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“Racismo” “Ambiental”

“Racismo” “Ambiental”

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Ou, como um movimento cheio de publicitários consegue escolher os piores nomes possíveis para cada ideia que desenvolve. Racismo ambiental é a ideia de que pessoas de raças menos privilegiadas acabam sempre em áreas mais propensas aos problemas do aquecimento global, poluição e destruição do meio ambiente em geral. Faz sentido, mas precisa usar essa merda de nome?

Minha teoria é simples: a maior parte das pessoas seria totalmente a favor das políticas consideradas progressistas se elas fossem explicadas de forma decente. Qual a dificuldade de convencer uma pessoa pobre que ela é sacaneada por ricos e poderosos e que precisa se unir com outros pobres para ter capacidade de melhorar sua vida?

Se tem uma coisa que move a humanidade é jogar a culpa nos outros. Percebam que hoje eu nem estou fazendo juízo de valor sobre o quanto dos problemas das minorias e dos mais pobres são culpa da sociedade ou são culpa deles mesmos, estou só fazendo uma análise publicitária sobre a autossabotagem incrível que a suposta parcela mais inteligente da população faz dia sim, dia também.

O clima está se tornando mais severo no mundo. E como já dito em vários outros textos aqui mesmo no Desfavor, é irrelevante se você acredita que isso acontece por ação humana ou não, porque as consequências são reais. Aliás, você pode até ser do contra sobre a mudança climática e ainda sim ter que se preocupar com o tema: como o ser humano está se concentrando em cidades numa escala absurda, cada chuva impacta mais e mais gente de uma só vez.

São contas bem simples: antigamente, moravam 20 pessoas na área afetada por um evento climático extremo, hoje moram 20.000. O simples fato de a densidade populacional aumentar torna a gente mais vulnerável. Estruturas básicas de água, energia e até mesmo distribuição de alimentos ficam mais concentradas e eficientes, mas perdemos redundância.

Percebem que você pode achar que aquecimento global não existe ou que existe e não é causado por atividade humana e mesmo assim enxergar que temos um problema para resolver? Eu não consigo entender por que o tema é tratado como se fosse uma adesão obrigatória à teoria científica vigente para ser considerado. E voltando ao título do texto, porque ao se discutir isso, injetam pontos de discordância no meio da conversa.

Racismo ambiental é a pior forma de dizer que pessoas pobres acabam aglomeradas de forma precárias nas regiões mais perigosas do mundo. E que com o passar do tempo, vão ser mais e mais atingidas por inundações, secas, ressacas, tsunamis, furacões…

Sim, racismo é um fator na representação desproporcional de não-brancos nessas populações pobres, mas quando você chama o efeito de Racismo Ambiental, passa a mensagem que a questão de resolve só com o combate ao racismo. Na prática nem é isso, mas como publicitário eu garanto: as palavras que você escolhe para passar uma ideia mudam a forma como as pessoas lidam com ela.

Negros têm menos dinheiro para comprar carnes para fazer churrasco, então vamos começar a chamar a questão de Racismo Churrascal? Você pega uma palavra que pesa uma tonelada e coloca do lado de uma que voa com o vento, qual você acha que vai estar lá na mente da pessoa depois de um tempo? E se a conclusão que se tira da questão é que ela é só mais uma qualificação para o racismo, você vai ter uma população e seus representantes lidando com ela pela visão do racismo.

Que, infelizmente, não se resolve com canetadas e mensagens bonitas de celebridades. No fundo todo mundo sabe disso, problemas tão básicos como esses são tratados inconscientemente como impossíveis de resolver. Se você está me dizendo que existe Racismo Ambiental, evidente que eu vou pensar no racismo como o foco da solução.

E não é. O suposto fim do racismo resolveria o problema da representação exagerada de pessoas de pele mais escura entre as vítimas da questão climática, mas não tiraria as pessoas das áreas de risco. Se as pessoas perdendo o pouco que tem e morrendo em tragédias naturais fossem mais brancas em média, tudo bem?

O problema que a ideia do Racismo Ambiental tenta combater não deixa de existir com igualdade entre as raças. Então por que diabos usar essa palavra? Por que pegar um tema que com certeza uniria as pessoas e colocar um ponto de divisão nele?

Quanto mais o tempo passa, mais eu me convenço que a guerra ideológica moderna fez uma seleção artificial de gente burra em posições de poder em ambos os lados. É uma série de decisões sobre como expressar suas ideias que complicam tudo, sem nenhum ganho real para as causas.

Por que não chamar a causa de Moradia Segura? Explique que ficou mais importante conhecer a região na qual se vive para prever os riscos, porque tem muita gente vivendo em lugares que podem ser fatais. Foca na parte positiva, que é segurança. A causa é fazer as pessoas morarem em lugares mais seguros.

E se essa é a causa, o problema fica bem definido: tem gente demais em lugares ruins. Quer ir pelo ângulo de gente demais? Incentive pessoas a ir para cidades menores, faça projetos de habitação em áreas melhores, crie obstáculos para o cidadão subir sua casa no lado de um morro. Não resolve tudo na hora, mas acumula com o passar das décadas.

Quer ir pelo ângulo dos lugares ruins? É mais caro e complicado, mas sirenes em encostas e planos de evacuação são mais valiosos para o negro periférico nesse caso do que qualquer projeto cultural de valorização de raízes africanas. O ângulo do racismo vai matar pessoas, porque cria um adversário abstrato que não muda a pessoa de lugar nem torna o lugar mais seguro. Esse é o poder da comunicação: vida ou morte.

Evidente que eu não estou dizendo que as pessoas trabalhando em segurança de moradia contra as mudanças climáticas são umas imbecis que estão fazendo projetos lacradores inúteis, estou só dizendo que por causa desse nome desastrado é isso que muita gente vai entender. E infelizmente, isso diminui o número de pessoas engajadas no projeto, uma bola de neve que termina nos políticos dando de ombros para isso. Alguns até vão usar o nome Racismo Ambiental para tirar sarro da ideia e enfraquecer ainda mais o suporte.

Você tem que prever o que pessoas mal-intencionadas vão fazer com a forma como você se apresenta. Chamar seu filho de Arco-Íris pode ser resultado de um desejo honesto de oferecer o nome mais bonito para quem você mais ama, mas esse moleque está absolutamente ferrado quando chegar na escola. Chamar de Racismo Ambiental é um problema, e uma parte do problema é mesmo do racismo, mas as palavras estão em choque de significado na mente do povo.

Você tem que literalmente pensar que alguém vai escutar o nome e achar idiota porque a chuva não escolhe a cor da pessoa na qual vai cair. Uma das partes que eu mais odeio no meu trabalho é quando eu tenho que matar uma ideia que acho divertida porque pessoas burras vão entender errado. Faz parte do jogo.

Eu sei que parece uma reclamação minúscula em relação ao tamanho das questões abordadas, mas não é. É vida ou morte. Quase todo criativo que eu conheço é progressista até dizer chega, do tipo que me chamaria de fascista por este texto, então eu sei que tem muita mão-de-obra disponível na área de comunicação, mas não usam o conhecimento técnico.

Se é uma batalha pela mensagem que vai ficar na cabeça do povão, que tal começar a usar a vantagem absurda que os progressistas têm? Não com atriz de Hollywood cantando “Imagine” na rede social, mas com mensagens minimamente compreensíveis para o povão.

Morre gente por causa dessa lacração, dessa teimosia em não alcançar a maioria da população por causa de minorias radicalizadas. A mente identitária só enxerga divisão. E aí, quando precisamos nos unir… dá nisso.

Para descrever outros tipos de racismo, para dizer que o problema é e sempre foi gente, ou mesmo para dizer que a Mãe Natureza vai limpar a casa: comente.


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