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Sistema Endócrino.

Certamente você já ouvir falar em hormônios, mas… sabe o que são? Como funcionam? Como impactam a sua vida? O que você pode fazer para não atrapalhar seu funcionamento? Vamos dar um passeio pelo seu Sistema Endócrino, as glândulas e os hormônios que elas produzem.

Glândulas são estruturas do nosso corpo que produzem hormônios. Cada hormônio tem uma função diferente (muitos inclusive atuam em conjunto) e eles nos afetam mais do que você imagina. Se eu pudesse resumir a intenção deste texto em uma frase, seria essa: hormônios te afetam mais do que você imagina.

Vocês sabem que eu sou a monotemática da saúde mental, né? Temos uma coluna aqui só sobre o tema. É realmente muito importante, fundamental para uma vida plena, digna e saudável, mas… às vezes a coisa é física. E quando é física e é hormonal, não tem poder da mente que vença. Vejo muita gente com hormônio desregulado sofrendo, se culpando, meditando, tentando resolver sozinha. Não vai resolver. Problema físico se resolve com médico e medicamento. Mas antes de começar a doutrinação sobre os Santos Endocrinologistas, vamos entender como o Sistema Endócrino funciona.

Em linhas gerais, a coisa funciona mais ou menos da seguinte forma: a glândula produz um hormônio para que ele cumpra uma função, gere um determinado resultado no seu corpo (geralmente ligado a sobrevivência ou bem-estar). Os hormônios em si não são o principal, o principal é a reação que eles vão gerar. São como mensageiros, que vão até certos lugares dar comandos: sinta sono, sinta fome, acelere os batimentos cardíacos, etc.

E para que o mensageiro funcione direitinho, é necessário um equilíbrio delicado. Quem manda o mensageiro tem que mandar na hora certa, no local certo e com a mensagem certa. Por sua vez, quem recebe, tem que saber ler a mensagem, entender o que é para fazer, quando, onde como e com que intensidade. Pensa em milhões de mensagens enviadas o tempo todo, diariamente, por anos. As chances de falha são bem reais.

Para conseguir transmitir essa mensagem, os hormônios são lançados na corrente sanguínea. “Mas Sally, se circula pelo corpo todo, como é que consegue entregar a mensagem para o destinatário certo?”. O corpo humano é maravilhoso. Para evitar que esse hormônio impacte em tudo e todos, existe um mecanismo que garante que esse hormônio só vai atuar em determinadas células para obter o resultado desejado (papo técnico: células-alvo).

Simplificando, é como se tivesse uma chave solta que não abre a porta de nenhuma célula, a não ser daquelas para as quais foi projetado. Se um hormônio tem a função de gerar sono, ele não vai impactar uma célula reprodutiva, por exemplo. Então, é um mensageiro com uma missão de ordenar algo cuja chave só abre a porta do destinatário dessa missão. Desde que, é claro, tudo esteja funcionando como deveria.

Os hormônios são extremamente potentes. Pouquíssima quantidade deles controla nosso corpo, nosso humor e até nossa personalidade. Normalmente são produzidos na ordem do milionésimo de grama. Por isso uma pequena alteração na quantidade de hormônio pode significar um grande estrago. Não subestime o poder que eles têm sobre você.

As glândulas funcionam como uma grande orquestra: cada uma faz a sua parte para ter um resultado final afinado e harmonioso. E, como toda orquestra, existe um maestro regendo, avisando a todos quando é hora de secretar quais hormônios em quais quantidades. Nosso maestro é glândula Hipófise, localizada no cérebro.

Além de produzir seus próprios hormônios, a Hipófise estimula ou desencoraja as outras glândulas a produzirem os hormônios que lhes corresponde. Portanto, é essa querida uma das principais responsáveis pelo bom funcionamento do nosso corpo.

Além da hipófise, são glândulas que compõe o sistema endócrino: a pituitária (localizada no cérebro), a tireoide (na garanta), o timo (um pouco acima do coração), as suprarrenais (acima dos rins), o pâncreas e os testículos ou ovários. Todo esse pessoal produz hormônios destinados a finalidades específicas que controlam basicamente boa parte do que você é, faz ou sente.

“Mas Sally, hormônios não determinam quem eu sou!”. Então… obviamente você não é apenas hormônios, mas hormônios podem sim ser determinantes para atos, sentimentos e ações. Tanto é que em determinadas circunstâncias, podem ser até atenuante quando um ser humano mata outro ser humano, de acordo com a lei.

A maior parte das pessoas se acha muito mais poderosa do que é e acredita que ela pode se sobrepor aos hormônios. Dependendo do grau de bagunça que se instaura, não, não pode. A maior parte das pessoas ignora o real impacto dos hormônios no comportamento. Acho que não gostamos de lembrar que somos tão “bicho”, com comportamento regido por hormônios.

Mas somos. Não tem consciente que vença. Se um hormônio descacetar seriamente, não tem esforço racional que você possa fazer para se manter dentro da normalidade. Podem ser alterações de comportamento, de humor ou até de sono. Será inútil lutar, tem que tratar. Você pode sim escolher como lidar com os sentimentos que terá (ninguém trai por questões hormonais), mas não poderá escolher não senti-los.

O que acontece é que a questão hormonal foi usada por muito tempo para desacreditar mulheres, sobretudo o que diz respeito à Tensão Pré-Menstrual (TPM). Só que, em resposta, a sociedade foi para o outro extremo: agora não pode atribuir nada a hormônio se não é machismo, preconceito, sexismo e outros ismos. Mais uma vez: hormônios impactam nossas vidas, nossas escolhas e nossos sentimentos muito mais do que imaginamos.

Meus queridos, nós temos uma pequena margem de manobra, mas o grosso está nas mãos de inconsciente e hormônios. Chato não termos tanto controle, concordo plenamente. Mas é melhor ter essa consciência do que viver se enganando. O que não quer dizer que se possa passivamente culpar hormônios por tudo: se seus hormônios estão te fazendo sair de um espectro de normalidade a ponto de atrapalhar sua vida, você tem que ir ao médico e se tratar (no caso, médico endocrinologista). Permanecer em um estado de descontrole é uma opção – e não é das melhores.

Quantos de vocês já foram a um endocrinologista para um checkup? A partir dos 40 anos de idade (ou antes, se existir histórico familiar de problemas) tem que ir pelo menos uma vez por ano. Se você não foi, sugiro que vá. Talvez se descubra algo que, quando tratado, vai deixar sua vida muito mais fácil. A vida não tem que ser difícil. Não tem que ser um tormento acordar todo dia e levantar da cama. Se você se sente assim, tem coisa para ser corrigida aí.

Seria impossível em um texto de quatro páginas falar sobre todos os hormônios e suas funções, mas isso você consegue facilmente em qualquer pesquisa Google. Vamos tentar abordar a coisa da forma mais completa possível, mas saiba que certamente vamos ficar devendo informação.

Provavelmente a maior parte das pessoas não vai gostar de ler isso, mas boa parte dos seus sentimentos são um castelo de cartas, uma alegoria para explicar os efeitos que os hormônios causam em você. Apaixonadíssimo? Meu anjo, é Ocitocina, que dobra de quantidade quando estamos com alguém que nos interessa, fazendo com que a pessoa sinta todos esses sintomas indignos de pessoa apaixonada: borboletas no estômago, um hiperfoco no outro, sensação de euforia.

E quando o tempo passa, fatalmente a quantidade de ocitocina cai, pois não é viável para o corpo mantê-la para sempre no dobro da sua capacidade. E quando ela cai, a pessoa objeto da paixão fica sem graça, você começa a achar um monte de defeito, dá uma tristeza, a vida fica meio triste. É por isso, crianças, que quem quiser construir um relacionamento duradouro deve aproveitar o boost de Ocitocina dos primeiros meses e criar laços fortes, permanentes e muito além desse deslumbramento químico.

Além de fazer mal ao seu corpo, hormônios desregulados podem detonar a sua saúde mental. Por exemplo, o Cortisol, hormônio do estresse. Se o corpo for exposto a ele em grandes quantidades e por um tempo considerável, podem surgir problemas permanentes como depressão e quadros de ansiedade. Nessas horas vai ter quem te diga que você “tem que controlar seu estresse”, mas se há uma causa física para que esse hormônio esteja desregulado, não se cobre você resolver o problema. É médico e medicamento.

Também é importante entender que hormônios oscilam por diversos motivos. Uma vida saudável ajuda, mas nunca estabiliza 100% os hormônios. Eles podem oscilar de acordo com as estações do ano, de acordo com a idade (à medida que envelhecemos o corpo produz menos de alguns hormônios) e por uma infinidade de motivos. Observe-se, conheça-se, entenda o que acentua ou atenua essa oscilação e jogue com isso a seu favor.

Parem de pensar em hormônios apenas quando tem dificuldade para emagrecer. A maior parte das pessoas não emagrece por comer errado (para mais ou para menos) e por não se exercitar com a intensidade e frequência necessários. Hormônio bagunçado vai muito além de dificuldade para emagrecer. Mexe com emoções, sentimentos e outros fatores que você achava que dominava totalmente.

Quando falamos em hormônios desregulados, os problemas mais comuns são: insônia ou alterações do sono, perda de libido, fadiga ou cansaço excessivo, ansiedade, irritabilidade e depressão. A questão alimentar fica em segundo plano. “Mas Sally, quer dizer que depressão é um problema hormonal?”. Não, não é. É um desequilíbrio bioquímico do cérebro. Mas o gatilho que faz a depressão aparecer pode sim ser hormonal.

Outros dos sintomas mais frequentes são problemas na pele como acne ou oleosidade, problemas digestivos, dores de cabeça, queda de cabelo, menstruação irregular e até retenção de líquidos.

Seria impossível listar todos os sintomas que cada hormônio desregulado causa, então, minha sugestão é: se você está sentindo que você não é mais você mesmo, se está sentindo algum sintoma exacerbado e persistente, marque uma consulta com um endocrinologista. Pode ser hormonal. Lembre-se: hormônios comandam mais o seu corpo do que você pode imaginar.

Vamos dar uma pincelada rápida sobre o que esperar se alguns dos principais hormônios desequilibrarem? Mas, lembre-se: textinho de quatro páginas, não vamos conseguir exaurir todas as possibilidades. É só um apanhado dos problemas mais comuns.

Estrogênio e Progesterona, hormônios femininos, podem causar ansiedade, irritabilidade, um péssimo humor e desânimo que descamba para choro por muito pouco. Também podem causar insônia, nervosismo e confusão mental. Isso mesmo, dificuldades cognitivas, de concentração e de memória.

A Testosterona, hormônio masculino, se desequilibrada pode mexer não apenas com a parte sexual, mas também causar desmotivação, oscilações de humor, quadros de ansiedade, tristeza e desânimo. A coisa também pode caminhar para o lado oposto se ela estiver em excesso, tornando a pessoa mais agressiva, impaciente e ansiosa.

A Dopamina, o hormônio ligado à motivação e sensação de recompensa (temos um texto só sobre ele) pode gerar dependência emocional, sofrimento excessivo, vícios, desânimo, desmotivação e prostração.

A Serotonina, hormônio ligado a prazer e bem-estar, pode gerar sensação de tristeza e solidão quando em desequilíbrio. Em casos extremos, pode levar a doenças como depressão ou quadros crônicos de ansiedade.

A Ocitocina, responsável por sensações reconfortantes e criação de vínculos, pode causar ansiedade, desânimo e irritabilidade, a pessoa pode perder a capacidade de confiar nos outros, pode se tornar menos empática e menos generosa.

A Melatonina, conhecida por regular o sono, pode causar danos bem maiores do que insônia. Pode minar o sistema imunológico, afetar o humor, levar à confusão mental e até gerar uma tristeza sem explicação.

A Endorfina, o hormônio que nos deixa alegres e de bem com a vida, pode causar irritação, tristeza, ansiedade, alterações no sono e uma maior percepção da dor, que pode culminar em fibromialgia ou enxaquecas.

O Cortisol, que todo mundo vincula apenas com estresse, pode causar outros estragos, como por exemplo, bagunçar o metabolismo, a glicemia e a pressão arterial. Também pode desencadear surtos de raiva, burnout e estafas.

A Leptina, hormônio que ajuda a gerar a sensação de saciedade, ou a Grelina (quem avisa que é hora de comer) quando desregulados podem levar a compulsão alimentar, bagunçar o metabolismo, reduzir o gasto energético e ainda gerar um aumento dos níveis de glicose no sangue.

A Adrenalina (papo técnico: hormônio neurotransmissor) quando desregulada pode levar a crises de Síndrome do Pânico, ansiedade, medo, hiperventilação e reações exacerbadas.

Obviamente existem muitos outros hormônios que geram muitos outros problemas quando estão desregulados, a lista continuaria por mais duas páginas. Mas acho que vocês pegaram o espírito da coisa.

Em resumo, se você notar alterações significativas em alguma destas áreas na sua vida, considere checar seus hormônios:

  • Sono
  • Fome
  • Estresse
  • Humor
  • Energia
  • Disposição

Alguns fatores contribuem muito para desequilibrar seu organismo e levar a uma disfunção hormonal. Nem sempre é um “defeito de fábrica” que aconteceria de forma inevitável. É aquela frase que a gente sempre repete: a genética carrega a arma, mas quem puxa o gatilho é você, com seu estilo de vida.

Aqui estão algumas coisas que você deve fazer para ajudar a manter seus hormônios em equilíbrio: dormir pelo menos sete horas seguidas sem interrupções e com sono de qualidade, evitar estresse excessivo, evitar alimentos industrializados, tentando comer o mais natural possível, se exercitar regularmente, se manter dentro de um peso saudável e evitar contato com substâncias químicas nocivas (parece simples, mas não é, fique longe de maquiagem e esmaltes vindos da China, por exemplo).

Além de hábitos de vida, existem atos que você pode fazer para estimular a produção de hormônios que trazem sensações boas. Temos um texto aqui só sobre eles.

Como vocês podem imaginar, por ser um sistema integrado, quando uma glândula falha, isso pode impactar todo o sistema. Não raro a falha reverbera e afeta os colegas. E quanto mais tempo o corpo passa nesse desequilíbrio, quanto mais tempo a orquestra desafina, mais difícil é voltar para os trilhos. Por isso, se sentir que tem algo fora do normal acontecendo, não demore para procurar ajuda. Quanto antes detectar, mais fácil de corrigir.

E se o assunto te interessou, recomendo que leia mais sobre ele. Compreender o funcionamento dos seus hormônios é uma arma muito poderosa para se entender melhor, tomar melhores decisões e melhorar como pessoa. Entenda como funciona, observe-se, faça anotações, aprenda a ser a melhor versão de você mesmo quimicamente falando.

E, o mais importante: não lute contra hormônios usando força de vontade, espiritualidade ou teimosia. Você vai perder. Problema hormonal se resolve com médico e medicamento.

Para reclamar que a semana está chata (nós avisamos), para dizer que você controla suas emoções independente dos seus hormônios (não, não controla) ou ainda para dizer que é tudo culpa dos seus hormônios (não, não é): comente.

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