípcio para defender um israelita, um ato que seria punido com pena de morte. Por isso, Moisés resolveu fugir e foi morar em um local chamado Midiã. E foi lá que Deus falou com ele pela primeira vez. Deus apareceu na forma de fogo e disse que estava chateado com os maus-tratos que seu povo estava sofrendo no Egito e que, por isso, resolveu tirar os israelitas dali e levá-los para outro lugar melhor, onde eles seriam donos das terras.

Moisés seria seu porta-voz, seu braço direito, a pessoa a organizar e comandar essa jornada. Deus, onipresente, onipotente, onisciente, conseguiria isso em poucas horas. Mas o roteirista da Bíblia tinha uma meta de capítulos a cumprir, 40 pelo visto.

Então, o Senhor mandou que Moisés reúna os israelitas e diga que Ele irá tirá-los de lá e dar boas terras para que morem. Depois, deveriam ir falar com o Rei e dizer que Deus mandou deixá-los ir. Obviamente Moises ficou se cagando, pois a reação do Rei não seria boa, mas o Senhor assegurou que ele faria o necessário para que o Rei acabe deixando os israelitas partirem.

Moisés não era um orador nato, muito pelo contrário, era inseguro e gago. Então, ele recebeu um reforço divino para esta missão: o Senhor deu a ele alguns poderes, convertendo-o em uma espécie de X-Men antigo. Pequenos truques que ele poderia usar para provar que falava em nome de Deus se alguém duvidasse. A Bíblia chama de “milagres”, mas me parece um pouco forçado, eram uns truquinhos sem grande impacto na humanidade, como por exemplo transformar um cajado em uma cobra.

Daqui para frente, nada faz sentido. Tudo é desnecessário, embromação e esquizofrenia. Não reclamem comigo, reclame à noite, em suas orações, com Deus.

Já na viagem de Moisés ao Egito a insanidade começou. Ao que tudo indica, o Senhor tentou matá-lo por razões que desconheço. Para defender Moisés sua esposa “pegou uma pedra afiada, cortou o prepúcio do seu filho e com ele tocou o pé de Moisés e disse: você é um marido de sangue para mim”. Não entendi nada, exceto o fato de ter prepúcio envolvido novamente. Essa estranha obsessão do Senhor. Prepúcio e pão sem fermento estão por todos os lados no Velho Testamento.

No caminho, Arão se juntou a Moisés. Ambos foram falar com o Rei do Egito e pedir permissão para que os israelitas se afastem do Egito para adorar seu Deus. Obviamente o rei mandou eles catarem coquinho na descida e ainda arrochou os israelitas, fazendo-os trabalhar ainda mais. Chateado, Moises foi se queixar com Deus, que, muito puto, mandou um “deixa comigo você vai ver o que eu vou fazer”.

E assim, como um incentivo para permitir que deixem os israelitas irem embora, Deus selecionou diversas danações para jogar naquele povo: as dez pragas do Egito. Usando Moisés como canalizador, Deus foi jogando, uma a uma, estas pragas para tentar liberar os israelitas. Tinha poder para conseguir isso de imediato sem punir inocentes? Tinha. Mas além de baixo nível, a Bíblia é um livro sádico.

A primeira praga foi fazer a água virar sangue. Isso basicamente deixou os egípcios sem terem o que beber e também cagou a alimentação, pois todos os peixes morreram. Toda água virou sangue, até mesmo as das poças. Mas não foi suficiente, o Rei não cedeu.

Veio a segunda praga: as rãs. Basicamente cobriu o Egito de rãs. A situação das rãs foi um pouco mais insalubre, então o Rei concordou em liberar os israelitas se Deus fizesse as rãs sumirem. Porém, quando o Senhor reverteu a praga e as rãs morreram, o Rei voltou atrás e resolveu não liberar ninguém.

Veio a terceira praga: os piolhos. Todo o pó do Egito virou piolhos. Se você é do Rio de Janeiro, está familiarizado com o que isso acarreta. Pessoas e animais se coçando incessantemente por dias, mas o Rei continuava irredutível.

Veio a quarta praga: as moscas. Todas as casas e o Palácio ficaram cobertos de moscas. Porém, vejamos, se piolho que efetivamente pica o humano não foi suficiente, não seriam as moscas que dobrariam o Rei. A ordem das pragas, a meu ver, está incoerente. Deveriam ter começado pelas moscas, que é a mais branda. Obviamente as moscas não surtiram efeito.

Veio a quinta praga: a morte dos animais. O Senhor matou todos os animais egípcios, ficaram vivos apenas os animais israelitas. Porém o Rei não cedeu.

Veio a sexta praga: os tumores. Tumores acometeram pessoas e animais, abrindo úlceras terríveis. Quem tinha poder decisório era o Rei e tão somente o Rei. Precisava fazer isso com todas as pessoas? E com os coitados dos animais?

Mas o pior vem agora, e abro aspas: “Porém o Senhor Deus fez com que o rei continuasse teimando. E, como o Senhor tinha dito a Moisés, o rei não atendeu o pedido de Moisés e Arão”.

Pera… então quer dizer que o mesmo Deus que jogava as pragas também fazia com que a vítima das pragas não aceite a resolução do caso? Se o “Senhor Deus” fez com que o Rei continue teimando, ele é basicamente um sádico que queria socar dez pragas no fiofó dessas pessoas não importa o quê. Fascinante.

Veio então a sétima praga: a chuva de pedras. Uma violenta chuva de pedras destruiu construções, árvores, plantações, matou pessoas e animais (eu entendi que os animais já estavam mortos, mas tudo bem). Desesperado, o Rei disse que os deixaria ir se fizessem parar a chuva de pedras, mas, quando ela parou, descumpriu sua palavra.

Veio então a oitava praga: os gafanhotos. A Bíblia começa esta praga com o seguinte parágrafo:

“O Senhor Deus disse a Moisés: Vá falar com o rei, pois eu fiz com que ele e os seus funcionários continuassem teimando, para que eu pudesse fazer esses milagres no meio deles. E também para que você pudesse contar aos seus filhos e aos seus netos como eu zombei dos egípcios e quantas coisas espantosas fiz no meio deles. Assim vocês ficarão sabendo que eu sou Deus, o Senhor”.

Percebam que Deus Ególatra, matando e torturando inocentes para provar seu poder e fazer seu nome. Fiquei tão intrigada que fui consultar pessoas com mais conhecimento do que eu sobre o assunto (vulgo qualquer um) e as explicações que recebi foram justamente essas: Deus queria ostentar seu poder. Só faltou engolir uma pilha.

O Rei claramente não tinha livre arbítrio para tomar essa decisão, pois quando queria liberar os israelitas, o Senhor interferia e o fazia mudar de ideia. Por qual motivo continuaram com essa encenação, como se ele estivesse realmente decidindo algo? Para que Deus possa ostentar seus poderes. Belo exemplo.

Voltando à praga: uma nuvem gigante de gafanhotos passou pelo Egito comendo as poucas plantas que haviam sobrevivido à chuva de pedras, deixando a todos sem alimentos. Nesse ponto, o Rei já estava implorando para que os israelitas sumam dali, mas, abro aspas: “Porém o Senhor fez com que o rei continuasse teimando, e este não deixou que os israelitas fossem embora”.

Veio então a nona praga: a escuridão. Durante três dias o Egito ficou na mais absoluta escuridão. Novamente, abro aspas: “Porém o Senhor fez com que o rei continuasse teimando, e este não deixou que os israelitas saíssem do Egito”.

Por fim, veio a última praga: a morte dos primogênitos. Deus mataria o primeiro filho de todos os egípcios, pessoas e animais. Estou confusa… A quinta praga não foi a morte de todos os animais? Como é que tinha crias de animais para matar? O roteirista da Bíblia andou bebendo novamente.

Mas piora: apesar de ser onisciente, Deus pediu que todos os israelitas espalhem sangue de carneiro na porta de suas casas, para ele saber quem não matar. Para um Deus que está tentando ostentar poder, me parece bem fraco pedir para marcar as portas.

Depois de matar o filho de todo mundo, finalmente o Senhor permitiu que o Rei exerça seu livre arbítrio e o Rei praticamente enxotou os israelitas do Egito.

Após 430 anos de escravidão, eles estavam livres e seriam guiados pelo Senhor para uma nova terra onde pudessem residir em paz. Estelionato que chama, né? Até hoje estão com dificuldade nesse quesito…

Vem aí alguns séculos com o pessoal israelita se fodendo de todas as formas que vocês possam imaginar, inclusive pelas mãos do seu Deus. Agora a Bíblia vai dar um tempo na baixaria para cair no sadismo e vitimização, não percam! (calma, em breve a baixaria volta com força total).

Mês que vem começamos a peregrinação deles pelo Egito.

Nomes bíblicos citados nestes trechos, para servirem de inspiração para seus pets: Potifar, Zafenate, Paneia, Asenate, Potífera, Manassés, Efraim, Benjamim, Simeão, Rúben, Judá, Raquel, Jacó, Enoque, Palu, Hezrom, Carmi, Jemuel, Jamim, Oade, Jaquim, Zoar, Saul, Levi, Gerson, Coate, Merari, Zelá, Peres, Zera, Hamul, Tolá, Puá, Jasube, Sinrom, Zebulom, Serede, Elom, Jaleel, Leia, Dina, Gade, Zifião, Hagui, Suni, Esbom, Eri, Arodi, Areli, Aser, Imna, Isva, Isvi, Berias, Héber, Malquiel, Zilpa, Labão, Belá, Bequer, Asbel, Gera, Naamã, Eí, Rôs, Mupim, Hupim, Arde, Dã, Husin, Naftali, Jazeel, Guni, Jezer, Silém, Sifrá, Puá, Jetro, Zípora, Libni, Simei, Anrão, Isar, Hebron, Uziel, Mali, Musi, Joquebede, Corá, Nefegue, Zicri, Misael, Elzafã, Sitri, Eliseba, Aminadabe, Nasom, Nadabe, Abiú, Eleazar, Itamar, Assir, Elcana, Abiasafe, Putiel e Fineias. Nossa sugestão de hoje é Potífera, para uma tartaruga.

Para dizer que esses nomes parecem Anula Eu, para perguntar se não eram 7 pragas em vez de dez ou ainda para se perguntar quanto tempo da minha vida eu perdi fazendo essa imagem (muito): comente.

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